Os Filhos de Umbra escrita por Rarity


Capítulo 24
Capítulo Vinte e Quatro: 1993 -563 dias antes


Notas iniciais do capítulo

Eu fiquei completamente apaixonada com fluff. Nem sei como vou fazer para voltar para o ar pesado que da história que vai começar em 1994.
Felizmente 1993 é o ano da fofura e eu estou apaixonada



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Capítulo Vinte e Quatro: 1993 -563 dias antes

Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir,

também não deixa olhos para chorar...

[Trecho do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas]

Machado de Assis

 

09 de Maio de 1993

Para dissipar o clima de morte que permeia essa história, passaremos para dias mais felizes. É difícil para mim encontrar memórias que me passem certa felicidade, pois todas elas não passam disso. Memórias. Apenas lembranças da vida que fui forçado a deixar. Mas certas datas são impossíveis de apagar de minha mente, nem certos sentimentos.

No tão esperado Dia das Mães, eu estava um caco de nervos. Não estava no nível de infarto do miocárdio ainda, mas estava chegando lá. A escola estava preparando uma grande peça desde o começo do ano para as mães da cidade, e veja só, eu recebi o papel principal. Meus talentos para contar, falar e minha autoconfiança foram essenciais na minha vitória, e uma pequena parte de mim até achou que talvez eu tivesse achado meu futuro. Eu gostava de brincar de ser outra pessoa desde o faz-de-conta da infância. Representar e sentir o que outras pessoas sentiam era uma oportunidade de sair de meu pobre corpo e viajar por vários lugares sem sair de Sococó da Ema. Voltando ao ponto principal, Amanda me deu o papel principal da peça: A Mãe Perfeita, uma história emocionante sobre um menino que briga com sua própria mãe e começa a sair em busca de outras mães, até perceber que nenhuma das outras mães é certamente igual ou muito diferente da sua. Pelo menos era essa a mensagem que queríamos passar.

A maior parte dos meus amigos não foi muito com a história, com a exceção de Mel, que ajudou na decoração, e Pablo, que estava cuidando do som. Além deles, Analícia era a única que atuava na peça comigo, fazendo o papel de filha de uma mãe ausente –era tão diferente da vida real que eu me perguntava como Analícia conseguiu o papel, mas ela mandava bem. As mães eram interpretadas por professoras ou funcionárias, e toda a parte material foi feita pelos alunos –em troca de pontos, é claro.

—Nervoso? –perguntou Analícia ao meu lado.

Na realidade, eu estava. Eu queria surpreender minha mãe, tanto que mantive todos os detalhes da peça em segredo. Queria que fosse uma boa homenagem para que ela se orgulhasse do meu trabalho. Mas não conseguia evitar pensar que toda a ideia era boba e eu devia só ter comprado flores.

—É. Um pouco. –menti.

—Pedro, relaxa. –Analícia me confortou. –Você vai se sair bem, você foi feito pra esse papel.

Eduardo apareceu num canto, o microfone na mão já que ele seria o narrador.  –Todos prontos? Temos cinco minutos!

A peça aconteceria na escola, obviamente. Eu e Analícia estávamos matando tempo na secretária, mas teríamos que sair logo. Meus amigos e meu irmão passaram aqui mais cedo, me desejando boa sorte e “para quebrar uma perna”, como Mel disse que se falava no mundo do teatro. Eu estive tão ocupado com os ensaios e as preparações que era a primeira vez que eu os via no dia. Abracei todos bem forte para agradecer o carinho, todos dizendo que estariam na primeira fila com meus pais para torcerem por mim –ou para me segurar se eu caísse, como foi o que Leo disse.

Espiei por trás da cortina, meus pais na primeira fileira e meus amigos conversando entre si. Minha mãe com sua melhor roupa enquanto usava um sorriso orgulhoso.

Engoli em seco.

—Vai ser mamão com mel. –falei pra mim mesmo.

Amanda surgiu, vestida como a mãe do Enzo Gabriel, meu personagem. Fiz meu melhor sorriso, decidindo entrar no personagem.

—Você está linda, Dona Valentina.

—Oras, Pedro. –Amanda riu, uma leve cor em suas bochechas. –Encantador.

—Sempre.

—Nervoso? –ela perguntou, a quinquagésima pessoa a fazer isso.

—Vou dar meu melhor. –garanti.

—Sua mãe vai adorar, Pedro. –Amanda garantiu. –Ela se sentirá super especial.

Balancei a cabeça em concordância. –Ela é.

Amanda sorriu, tocada.

—Preparado? –ela se aproximou de mim, levantando a palma.

Bati a minha palma na dela com emoção, preparado.

—Vamos nessa.

—Mas mãe, você prometeu que eu podia ir para a chácara da vovó esse final de semana! –Enzo bateu os pés enquanto falava, a raiva colorindo o seu rosto enquanto a mochila que iria usar na casa da avó continuava em suas costas.

—E você devia ter pensado nisso antes do seu comportamento péssimo na escola, Enzo! Já é a terceira vez que me chamam por briga, filho!

—A culpa não é minha se são eles que arrumam briga comigo! –Enzo rebate.

—Você pode muito bem sair de perto ou chamar a professora, Enzo. –ela se vira. –Não adianta reclamar: está de castigo por duas semanas para pensar no que você fez. Vou ligar para a sua avó, ela vai ficar extremamente triste.

Enzo segurou as lágrimas nos olhos e guardou a raiva nos pulsos. Era muito injusto, ele só estava se defendendo! Depois de dois anos ele finalmente poderia ver sua amada avó de novo e sua mãe estragou isso por uma briguinha de escola. Ela nunca o ouvia, nunca prestava atenção nele e só sabia criticá-lo. Era impossível que ela o amasse e mesmo assim ela o separou da única pessoa que o amava. Enzo via vermelho.

—EU ODEIO VOCÊ! –gritou e saiu correndo para a porta da sala, saindo de casa aos sons dos chamados de sua mãe.

Mesmo assim, ele ignorou tudo enquanto caminhava e logo recebeu o silêncio da noite que caía.

—Não tem problema. –ele dizia a si mesmo. –Eu vou achar outra mãe. E ela vai ser bem mais legal –ela vai me deixar comer só o que eu quiser, ir pra cama quando eu quiser, não vou ter que ir pra escola e ela não vai ficar só reclamando no meu ouvido. Ah sim. Minha mãe vai ser perfeita!

Num momento, Enzo se cansa de andar, seus passos desacelerando e perdendo força depois de tanta caminhada pela cidade. Felizmente achou um banco de ônibus, ocupado por uma mulher aparentemente pobre e sua filha. Enzo se sentou ao lado deles, querendo respirar um pouco.

—Aonde vai, filho? –perguntou a senhora.

—Achar a minha mãe. –foi a resposta dele.

—Tadinho, está perdido? –ela perguntou. –Quer que eu chame a polícia?

—Não. –Enzo retrucou. –Eu só parei para pegar ar.

—E sua mamãe te deixou sair assim? –a menininha se intrometeu, abraçando um pequeno urso novo. –Eu passo o dia inteiro com a minha mamãe no trabalho.

—É mesmo? –Enzo fingiu interesse. –E quando você vai pra escola?

—Eu não vou pra escola. –a pequena respondeu. –Preciso ajudar minha mãe.

—Minha Gabi é uma boa mocinha. –a mãe dela continuou. –Não é uma vida fácil. Temos sorte de ter o que comer.

—Hoje é meu aniversário! –a pequena anunciou. –E adivinha: mamãe vai me deixar ficar com a janta dela! Ela disse que é meu presente! E eu até ganhei um ursinho da patroa!

Enzo forçou um sorriso no rosto, de repente comovido. Ele se lembrou de brigar com a mãe por não ganhar uma bicicleta naquele ano, e de reclamar dos seus cadernos do ano passado. “Todos de criança, mãe!”, foi o que ele disse.

—Talvez conseguiremos um pouco de massa da vizinha para fazer pelo menos um bolinho de copo. –a mulher continuou, olhando para a filha. –Não vai ser demais?!

—Sim, mamãe! –a menina exclamou, feliz.

O ônibus finalmente parou, a mãe e a filha se despedindo dele e perguntando uma última vez se ele gostaria de ajuda para achar sua mãe. Enzo balançou a cabeça e desejou feliz aniversário para ela, e chegou a dar um boneco de super herói que guardava na mochila para a menininha como um presente de aniversário.

—Você não se importa de ser usado? –ele questionou.

Enzo odiava quando sua mãe trazia brinquedos velhos.

—Não! Ele é perfeito! –ela gritou, abraçando o Superman velho ao peito e dizendo como ele faria companhia ao Sr. Urso em sua casa. –Até mais!

—Até! –ele desejou, vendo o ônibus partir.

Abismado com as surpresas que estava recebendo, Enzo continuou a caminhar. Ele acabou passando por uma varanda onde uma menina brincava sozinha, cabelos loiros bagunçados enquanto ela organizava uma pequena mesa de chá em seu quintal. A menina o lembrava de Alice, do País das Maravilhas, e talvez isso o tenha feito parar para observá-la conversando com os brinquedos.

—Quer brincar comigo? –ela chamou, parecendo animada por tê-lo ali.

—Eu não tenho certeza...

—Será divertido! –ela o puxou. –Sinto falta de ter alguém pra brincar!

—Onde estão seus pais? –ele perguntou enquanto ela arrumava uma falsa xícara de chá para ele. Enzo não gostava de fingir que as coisas estavam ali se elas não estavam.

—Viajando. Minha babá está arrumando o jantar.

—Eles viajaram sem você? –ele perguntou surpreso. –Que legal! Você está praticamente sozinha!

—E isso é legal? –ela fez uma careta.

—Pelo menos a sua mãe não vive em cima de você.

—É. –ela resmungou. –Ela mal lembra que eu existo. Ela raramente fica comigo. Ela nem se importa comigo.

Enzo pensou em seguida em como ele achou que sua mãe não se importava com ele por ficar muito em cima dele.

—Mas e-

—Chá, Sr. Joaquim? –ela ofereceu para um boneco arranhado de um bebé.

—Mas e se você fizer alguma coisa na escola? Quem eles chamam?

—Minha babá. Minha mãe nunca iria na minha escola, ela está sempre ocupada demais.

—Ah. –ele resmungou, cedendo à brincadeira e pegando um falso biscoito. –Pelo menos ela nunca briga com você. Minha mãe só sabe brigar comigo.

—Eu não me importaria se ela brigasse. Pelo menos ela estaria falando comigo. –a menina suspirou. –Você deve ter uma boa mãe. Ela quer seu bem.

—Não. Ela só sabe reclamar.

—Talvez seja o jeito dela de tentar fazer você melhorar? –a menina sugeriu, o som dela bebendo o ar ecoando. –Minha babá faz isso às vezes, me deixa de castigo até eu pedir desculpas e explicar o que eu fiz de errado.

—Mas e se você não estivesse errada?

—Fale pra ela. –a menina respondeu.

—Ela não me escuta! Ela sempre acha que está certa e que tudo que eu faço é errado!

A menina parou por uns instantes, analisando a situação. Ela parecia uma menina muito empática, capaz de entrar de cabeça nos problemas de outras pessoas.

—Você já tentou conversar com ela?

—Já! –ele respondeu de imediato. –Bem, sim? Ela nunca me deixa terminar.

—Talvez você deva chegar pra ela e explicar o problema desde o início, peça para ela ouvir até o final. Ela deve estar achando que você só quer fugir do castigo. –ela pausa. –E pelo lado bom, pelo menos ela está falando com você.

Enzo pausou, considerando. Era só ele e sua mãe –ela cozinhava, passava, o ajudava com os deveres, trabalhava e limpava a casa. Sozinha. E ainda tinha toda a responsabilidade de educá-lo e de assumir as besteiras que ele fazia. Talvez ele pudesse tentar.

—A sua mãe também te ama. –ele disse para a menina. –Toda mãe ama.

—Eu sei. Eu só queria que ela estivesse aqui, para que eu pudesse ouvir mais vezes. Para ver sem ela precisar falar.

Porque nem todo amor é expresso em palavras. Alguns são expressos em beijos na bochecha, em ‘boa noite’s antes de dormir, em sua comida favorita no domingo.

—Eu quero a minha mãe. –ele murmurou.

—Ora, bobinho. –a menina apontou para a esquina. –Não é aquela?

E de fato, Dona Valentina vasculhava as ruas gritando o nome de Enzo. Suas roupas já estavam amassadas e possuíam claras marcas de suor, mas ela não parecia querer descansar. Ao vê-la procurando por ele, mesmo depois da forma com a qual ele saiu, mesmo depois de dizer que a odiava, fez algo quebrar em Enzo e ele correu para sua mãe com força.

—MÃE! –ele gritou ao se jogar nela. –Mamãe...

E chorou.

—Meu Deus, Enzo! Eu estava morrendo de preocupação! Onde você estava esse tempo todo? Como você ia voltar pra casa, Enzo? Onde você ia dormir? E onde está seu casaco, está frio aqui! E onde estava com a cabeça pra sair daquele jeito?!

—Eu amo você, mamãe. Me desculpe por falar aquilo. –ele interrompeu as perguntas dela, a encarando com as bochechas cheias de lágrimas.

—Ah, eu também amo você, meu amor. O tempo inteiro. –ela sussurrou.

—Eles brigam comigo. –ele sussurrou de volta. –Me chamam de coisas e me empurram. Eu preciso me defender, mamãe, ou eles nunca vão parar.

Sua mãe respirou fundo. –Oh, Enzo... Eu vou falar com a diretora-

—Não! Aí eles nunca vão parar!

—Nós vamos dar um jeito, ok? –ela garantiu. –Eu vou proteger você, Enzo. Você só precisa confiar em mim.

Enzo fungou e a apertou mais. –Você é a melhor mãe do mundo.

 

Respirei fundo, eu e Amanda nos afastamos e nos curvamos num gesto de respeito para o público. Meu coração batia rápido e foi uma das coisas mais doidas que eu já fiz. Eu não me senti no meu corpo –eu me sentia o Enzo. Sentia suas simples emoções e suas razões. Por poucos minutos, eu não era o Pedro. E aquilo foi muito irado –quase uma daqueles experiências extracorpóreas. Eu me senti... Invencível.

Minha mãe e meus amigos aplaudiam perto, e eu sorri com a animação deles. O resto dos atores também vieram, nos curvamos uma última vez para o público e saímos do palco, uma eletricidade vibrando na gente.

—Foi muito lindo, meninos, parabéns. –Amanda elogiou, abraçando cada um. –Pedro, você foi demais. Você já é um pequeno ator mirim. –ela sorriu, bagunçando meu cabelo.

—Valeu, tia. –agradeci, ajeitando meus pobres fios.

—Vá falar com sua mãe, Pedro. –ela piscou para mim, me incentivando a ir.

Nem tirei as roupas de Enzo antes de sair para o público, praticamente pulando. Infelizmente, ou felizmente talvez, meus amigos me acharam primeiro e pularam com tamanha força em mim que eu caí no chão, todos falando ao mesmo tempo.

—EI! –gritei entre o barulho, mas logo comecei a rir. –FORA DE MIM!

—Como você é cruel! –Leo, o dito cujo que estava literalmente em cima do meu peito, falou. –Estamos te dando apoio moral!

—O que estão me dando agora é dor no corpo. –retruquei.

—Ingrato. –Emily resmungou, mas todos se levantaram.

—Foi tão lindo, Pedro! –Mel comemorou, me abraçando docemente assim que me levantei. –Eu não achei que você fosse conseguir, mas você arrasou! Definitivamente ganha dos cartões que fizemos na aula de artes!

—É. Até que não foi o fracasso que eu estava esperando. –Belle me deu uma leve cotovelada. –Talvez você também goste de palcos.

—Ele ia ficar muito feio em sapatilhas e tule, se for o que está pensando. –Pablo avisou. –Mas foi muito bom.

—Estamos orgulhosos de você, apesar do meu presente ser melhor! –Henrique garantiu, mexendo em meu cabelo.

(Jesus!, pensei enquanto o arrumava de volta.)

—Se queria uma surpresa para sua mãe, conseguiu. Acho que nem ela sabia que você ia gostar dessas coisas. –Emily continuou, mas meus ouvidos só pegaram metade.

—Cadê ela? –perguntei, tentando sair do círculo que meus amigos formavam ao meu redor. Eles permitiram, e meu mãe e meu pai estavam parados perto, esperando meus amigos terminarem. Eu literalmente pulei nela. –Mamãe! Feliz Dia das Mães!

Minha mãe riu, doce como açúcar, enquanto me abaixava. Ela me colocou no chão e se ajoelhou ao meu tamanho, de forma que ficássemos na mesma altura. Ela sorriu e me abraçou novamente, parecendo não resistir.

—Você foi incrível, Pedro. Eu estou tão orgulhosa de você. –ela falou. –Obrigada pelo presente.

—Mamãe? –chamei, e ela me olhou. –Você é a melhor mãe do mundo e eu amo você.

Ela me cobriu em beijos depois disso.

(***)

Depois de outros cumprimentos do resto dos pais e professores, tivemos um grande almoço para os pais presentes e outras homenagens. Pablo até tocou uma canção junto com o resto da banda, e apesar da vontade, Belle não foi ao palco. Houveram poemas, declarações, música e toda aquela dedicação que não se encontra em nenhum outro feriado. Quando meus pés já não me aguentavam mais e minhas bochechas doíam pelos sorrisos constantes, minha mãe finalmente nos chamou para ir embora. E com “nós”, não estou falando de mim e Leo, e sim da gangue inteira.

Oh, mamãe, me ajude! –Henrique e Pablo implicavam comigo ao meu lado.

Se eles estavam surpresos pelo meu desenvolvimento, a surpresa passou. Agora a única coisa que eles sabiam fazer era graça.

—Vocês não têm nada melhor pra fazer? –retruquei.

—Dona Jasmine, estamos implicando com o Pedro. A senhora deixa? –Pablo chamou minha mãe, que riu ao nos encarar enquanto pegava a bolsa e se despedia de alguns amigos.

—Acho que ele aguenta mais alguns minutinhos. Só mais alguns. –ela piscou para mim.

—MÃE!

Uma presença se fez sentida à minha direita, e ao me virar Analícia me encarava como se estivesse esperando alguma coisa. O cabelo já estava arrumado, solto novamente da maneira que conhecíamos, e ela usava uma saia preta e uma blusa de bolinhas pela ocasião.

—Aonde vão? –ela perguntou.

—Hã, pra casa. –respondi sem entender.

—Pra casa do Pedro, pra variar. Quer vir, Analícia? –Pablo convidou da forma mais amigável possível, o que me deixou grato.

Analícia estava lentamente se integrando ao grupo, fazendo mais questão de estar com a gente e de ir para os lugares para onde iríamos. Eu percebi que a intenção dela era se incluir e tentava ajudá-la o máximo possível, meus amigos ainda estranhando a vontade dela. Como eu não podia culpá-los, pois também não fazia ideia do que se passava na cabeça de Analícia na maior parte do tempo, eu não falava nada. Mas não ia negar minha amizade para ela, caso ela a desejasse.

No fim, ela quis a minha alma.

—Sim! –ela exclamou rapidamente. –O que vamos fazer?

—Não sabemos ainda. –Leo respondeu. –A gente vai andando e vemos no que dá.

—O que quer dizer que as meninas decidem, obrigada Leo. –Belle apareceu, um sorriso amigável no rosto enquanto chupava uma bala.

O clima entre as duas havia melhorado bastante, e eu quase pensei que elas eram realmente amigas ou estavam no processo de serem. Em uma outra vida, as duas talvez fossem melhores amigas, do tipo inseparável. Quem sabe?

—Nem vem, Belle!

—A gente sempre decide, Leo. –Mel adicionou, aparecendo também. O vestido florido balançava com o caminhar dela. –Meninas primeiro, é a regra.

—A gente faz uma votação? –Henrique sugeriu.

—Desculpe, qual time tem a Emily e a Dete? –Belle nos olhou e ficamos todos em silêncio. –Eu estava com saudade de brincar de carimbada mesmo.

—Carimbada? –Analícia a olhou quase horrorizada.

Analícia era filha única e uma perfeita menina pelos padrões –uma que nunca pegou em um carrinho. Ela estava bem mais acostumada a brincar de casinha dentro de casa do que de carimbada na rua.

Mesmo assim, Belle passou os braços pelos ombros dela, sorrindo. –Não se preocupe, eu te ensino. É bem mais legal.

—A gente vai ganhar! –Leo deu língua.

—Vão nada! –E Emily deu língua de volta.

—Talvez não a carimbada... –Pablo começou. –Mas uma corrida até esquina vamos ganhar sim.

E Pablo saiu correndo, Henrique e Leo não muito atrás, deixando suas risadas ecoarem.

—TRAPACEIROS! –Belle gritou antes de sair correndo atrás dele, as meninas sempre ao seu lado.

Analícia respirou fundo antes de rir e me olhar, parecendo feliz.

—Eles são intensos. –ela falou.

Intensos, testei a palavra. Parecia uma boa forma de descrever a loucura dos meus amigos.

—É, acho que sim. Analícia? –e ela me olhou. –O último a chegar é a mulher do bagre.

Corri.

                                                                                                                                                                                          


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Notas finais do capítulo

Eu sei que a história do Enzo é bem ruinzinha, mas é uma peça de escola. A intenção era ser simples, não boa :v
E eu AMO a relação do Pedro com a mãe dele. Eu torço do fundo do coração para que no final eles não sejam realmente vilões, ia quebrar meu coração imaginar que um dia ele iria realmente machucar a mãe dele.
E que Deus me permita terminar 1993 antes do final das férias.



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