As Mulheres de James Sirius Potter escrita por Lia Galvão, Miss Stilinski


Capítulo 19
Giulietta Diana Bellucci (parte I)


Notas iniciais do capítulo

YEY! Feliz Dia da Independência, Feliz Dia das Crianças, Feliz Proclamação da República, Feliz Natal, Feliz Ano Novo e feliz quaisquer outros feriados que aconteceram no tempo que ficamos sem postar. A boa nova? ESTAMOS VIVAS. E continuamos fortes. Como vocês devem ter visto pelo título este capítulo será dividido em duas partezineas, mas a segunda saíra apenas daqui alguns dias, porque... precisamos de uma vantagem quanto ao próximo capítulo. Enfim, são quatro da manhã e eu passei a madrugada revisando o capítulo, estou com sono então não vou me prolongar aqui. Boa leitura, eu volto lá em baixo, eu sempre volto.
Eu voltei aqui, sem sono, porquê eu precisava dar o berro e agradecer publicamente e explanar meu amor pela Grazi, que depois do capítulo da Kristina deixou uma recomendação MARAVILHOSA pra gente, que fez com que eu e Laís ficássemos mandando áudios surtantes uma para a outra. Então a essa mais do que querida leitora (que me acompanha desde uma outra fic de demoras infinitas pelo capítulo) ESSE CAPÍTULO LINDENEO E GIGANTE É PRA VOCÊ. Porquê essa a forma que temos de agradecer a você(s) por todo o carinho e por continuar(em) com a gente. /Lia Galvão



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Descobri que o pessoal do intercâmbio fizera melhorias para a continuação da nossa jornada. Ao contrário de como fora na Bulgária, eles não foram tão desleixados com os alunos e cuidaram para que não ficássemos tão perdidos. Suspeitei que eles tivessem recebido várias reclamações anteriormente.

Então, assim que o acompanhante do intercâmbio mandou, largamos a bota e pousamos — alguns com mais graciosidade que os outros — em um vilarejo bruxo na bela Itália.

E cara, eu já tinha ouvido várias histórias sobre a Itália (interpretara uma, aliás, inclusive), e já suspeitava que aquele fosse um belo país. Mas nem mesmo as poéticas palavras de Shakespeare me prepararam para a realidade. Eu mal havia chegado, mas já estava encantado com tudo por lá, as ruas de pedra, a arquitetura dos prédios, até o ar possuía um aroma diferente.

O representante nos chamou e então reunimo-nos em um círculo próximo a ele, que logo começou a explicar como seria aquela etapa. A Itália era um país que possuía um grau alto de orgulho linguístico então dificilmente encontraríamos algum bom samaritano disposto a se comunicar conosco em inglês. Por isso o programa tinha tido o cuidado de contratar alguns tradutores que estariam à nossa disposição caso quiséssemos sair para conhecer o país.

O problema com os alojamentos também fora resolvido e uma pensão havia sido alugada para que uma república fosse imposta para parte dos estudantes, que teriam que arcar com todas as despesas, uma vez que o curso era gratuito. A parcela que não ficasse na república, teria que fazer uma inscrição em até uma semana para ser direcionada a casas de famílias que recepcionavam intercambistas.

Para finalizar ele informara que a comunidade bruxa do país era uma das que mais investia no mercado de poções, área que se desenvolvera junto a sua culinária conhecida mundialmente. Assim, deveríamos manter-nos alertas, pois possibilidades de estágio poderiam surgir a qualquer momento.

Após este discurso ele se dedicou a tirar dúvidas e nos endereçou o caminho da república, que abrigaria vinte alunos mais os dez tradutores confortavelmente.

Mal havia chegado naquele país e já estava amando tudo por ali. Fiz uma lista mental de coisas a se fazer: primeiro: Eu iria para a república, moraria por lá mesmo e já aproveitaria para escolher um bom quarto enquanto o restante conversava com nosso representante. Depois, eu me deslocaria até a faculdade sede do curso para conversar com o coordenador do intercâmbio sobre a omissão da minha identidade verdadeira. Então eu iria me permitir conhecer mais daquele lugar maravilhoso enquanto aproveitava para buscar por estágios. Ainda tinha alguma grana que pegara do cofre da família e um pouco do que Viola me dera, mas não duraria para sempre e eu já tinha ficado à toa por tempo demais.

Observando que grande maioria ainda conversava com o representante, peguei minhas malas e parti na direção aonde me fora indicado que seria minha casa por um ano.

 

(...)

 

Demorara mais do que eu tinha previsto. Os tradutores já estavam alojados na república, cinco garotas e cinco caras, e todos foram bem receptivos comigo, o primeiro estudante a chegar. Um deles também se dispôs a me acompanhar para meus planos, eu só não esperava que eu demorasse o dia inteiro para convencer a coordenadora que eu não queria ser chamado de James Sirius Potter. Comecei ali a cogitar a ideia de mudar temporariamente de identidade. James Evans, talvez. Ninguém suspeitaria.

Quando ela finalmente aceitou acatar meu pedido, já estava tarde e eu preferi voltar à pensão, reservaria o dia seguinte pros demais itens da lista. Chegando à república descobri que eu basicamente não conhecia meus colegas, os quais eu já convivia com há cerca de um ano. E, apesar de um ou outro já terem certa amizade entre si, a maioria também não se conhecia muito bem.

Descobri naquela noite que existiam pessoas de todos os lugares ali, não só da Europa. Coreanos, Indianos, Canadenses, Peruanos e até habitantes do Alaska, que eu não tenho a menor ideia de como são nomeados. O ponto é que a diversidade cultural era incrível e todos pareciam ser boas pessoas, cada um vinha de uma escola diferente, com histórias diferentes e diferentes motivos que os levaram até poções. Eu me perguntava porquê nunca, no último ano, parara um momento para conhecê-los melhor.

Logo o cansaço batia e um a um ia para seu respectivo dormitório. Algumas duplas ou trios dividiriam um quarto, mas eu tive a sorte de conseguir um só meu. No dia seguinte Marco, o tradutor que passara o dia anterior comigo, encontrou-me no café e me perguntou se eu estava preparado para conhecer La bela Itália.

— Então, para onde você quer ir? — Perguntou assim que fechamos a porta da república.

— Bem... você é o guia, me guie!

— Eu sou um tradutor, não um guia. — Lembrou-me.

— Não dá no mesmo? — Perguntei rindo, mas então parei para pensar. — Olha, eu gostaria de conhecer as comunidades bruxas primeiro, sabe? E já sair a procura de um estágio, você conhece algum lugar assim? — Perguntei e ele ponderou por um instante.

— Bem, você está em um vilarejo bruxo. — Disse acenando pros arredores. — Mas eu conheço um em especial que tem uma espécie de empresa que desenvolve novas poções, não é muito longe, e pode ser que eles estejam procurando estagiários.

— Ótimo, então é pra esse aí que iremos! — Garanti, empolgado, e ele me estendeu a mão para aparatarmos.

O Sol brilhava alto e forte no lugar em que paramos, fazendo-me cobrir os olhos com uma das mãos. Marco mexeu nos bolsos e então apareceu com um óculos escuro, sorrindo ao olhar para mim.

— Você deveria arrumar um para você. — Aconselhou e eu lhe semicerrei os olhos, ele riu. — Bem-vindo à Malbona.

— Ser tradutor paga bem? — Perguntei ligeiramente curioso, ele me encarou.

— Para os profissionais? Bastante. Para os estagiários? Não mesmo.

— Você é um estagiário? — Perguntei surpreso e ele assentiu.

— Todos nós. Eu estudo linguagem das criaturas mágicas. Claro que não é possível entender o que todas falam, é óbvio que ainda não sabemos como nos comunicar com dragões — disse, murchando-me. — Mas facilita bastante na hora de conversar com gigantes, por exemplo.

— E qual a relação disso com traduzir italiano para um monte de estrangeiros?

— Não consegui nada melhor. — Confessou e eu ri.

O vilarejo não se diferia muito do que estávamos anteriormente. As ruas de pedras, os becos de tijolos. Entretanto, conforme íamos nos infiltrando mais pelo lugar, notei que todas as casas eram construções enormes, quase mansões. Além do detalhe de que era um vilarejo litorâneo, era possível ouvir o barulho das ondas se quebrando na praia e sentir o gosto de sal na brisa.

— Como funcionam os bruxos italianos? — Perguntei

— É bem diferente da comunidade bruxa da Inglaterra ou dos EUA, que foram onde eu estive em intercâmbio por um tempo para me apegar ao inglês. — Respondeu ele. — Aqui as pessoas são mais acessíveis e simpáticas... Somos até calorosos demais — Marco riu. — Como os brasileiros...

— Você já esteve no Brasil também?

— A vantagem de se estudar línguas é que você tem que viajar para dominá-las.

— Eu queria que o intercâmbio passasse pelo Brasil...

— O povo de lá é incrível, a escola de magia deles apesar de não muito antiga não fica para trás das europeias. E as garotas... — Riu com a lembrança.

— É... eu sei, já conheci uma delas. — Lembrei-me de Teresa e suspirei, afastando os pensamentos. — Mas voltando a Itália? — Instiguei enquanto Marco virava em uma rua estreita.

— Bruxos e trouxas se misturam, ainda mais os que estão nas universidades... Os jovens, na realidade.

— Por quê? Os mais velhos são tradicionais?

— Hum... Mais ou menos. A elite, como são chamados os magnatas bruxos daqui, são das antigas — explicou ele. — Ainda tem muitas pessoas que acham que vivem no século XVII.

— Entendo... Acho que em toda parte do mundo sempre vai existir um grupo que vai achar que sangue puro ainda vai dominar a parte bruxa. — Falei e Marco assentiu. — Era esperado que no país das máfias e tudo o mais isso prevalecesse. — Brinquei e Marco me olhou com uma careta.

— É, a máfia... bem, não aconselho brincar com isso, não é uma brincadeira unicamente trouxa, se quer saber. — Avisou e então parou de andar. — Bem, aqui estamos. O Centro de Poções — disse ele, apontando para uma construção velha.

Eu parei e olhei para aquilo, perguntando-me se era mesmo aquele lugar. Quero dizer, era uma casa velha, com janelinhas de madeira e vidro, tijolos desbotados e uma portinha velha de madeira, que possuía alguma espécie de lodo nas dobras. Havia alguns carros em frente e umas pessoas do lado de fora, em posição de guarda, o que me fez ver que eram aurores.

Marco não percebeu que eu estava desacreditado e falou para que eu o seguisse. Como não podia ficar parado ali, fui atrás dele.

Ele cumprimentou os aurores de guarda e falou alguma coisa em italiano com eles. Eu fiquei ao seu lado sem entender nem uma palavra, esperando e imaginando que tudo lá dentro fosse igual aos filmes antigos trouxas: frio, com bancadas de madeira e todos os recipientes macabros... Ei, espera, eu estava descrevendo as masmorras de Hogwarts? Nunca pensei que acharia aquilo assustador.

— James? — Marco me chamou e eu saí da minha viagem. — Vamos?

— Claro — respondi. Passamos pelos aurores e eu falei a única frase que eu sabia em italiano: — Bongiorno.

Eles assentiram e abriram o espaço, enquanto as suas mãos se estendiam para a porta. Eles nos deram passagem e eu entrei com Marco. Quase caí para trás, pois aquilo estava longe de ser uma masmorra assustadora.

Logo na entrada havia várias pessoas vestidas de calça jeans, jovens e adultos, outros vestiam capas, outros máscaras. Por fora, parecia que era um lugar minúsculo, mas por dentro... Parecia um grande laboratório hightec trouxa, com sua própria plantação e máquinas enormes que soltavam fumaça e deixavam o ar com um cheiro agridoce. Logo na entrada havia uma enorme (enorme mesmo, mesmo) estufa, cheia de vegetais, ervas e plantações que eu não soube identificar o que era. Havia pessoas lá dentro, observando ou colhendo as plantas.

Marco riu e me puxou pelo braço, para podermos ir andando. Eu virava a cabeça de um lado para o outro, admirando os experimentos em salas com janelas de vidro, havia outras estufas tão grandes quanto a primeira, contendo espécies diferentes de vegetais para poções novas ou mesmo as mais comuns, como a de dormir. E não apenas estufas, havia também o que eu taxei como um pequeno zoológico de animais mágicos, ao longo de nossa caminhada passamos por uma sala infestada de fadas mordentes e eu quase fiquei com dó das bichinhas, se uma delas não tivesse tentado morder meu dedo através do vidro.

Ele ainda me puxava consigo por vários corredores, com coisas novas para ver. E eu queria parar em todas, mas não podia.

Quando eu menos esperava, Marco parou e me parou junto. Nós estávamos em frente de uma porta de ferro simples, que eu fiquei até surpreso. Geralmente, bruxos gostavam de coisas ornamentadas. Mas eu até que gostei, estava cansado de coisas muito chamativas. Ah, e é claro, havia mais dois auores parados ali.

Um deles, um rapaz louro de olhos verdes e do meu tamanho me olhou. Mas não foi um olhar de “Quem é você? Não pode entrar aqui” e sim um olhar de reconhecimento.

— Jaaa... son! — Ele havia enchido a boca para falar.

— Hã... Não — respondi. — James. James Evans.

Ele parou e ficou me observando por alguns instantes, me avaliando. Eu ergui uma das sobrancelhas, perguntando-me o que diabos aquele auror queria dizer com aquele olhar.

— Ah — ele levou um olhar severo do colega. — Pensei que fosse um amigo meu, sinto muito... O que querem?

— Então... — disse Marco, também não entendendo a situação. — Gostaria de apresentar meu amigo aqui para o diretor do projeto. Ele está desesperado por um estágio. Será que o senhor Pausini poderia nos receber?

— Só um minuto — disse o colega do louro, que agora nos olhava de um jeito mais profissional. Balancei a cabeça... Será que eu teria de andar disfarçado? Olhei mais uma vez para o auror louro e percebi que não. Fora apenas um mal entendido. E incidentes aconteciam com qualquer um. Se meu pai quisesse que eu fosse encontrado ele já teria espalhado fotos minhas ao redor de todo o globo e como eu ainda conseguia andar na rua e as pessoas ainda acreditavam nas minhas mentiras — mesmo após dois anos desde que eu saíra de casa, a percepção repentina do tempo fez meu coração apertar — eu concluí que Harry Potter continuava a respeitar meu espaço.

O homem saiu da sala e assentiu para que eu e Marco entrássemos. Eu acenei com a cabeça em agradecimento e entramos.

A sala era espaçosa, mas não havia muita coisa ali. Apenas uma mesa que continha três cadeiras de madeira, duas a frente e uma atrás — onde o diretor se encontrava —, uma estante abarrotada de livros na parede atrás, que ocupava de uma ponta a outra da mesma, alguns quadros que se moviam e uma pena e um pergaminho, que estavam se movendo sozinhos.

O diretor Pausini era um homem corpulento e com bigode. Ele tinha uma aparência simpática, porém com aquele bigode ele parecia cômico. Obviamente, eu guardei esses detalhes para mim.

— Olá, senhor... — Começou Marco, mas o senhor Pausini levantou a cabeça e me lançou um olhar penetrante.

— Deixe-me a sós com ele, senhor Ferrarazzi — respondeu o diretor de forma direta. Marco olhou de mim paro o diretor e semicerrou os olhos por um instante.

— Te espero lá fora. — Sussurrou em minha direção, com um tom de voz que indicava que, se necessário fosse, Marco, de não mais que 1,70m; magrelo e de ossos frágeis, enfrentaria os aurores guardas e o diretor corpulento de uma corporativa de poções se eu me metesse em problemas. Esse pensamento me remeteu a conversa sobre a máfia italiana também fazer parte da comunidade bruxa.

Assenti para Marco, afastando os pensamentos, e ele saiu. Virei-me para o homem de bigode, percebendo que ele não era nada cômico. Ele era uma pessoa centrada; eu é que era um comediante mesmo, ele certamente era o chefe da máfia de poções, onde eu fui me meter?

— Sente-se, senhor Potter — disse ele e eu arregalei os olhos, parado no mesmo lugar. — Não me olhe com essa cara. A cadeira não tem espinhos.

Eu sentei devagar e ele assentiu. Ofereceu-me uma bebida, mas eu recusei. Deu de ombros e serviu a si mesmo enquanto eu o observava, estarrecido.

— Eu soube quem o senhor é assim que bati meus olhos em você. — Falou o senhor Pausini. — Sabe, James, seu pai é um auror famoso, como você deve saber... — Comentou como se fosse uma notícia inédita e eu concordei, incomodado com tudo aquilo. — Ele te levava em algumas de suas viagens, estou certo? E às vezes você ia ao trabalho com ele... — Comentou e então eu lembrei, lentamente.

Devia ter cerca de cinco anos e papai levara toda a família para uma convenção na Alemanha. Lily estava passando mal e Albus de castigo, mas ineditamente eu não tinha arrumado nenhum problema naquela noite e pude deixar o hotel com papai. Conheci diversas pessoas àquela noite, tantas que em dado momento ficara chato e no dia seguinte eu mal me lembrava dos rostos amistosos que me cumprimentaram, mas, agora, com a voz de senhor Pausini indicando algo, eu me lembrei. Ele não tinha o bigode e era bem mais magro, mas tinha se disposto a me acompanhar até a seção de poções enquanto meu pai resolvia alguns problemas de última hora.

— Acho que você tinha uns quatro anos... não mudou muito desde então. — Ele sorriu. — Agora... Não acha que está muito na cara?

— Não sou tão parecido com meu pai... — Não adiantava mentir para ele. — Se fosse meu irmão... Bem, todos saberiam. Dá para me camuflar.

— Hum... E os seus colegas de intercâmbio?

— Não tenho muito contato com eles. Geralmente, eu fico com pessoas de fora, que não me conhecem de verdade — respondi e ele assentiu.

— Você quer um estágio, certo? — Perguntou e eu assenti. — Pelo que eu vi, mentiu seu nome.

— Sim, senhor. E gostaria de manter assim... Menos problemas e menos holofotes em cima de mim — o senhor Pausini balançou a cabeça, concordando.

— Eu recebi uma recomendação sua. Da Bulgária — informou ele. — Uma mulher, chamada Kristina Petroff, me mandou. Você é muito bom. E é só por isso que eu o aceitarei em meu programa de estágio sob um nome falso, entenda, James, tenho muito apreço por seu pai, mas não pense que te aceito entre os meus por ser filho de quem é, isso é uma empresa séria e sei que o intercâmbio também é, Kristina mandou-me a carta recomendando-lhe como um ótimo estagiário, estou apenas feliz que tenha me procurado antes.

Eu precisava urgentemente escrever para Kristina.

— Obrigado, senhor. — Agradeci e ele dispensou com um aceno de mão, minha cabeça parecia girar, era muita informação. Finalmente, ao que parecia, eu tinha conseguido o que busquei desde o princípio, algo por meu mérito e não por meu nome.

— Mandarei uma carta com tudo o que precisa trazer e comprar para nosso estágio. Sim, é remunerado. Duzentos galões por mês e bônus para cada poção, ideia ou qualquer coisa que contribua para com o nosso projeto.

— Claro, claro — assenti vigorosamente.

— Mas antes... Por que escolheu poções?

— Bom... Eu estava entre Transfiguração e Poções. Bem, Poções me chamou atenção... Podemos ajudar e criar poções que ninguém pode imaginar. Vai que um dia encontramos a solução para o câncer? Uma doença trouxa, mas que também ataca bruxos? E fora que eu quero lecionar. Sempre quis ser professor, desde o meu sexto ano em Hogwarts.

O diretor ficou me olhando por algum tempo e depois assentiu.

— Vejo o senhor semana que vem — disse ele. — Bem-vindo.

— Obrigado, senhor — apertei a sua mão e me levantei.

Nunca estive tão feliz em toda a minha vida.

 

(...)

 

Depois que saímos do Centro de Poções, Marco sugeriu que fôssemos dar uma volta pela bela Itália, em comemoração por eu ter conseguido o estágio. Eu estava muito animado, confesso. E eu queria ver o resto daquela cidadezinha em que eu estava.

Enquanto caminhávamos, Marco ia apontando para as casinhas de telhas, dizendo o que havia acontecido em algumas delas — já que estávamos, por enquanto, em uma cidade de bruxos. Não eram histórias sombrias, apesar de ter visto uma casa estranha cuja história não era muito feliz, mais explicativa sobre as contribuições dessas famílias para formarem essa pequena cidade bruxa.

— Trouxas não entram em nossa cidade, na maioria das vezes — ia dizendo Marco, enquanto seguíamos para a metrópole da cidade.

— Maioria das vezes?

— Sim... Tem épocas que nós abrimos uma exceção, pois temos um vinhedo muito bom e vendemos tanto para o mundo bruxo, como para o mundo trouxa. Então, quando está em época de colheita, abrimos a cidade para a visitação — explicou ele e eu fiquei espantado. Quero dizer, não que eu não soubesse que Godric's Hollow recebia trouxas o tempo todo. Entretanto, não era realmente uma cidade como aquela na Itália.

Continuamos a andar e eu apreciava a paisagem cheia de flores. Eu estava com calor também; parecia que ali o calor era mais forte do que na Inglaterra. E, depois de algum tempo suando, mas aproveitando o passeio, chegamos à praça principal do centro da cidade.

Devo admitir que ali era diferente de qualquer coisa que eu havia visto. Havia muitas pessoas, tudo era movimentado e animado em uma plena tarde ensolarada. Havia também uma espécie de feira e os comerciantes conversavam calorosos com os clientes, indicando uvas, vinhos entre outros produtos. Todo mundo ali parecia se conhecer. E, bem no meio da praça, havia um enorme chafariz de uma sereia que pulava de verdade. Imaginava se ela ficava parada em época de colheita, quando os trouxas iam visitar.

Ao lado da fonte, entretanto, tinha um grupo com instrumentos musicais, tocando, enquanto alguém dançava no meio da roda. Era uma música bem leve e animada e todos batiam palmas.

— Está tendo alguma festividade ou algo do tipo? — Perguntei a Marco que já começava a se aproximar e bater palmas.

— Ná. — Ele respondeu rindo. — Nós apenas somos felizes demais e você sempre vai encontrar alguém tocando ou dançando pela Itália.

Assim que paramos na roda, eu fiquei paralisado. Talvez hipnotizado... É, é uma palavra melhor. Uma bela mulher, de cabelos curtos e castanhos, com um vestido de alça branco, com florzinhas vermelhas, dançava sozinha no meio daquela roda. Ela tinha um sorriso incrivelmente branco e largo, e se movimentava com o ritmo da música. Ela lançava sua saia no ar e gargalhava, batia palmas e fluía como as notas musicais. E eu? Bem, eu estava lascado. Eu não sabia, é claro. Mas eu estava.

Sabe quando você vê alguém que chama a sua atenção e parece que essa pessoa se move em câmera lenta? Foi exatamente essa sensação que eu tive. Ela era carismática, intensa e dançava porquê queria dançar. Porquê amava dançar, dava para perceber.

Eu devia ser a única pessoa parada na roda, olhando maravilhado para a dama à frente, que pareceu me notar com interesse peculiar no olhar e então jogou o queixo em minha direção. Pisquei e no instante seguinte estava sendo empurrado em direção ao centro da roda.

— O... quê?

— Ela quer você pra dançar. — Marco disse e eu arregalei os olhos, enquanto ele continuava a me cutucar em sua direção.

— Eu não sei dançar. — Afirmei, petrificando-me quase instantaneamente quando os empurrões pararam, uma risada divertida ecoou a meu lado enquanto a bela moça aparecia em minha frente, batendo palmas.

— Não tenha medo, estrangeiro. — Ela disse entre o sorriso, o sotaque leve, a respiração ofegante. — Eu guio você. — Certificou enquanto começava a girar a meu redor, balançando sua saia.

Por mais uns segundos eu permaneci estupefato, não era o cavalheiro quem conduzia a dança?, até que ouvi Marco gritar sobre o som da música perguntando se eu era um homem ou um saco de batatas e então decidi que eu era ótimo em improviso. Ergui os braços e imitei os que me rodeavam começando a bater palmas, e então passei a seguir a mulher com o olhar, girando a cabeça para acompanhá-la. Era como se fosse uma dança cigana que eu tinha visto em algum filme.

Então, ela parou de me rodear e se afastou. Mas eu não queria que ela se afastasse, e a música continuava, assim, com um largo passo para frente, alcancei seu braço e puxei-a de volta, com um giro ela se colocou de costas contra meu corpo e balançou-se no ritmo da música, consegui sentir seu extasiante cheiro de rosas e nesse segundo de distração a perdi em outro giro.

Ela rodou algumas vezes em torno de si mesma, as palmas se intensificando, então me encarou com olhos tão intensos que eu senti o ar fugir de meus pulmões. Ela sussurrou “joelhos” e eu não sei como, nem porquê, mas entendi o recado e abaixei-me, com o joelho direito no chão enquanto a perna esquerda mantive com o pé no chão e levemente dobrada, quase como aqueles pedidos de casamento. Ergui minhas mãos até próximo a meu rosto e voltei a bater palmas. A mulher continuou o show, seu cabelo grudava nas têmporas devido o suor e então ela jogou a saia mais uma vez, aproximando-se de mim e encostando um de seus pés em meu ombro assim que a última nota ribombou no ar.

As palmas aceleraram e então ela colocou o pé de volta no chão, sorrindo para a plateia e ofegando, curvando-se em agradecimentos antes de virar-se para me estender a mão. Aceitei-a e me pus de pé com um impulso, não conseguia tirar os olhos dela.

— Você não foi de todo ruim, estrangeiro. — Disse com um sorriso e eu balancei a cabeça, também estava ofegante, mas suspeitava ser por outro motivo que não a dança.

— Não foi de tudo ruim? Ora vamos lá, fui perfeito. — Disse fingindo estar ofendido, ela abanou-se, agradecendo a plateia mais uma vez e então caminhando para a fonte. Eu a segui. E ela esperava que eu a seguisse porque assim que parou na fonte, de costas para mim, deixando a sereia espirrar água em seu corpo, falou:

— Como eu disse, nada ruim para um estrangeiro. — Comentou e então virou-se para mim. Sua pele era de um dourado incrível, como se ela passasse horas no Sol apenas porque queria o fazer. E a água salpicada por seu rosto e colo... ela parecia brilhar. Encarou-me divertida e estendeu-me a mão. — Giulietta, incatata — Apresentou-se.

Eu ri. Aquilo era maravilhoso. Inclinei-me em sua direção, aceitando sua mão e trazendo-na para perto, beijando seu dorso ao dizer:

— Romeo. — Ela gemeu.

— Como todos os outros. — Lamentou-se dramaticamente.

— De jeito algum. Sou sempre melhor e diferente. — Garanti e ela me olhou. — Além do mais, realmente fui Romeo um tempo da minha vida. Segundo o meu professor o melhor que ele já vira. — Disse prepotente e ela riu. — Mas já que não é do seu apreço, posso ser James.

— Bom, pelo menos não é Páris...

— Seria qualquer coisa que pedisse, madame. — Garanti e ela ponderou por um instante.

— Presumo que James terá que ser o suficiente. — Suspirou e eu sorri.

— Sua dança é... como é que aquele cara diria? — Fingi pensar, a fala nunca me fugira à mente. — Surge, formoso Sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela¹. — Ela riu.

— Guarde suas citações, Romeo. — Disse e então voltou a caminhar, beijando meu rosto ao passar por mim. Um beijo tão suave que era como o bater de asas de uma borboleta.

— Você está indo embora? — Perguntei e então ela virou-se, andando de costas para me encarar.

— Adeus; calca-me a dor com tanto afã, que boa tarde eu diria até¹... — Não terminou a frase, deixou-a assim, solta com um sorriso travesso, dando-me as costas e correndo até uma garota que, não percebi até aquele instante, gritava por ela.

Pensei em avançar em sua direção, mas assim que dei o primeiro passo Marco surgiu em minha frente.

— Pronto para continuar, Romeu? — Perguntou e eu encarei, perguntando-me internamente como é que ele sabia.

Ao olhar de novo para onde ela fora, percebi que Giulietta não estava mais lá. E, de repente, o dia parecera um pouco menos brilhante.

 

(…)

 

Certamente que eu não desistiria tão fácil. Afinal, mesmo que eu estivesse negando isso aos quatro ventos, meu nome ERA James Sirius Potter. E quando eu colocava algo na cabeça… ah, bem, vocês sabem.

Continuei o tour pela Itália como planejado, começando pelos vilarejos bruxos e expandindo aos poucos, conhecendo mais da cultura italiana, das pessoas, das comidas. E todos os dias eu fiz absoluta questão de voltar ao vilarejo de partida, ficando com Marco durante horas na praça central esperando que ela aparecesse por ali. Mas isso não aconteceu e eu cheguei a fatídica conclusão de que a citação de Giulietta não era um “até breve”, mas um “até nunca mais”

Em uma semana meu estágio começou e não foi fácil. A comunicação com as pessoas ali acontecia, por ser uma empresa mundialmente conhecida pessoas de várias partes do mundo trabalhavam lá e uma língua em comum também era estipulada ali. Tinha que admitir, ser inglês nunca me foi tão útil.

Era ótimo estar naquela empresa, eu conhecia mais sobre as poções do que o curso me fornecia e aprendia sobre os ingredientes em potencial e os já descobertos, cada dia era produtivo e eles pagavam bem. Mesmo sem esperanças, continuava passando pela praça principal todos os dias ao chegar do trabalho e ao sair de lá.

Duas semanas mais tarde as aulas também começaram e aí a coisa começou a ficar um pouco mais difícil. Eram trabalhos a fazer e pesquisas a elaborar, confesso que no começo foi tudo um tanto exaustivo. Entretanto, eu me divertia fazendo todo aquele trabalho, mesmo que eu estivesse tendo que deixar umas noitadas de lado para explodir a cozinha da república ou dormir em cima de pergaminhos.

Além do mais, eu não era mais o James de Hogwarts, popular e garanhão. Não, aqui era diferente. Eu estava diferente. Ter muitas amizades aqui não era o meu objetivo — muito menos ser reconhecido. Isso não me impediu de fazer novas amizades, é claro. Me dava bem com todos os estudantes da pensão, mas éramos apenas colegas, amigos mesmo eram só dois sortudos: Marco e o auror, que tinha me confundido com um amigo dele, Paolo. Ele me ajudou no Centro de Poções e se tornou alguém que eu gostei de manter por perto. Não que isso me impedisse de sentir falta de Dimitri. O grandalhão e eu sempre mandávamos cartas um para o outro, mas eu realmente sentia falta das farras com ele, ainda que somente Dimitri bebesse.

Eu já estava na empresa há quase dois meses e estava próximo de fazer minha primeira grande descoberta, uma poção para amenizar os efeitos colaterais da aparatação e ajudar na concentração antes dessa, diminuindo os riscos de destrunchamento, quando o destino resolveu bater a minha porta para lembrar que ele adorava brincar comigo.

— Eureca! — Gritei, entusiasmado, ao ver a poção adquirindo uma coloração verde-musgo após o acréscimo de três lesmas.

Paolo ao ouvir meu grito se aproximou e, encarando a poção, respirou fundo antes de me segurar pelo braço e gritar:

— Evacuar! James vai explodir a sala de novo! — Avisou aos demais que imediatamente correram para fora da sala, arrastando-me junto com ele.

No exato momento em que a porta foi fechada um “cabum” ecoou dentro da sala e as paredes de vidro foram atingidas por uma meleca gelatinosa e verde. Alguém gritou “pausa” enquanto outras pessoas gritavam pelos elfos, Paolo deu tapinhas em minhas costas.

— Eu tinha tanta certeza que dessa vez eu conseguiria! — Confessei, derrotado.

— Você é muito ansioso, James. Continue tentando, as grandes descobertas que mudaram o rumo da humanidade não alcançaram a perfeição na terceira tentativa.

E 'sempre un piacere, signore Pausini. — Uma voz que havia se tornado apenas uma boa lembrança soou não muito distante dali, atraindo minha atenção.

Invia i miei saluti a vostro marito. — Senhor Pausini respondeu e eu nunca quis tanto falar italiano como naquele momento. Claro que depois de meses ali eu já tinha pego algumas coisas. Marco me ajudava com algumas aulas, mas com o tempo livre que eu estava tendo só sabia contar até 10 e recitar o alfabeto.

Giulietta sorriu para ele e virou-se para ir embora, freando seus passos ao me ver no caminho.

— Ja… son. — Soou surpresa.

— Eu sei, certo? — Paolo concordou e então passou por nós, indo até o diretor Pausini e sumindo com ele para dentro da sala.

— James. — Corrigi e então sorri. Sem o suor, o sorriso contagiante e o vestido solto, Giulietta parecia muito mais séria, porém sua beleza continuava inabalável. — Que surpresa agradável. — Disse e ela olhou envolta, trocando o peso de perna.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntou parecendo alarmada e eu também olhei ao redor.

— Bem… eu trabalho aqui. Já faz um tempo… — Ela pareceu surpresa, algo me dizia que ela não estava muito contente de me ver. — E o que você faz aqui? — Perguntei querendo prolongar seu tempo ali o quanto pudesse.

— Meu… Minha família patrocina a empresa. O… patriarca é muito ocupado então eu venho de tempos em tempos checar como andam as coisas e fazer alguns orçamentos.

Signora Bellucci. — Um homem que surgiu de sabe Deus onde chamou, fazendo-a coçar a garganta.

Ciao James. — Disse e então apressou-se até o homem, caminhando para a saída sem esperar uma resposta.

Suspirei, sabendo que tinha perdido uma oportunidade, porém com a esperança renovada. Se ela representava a família na empresa, ela voltaria mais cedo ou mais tarde. E eu, com certeza, tinha uma nova fonte aonde pesquisar a respeito dela.

Com um sorriso esperançoso e a confiança renovada, retornei a sala de testes.

 

(...)

 

Até o final do expediente eu explodi a sala mais duas vezes e em uma terceira o odor da poção ficou tão forte que essa teve que ser evacuada por quase uma hora. Acabaram decidindo me dar outra tarefa para que os demais pudessem trabalhar, fiquei um pouco chateado, devo confessar, mas seguiria o conselho de Paolo e aproveitaria cada instante para tentar pesquisar mais e aperfeiçoar meu projeto.

— Você pode ir agora, Paolo. — Informei ao terminar de juntar minhas coisas e deixar o laboratório, o auror riu.

— Na verdade tenho ordens rígidas para te acompanhar até a saída, você sabe, para não explodir nada no caminho. — Ele riu enquanto eu fazia careta. — Eu e o pessoal vamos sair para tomar uma, você sabe… um happy hour. Vem dessa vez? — Convidou.

Ponderei por um instante. Era certo que eu tinha trabalhos a fazer e, bem, precisava de boas horas de sono, mas, porém, entretanto, era sexta-feira, eu tinha um prazo relativamente extenso até a entrega do próximo trabalho e não tinha que trabalhar aos sábados. Além do fato importantíssimo que estava me coçando para saber mais sobre Giulietta. Uma folga não mataria ninguém.

— É, acho que tudo bem. — Concordei. — Preciso passar na república primeiro — e abri os braços, para mostrar minha roupa suja.

— Você pode usar magia, James.

— Mas um banho seria ótimo, não acha? Tenho certeza que meu lindo cabelo está com cheiro de enxofre.

Paolo riu e concordou. Como ele foi designado para me acompanhar por causa dos meus desastres, disse que iria comigo até a república e me esperaria lá. E, então, aparatamos.

 

(...)

 

Uma vez incrivelmente cheiroso, segui Paolo para fora da república movimentada, pensando em Giulietta. Seria uma oportunidade muito conveniente — para mim, é claro — para saber mais sobre ela. Sua imagem bela e poderosa não saía da minha cabeça depois que eu a vi lá no laboratório. Desde antes disso, até.

Paolo parou em frente a porta da república e estendeu o braço, sorrindo. Estreitando os olhos, eu aceitei seu braço e aparatamos.

Quando aterrissamos em frente a um bar de estilo rústico, eu parei para respirar o ar fresco; eu tinha que achar o ingrediente certo. Eu não aguentava mais a tontura. Os enjoos já tinham passado, mas eu ainda ficava muito desnorteado. Paolo me olhava, esperando que eu me recuperasse.

— Cara, no dia em que eu descobrir o que colocar naquela poção... eu mesmo experimentarei — comentei, depois que eu consegui me estabilizar.

Paolo riu:

— Quero experimentar também. Vamos entrar? O pessoal já está lá dentro.

— Claro, claro.

Como a maioria das coisas naquela cidade, o bar era frequentado somente por bruxos. Na verdade, me lembrava um pouco O Caldeirão Furado, mas sem a parte da má iluminação — não sei por que Neville não tinha colocado várias lâmpadas naquele lugar —, a hospedagem e a música. Tinha espaço para dançar, a música não estava tão alta, mas também não estava baixa; o lugar estava cheio, pessoas falavam, garçons e garçonetes andavam de um lado para o outro com bebidas e comidas nas bandejas. As mesas eram feitas de madeira e o local fora construído com pedras ou rocha, não sei dizer.

Paolo vasculhou o bar e encontrou o pessoal em uma mesa particularmente grande, bem lá no fundo. Cutucou meu braço e fomos andando até onde meus colegas de trabalho estavam. Quando nos viram, fizeram festa e abriram mais espaço para a gente.

Cumprimentei a todos e sentei-me ao lado de Paolo. Então, um garçom parou na nossa mesa e perguntou o que queríamos. Pedi meu chá gelado de pêssego e uns aperitivos. Paolo me olhou e pediu uma cerveja amanteigada. O garçom assentiu, anotando num bloco de papel que, assim que ele terminou de escrever o pedido, saiu voando para a cozinha.

— Não bebe? — perguntou casualmente Paolo.

— Nope. — Respondi. — Como é que eu vou assistir vocês pagando mico estando bêbado também? Alguém tem que ficar sóbrio pra assistir. — Eu ri. Paolo me encarou por mais alguns segundos, antes de aceitar a minha resposta.

Depois que as nossas bebidas foram postas em nossa mesa, começamos a conversar sobre o Centro de Poções, até que um dos aurores que fica de guarda em frente a porta do diretor falou, com um certo sotaque:

— Eu detesto as visitas dos Belluci. Tudo bem que eles patrocinam as pesquisas e tudo o mais, mas vou lhes contar uma coisa: péssima família.

Os demais à mesa assentiram com vigor. E eu fiquei perdido. Giulietta não me pareceu ruim; quero dizer, ela foi profissional e não rude.

— É, mas a Giulietta não é de todo ruim — disse um cara da ala dos cosméticos, ecoando os meus pensamentos. — Gosto quando é ela que vai tratar dos negócios. Acho que é por isso que a mandam com mais frequência, ela sabe atender as pessoas bem.

— Concordo — Paolo se pronunciou. — Se mandassem outro é bem capaz que eles percam a confiança do pessoal.

— Você a conhece? — perguntei, após todos assentirem e mudarem de assunto.

— Quem? Giulietta Belluci? — Eu assenti e Paolo pareceu pensar. — Bem, já troquei algumas palavras com ela. É uma mulher bem interessante, porém não faz o meu tipo. Gosto das louras, entende? — Eu ri junto com ele, mas queria saber mais. — Mas é um problema, se relacionar com ela. — Ele fez uma pausa.

— Sério mesmo?

— Sim. A família dela ainda é... tradicional, entende? A gente mal pode trocar um "Bom dia" com ela ou com qualquer um da família Belluci que vá ao Centro de Poções — respondeu ele. — Giulietta é... simpática, pelo que eu pude perceber. Mas falar com a sua família... é como querer falar com alguma celebridade. Nós só não reclamamos ou azaramos eles porque pagam as nossas contas. Então engolimos tudo.

— Hum... entendi — falei e beberiquei um pouco do meu chá gelado.

Eu tinha percebido que ela seria uma mulher difícil de se relacionar ou de se comunicar. Entretanto, nunca passou pela minha cabeça que a sua família seria a que impediria de eu fazer, pelo menos, amizade. Não que isso fosse me impedir (namorei uma Malfoy), é claro.

Eu percebi que, ficar sondando Paolo seria perigoso. Ele era um auror e, mesmo bêbado, saberia o meu interesse na família Belluci, mais especificamente em Giulietta. Então parei por ali e tornei a participar da conversa amena que eles começaram, mas sem tirar aquela bela mulher de vestido florido da cabeça.

 

(…)

 

Não demorou nem duas semanas e eu a vi de novo.

Particularmente, eu estava tendo um péssimo dia quando Giulietta apareceu no Centro de Poções. Para ser sincero, eu nem a tinha visto entrar, de tão puto que eu estava. Geralmente, eu conseguia não ficar frustrado com os meus erros naquela poção. Mas os trabalhos da faculdade estavam tirando minha sanidade fora. Eu chegava cansado no Centro e tentava ajudar como podia, sempre tirando um tempo para me dedicar ao projeto que tinha em mente.

Então, pela sexta explosão consecutiva, eu larguei os óculos de proteção em cima da mesa e saí do laboratório, querendo socar quem aparecesse na minha frente. Portanto, para não bater em alguém, fui para fora do estabelecimento, onde tinha um pequeno jardim com bancos. Quase ninguém ia lá e, por este motivo, eu fechei a porta atrás de mim e segurei o fôlego. Eu queria explodir de tanta raiva e frustração e...

— Você está parecendo que vai gritar.

Eu pulei no mesmo lugar, soltando o ar preso, ao ouvir aquela voz suave. Virei-me para encarar Giulietta, que estava sentada tranquilamente em um dos bancos. Ela se levantou e veio até a mim.

— Não se preocupe, eu sei bem que vontade é essa — disse e eu a observei. — Tenho o tempo todo.

— E por que não grita? — perguntei. Giulietta riu levemente.

— Ah, mas eu grito. Por isso que sugiro o feitiço Abaffiato, você deve conhecer. — Eu assenti. — Tenho que ir, senhor Evans. Ou senão, virão me buscar aqui. Até breve.

— Espere! — pedi, enquanto ela se dirigia para a porta. Giulietta parou e se virou para me ver. — Por que estava aqui?

— É o único lugar que ninguém me perturba. Até mais, senhor Evans. — E saiu do pequeno jardim.

Ela bateu a porta e eu fiquei parado ali, até que me dei conta que eu nunca havia dito o meu sobrenome a ela — que nem era meu de verdade. Então saí atrás de Giulietta, encontrando-a virando o corredor, a fim de ir para o salão de pesquisas.

— Hey! — gritei e ela virou-se. — Eu nunca disse meu sobrenome.

Ela ergueu uma das sobrancelhas e logo depois sorriu. Um sorriso que fez meu coração parar. Droga.

Quando ela abriu a boca, um dos seus seguranças pessoais a chamou. Imediatamente, seu sorriso desapareceu e Giulietta tomou uma postura mais profissional. O segurança apareceu atrás dela enquanto explicava:

— Sou uma das que patrocina esse centro de pesquisas. Eu tenho que saber os nomes dos funcionários. Tenha uma boa tarde.

Giulietta me deu as costas novamente, enquanto era acompanhada de perto de seu segurança. Ainda irritado, voltei para o laboratório, tentando tirar aquela mulher da minha cabeça.

 

(...)

 

Minha mão alcançou o relógio e o silenciou com um tapa, segundos mais tarde meus olhos se abriram, mas o sorriso de Giulietta continuava brilhando em minha retina, fresquinho do último sonho no qual ela aparecera. E vinha aparecendo com frequência. Uma semana havia se passado desde a última ida de Giulietta na empresa e tentando discretamente, perguntando como quem não queria nada, ia conseguindo minhas informações a respeito dela. Descobri que suas visitas tinham uma ocorrência trimestral, que apenas em emergências ou quando se faziam novas descobertas suas aparições quebravam o protocolo de idas de três em três meses há pelo menos cinco anos. Isso me incentivou mais do que nunca a fazer minha poção funcionar.

E eu estava ficando louco. Demorei alguns minutos para levantar após o despertar do relógio, mas isso não mudava o fato de que eram cinco da manhã. E eu havia dormido apenas três horas atrás. Meu quarto na república não era grandes coisas, mas eu passava todo o tempo em que não estava em aulas ou na empresa lá. Tinha uma cama que era grande o suficiente para abrigar minha cabeça e pés sem eu me espremer, e larga ao ponto de que se eu me movesse durante a noite daria de cara com o chão. Um armário minúsculo de três gavetas era o que tinha para guardar meus pertences, felizmente eu não tinha muita coisa além da compra que Viola fizera para mim, que por sua vez também não era nenhum exagero. Uma mesa redonda com uma única cadeira era o maior móvel do quarto e algumas prateleiras pregadas na parede serviam para guardar os livros. Absolutamente tudo dentro daquele cômodo, da cama à cadeira, possuía pergaminhos. O chão estava abarrotado de bolinhas do papel e manchas de nanquim. Tubos de ensaio e ingredientes mal organizados estavam espalhados pela mesa ao lado de diversos copos descartáveis de café. Como eu disse, eu estava ficando louco.

Passei pelo mar de bolinhas até chegar à mesa e tentei arrumar as anotações úteis, mas a tentativa fora em vão, pois logo eu me jogava na cadeira e suspirava. Faculdade, trabalho, pesquisas e... Giulietta. Muita coisa para se fazer, foco requerido, e a única coisa em que conseguia me focar era ela. Mesmo quando dormia, ela estava lá. Mesmo que na verdade ela nunca estava em lugar nenhum. Tenho minha teoria de que essa obsessão por Giulietta se dava apenas ao fato de que ela me era inacessível e, bem, vocês conhecem meu histórico com essa coisa de não poder ter. Bastava estar fora do meu alcance que se criava a necessidade. Isso desde a época em que eu era pequeno demais para tocar nos ponteiros do relógio de vô Arthur e mamãe dizia em palavras ríspidas que eu não devia mexer lá. De um jeito ou de outro, ela havia mexido comigo de um modo que há muito ninguém o tinha.

Consegui pegar algumas anotações importantes, pergaminhos em branco e tinta para enfiar na mochila e descer para tomar um café reforçado. Vinha evitando espelhos nos últimos tempos, pois o reflexo representava a derrota de um universitário-estagiário pseudo-apaixonado, não o brilhante e galã James Sirius Potter que eu amava ser. Mas a chaleira que fervia a água do café me fez questão de mostrar que eu estava bem pior do que eu pensava. E, para melhorar, chegando ao curso o professor tão gentilmente nos aplicou um teste surpresa.

Após o almoço fui para a empresa e foi quando eu dei um soco na mesa após falhar mais uma vez que Paolo veio falar comigo, dizendo que eu precisava descansar e deveria tirar o dia de folga, pois senhor Pausini não se importaria, além do fato de que eu estava trabalhando muito mais do que devia ou era pago por. Devido ao fato de estar exausto, aceitei a folga sem reclamações e deixei a empresa apenas trinta minutos depois de entrar e caminhei para a praça da cidade.

As pessoas ali viviam suas vidas, sorridentes, simpáticos. A feira continuava ali, vendedores íntimos de seus clientes vendendo de abóboras à pó de casco de hipogrifos.

A sereia continuava pulando por lá, atirando água em crianças que passavam por lá brincando com ela e piscando aos visitantes que lhe lançavam moedas fazendo pedidos. Perguntei-me se a piscada seria um agradecimento ou uma promessa de que o pedido seria realizado. Era quase o final do outono, mas o frio ainda não tinha chegado.

Enquanto olhava a paisagem, uma senhora se posicionou ao meu lado e pôs-se a encarar também, até que eu a notei e resolvi a cumprimentar, ela sorriu e seu sorriso me parecia familiar, mesmo que eu tivesse certeza de que nunca em minha vida tinha visto aquela senhora com três dentes faltantes.

— Jason! Como estão seus pais? E a spattergroit da sua irmã? As bolhas já pararam de estourar? Horrível doença, horrível! — Disse e eu não pude conter a careta. Precisava ser apresentado a esse tal de Jason.

— Sinto muito senhora, acho que você se confundiu. Meu nome é James e eu não sou italiano. — Disse e então senti um estalar na cabeça, como se alguém tivesse ligado o interruptor. — E a senhora sabe disso, do contrário não teria falado em inglês. Esse Jason ao menos existe? — Perguntei mais para mim mesmo do que para a senhora. — De onde nós conhecemos?

A senhora riu e caminhou até um banquinho, sentando-se. Não tardei a ir atrás, intrigado. Ao me ver sentando ao seu lado ela tornou a rir e encarou a fonte.

— Bem, eu realmente confundi seu nome aquele dia, desculpe-me. Sou péssima com nomenclaturas. — Disse e agora sua voz soava muito mais com uma jovem de 20 anos do que uma senhorinha de 80. — E deve existir um Jason, vários, é um nome comum, afinal. — Disse com um dar de ombros.

— Desculpe-me... — Comecei e a senhora girou a cabeça para me encarar.

— Margaretta Cabrini. Cozinheira. Trabalha naquela casa desde muito antes de eu morar lá. Você sabe, tenho no mínimo dois seguranças atrás de mim independente do lugar que eu vá, como se eu fosse filha do Presidente. Mas ninguém se importa com a segurança de Margaretta. Ninguém seguiria essa pobre velhinha nas ruas e tentaria a matar por conta do seu... bem. — Interroupeu-se, sorrindo o sorriso banguela que não pertencia à pessoa com quem eu falava, não necessariamente. — Por outro lado eu sempre consigo despistá-los por alguns segundos, o suficiente para subornar algum dos meus funcionários para levar um pouco de polissuco para mim nos jardins da empresa. Ah, se eu não fosse tão boa em feitiços teria sido pega por um funcionário esquentadinho...

— Giulietta? — Disse meio alto, meio surpreso, meio soprado.

— Margaretta. — Pontuou, mas sorria. Fiquei perplexo.

— Como... Como... Polissuco? Por quê?

— Sabe, meu pequeno discurso de minuto atrás não era direcionado a sereia. — Comentou e eu fiz o famoso peixinho. Ela revirou os olhos. — Não tenho muito tempo até eles perceberem que a eu que está lá não sou eu mesmo, deve ser mais fácil interpretar uma senhora do que uma jovem depois de tanto tempo. Enfim, vim para falar com você, Evans. — Disse e levantou a mão quando fiz menção a falar algo. — Como de costume, não tenho tempo. Reparei que você pode ter interesse em mim, mas acredite, você não quer falar comigo, Evans. E não pode. Eu jamais poderei conversar com você nos corredores daquela empresa, isso não vai acontecer. E não porque eu não queira, mas porque eu não posso, então pare de tentar e perguntar sobre mim aos funcionários antes que alguém desconfie de algo. Será ruim para nós dois. — Ela se levantou, voltando a olhar para a sereia. —Você é um rapaz bonito e confiante James, se minha vida não fosse do jeito que é... — Ela riu e notei um pedaço rasgado de pergaminho cair de sua mão. — Adeus. — Disse e então partiu, desaparatando.

Não tive tempo de fazer ou falar nada, mas abaixei-me para pegar o pedaço de papel que ela perdera e fora impossível não sorrir. Com uma letra curvada e redonda estava escrito: Eu disse “nos corredores da empresa”, seja criativo.

Voltei para a república com energia, confiança e ego renovados. Afinal, como bom leonino de Vênus em leão que eu era, o vislumbre de reciprocidade por parte de Giulietta me fizera bem naquela tarde e me dera uma motivação da qual eu estava precisando. Assim, apesar das olheiras profundas e leve dor de cabeça causadas pelo cansaço e estresse, eu sorria abertamente. E talvez esse sorriso (abandonado há sabe Merlin quanto tempo) tenha sido o que chamou a atenção de meus colegas quando eu cheguei ao lugar que estava chamando de casa. Ou, talvez, o fato de que eu cheguei cantando, mas isso não vem ao caso.

— James..? — Guadallupe Herrera chamou enquanto eu cruzava a sala em direção às escadas. — Você está bem? — Perguntou com seu forte sotaque mexicano. Eu parei a cantoria e aumentei o sorriso, correndo até ela e lhe dando um beijo na bochecha.

— Estou ótimo! — Proferi sorridente e a vi estreitar os olhos.

— Que bicho te mordeu? Pode ser contagioso... — A palavra da vez era de Aiyra, nossa colega indiana e eu reparei a genuína preocupação da moça, ri.

— O bichinho do amor...

— É contagioso, mantenham a calma e se afastem vagarosamente dele. — Ian, o americano, era o engraçadinho, que sorria e me olhava com um jeito que explicitava que ele adoraria saber como eu consegui me apaixonar em uma hora e meia.

— Sempre falaram que o amor deixa as pessoas mais agradáveis, mas acho que esse é o amor da sua vida. Nem parece a mesma pessoa do almoço. — Sook, coreano, entrou na roda, também brincalhão, e eu dei de ombros.

— A vida é feita de tentativas. Quem sabe dizer se encontrei o que procurava?

Antes que alguém me respondesse, entretanto, Bianca Belini, uma das tradutoras, entrou na sala perguntando se todos estavam prontos.

— Prontos para quê? — Intrometi-me.

— Para conhecer mais um dos adorados pontos turísticos trouxas da Bella Itália. — Marco respondeu, entrando na sala com uma caixa, e me encarou. — Você não devia estar trabalhando?

— Fui liberado por sobrecarga e visível estresse emocional. — Dei de ombros. — Volto amanhã, hoje eu vou com vocês. É sobre o que esse lugar?

Amore.— Marco disse sorridente. — Mais detalhes só chegando lá, agora, segurem no portal soltem assim que eu mandar, certo? — Disse olhando para o restante do grupo e então abriu a caixa que trouxera consigo, revelando uma grande colher de madeira. Ao notar os olhares deu de ombros. — Era o que tinha. Ao meu sinal. — Observou todos se ajeitarem em volta da colher e se atentarem a ele. — 1... 2...

Assim que o três fora proferido sete mãos foram de encontro ao objeto e logo o mundo parecia uma estranha pintura de arte moderna. Não era algo que eu costumava dizer em voz alta, mas, por mais que nós bruxos nos considerássemos avançados em relação aos trouxas e realmente tivéssemos meios mais eficientes de transporte, eles ainda possuíam graves erros que precisavam ser corrigidos. Pensar que minha poção seria capaz mudar esse quadro me empolgava, mas eu não me preocuparia com aquilo naquele momento de paz que eu me permiti ter. Ao sinal se Marco soltei a chave de portal e cai tropeçando no pico de um monte verde que dava para uma grande cidade com um belo rio que a cortava.

Ouvi um suspiro e um prender de ar ao meu lado e conseguia entender perfeitamente as reações. A cidade era de tirar o fôlego.

— Verona. — Bianca informou por trás dos turistas, sabia que ela sorria pelo tom de sua voz. — Città di amore.

— E da tragédia. — Marco acrescentou a seja lá qual fora o comentário de Bianca. — O que apenas aumenta sua beleza. Bem-vindos, meus amigos, a cidade de Romeu e Julieta.

Ao descer do monte caminhamos pelo restante da tarde entre as vielas e ruas de Verona, descobrindo que cada canto daquela cidade possuía alguma interessante história para contar. E ela quase toda exalava uma aura romântica, ao mesmo tempo em que era melancólica; caseira, tanto quanto turística. Ian sempre tinha comparações a fazer. Segundo ele, Verona era linda, mas todos precisávamos conhecer Miami. E o macarrão servido nos pequenos restaurantes até era gostoso, mas nada se comparava aos fast-foods de Nova York. E a cada comentário de Ian endeusando seu amado Estados Unidos, Aiyra tinha uma resposta em uma língua que ninguém entendia, mas todos julgavam ser um insulto. Mesma Aiyra que passara a tarde se munindo de informações sobre quem eram Romeu e Julieta e porque diabos eles eram tão importantes, informações que os nativos tradutores ofereciam com orgulhoso prazer.

Mais para o fim da tarde Marco e Bianca começaram a nos guiar para um lugar do qual eu só entendi que envolvia alguma coisa de Julieta. Aparentemente eu era o único que não estava tendo tempo para me dedicar às aulas de italiano e Bianca estava usando isto contra mim. Apenas ao alcançarmos os portões de uma casa lotada de turistas foi que Marco começou as explicações.

— Bem-vindos a casa de Julieta. — Disse estendendo os braços teatralmente. — Reza a lenda que foi nesta casa que a menina Capuletto viveu sua curta vida. Pelos corredores que não andaremos e cômodos que não conheceremos porque a entrada é cara, passeou e ficou a jovem Giulietta. E era naquela sacada... — Interrompeu-se por um segundo para apontar o lugar dito. — Que ela se prostrava a espera do amado.

A expressão de Sook para a interpretação dramática de Marco ao passar a informação era definitivamente uma expressão que qualquer um daqueles famosos pintores italianos devia se importar em eternizar.

— Esse lugar tornou-se um marco, uma espécie de lugar destinado a amores impossíveis e corações partidos. Não sei quando, nem como, mas as pessoas passaram a vir aqui para deixar cartas para Julieta, cada uma contendo sua história, seus amores e suas dores. — Bianca deu continuidade.

— Os trouxas têm uma espécie de companhia que recolhe algumas das cartas e responde, ajudantes de Julieta ou qualquer coisa assim. — Informou Marco sem mais a empolgação anterior.

— É algo histórico e... bem, bonito. A coisa toda está em você poder compartilhar seu sofrimento com alguém que também não podia estar com seu amor.

Amores proibidos e toda aquela história apenas servia para redirecionar meus pensamentos para a única Giulietta que me interessava, àquela que ainda naquele dia me aconselhara a manter distância por ser algo bom para ambos, mas minutos depois me incentivara a ir atrás dela.

— Eles estão... estão... pegando... isso não é falta de respeito? — A voz horrorizada de Sook sobressaiu e então todos acompanharam seu olhar até um grupo de turistas que se reunia em torno de uma estátua e, então, segurava os seios da mesma.

Marco riu.

— É a estátua de Giulietta. Dizem que se você a tocar nos seios terá sorte no amor. Deveria tentar, James. — Aconselhou e eu sorri de lado.

— Já tive a sorte no amor de Julieta uma vez, não gostaria de repetir a dose, passo. — Disse eu, surpreso ao ver que sorria com a brincadeira que não muito tempo atrás seria o suficiente para me destruir. Um misto de calma e saudade se apossou de meu peito, mas logo minha atenção ia para Guadallupe, que corria na direção da estátua com as mãos erguidas.

— Onde a gente tem que pegar para ter sorte nos exames? — Ian quis saber e Aiyra concordou com o rapaz pela primeira vez durante toda à tarde.

— E aquelas pessoas ali? — A indiana quis saber apontando para grupo formado majoritariamente por mulheres que colocavam coisas em um muro.

— Aquele é o muro de Julieta. É onde as pessoas colocam suas cartas. — Marco disse assim que Guadallupe retornou contente por ter assediado a estátua.

— E como essa será nossa última parada, pensamos que todos poderiam brincar. — Bianca sorria e sacava de sua bolsa pedaços de pergaminho e canetas. — Vocês com certeza já tiveram algum amor impossível, então, antes de irmos, todos iremos escrever nossas lamúrias para Julieta. Vocês podem ou não deixar as cartas no muro, mas têm que escrever, do contrário os deixaremos perdidos em Verona sem saber o caminho de casa. — Ameaçou enquanto distribuía o pergaminho e as canetas.

Peguei um de cada e então observei o papel. Havia tido muitos amores impossíveis, tantas perdas e despedidas que um pequeno pergaminho rasgado não seria suficiente. Entretanto, na casa de Julieta, em frente a sua sacada, me pareceu correto direcionar minha carta a meu mais recente desamor:

"Querida Julieta,

Qual a boa? Não me ache estranho ou abusado, mas é só que eu tenho essa estranha sensação de que somos próximos. Não que te interesse, mas há alguns verões, quando a vida era fácil, eu interpretei seu amado Romeu. Então temos alguma ligação, creio eu.

Mesmo que eu tenha estragado a peça porque não conseguia fazer um suposto defunto parar de rir, mas isso não vem ao caso.

Você já deve estar cansada de saber que sua história é famosa e blábláblá e muitos já devem ter lhe dito isso, mas eu digo com mais convicção, temos mais em comum do que você pode imaginar. Acho que o que nos difere é que eu não cheguei as vias de fato do envenenamento... Ou é Romeu quem se envenena? Bem, de qualquer maneira, nunca tentei diretamente, mas foi por bem pouco que não me uni a vocês na vida pós-morte.

Acho que eu não converso com ninguém já há um tempo, uma conversa mesmo, então perdoe-me se estou divagando. Você já deve estar se lamentando por eu não ter seguido seus passos e tirado minha vida, se assim eu tivesse feito não estaria te enchendo com essa carta, mas estou aqui pelo que parece ser o meu castigo eterno: amores impossíveis.

De um J para outro, você bem sabe o que é isso não é Juju? Sei que sabe, até o final da peça interpretei muito bem seu amado Montecchio, mas vamos ao que importa.

Vim a Itália para estudar e, quem diria? Encontrei o amor logo no primeiro dia. E não era minha intenção rimar... Mas enfim. Era verão, mas essa menina... ah... ela era o Sol, mais brilhante que ele talvez, com um lindo sorriso e eu ainda me lembro das flores de sua saia rodando na praça. Eu nem mesmo pude ver o que me atingiu.

O engraçado é que eu retornei aquele lugar a procura dela, que também tem algo em comum com você até onde eu sei, e eis que quando eu desisti ela reapareceu para mim. De maneira inesperada, mas este é um dito da minha tia Luna que eu já devia ter aprendido. E, mesmo no outono, ela ainda brilhava como o Sol, mas não me sorria mais.

Certo, talvez o problema esteja comigo e eu vá atrás de amores impossíveis, mas quando o cupido me acertou eu não tinha como saber que ela era assunto proibido. Na verdade descobri isso apenas hoje e... ah Juju... Queria ter teus bailes de máscaras para poder me encontrar com ela sem que ninguém soubesse. Mas a vida no século XXI é muito mais entediante do que parece.

O pergaminho está acabando então eu vou adiantar as coisas, sei que ela quer me ver e conversar comigo, mas não podemos fazê-lo onde nos vemos, querida Capuletto, precursora das fugidinhas e enganadas para encontrar-se com quem amava, como posso eu alcançar a dama que almejo?

Tudo de bom, no aguardo da resposta.

Com sincera ansiedade, Uma vez Romeu"

Encarei o pergaminho em minhas mãos e então tive uma ideia. Devolvi a caneta para Bianca com um sorriso e dobrei o papel. Enquanto meus colegas levavam suas lamúrias escritos para o muro de Julieta eu guardei o meu no bolso, determinado a entregar aquela carta a Giulietta que realmente me interessava.

 

 

Por longos três dias aquela carta não saiu de meu bolso. E era engraçado o quanto eu me sentia novamente como um adolescente disposto a conquistar uma das mais belas garotas da cidade, garota essa que possuía um segredo que afastava a todos, mas apenas me atraía cada vez mais para perto.

Era o fim do expediente de uma sexta-feira e eu tinha me convencido de que teria que aguardar até a próxima semana para continuar minha espera infinita quanto o senhor Pausini entrou no laboratório acompanhado por ela. Mesmo com óculos de proteção e o macacão ela parecia linda.

Eles conversavam sobre alguma coisa em italiano, ela sorria de modo profissional e o meu chefe parecia extremamente empolgado.

— Pessoal. — Chamou Pausini. — Aos desinformados esta é Giulietta Belluci, a família dela é a maior patrocinadora da nossa empresa e nos últimos tempos vem mostrando maior interesse em nosso trabalho e se comprometido a ajudar ainda mais, acompanhando cada vez mais de perto nosso progesso. — Anunciou e todos bateram palmas, mas eu só conseguia a encarar e torcer que ela me visse. — A dama é a encarregada dos negócios de família em nossa empresa e, hoje, veio para conhecer melhor nossos novos projetos. Impressionem-na como sei que são capazes. — Sorriu para todos e então voltou sua atenção para Giulietta, que logo começou a caminhar pelo laboratório.

Eu sentia uma animação infantil, tão infantil que esqueci completamente que estava com uma poção no fogo. O cheiro forte subiu e eu espiei o caldeirão apenas para concluir que a poção deveria estar em um tom de verde musgo estava roxa e eu tinha esquecido de acrescentar o pó de leprechaun. Esqueci-me do que acontecia ao redor por um segundo, enquanto floreava minha varinha para limpar a bagunça.

— Senhor Evans. — Um pigarreio me fez olhar para o lado e, ao me lembrar do que estava acontecendo, gaguejei.

— Se-se... senhorita Bellucci. — Sorri e percebi que ela se segurava para não rir. Pausini que havia ficado conversando com Francesca, se aproximou.

— Esse é James Evans, um de nossos estagiários. Devo dizer o mais promissor em anos. Faz muito mais do que deveria, mas com paixão. Não houve um minuto desde que ele pusera os pés nessa empresa que me arrependi de sua contratação. Nem mesmo quando ele explode a sala. — Ele riu, fazendo-me rir junto e arrancando um simpático sorriso de Giulietta.

— E qual seu projeto, senhor Evans? — Perguntou ela e então eu vi a oportunidade perfeita para entregar-lhe o bilhete.

— É uma poção para aliviar os efeitos negativos dos transportes bruxos. Ainda está no começo, mas já fiz consideráveis avanços e... — Levantei o dedo, pedindo para que ela aguardasse e corri até o outro lado da sala, revirando uma gaveta em busca de uma pasta qualquer, assim que encontrei uma que parecia não ter utilidade há, pelo menos, dez anos, puxei-a para perto e transferi a carta de meu bolso para dentro dela. Corri de volta para onde Giulietta estava e então lhe estendi a pasta. — Aqui estão algumas das anotações sobre as evoluções que fiz, ingredientes testados e toda essa coisa...

— Por que nunca recebi essa ata? — Pausini quis saber espiando a capa vermelha da pasta.

— Senhor, não quero que se ofenda, mas como o projeto está só no começo não acho que seja hora de mostrar dados. Estou os entregando para a senhorita Bellucci porque... bem... se eu bem entendi eles são os donos do dinheiro. — Ri e Pausini me acompanhou, dando tapas em minhas costas.

— Muito bem rapaz, muito bem. Desculpe a interrupção! Giulietta...

Pausini reiniciou sua caminhada, falando em italiano. Giulietta me encarou por breves segundos e eu lhe forneci o melhor de meus sorrisos, antes de ela se unir a Pausini pude notar que ela sorrira de volta.

Agora bastava esperar minha resposta.

 

(…)

 

Meu nome era sussurrado e meu corpo balançado enquanto eu aceitava aquilo como um maravilhoso convite para continuar dormindo. Mas a pessoa que me ninava tinha ideias diferentes das minhas.

Dios! Acorda James! Você já dormiu o dia inteiro! — Resmungou Guadalupe, claramente sem paciência.

Resmunguei, abrindo os olhos e produzindo sons de uma pessoa que não queria acordar.

— Bom dia. — Cedi após algum tempo e ela ergueu as sobrancelhas.

— Dia? James, são quase oito da noite. Achamos que você estava morto. — Informou, o que foi o suficiente para me fazer sentar na cama, assustado, buscando confirmação daquilo no meu relógio e surpreendendo-me ao notar que era verdade. Aparentemente meu cansaço havia falado mais alto que meu despertador e, mesmo tendo dormido cerca de vinte horas, eu ainda sentia como se pudesse dormir mais dez.

— Droga! Eu tinha que ter estudado, e meu projeto... eu não podia ter dormido assim. — Praguejei baixinho e Guadalupe riu, sentando-se ao meu lado e chutando algumas bolinhas de pergaminho no chão.

— Bem, eu tenho uma ideia melhor. Vamos sair essa noite, você sabe, para curtir. Somos jovens, James, nossa vida tem que ser mais do que estudos e trabalho. Nossos vinte e poucos anos nos dão a liberdade de ficar bêbados e fazer strip tease em cima da mesa de algum club italiano. — Ela riu, como se já tivesse feito isso antes. — Bianca disse que há uma boate bruxa aqui no vilarejo, só para jovens, como é quase um vilarejo universitário deve estar recheado de pessoas interessantes, então nós vamos. E você vai junto. Não é um pedido, passe seu melhor perfume. — Disse decidida e caminhou para fora do quarto, parando na porta para me encarar. — E amanhã você vai limpar este quarto, parece que um rato morreu aqui dentro. Vai ser o fim de semana livre de obrigações concedido pela fada madrinha Lupe. — Ela piscou os olhos repetidas vezes e fez um movimento como se estivesse mexendo sua varinha. — Vamos sair às dez, esteja pronto. — Pontuou e então saiu, senti que não teria outra alternativa a não ser me arrumar porquê soube que ela me arrastaria de pijamas se necessário fosse, mas não me permitiria ficar.

As dez eu estava na sala na companhia de mais dez colegas de intercambio e quatro tradutores, entre eles meus agradáveis amigos do passeio de Verona.

— Então a toupeira decidiu sair do buraco? — Marco disse rindo e eu fiz uma careta.

— Já me chamaram de muitos animais, mas toupeira é novo.

— Conheço vários outros e ainda temos um bom tempo para usar cada um. Vamos?

O fato de o Club ser no vilarejo fez com que fossemos andando. O céu ali era limpo e as estrelas brilhavam forte, a noite fazia mais frio que pela tarde, dando maiores indícios do inverno que vinha e as meninas se muniam de chales que não pareciam esquentar muita coisa durante a caminhada.

A boate se destacava já há alguns quarteirões de distância, as luzes brilhavam longe e a sua volta não possuía nenhuma casa, apenas estabelecimentos comerciais. Conclui que aquele era o centro da cidade.

Entramos sem grande segredo, Bianca explicou que a entrada era gratuita, mas algumas coisas lá dentro podiam ser caras.

A música tocava alta e havia uma pista de dança abarrotada de gente, como Guadalupe havia imaginado, todos jovens. Notei que não estava exatamente no clima de dança no momento, continuava um pouco embriagado das longas horas de sono, e ao contrário de grande parte de meus colegas não tinha pretensões em arrumar algum flerte. Assim sendo, destoei do grupo em direção ao bar e encarei o cardápio por alguns segundos antes de decidir:

— Um suco de abóbora, por favor. — Para minha felicidade o atendente falava inglês.

— Olha se não é meu docinho. — Ouvi uma voz grossa de sotaque carregado atrás de mim e virei-me boquiaberto

— Dimitri?

— Querida!! — Cumprimentou, abrindo os braços e esmagando-me em um abraço.

— O que está fazendo aqui? Por que não avisou que vinha?

— Bem, você parou de escrever e eu tive que conferir se ainda estava vivo. Mas os motivos da minha vinda eu explico depois.

— Que coincidência! Digo, foi uma coincidência ou você me seguiu desde a república?

— Foi uma coincidência, tinha planos de ir atrás de você apenas amanhã. Cheguei ontem e tive que trabalhar, hoje quis tirar uma folga, você sabe, conhecer umas italianas... — O encarei encarnando minha melhor feição de mágoa e ressentimento.

— Você vem no meu território, depois de todos esses meses, para esfregar na minha cara que veio me trair?

— Docinho... Por meses você me traiu com nossa professora embaixo do nosso teto. — Ele tinha um argumento.

— Em minha defesa nós normalmente íamos à casa dela...

— Ou ficavam na sala de aula, eu sei, você gosta de compartilhar. Ainda nos sucos e chás? — Perguntou vendo a bebida que o bartender colocou sob o balcão, dei de ombros.

— Você sabia que álcool atrapalha nossas capacidades cognitivas? — Argumentei lembrando-me de uma campanha trouxa para que as pessoas não bebessem e dirigissem, Dimitri riu.

— É bom te ver homenzinho...

— É bom te ver também grandão... Temos assuntos a colocar em dia, vai ficar quantos dias? — Ele respirou fundo.

— Pelo que notei desse caso, muitos.

— Ele calou-se e sorriu para alguém que estava atrás da minha cabeça, girei para ver a loira que sorria para ele e então saia com dois drinks em mãos, levando-os até a amiga e apontando em nossa direção com os olhos, logo ambas sorriam e acenavam.

— Então docinho, vai me acompanhar nessa?

— Grandão... aproveite a noite e as italianas. — Disse puxando meu suco para perto. — Porque uma delas já prendeu minha mente.

Dimitri me encarou com uma expressão que indicava que iríamos conversar sobre aquilo e então partiu em direção a dupla de amigas, só voltaria a vê-lo no dia seguinte.

 

— Você está com uma cara péssima. — Comentei, servindo-lhe café sem antes perguntar se ele aceitava, ele aceitou.

— Digamos apenas que aquela loirinha era... animada.

— E a morena também, eu suponho. — Sorri e Dimitri riu, mas sem acrescentar nada. Ele era mais reservado que eu.

— Por que parou de escrever?

— Bem... minha vida está um inferno, desculpe por isso amigo. — Ele balançou a mão.

— Encontrou outra Kristina na sua vida? — Brincou e eu ri.

— Quem dera. Acho que estou me dedicando com mais afinco aos estudos e agora tem o estágio então...

Bongiorno. — Marco desejou, aparentando estar tão destruído quanto Dimitri.

— Uh. Marco este é Dimitri. Dimitri, Marco. — Disse apontando um ao outro. — Marco é como se fosse meu Dimitri italiano. — Informei ao Dimitri original. — E Dimitri é meu Marco búlgaro. Meus meninos, o que seria da minha vida sem vocês. — Dimitri olhou para mim e então para a xícara de café, decidindo afastá-la para longe, eu ri.

— É um prazer. — Disseram apertando as mãos.

Marco ficou nos olhando por algum tempo, como se pensasse o que poderia fazer ali. Dimitri era um cara grandão, eu imaginava que Marco estivesse um pouco intimidado.

— Hummm… é melhor eu ir comer alguma coisa. Além da cabeça doendo, meu estômago está pedindo una bella panna cotta. — Comunicou Marco. — Vejo vocês mais tarde.

Dimitri assentiu com a cabeça e eu sorri, acenando com as mãos. Então virei-me para o búlgaro gigante ao meu lado.

— Diga-me o que está acontecendo — pedi. Infelizmente, eu não tinha mais as coisas do papai para bisbilhotar.

Dimitri ficou tenso e bebeu um pouco do café que lhe dei, olhando para os lados para se certificar de que ninguém estava por perto escutando.

— Estamos investigando uma máfia. Digo, eles parecem existir há muito tempo e ninguém nunca se importou com eles, mas agora eles estão contrabandeando sangue de unicórnio — ele sussurrou. Eu fiquei claramente chocado; era um crime matar um unicórnio e ainda mais vender seu sangue. Eles eram puros e, pelo que Hagrid me dissera — e ao meu pai também —, quem bebesse o sangue viveria uma meia-vida eterna e péssima. — O rastro começou na Romênia e logo foi para o Brasil. Depois, para o Reino Unido. E Bulgária foi o penúltimo país em que o rastro passou. Mas, ao que tudo indica, aqui é a sede. Então ficarei por um bom tempo, outros aurores estão nessa também.

— Nossa. Que péssimo. Matar um unicórnio… — eu balancei a cabeça. — E o meu pai? Ele faz parte...? — Perguntei, não conseguindo esconder a minha preocupação de que Harry Potter estivesse pro perto.

— Não. Por enquanto. Normalmente, ele cuida de bruxos das trevas perigosos. Não que esses não sejam, é claro. Mas ele não foi designado ainda para esse caso… — respondeu Dimitri e eu assenti, sentindo meu peito apertar de repente, por um lado estava aliviado, mas isso não anulava a saudade que sentia de casa.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, tomando nosso café, cada um com suas preocupações. Então, de repente, ele se virara pra mim, com um sorriso mais do que malicioso.

— Que cara de demônio é essa? — Perguntei.

— A cara de quem quer saber quem é essa tal de Giullieta.

— Shiiii — falei, olhando pro pessoal que acabava de entrar na república. Quando sumiram, rindo, eu me virei para Dimitri. — É uma incrível italiana, dona de uma empresa que patrocina meu estágio.

— É igual a Kristina?

— Não. Kristina era mais uma amizade com benefícios… ou mais para muita atração física — respondi, pensativo. — Giullieta é mais do que uma atração. Eu… faz muito tempo em que eu não me permito me interessar por uma mulher. Mas ela é difícil, cara. Não posso ter contato com ela.

— James Sirius Potter e suas mulheres impossíveis.

— Não seria eu se não tivesse meus históricos de mulheres difíceis. — Dimitri riu e olhou pro relógio.

— Ahh! Eu tenho que ir. Mas mais tarde estou de volta. Tenho que te contar sobre uma brasileira quente que eu conheci. — Ele se levantou e eu o acompanhei. — Prepara o meu colchão, que hoje nós vamos ter uma festa do pijama!

Ele piscou e saiu da república, me deixando em um domingo super tedioso.

 

(…)

 

— Meu colchão já está pronto, docinho? — A voz de Dimitri ecoou pelo corredor.

— Ah, graças a Merlin! — Exclamei, finalmente aliviado.

Eu havia passado a tarde arrumando meu quarto, como dona Guadalupe havia me ordenado. Entretanto, o tédio me consumiu na metade do dia e nem estudar adiantou alguma coisa. Como Dimitri iria passar um tempo aqui, decidi arrumar as coisas para que ele pudesse dormir no meu quarto.

— Que foi? Sentiu a minha falta? — Dimitri apareceu na porta do quarto.

— Não consegui estudar a tarde toda. Domingo é realmente uma bosta — respondi, abrindo mais a porta, porque o cara era bem grandão.

Dimitri riu e entrou, deixando sua mala em cima da mesa que eu usava para estudar. Ele avaliou o quarto, assentindo com a cabeça, como se tivesse que aprovar onde ele dormiria.

— Pare de olhar pro meu quarto. Ele está livre de ameaças — falei, irritado. Dimitri ergueu uma das sobrancelhas ao se virar pra me ver.

— O que é aquilo, então? — Ele apontou para um objeto que eu estava estudando para a minha poção.

Bufei e o joguei dentro da gaveta:

— Isso não vai explodir, Dimitri. É pra minha poção. — Mostrei a ele o colchão ao lado da minha cama. — Tá pronta, tua cama.

— Opa! Vou tomar um banho e já volto. Onde é o banheiro? — perguntou, e eu respondi. Ele saiu do quarto, fechando a porta.

Revirei os olhos e me joguei na minha cama, pensando pela centésima vez na carta que eu dera para Giulieta. Só de pensar, me dava um frio no estômago.

Eu estava me cagando de medo, obviamente. Eu sentia que eu ia me afogar outra vez — e eu tinha acabado de emergir do fundo do poço! Como eu poderia me permitir gostar de alguém de novo? Sim, sim, eu me lembrava do que Viola me dissera: para eu viver. Mas todos os meus relacionamentos estavam fadados ao fracasso. E isso não saía da minha cabeça.

Contudo, eu não conseguia não deixar de pensar em tentar fazer certo. Mesmo que a família dela fosse contra isso… talvez… talvez, se eu revelasse para eles que eu era filho de Harry Potter, nosso relacionamento daria certo e não nos impediriam de sermos um casal.

Casal… quase ri disso. Nem sabia se era tão recíproco assim. Quero dizer, eu vi que tinha aquela atração. Mas se era o suficiente para ela querer algo a mais… isso eu não tinha a mínima ideia. Só esperava que ela me respondesse.

Balancei a cabeça e olhei para a porta do quarto, que estava sendo aberta por Dimitri.

— Demorou, hein — disse eu.

— Falei que ia ter festa do pijama — ele me mostrou os braços cheios de biscoitos e guloseimas.

— Pensei que festa do pijama tinha mais do que duas pessoas — levantei e fiquei sentado na cama, erguendo os braços para pegar uma caixa de varinha de alcaçuz.

— Agora vai passar a ter só duas — respondeu ele, entrando no quarto e fechando a porta em seguida. Dimitri espalhou os doces pelo colchão e eu pulei para o mesmo, a fim de pegar os doces com mais facilidade.

— E então, pelo que me lembro, você tinha coisas para me contar…

— Ah, sim — disse ele, comendo um pedaço de panettone. — Numa dessas viagens conheci uma aprendiz de auror muito quente, igual ao país. Sério, eu fiquei com muitas mulheres nessa vida, James. Mas essa… essa incrível mulher…

— Ela é boa mesmo com sexo, hein — observei, rindo.

— Eu não transei com ela.

— O quê?

— Eu não transei com ela. — Repetiu Dimitri.

— E por que não?

— Porque ela não permitiu. Disse que eu era um estranho e que se eu quisesse, tudo o que eu conseguiria seria alguns beijos. — Ele contou e minha boca abriu-se num perfeito "O". — Ela é bem difícil de lidar.

— Ah, eu sei como se sente. Acredite, eu entendo de brasileiras. — Falei, assentindo para ele. — Mas ela é realmente… diferente, já que te conquistou com beijos.

— E alguns tapas. Mas adorei conhecê-la. Espero ter um motivo para falar com ela novamente — disse ele num modo distante. Eu ri.

— Cara. O que essa vida me ensinou sobre mulheres é que não precisa de uma desculpa. Vai lá e mande uma carta, se estiver afim.

— Ela vai me responder com um berrador.

— Desde quando você tem medo de berrador? — Perguntei. — Se ela realmente mexeu com você… não deixe passar. Nunca se sabe quando vai ter alguém assim novamente.

Dimitri me olhou, fazendo uma careta.

— Olha, eu já te disse que eu não queria ser você?

Eu ri.

— Já. — Olhei para o relógio. — Vamos dormir. Tenho que acordar cedo amanhã.

— Estraga prazeres — reclamou Dimitri, guardando as comidas.

Apaguei as luzes e fechei os olhos. Não se passou nem dois minutos e ouvi Dimitri dizer:

— Sabe no que eu estava pensando agora?

— Não — respondi.

— Por que eu não estou dormindo na cama? — Perguntou e eu abri os olhos, dando uma gargalhada. — É sério. Eu sou visita.

— Ai, há muito tempo você não é visita, Dimitri. É meu amigo — respondi. — E a cama é minha e eu correria um sério risco de você se mexer e eu morrer esmagado com o teu peso.

— Eu não me mexo durante a noite — tentou justificar.

— Aham. Boa noite, Zkovsky. — Disse eu e ele bufou, mas sentia que havia um toque de riso em sua voz quando me respondeu.

— Boa noite… Potter — disse ele e eu balancei a cabeça, rindo.

 

(…)

 

A resposta que eu esperava de Giulietta veio mais rápido do que eu poderia sonhar.

Mesmo tendo ido dormir tarde no domingo para botar o papo em dia com Dimitri, acordei bem disposto na segunda. Aparentemente, desde minha conversa com Giu... dona Margaretta na terça as coisas estavam calmas e fáceis.

A aula do dia sobre o preparo de poções tinha me dado ideias para a poção que eu estava desenvolvendo e cheguei empolgado na empresa, pronto para passar o resto da tarde testando ingredientes. Mas minha animação foi direcionada para um assunto completamente diferente quando ouvi meu nome, junto ao som dos saltos contra o chão, ecoar pela empresa.

— Senhor Evans!

— James está bom para mim...

— Senhor Evans. — Repetiu, mas trazia um leve sorriso consigo e uma pasta vermelha nos braços. — Seu projeto me pareceu... promissor. — Era impressão minha ou aquela frase era ambígua? — Aqui... — Entregou-me a falsa pasta de relatórios. — Meu m... tenho a permissão de vir a empresa diariamente gora, você sabe, é coisa demais para saber vindo só de vez em quando e o seu é um dos projetos que gostaria de acompanhar, então mantenha-me atualizada sobre os avanços. Tenha um bom dia. — Desejou com um sorriso e então saiu para alguma outra ala que eu não vi, pois estava demasiado empolgado olhando para a pasta em minhas mãos.

O relógio na parede indicava que meu expediente só começaria de fato em vinte minutos, assim sendo, girei os calcanhares para aquela mesma área que um dia fui para gritar. Abri a pasta o mais rápido que pude e um pedaço de pergaminho não tardou a se destacar por entre os relatórios.

"Querido...

Ah, eu me nego a chamá-lo de Romeu, mas deixe-me perguntar, como você conseguiu destruir um clássico? Notei que gosta de enrolar, mas, bem, sou um pouco mais direta.

Não acha exagero dizer que encontrou o amor assim, a primeira vista? Tamanha profundidade pode fazê-lo se afogar. Mas tenho a impressão de que a garota de quem fala tem a intenção de afogar-se junto contigo. Lembre-se de que é proibido para ela também e... nós jovens apenas não resistimos, não se culpe, é... hormonal.

Bem, não tenho uma solução imediata para seus problemas, mas acho que poderíamos continuar nos comunicando por cartas, até que pensemos em algo para te ajudar. Na estufa externa, onde criam as mandrágoras existe um tijolo solto, no canto noroeste, abaixo da prateleira de terra. Deixe seus bilhetes lá e lá encontra tuas respostas.

P.S.: Não ouse "inglesar" meu nome outra vez, é Giulietta.

Atenciosamente, G.i.u.l.i.e.t.t.a.”

Eu ri e logo fiquei incrivelmente ansioso para poder respondê-la. Eu estava realmente feliz e leve. Mas só poderia escrever no final do expediente, visto que levaria mais que cinco minutos para responder. Então voltei para o meu laboratório, com belo sorriso no rosto.

Assim que o relógio bateu, indicando o fim da minha jornada de trabalho, catei um tinteiro, uma pena e um pergaminho e me coloquei a trabalhar.

"Hey, G.i.u.l.i.e.t.a,

Eu não estraguei um clássico. Eu o MELHOREI. Onde já se viu um cara maravilhoso morrer? Eu morrer? Jamais.

Eu gosto de enrolar, sim. Porque sou um romântico incorrigível. E eu escrevi porque eu estava inspirado. E você me inspira mi bella. Sua beleza e o seu jeito de falar… tudo me inspira. Tenha certeza disso.

Eu já me afoguei tantas vezes que perdi a conta. Quase não voltei uma vez. Mas sabendo que essa garota quer se afogar comigo não terei medo de me afogar outra vez. Não terei medo de segurar a sua mão enquanto estivermos afundando, isso pode contar.

Ahhhhh! Meus hormônios são difíceis de controlar. Sempre foram.

Tudo bem. Adorei essa nova invenção. A única pessoa que eu sempre mandei cartas foi para a minha mãe. Ok, sei que isso não foi legal. E vai ser ótimo! Creio que nos dará um experiência um tanto quanto diferente. Já teve algum amor em que só pudesse se comunicar por cartas? Garanto que eu não ficarei com ciúmes, seja lá qual for a sua resposta.

Fiquei contente em saber que a verei mais. Sinceramente, fico esperando você aparecer. Fico ansioso. Agora, poderei ver seu belo rosto todos os dias… eu sonhei bastante com você, sabia? Mas odeio idealizar as pessoas. Quero conhecê-la. Quero saber de você. Me conte.

Atenciosamente,

JE"

 

Sorrindo, dobrei o pergaminho e o selei com um feitiço. Enquanto escrevia me divertia, escolhendo com cautela as frases a serem usadas. Eu não conseguia parar de sorrir ao saber que eu era correspondido. Fazia muito tempo que eu não permitia me sentir assim... E, sinceramente, não saberia o que fazer se fosse rejeitado. Antigamente, eu a faria me querer. Hoje, entretanto… eu estava muito diferente.

Levantei-me de onde eu estava e fui até as estufas das mandrágoras, colocando a carta no lugar que me fora instruído por Giulieta, com um sorriso no rosto. Eu ainda conseguia vê-la dançando e aquilo só me fazia sorrir.

Voltei para o laboratório com o humor mais leve do que quando acordei — se é que isso era possível —, sentindo como se eu tivesse tomado uma dose grande de Felix Felicis, reuni minhas coisas e voltei para a república, sabendo que havia tempos em que eu não exibia tanta felicidade e otimismo quanto a qualquer coisa.

 

 

Por duas semanas bem rápidas eu e Giulieta mantivemos nossas conversas por cartas. E, sinceramente, aquilo era excitante. Em poucos dias descobri que Giulietta não era tão turrona assim. Claro, sua imponência, como mulher e como profissional, de intimidar qualquer pessoa — e eu adorava aquilo — continuava ali, mas era como se ela me deixasse descobrir que ela podia falar de assuntos que não assustasse as pessoas. Eu só conheci uma pessoa assim e ela não vem ao caso agora.

Lentamente, meu trabalho com a minha poção ia progredindo. Tenho que enfatizar o lentamente, porque não estava chegando nem um terço de dar certo. Tudo bem que eu não estava explodindo o laboratório em grande escala. Agora eram pequenas explosões na minha cara mesmo, mas um dia eu sei que chegaria lá.

Dimitri ainda estava na Itália. E ainda no meu quarto. Creio que ele tinha bastante… influência para que não o expulsassem da república. E, também, todos gostavam dele. Dimitri era o tipo de pessoa que botava medo, mas que também sabia fazer os outros rirem. Entretanto, ele andava meio estressado, pois, toda vez que ele e sua equipe estavam no caminho certo, eles acabavam caindo numa armadilha. Eu entendia como o trabalho de auror podia ser desgastante e frustrante.

Minhas aulas ainda estavam puxadas. Mas, como o meu humor estava nas alturas de tão feliz que eu estava, eu não fiquei estressado como nas minhas primeiras semanas. Como eu era com Kristina, eu era aqui também e minhas notas eram ótimas. Não estava enviando cartas com frequência para Viola — sinal de que a minha dependência por ela estava passando, mas dessa vez eu senti que devia falar para ela o que estava acontecendo. E, como sempre acontecia quando eu escrevia para ela, me senti leve. E feliz.

Todos os dias eu relia as cartas de Giulietta e sorria quando via que ela amava gatos, ou quando disse que derrubou um molheira cheia de molho sem querer em um jantar importante de seu pai. Enquanto tudo o que eu já aprontara não caberia em um pergaminho — ela admitira ter rido bastante quando eu escrevera sobre o Veritasserum — Isso me fazia bem. Giulietta me fazia bem, como eu nunca havia me sentido desde a morte de Saphira.

Sinceramente, deixar que alguém gostasse de mim, sem pensar no que Saphira pensaria, estava me fazendo bem. Eu não me sentia mais culpado. Me sentia livre, assim como eu me sentia enquanto ela era viva. E talvez eu a tenha julgado mal: eu sabia que ela quereria que eu fosse feliz. E quando eu via Giulieta naqueles corredores, todos os dias, sorrindo disfarçadamente para mim, eu me sentia feliz.

E com esse humor, eu fui trabalhar naquele dia, com um ânimo contagiante, sabendo que eu encontraria mais uma carta de Giulieta. Devo dizer que eu estava chegando todos os dias mais cedo. Tinha cortado meu horário de almoço pela metade apenas para chegar antes de meu expediente e escapar para pegar as respostas de Giulietta e deixar as minhas. Quando me perguntaram o motivo de eu estar indo com tanta frequência na estufa de mandrágoras eu desconversei, falando que aquela planta era uma das únicas que eu ainda não tinha testado e estava fazendo algumas experiências com a terra em que eram plantadas, já que a raiz delas possuía propriedades medicinais.

Caminhei sem preocupação até a estufa em questão, cumprimentando colegas no caminho e sorrindo para todos, como se a vida fosse maravilhosa demais para não sermos gentis e simpáticos com todos os seres do universo. Eu inclusive pedi desculpas a uma fada mordente sem asas que tentava fugir pelo chão quando eu quase pisei nela. Não preciso dizer que ela mordeu minha canela.

Fui até o local combinado semanas atrás. O outono estava a dias de acabar e o clima havia baixado consideravelmente. Talvez por isso algumas das mandrágoras estivessem envolvidas em cachecóis. Elas ficavam ainda menos simpáticas caso fossem desenterradas no frio. O tijolo estava lá e fora removido com facilidade, o pedaço de pergaminho dobrado em seu buraco era incrivelmente menor que qualquer um dos anteriores. Apossando-me da mini-carta e colocando o tijolo de volta ao seu lugar, supreendi-me com o conteúdo.

Era apenas um endereço, data e horário com a assinatura de GB gravada nela. Por uns cinco minutos eu fiquei parado tentando decifrar aquilo. Até que entendi. Giulietta tinha encontrado um meio de nos encontrarmos. Por hora, as conversas por cartas estavam suspensas. Veríamo-nos face a face. E eu não poderia estar mais feliz.

 

O horário indicava uma hora após o fim do meu expediente naquele mesmo dia. O local eu precisei da ajuda de Marco para descobrir aonde ficava. Uma cidadela trouxa que fazia fronteira com o vilarejo bruxo em que eu trabalhava, em um estabelecimento de ervas medicinais.

Demorei mais tempo do que eu gostaria de assumir para me arrumar. Reparei que, a não ser pela primeira vez que nos vimos, Giulietta só me vira em uniformes. E ela estava sempre tão bem vestida que eu queria impressionar, o que era difícil de se fazer uma vez que um terno não vinha a calhar. Optei por uma simples roupa do dia-a-dia ao notar que eu tinha cinco minutos.

Marco aparatou comigo em um beco da cidade e informou que a loja ficava a apenas três quarteirões dali. Agradecendo-o, o dispensei e fiz meu caminho até onde encontraria com… Margaretta. A senhora apertava os olhos e apontava ervas, fazendo perguntas as quais as respostas nunca lhe pareciam ser satisfatórias. Sua voz indicava irritação constante, e eu não pude deixar de rir quando ela bateu com um jornal na cabeça do vendedor. O que chamou a atenção para mim.

— Jason! — A senhora exclamou, com um contentamento surgindo em sua expressão. E eu notei que Giulietta estava se divertindo com isso.

— Nona! — Entrei na brincadeira, rindo, ela fez uma careta.

— Já falamos sobre isso rapaz, me chame só de Margaretta. Estou na flor da idade, você me chamar de nona pode denunciar minha idade real por aí. — O vendedor fez um barulho que lhe rendeu outra jornalada na cabeça e uma repreensão de “respeite os meus velhos seu petulantezinho”. Mesmo que o balconista aparentasse ter seus cinquenta anos. — Jason, querido, fale para esse senhor que eu preciso de Guelrrixo para fazer meu chá, não de orégano.

— Orégano é medicinal? — Era tudo que eu conseguia pensar.

O senhor resmungou em italiano aparentando exaustão

— Está me chamando de mentirosa, rapaz? — Giulietta alternava entre o italiano e o inglês, traduzindo para mim o que ela falava. O jornal mais uma vez voou em direção a testa do homem, eu ri.

— Nona… Acho que o que ele quer dizer é que não tem guelrrixo aqui, vamos, procuraremos em outro lugar. — Aconselhei passando as mãos pelas costas de Giulietta e me virando para o vendedor para fazer um sinal que indicava que “ela é louca”.

— Que espelunca! — Giulietta resmungou ainda na personagem. — Denunciarei para todas minhas amigas, que nenhuma delas volte a este estabelecimento para nada! A não ser que queiram orégano.

Ela só parou os resmungos quando viramos em uma rua deserta e desatou a rir.

— Merlim! Eu preciso fazer isso mais vezes. É maravilhoso! — Riu seu sorriso banguela e eu não pude deixar de ser contagiado por aquela genuína alegria.

— Vovó, você é terrível. Pobre vendedor… — Ela arqueou uma sobrancelha e fora a cena mais bizarra que eu já vi em minha vida.

— Você não viu nem metade, Jason querido. — Riu e então olhou para os lados, sacando sua varinha e segurando minha mão. — Agora, vamos logo antes que desconfiem. — Resmungou e puxou do avental um bule. — Você vai segurar na alça e soltar quando eu mandar. — Aconselhou e eu assenti, ela posicionou a mão no bico e eu imitei seu movimento, porém preparado para segurar a outra extremidade. — Agora.

Cinco segundos depois ela repetia a palavra e de repente estávamos rolando uma montanha para o lado de fora de um chalé de madeira no meio do nada. Era consideravelmente frio ali, o que me fez crer que não estávamos na Itália, e possuía montanhas em todos os cantos. Tinha sido criado para ser um lugar isolado. Levantei-me, batendo a poeira das vestes e ouvi Giulietta gemer do chão, apressando-me para ajudá-la.

— Minha coluna! — Choramingou com a mão nas costas e eu conclui que aquela aventura não devia ser bem aceita para o corpo de uma senhora de 80 anos ou muito mais.

Ajudei-a a levantar, ainda resmungando de dores, e caminhamos até o chalé, que ela abriu a base de magia, e então entramos.

Lá dentro era aconchegante. Pequeno, mas aconchegante. Uma lareira apagada na sala, tapetes de pele espalhados, um pequeno quarto com uma cama que havia perdido um dos pés. Parecia ter sido abandonado há muito tempo, levando em consideração as inúmeras aranhas que fizeram morada em cada um dos cantos da casa.

Giulietta jogou-se no sofá que rangeu junto a ela.

— Ligue a lareira. — Pediu. — Esqueci como aqui fazia frio. — Resmungou e eu me prontifiquei a fazer o que ela pedira. — Hum, é, assim é bem melhor. — Ela suspirou aliviada, sua voz parecendo um tanto quanto menos cansada. Virei-me para olhá-la e notei que seu rosto, assim como o corpo, estava mudando. Logo as roupas ficaram esquisitas e os curtos cabelos brancos se transformaram em madeixas castanhas, a pele enrugada se ajeitou a feição jovem e o sorriso exibido para mim possuía todos os dentes.

— Como você consegue? — Perguntei com sincera indignação e sua expressão indicou que ela queria saber o que ela conseguia. — Continuar linda em roupas que mal lhe servem. — Expliquei e ela gargalhou.

— É meu charme. — Disse como se fosse um fardo difícil de carregar e foi minha vez de rir. — Mas eu trouxe roupas mais apropriadas. — Anunciou, levantando-se. A coluna não parecia mais ser um problema. Segurei-me para dizer que achava que o apropriado era roupa nenhuma. Eu tinha mudado mais do que podia imaginar. — Espere aí. — Indicou deixando a sala.

— Ou eu posso te ajudar a se trocar. — Mas eu continuava sendo James Sirius Potter. Mesmo que portando identidade falsa.

— Não ouse. — Foi um aviso suficiente para me fazer deixar a lareira e sentar no sofá reclamão.

— Sei como se sente amigo. — Disse para o móvel quando ele rangeu sob meu peso.

Giulietta não demorou muito para voltar. Reapareceu no corredor vestindo calça e um suéter que lhe serviam perfeitamente e o cabelo solto sobre os ombros.

— Ah… — Lamentei. — Nem se compara as meias listradas e o avental florido.

— Decidi te torturar menos. — Brincou e então caminhou até mim, sentando-se ao meu lado. — Bem… olá. — O sorriso dela era definitivamente mais bonito quando ela não estava tentando escondê-lo ou então quando lhe faltavam dentes. Sorri junto.

— Olá. — Cumprimentei de volta, meus olhos nela e os dela em mim. — Oh! Que simpleza! Nunca soube até agora o que é beleza¹. — Giulietta riu novamente.

— Você sabe todas!

— Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência¹.

— James!

— Claro que sei, já te disse, fui Romeu.

— E nós realmente precisamos falar sobre isso. Como conseguiu acabar com um clássico mesmo? Não me contou pelas cartas…

— Não acabei com um clássico! — Resmunguei, ela ria. — Bem, foi mais ou menos assim. Era minha primeira peça. Eu estava nervoso, tinha feito aquilo porque meu pai decretara meu castigo por um motivo que não vem ao caso, e fiz a peça toda muito bem. Acontece que na cena em que Romeu morreu eu perdi o controle e comecei a rir. — Expliquei. — Tentei segurar, mas não conseguia, então tive que improvisar e no final Romeu e Julieta viveram felizes para sempre.

— Acho que você assiste muitos filmes da Disney.

— Como você descobriu? — Ri, mas decidi mudar de ideia antes que notasse o quanto sentia a falta de Luna. — E esse chalé?

— A casa de Margaretta quando ela era criança. Se não fosse por ela acho que nunca teríamos chegado tão longe.

— Bem, transmita a essa mais do que adorável senhora meus agradecimentos.

— Diga-me porque tem tão pouco apreço por sua vida. Ao que parece o que se importa com o coração pulsante de Romeu não condiz com o que sente pelo próprio. — Disse e eu a encarei sem entender muito bem, estava distraído com sua beleza. — Por que insistiu em mim?

— Ah… Bem… os riscos me são desconhecidos. — Dei de ombros. — Se você está de olhos vendados você vai continuar andando até cair do penhasco.

— Ou você não anda…

— Assim você ofende minha honra e sete anos de devoção à Godric Gryffindor.

— Bem, acho que minha obrigação é de dizer que os riscos são altos.

— Só para mim? — Perguntei, lembrando-me das cartas e ela suspirou.

— Para nós dois.

— Se você pular eu pulo. — Decretei e ela me encarou fundo nos olhos, procurando algum vestígio de que aquilo era mentira. Ao não encontrar nada, sorriu. — Gostaria de expressar minha vontade de lhe beijar. — Ela arqueou uma sobrancelha.

— Bem, muitos querem isso. — Disse jogando os cabelos para trás. — Poucos conseguem. — Afirmou com certa presunção e então sentou-se sobre os joelhos, aproximando-se mais de meu rosto. — E você acaba de ganhar na loteria, senhor Evans. — Sussurrou antes de colar seus lábios nos meus.

E ao contrário de todas as conversas que tínhamos sobre os riscos que corríamos, eu senti como se tivesse, enfim, voltado a superfície, depois de anos me afogando.

 

(...)

 

Passamos um longo tempo por lá, conversando, rindo, nos conhecendo mais e, claro, nos beijando. Em dado momento Giulietta decidiu me ensinar a dançar. Ela dissera que apesar de eu ter me saído bem no dia em que nos conhecemos, eu tinha muito a aprender. E foi apenas quando eu comentei da beleza da lua aquela noite que ela assustou e disse que tínhamos que ir embora. Prometi que nunca mais falaria sobre o ingrato astro.

Estava tarde quando voltei para a república, passava da meia-noite, então todos já estavam dormindo. Caminhei silencioso pela casa e abri a porta de meu quarto com cuidado redobrado. A luz de uma varinha alheia brilhou nos meus olhos e eu encarei Dimitri, sentado em minha cama com pergaminhos espalhados por ali.

— Tenho a estranha sensação de já ter vivido algo parecido.

— Docinho… você nunca vai mudar. — Seus olhos estavam fixos em seus relatórios, mas ele cuidara para a voz parecer doída.

— Você continua sendo o único no meu coração. — Nesse momento ele ergueu os olhos para mim e arqueou as sobrancelhas.

— Não minta para mim, Potter. Seus olhos brilham tanto que poderiam iluminar essa cidade.

— Tenho minha teoria de que isso é reflexo da luz da sua varinha..

— Diferentes tipos de brilho. — Decretou. — Onde você tava? — Quis saber e eu sorri, caminhando até o colchão posto no chão e me jogando lá. — Ah… é grave. — Presumiu, descartando o trabalho para dedicar sua integral atenção para mim.

— Ela é melhor do que eu imaginava. — Confessei e ri, virando-me para olhar Dimitri. — E não importa quantas vezes eu diga que não vou me permitir fazer isso, a sensação é apenas boa demais. E eu não consigo evitar. — Disse assumindo em meias palavras o que eu sentia.

— Você está apaixonado, James? — Dimitri quis saber com mais precisão e eu suspirei.

— Talvez. — Disse pensativo. — Não quero pôr rótulos. Essa coisa de se apaixonar, não costuma dar certo para mim. Digamos apenas que eu estou louco com essa garota que parece boa demais para ser verdade.

— Então você está. — Dimitri revirou os olhos com meus rodeios. — Cara, eu só espero que você não vire mesmo o Romeu. — Eu ri.

— Ah grandão… eu já fui Romeu duas vezes. Uma no teatro, uma na vida real… Acho que me acostumei com a vida do Montecchio. Que venha a terceira. — Decretei e Dimitri balançou a cabeça, decidindo que aproveitaria do meu estado de espírito para me passar a perna e dormir na cama.

Dimitri mexia bastante enquanto dorme, então devo informar que, sim, ele caiu em cima de mim no meio da madrugada. E eu acordei a pensão inteira com meus gritos de socorro. Guadalupe me bateu.

Descobri no dia seguinte que Giulietta tinha voltado com as cartas. Na mais recente das respostas ela disse como havia amado o encontro e se desculpara pela correria na hora de ir embora, mas esperava que eu entendesse e acrescentou que esperava um dia poder me dizer porque era tão difícil.

Voltamos a nos encontrar três dias depois, o outono a cada dia que passava parecia ser uma distante e morna lembrança dourada, enquanto o inverno dava indícios fortes de sua chegada. Passamos a tarde inteira lá, era final de semana, e Giulietta mostrou suas habilidades em fazer deliciosos chocolates quente e bolinhos de abóbora. Além disso, jogamos xadrez em frente a lareira e mais ao entardecer conversamos sobre minha relutância em beber vinho, ela cedeu e me fez fingir que o suco de uva que eu tomava era o mais delicioso vinho da melhor adega da Itália. Naquela tarde, descobri que Giulietta não nascera na Itália, mas, sim, no Egito, pois sua mãe era magizoologa e entrou em trabalho de parto enquanto estudava um Dragão naquela região da África. Seu pai era empresário e ela não falou muito sobre ele, além do fato de indicar que ele fazia tudo por dinheiro e possuía princípios que ela repudiava. Quando as estrelas brilharam no céu, despedimo-nos com um beijo que tinha gosto de uva, chocolate e abóbora.

O inverno chegou no dia seguinte e, com ele, os feriados. Apesar disso, devido o ramo que trabalhávamos, a empresa continuava funcionando. Não com os estritos horários de habitualmente, mas cada um continuava a ir lá para impedir que tudo explodisse e, eu, para tomar conta dos passos de minha poção, que entrara em um processo de teste em que ela precisaria cozinhar e ficar de repouso por quinze dias.

Giulietta tinha sumido desde nosso último encontro, o que indicava sem cartas ou sorrisos, mas ela aparecera lá dia vinte e três de dezembro e foi até mim para saber a quantas andava minha poção, ao conseguir as informações que queria sorriu e antes de retirar-se, falou:

— Acho que deveria deixá-la descansar amanhã, ao meio dia. — Sugeriu, com uma piscada tão discreta que eu quase perdi, mas felizmente havia entendido.

 

Ao voltar para a república eu estava empolgado e… preocupado. Seria véspera de natal e eu não sabia se deveria ou não presentear Giulietta. E, caso optasse pela primeira opção, o que deveria lhe dar?

Subi as escadas sem notar meus colegas de intercâmbio e apenas ao fechar a porta do meu quarto que notei que ele estava muito mais apertado do que ele normalmente era.

— Papai! — O grito extasiado vinha da cama, e uma garota feliz pulava nesta.

— Paisley! — Exclamei, surpreso e contente.

— Já disse que é tio. — Ouvi um resmungo da mesa e vi Viola levantar-se, deixando as cartas que jogava com Dimitri de lado para vir me cumprimentar. — James, só James. — Disse sorrindo ao me abraçar.

— Viola Blumm e isso é tudo que você irá saber. — Cumprimentei, apertando-a nos braços até ela me estapear para soltá-la. — O que estão fazendo aqui?

— Ora… você realmente achou que eu não viria tirar satisfações com a italiana que roubou seu coração que eu demorei uma vida para montar os pedaços? — Disse com uma expressão séria. — Assim você me ofende. — Pontuou, jogando os cabelos azuis ao ar. Agora, notei, eles não eram mais completamente azuis. Mas, sim, apenas as pontas. Sua raiz e um palmo tinham uma coloração loira.

— Gostei do cabelo. — Elogiei enquanto Paisley pulava da cama para meu colo, consegui segurá-la apenas por ter meus incríveis reflexos de batedor.

— Eu quem fez. — Disse a baixinha orgulhosa.

— Eu quem fiz. — Viola corrigiu e a menina negou fervorosamente.

— Não, fui eu. — Ri.

— Sempre a mesma coisa. — Dimitri lamuriou-se e olhamos para ele.

— Ah! Pare de ser um bebê chorão. — Violou repreendeu, dando-lhe um tapa na cabeça. — Mas enfim, eu vim por dois motivos. Um: Nos conhecemos no dia do natal e, bem, eu decidi que você vai ter que me aguentar em todo natal da sua vida, pelo menos até você abandonar essa família estranha que você arrumou e voltar para casa e Dois: Eu quero saber todo e cada detalhe sobre quem é essa Giulietta e como vocês se conheceram.

— Você sabe que hoje não é natal, né? — Perguntei e ela revirou os olhos.

— Acontece quando se é uma mãe, dona de uma empresa milionária e estudante de poções nas horas vagas que dedica o feriado a crianças órfãs no orfanato em que viveu. Só tinha horário disponível para hoje, vou embora amanhã.

— Bem, não me entenda mal, mas que bom. — Suspirei aliviado e um tapa veio de Viola, outro de Paisley.

— Isso foi rude. — Paisley choramingou emburrada.

— Não é isso. Mas é que Giulietta me pediu para encontrar com ela amanhã e eu me sentiria terrível em abandoná-las aqui.

— Então quer dizer que me abandonar na véspera de natal não tem problema? — Dimitri perguntou de seu canto.

— Vocês mal começaram e ela já está te tirando de casa no feriado mais familiar que existe para se esconder com ela como ratos? Bem, eu não gosto dela.

— Blueberry, não fale assim. Você sempre estará em primeiro lugar no meu coração. — Garanti me aproximando de Viola com um biquinho, ela segurou minha boca com dois dedos e virou meu rosto para longe.

— Ele diz isso para todas. — Dimitri denunciou e eu lhe mostrei a língua.

— Se você parar para pensar, o feriado familiar é só depois de amanhã.

— Pouco me importa. Mas não se preocupe, iremos amanhã pela manhã. Tenho coisas a resolver nos Estados Unidos e vamos passar o feriado lá.

— Ela disse que vai me dar um dragão. — Paisley comentou, escalando minhas costas até meus ombros e eu tentei segurá-la para evitar que ela caísse, mas isso seria inevitável se ela não parasse quieta.

— Um dragão? — Perguntei encarando Viola, que deu de ombros.

— Criaturas incompreendidas. — Afirmou. — Além do mais ela viciou em Game of Thrones e insiste que quer ser a Daenerys. O que eu posso fazer? Ela é minha bonequinha.

— Você a deixa assistir Game of Thrones? — Perguntei indignado.

— O que é Game of Thrones? — Dimitri quis saber.

— Eu gosto de Game of Thrones. — Paisley entrou na brincadeira.

— Eu censuro Game of Thrones. — Viola explicou. — Mas ela também está viciada em Como Treinar seu Dragão e Éragon. Ela quer um dragão.

— É uma série trouxa. — Paisley explicou para Dimitri que agradeceu. — Eu quero um dragão. — Afirmou convicta.

— Não é um gato.

— James, eu tomei conta de você. Um dragão vai ser fácil.

— Ela ganhou. — Dimitri decretou com um bater de palmas que indicava que ela tinha se saído bem.

— Mas então… essa Giulietta? — Viola perguntou, pegando Paisley de minhas costas quando esta quase provocou uma dupla queda.

— Precisamos conversar, mas o que vocês acham de irmos as compras? Compras de natal… Eu não vou te dar um dragão, Paisley, mas, quem sabe, um Pelúcio?

— Você não vai dar um cleptomaníaco peludo para minha filha.

— Você está dando um dragão!

— Eu sou a mãe.

— E eu sou o papai… noel. — Viola estreitou os olhos para mim, Paisley agora estava pendurada na cabeça de Dimitri trançando-lhe o cabelo. — Então, hohoho minha querida, o que você quer de natal? Além de um dragão. — Acrescentei quando ela encheu os pulmões para gritar.

— Hum… — Refletiu, pensativa. — Dois dragões. — Bateu palmas animada e Viola riu.

— Okay, decidiremos no caminho. Enquanto isso eu explico sobre Giulietta e vocês me ajudarão a escolher um presente para ela.

— Você está esquecendo de uma coisa. — Dimitri disse atraindo a atenção para ele. — Um: Como você vai dar um presente para alguém que tem que se encontrar escondido com você e Dois: Alguém nesse quarto não tem uma herança de família e tem que trabalhar.

— Um: É por isso que vocês vão me ajudar e Dois: Sua herança é a maior desse quarto!

— Você está dizendo que eu não trabalho? — Viola perguntou de olhos semicerrados e Dimitri sorriu amarelo, pegando sua varinha e saiu fazendo movimentos, que Viola considerou perigosos, para divertir Paisley, que pouco se importava com os gritos da mãe e pedia para o tio Dimitri continuar.

Sorri, olhando aqueles três saírem pela porta para passar a noite comigo, abandonando suas próprias obrigações para me ver e senti meu coração se encher. Eu podia sentir falta de toda a minha família e meus amigos. E podia também ser incrivelmente desnaturado e egoísta até certo ponto. Mas Paisley tinha dito uma coisa uma vez que brilhou na minha cabeça. Aquela era minha família, pequena e incompleta, mas minha, eu havia achado. E, mesmo com toda a saudade, apesar de todos os problemas e sofrimentos que me levaram até eles, eu faria tudo exatamente do mesmo jeito, porque eu era grato em tê-los na minha vida e toda a dor causada pela saudade de casa era anestesiada ao saber que aqueles três, que apenas dois anos atrás não eram nada além de estranhos, estavam ali por mim, mesmo que em outros países, para me apoiar e mostrar que eu não estava sozinho naquela louca jornada que havia escolhido.

Suspirei, enxugando as lágrimas, e acompanhei-os para fora dali.

Consegui enrolar Paisley lhe dando dois dragões de pelúcia. Ela sentiu-se enganada, mas agradeceu o presente mesmo assim. Dentre as sugestões de Viola de presentes que passariam facilmente desapercebidos podemos listar uma calcinha, balas, uma meia furada e uma capa da invisibilidade. Todas as sugestões foram educadamente ignoradas e Viola ganhou de presente um gigante coração vermelho com bordados que falavam o quanto eu amava. Ela aceitou o presente com um tapa e os dizeres “Não vou casar com você”. Dimitri ganhou o mesmo coração enquanto virava-se para Viola para reafirmar que eu dizia isso para todas. Chamei-os de ingratos e quando Viola decidiu que era vez do meu presente eu disse que a presença deles era o maior presente que eu poderia ganhar. Acusaram-me de sentimental.

— Você pode dar para ela um ovo de dragão. — Paisley sugeriu enquanto tomava seu chocolate quente e eu a encarei.

— E como é que você esconde um ovo de dragão? — Perguntei e ela me encarou como se eu fosse um boçal.

— Coloca na mochila e depois esconde debaixo da cama. Mamãe até hoje não descobriu o meu. — Ela sussurrou alto o suficiente para todo mundo da mesa ouvir. Olhei para Viola que disse, sem som, que era um ovo de galinha pintado.

— Quaisquer joias são sujeitas a interrogatório. — Pensei alto.

— Dê algo pequeno, que ela possa esconder no bolso e, depois, em casa. — Dimitri sugeriu e eu o encarei pensativo. — Algo pessoal, não comprado. Se você gosta dela se esforce para mostrar isso.

— É uma boa ideia, mas o quê?

— Flores que seja. — Viola deu de ombros. — Ela não vai poder aparecer com isso em casa, então que seja algo que ela veja lá. Podemos resolver isso logo? Tinha planos de fazer vocês dois passarem a noite assistindo The Walking Dead comigo. — Reclamou deixando claro que não tinha mesmo ido muito com a cara de Giulietta e então eu tive uma ideia, que me fez rir comigo mesmo.

— Você disse The Walking Dead? Dos Zumbis? — Perguntei e ela assentiu, perguntando porque eu estava rindo feito um maníaco.

 

Jantamos em um restaurante no centro do vilarejo e antes de voltar para a república eu aparatei para a capital da Itália para buscar meu presente para Giulietta. Depois de quase uma hora eu consegui encontrar e voltei para casa. Viola e Dimitri assistiam a série na companhia de Sook e Bianca e Paisley dormia no meu quarto, segundo informações da própria mãe. Juntei-me a meus bons amigos e colegas de intercâmbio para assistir a série, contente com tudo que eu tinha conquistado e com o rumo que minha vida estava tomando.

Acordei pela manhã para me despedir das meninas. Dimitri e eu dormimos na sala para o conforto delas. Ao vê-las indo eu notei como queria que elas fizessem mais parte da minha vida, porém elas tinham a própria vida e, eu, tinha meus planos de passar os próximos anos percorrendo toda Europa. Porém, de algum jeito eu sabia que elas voltariam no próximo natal. Talvez, quem sabe, eu fosse até elas. E cartas ainda existiam.

Dimitri acordou mal-humorado porque eu o tinha acordado para pedir desculpas em deixá-lo sozinho na véspera de natal. O que resultou em chingos búlgaros e ele abanando a mão, mandando-me parar de ser tão chato e afirmando que trabalharia o dia inteiro, então eu deveria ir logo antes que ele me enforcasse por tê-lo acordado.

— Eu não sou mal-humorado assim. — Marco disse, entrando na sala e vendo os resmungos e chingos de Dimitri, lembrando-se da comparação que eu fiz de um ao outro quando eles se conheceram, ri.

— Isso é porquê você é um adorável filho da Itália e ele um bastardo da Bulgária. — Disse e Dimitri me jogou um objeto que fez um barulho forte ao atingir a parede. — Repare a diferença: Itália. — Disse de modo leve e sorridente. — Bulgária. — Fechei a cara e engrossei a voz. Marco riu, mas parou em um segundo assim que notou a expressão de Dimitri para ele. — Bom rapazes, eu tenho que ir. Tenham um bom dia.

Após a despedida de Marco foi a minha vez. Aparatei dali mesmo, já conhecia o lugar para assim o fazê-lo e surgi de frente a porta do chalé. Nevava forte e as montanhas estavam cobertas de uma grossa camada de neve. Encolhi-me, notando que meu antigo suéter bordado com as iniciais JS não era o suficiente para me proteger daquele temporal e me apressei a entrar na casa. Ouvi o creptar da lareira e sorri ao ver que Giulietta já estava lá, enrolada em um grosso edredom de frente para a lareira.

— Olá. — Ela saudou, fazendo uma fumaça branca sair de seus lábios.

Bongiorno. — Desejei, aproximando-me e ela abriu um dos braços, oferecendo um lugar dentro do edredom junto a ela.

— O que você está fazendo comigo, straniero? — Perguntou e eu a encarei. — Fugindo de casa, colocando uma velha senhora em risco apenas para te ver. — Ela suspirou. — Eu estou perdendo a cabeça. — Assumiu, mas eu soube que não era uma acusação, tão pouco ela se arrependia.

Selei nossos lábios e a senti ceder ao beijo.

— Te trouxe um presente. — Confessei. Giulietta tinha olhos que muito me lembravam meus próprios. Se olhasse rápido demais diria que eram castanhos, mas com a atenção necessária podia-se notar as gotas verdes ao longo da íris, dando-lhes uma tonalidade única.

— James… — Arfou. Eu ri, lembrando-me do que havia comprado enquanto puxava o embrulho.

— É algo simbólico. — Disse enquanto ela desfazia o laço e buscava o presente dentro do saco. — Sei que provavelmente não poderá levá-lo, mas gostaria que soubesse como me faz sentir e isso diz um pouco o que eu queria dizer. — Expliquei e então ela alternou o olhar entre eu e o boneco em suas mãos.

— Um zumbi? — Perguntou, os olhos agora fixos em mim.

— Uhum. — Afirmei e sorri ao ver que ela não tinha entendido. — Beeeem. Antes de conhecer, por muito tempo, eu… eu estava vivendo uma meia-vida. Sem saber disso.

— Zumbis não tem uma meia-vida?

— Sim, não me interrompa, a meia-vida deles é diferente. Digamos que eu apenas existia, não estava mais vivendo há alguns anos. Perdi o controle, mas mesmo quando me recuperei, bem, não era a mesma coisa. E você… Giulietta, você me fez voltar a vida. Como zumbis.

— Uma nova meia-vida? — Ela observou e eu ri.

— Podemos dizer que sim. Bem, você sabe, zumbis andam por aí se arrastando, o que eu claramente faço devido minhas tarefas avassaladoras, e só conseguem pensar em cérebros. A diferença entre eu e eles é que eu só consigo pensar em você. — Finalizei e Giulieta meio riu e meio disse “own”.

— Bem, isso é romântico. — Decidiu encarando o boneco. — Assustador e estranho, mas romântico. — Ri, lhe acariciando a bochecha.

— É só uma maneira de dizer que você me mostrou porquê vale a pena viver e eu deixei de só existir, então isso é um obrigado. — Disse e ela me encarou, transmitindo pelo olhar tudo que sentia, então pigarreou.

— Bem. Eu também tenho um presente. — Começou, engatinhando para fora do edredom e alcançando uma caixa minúscula na mesinha. — E ele também é simbólico. — Explicou enquanto engatinhava de volta para o calor. — O que é engraçado, já que não combinamos nada disso. — Riu e me estendeu a caixa.

Sorri, realmente notando como havíamos pensado em coisas parecidas e abrindo a caixa. Em seu interior nada além de uma única pena em tom verde-claro. Ergui os olhos para Giulietta, que não me esperou perguntar para começar sua história.

— No verão, alguns dias antes de te conhecer, um passarinho apareceu na minha sacada. — Disse. — E ele estava machucado, com a asa quebrada e como se algo o tivesse atingido, uma pedra, talvez. Mas ele não conseguia voar. Então eu o peguei, e tomei conta dele até que ele se recuperasse. Alimentei-o, cuidei dos ferimentos, até arrumei uma gaiola grande com alguns brinquedos. Me apeguei a ele nesse tempo, então quando ele já estava saudável, decidi mantê-lo por perto. — Continuou. — Mas percebi que ele estava diferente, dentro da gaiola ele não brincava, mal cantava, parecia triste. E então eu notei que o motivo era que ele era uma ave feita para viver livre, e eu estava o privando disso. Então o deixei ir.

— Você está me dando um fora? — Refleti e ela riu.

— Depois de tê-lo liberto, ele voou alto e então desceu, voando ao meu redor, como se me agradecesse. Depois disso, partiu. Sumiu no céu do outono e não voltou. Quando fui arrumar a gaiola vi que essa pena era tudo que tinha restado dele, e então, algum tempo depois, você escreveu. — Ela riu. — James, essa pena significa que, assim como aquele passarinho, você me libertou. Eu era uma prisioneira dentro da minha própria casa, infeliz por ter uma vida que eu nunca pedi por ela, que me fora imposta por circunstâncias infelizes, mas aí você apareceu e abriu as portas para mim. Você me libertou James. Mesmo que eu ainda possua certas algemas, você me deu um vislumbre de uma vida e de uma alegria que eu achei que nunca poderia sentir. — Ela sorriu, notei que uma lágrima havia escorrido por seu rosto e a limpei. — Então isso é um obrigado. — Finalizou com um sorriso e eu ri junto, aproximando-me dela e beijando sua testa.

Ficamos ali toda a tarde, enrolados no edredom, conversando, rindo, sem falar sobre nosso passado ou sofrimentos, apenas aproveitando a felicidade em estarmos na companhia um do outro. Giulietta estava deitada contra meu peito e aquilo era bom. Sentí-la próxima. O calor de seu corpo aquecia mais do que o tecido e o fogo. E ela sorria quando dizia que podia ouvir as batidas de meu coração e que queria poder passar a vida ali.

Mas nem tudo são flores. Em algum momento ela enxergou o relógio velho pendurado em um canto escondido da sala e se assustou, notando que já passava das oito. Não nego que também me assustara, parecia que eu tinha acabado de chegar.

³— Eu realmente não posso ficar. — Ela disse em tom de desculpas.

— Está frio lá fora. — Eu pontuei como se fosse um argumento muito bom.

— Eu preciso ir embora. — Enfatizou, mas sem fazer movimentos para se levantar.

— Está muito frio lá fora. — Insisti.

— Essa tarde tem sido tão boa… — Começou.

— Deixe-me segurar suas mãos, elas estão congelando. — Interrompi-a, trazendo-a para mais perto e segurando sua mão.

— Margaretta adora se passar por mim, mas ela tem que voltar uma hora para preparar o jantar.

— Querida, pra quê a pressa? Escute só o barulho da lareira. — Aconselhei beijando-lhe a cabeça.

— Eu preciso mesmo me apressar.

— Por favor, não tenha pressa.

— Já disse, tenho que estar em casa para o jantar.

— Tá bem ruim lá fora. — Voltei a dizer e ela riu.

— Pelo menos posso dizer que eu tentei. — Cedeu um pouquinho, aconchegando-se mais em meu abraço.

— Podemos arrumar um chocolate quente. — Sugeri.

— Não! Eu realmente não posso ficar. — Decretou, levantando-se de uma vez.

— Para quê ferir meu orgulho?

— Ahm… está bem frio lá fora né? — Ponderou e eu sorri.

— Esse é o espírito.

— Eu simplesmente preciso ir!

— Mas está frio lá fora! Você acabou de aceitar isso.

— James, não! — Disse quando me levantei, a segurando pela cintura e a puxando para perto.

— Mas tá beeem frio lá fora. — Sussurrei em seu ouvido.

— Sua presença têm sido tão boa e aconchegante. — Assumiu, inclinando a cabeça para o lado, liberando seu pescoço para meus beijos.

— Sou muito sortudo por ter te visto. — Disse contra sua pele e a ouvi suspirar. — Olhe só a tempestade na janela. — Aconselhei quando ela usou de sua força de vontade para se afastar de novo.

— Vão desconfiar que tem algo acontecendo…

— Merlim! Seus lábios parecem ser deliciosos. — Afirmei tornando a me aproximar.

— Margaretta pode esquecer de… — Beijei-a antes que completasse a frase.

— Eles são deliciosos. — Conclui, vendo-a rir.

— Deixe-me ir. — Pediu e eu fiquei sério.

— Nunca vi uma nevasca como essa antes.

— Preciso ir para casa.

— Você vai congelar do lado de fora.

— Me empreste seu casaco, então.

— Para quê se você pode curtir o meu calor? — Provoquei e ela riu, empurrando-me levemente e abaixando-se para pegar o boneco.

— Eu realmente preciso ir. — Pontuou, aproximando-se para juntar seus lábios aos meus por um segundo antes de apressar-se para a porta.

— Esqueça isso de ir embora. — Resmunguei, seguindo-a.³

Giulietta parou ao abrir a porta. A passagem estava completamente vedada pela neve, que começou a cair para dentro da casa. Apressei meu passo naquela direção e consegui fechar a porta antes que Giulietta fosse soterrada.

— Eu disse que está frio lá fora. — Suspirei devido a breve adrenalina e ela riu.

— Bem, eu ainda posso aparatar daqui. — Lembrou e eu balancei a cabeça.

— Cientistas confirmam que as possibilidades de destrunchar aparatando no frio são maiores. — Disse sério.

— Quais cientistas?

— Io. — Ela riu. — Estou falando sério. Você já reparou que minha panturrilha direita é diferente da esquerda? Não posso te deixar ir por questões de segurança.

— James… — Ela se aproximou, colocando a mão em meu peito e me olhando, senti que teria que desistir. — É perigoso que demitam Margaretta se ela não aparecer para a janta. Isso se não fizerem um interrogatório, a vida dela é naquela casa. Para o bem dela, acima de tudo, eu tenho que ir.

Fora minha vez de suspirar, aceitando a derrota. Não queria causar mal para alguém que tanto estava fazendo por mim, mesmo que talvez ela nem desconfiasse do quão grato eu era.

— Certo. — Aceitei e Giulietta sorriu, guardando o boneco zumbi na bolsa enquanto tirava desta um frasquinho que eu sabia conter poção polissuco.

— E eu guardarei o boneco sim, acharei algum esconderijo. Mas quero poder olhar para esse bizarro morto-vivo e me lembrar de você sempre que sentir saudades. — Disse e então beijou-me, antes de beber o conteúdo do frasco e fazer uma careta. Desaparatando dali assim que a poção começara a fazer efeito.

 

(…)

 

Depois que Giulietta se fora eu ainda demorei alguns minutos para tomar o meu caminho para casa. Permaneci no chalé, sentindo seu cheiro que havia continuado ali e desejando que ela voltasse. Como não voltou e aquele lugar parecia milhares de vezes mais frio sem sua presença, desaparatei. Acabei caindo um pouco mais longe da pensão do que eu queria, talvez eu estivesse distraído, e esse era mais um dos motivos para eu terminar logo aquela poção, não que fosse fácil.

As ruas estavam quietas, como se todos estivessem em casa, protegendo-se do frio e aproveitando as famílias, talvez dormindo. Caminhei em direção a pensão, segurando a caixinha de madeira em meu bolso, lembrando-me das palavras de Giulietta e sorrindo.

Ragazzo! — Ouvi alguém gritar e me virei, notando um homem se aproximar. Ele devia ter minha altura, mas era mais forte que eu, visivelmente, vestia-se todo de preto e não parecia estar muito contente.

— Hum… eu? — Perguntei, deslizando a mão da caixa para minha varinha sem movimentos bruscos. Ele só tornou a falar ao estar cara-a-cara comigo.

— Você é James Evans? — Quis saber e eu tive a impressão de já tê-lo visto em algum lugar. Talvez da empresa, mas não sabia ao certo quando ou porquê.

— Sim, e vo… — Minha pergunta não pôde ser completada pois assim que confirmei minha identidade uma mão voou até meu rosto, fazendo-o virar para o lado com o impacto. Senti o gosto de sangue se espalhar por minha boca. Antes que eu tivesse tempo de reagir levei um chute no estômago. O homem falava em italiano, tom ríspido, e eu não conseguia entender.

Dei passos para trás, cuspindo sangue no chão e encarando o homem que já vinha para cima de mim. Consegui lhe dar um soco no braço, mas eu não era lá muito bom nessa coisa de luta corporal e logo ele atingia meu rosto mais uma vez, e outra, e mais uma. Ele passou a sua perna nas minhas e eu senti meu corpo ceder a gravidade e ir ao chão. Não entendia o motivo daquela agressão e não estava conseguindo reagir. Alcancei minha varinha e apontei para ele, no mesmo momento que ele pisava em minha mão até eu ceder e chutava minha varinha para longe. Em seguida o chute era direcionado para meu nariz, que começou a sangrar tanto quanto minha boca, e os pontapés em meu tórax tornaram-se permanentes enquanto ele continuava xingar em italiano. Lembrei-me de já ter passado por uma situação parecida algum tempo atrás, mas o que me levara até lá era completamente diferente. Eu não conseguia entender.


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Notas finais do capítulo

¹Frases retiradas da obra Romeu e Julieta, de William Shakespeare.
² Eu acho que substituí o 2 pelo 3
³ Conversa inspirada na música "Baby, it's cold outside" de Idina Menzel com participação de Michael Bublé.
Amores, eu volto amanhã para melhorar estas notas e agradecer vocês como vocês merecem, mas por agora vou apenas deixar por aqui o link da page da fic no facebook. Estamos usando lá para uma comunicação mais efetiva com vocês, dando notícias do processo de criação e tudo o mais, então deem uma passada lá de vez em quando e, claro, nos contem aqui o que vocês acharam desse capítulo e o que acham que aconteceu com o James, ou o que ainda vai acontecer. Conte-nos!
https://www.facebook.com/asmulheresdejsp/

EU voltei ksksks
As novas leitoras, sejam muito bem-vindas! Deixem um alô aqui pra gente para que saibamos quem vocês são e o que acham da fic, que tal?
As antigas leitores, guerreiras, que resistem a longas temporadas sem atualizações e ainda não nos abandonaram, NÓS AMAMOS VOCÊS, E MUITO OBRIGADA POR CONTINUAREM AQUI, DE TODO O CORAÇÃO. Essa fic não existe sem vocês e, mesmo com a demora (porque não depende mais só da nossa criatividade conseguir ou não escrever) saibam que nos esforçamos todos os dias para continuar fornecendo o melhor dessa fic para vocês e somos eternamente gratas por cada uma de vocês que permanecem conosco, mesmo nesses momentos de dificuldade de escrita.
Nosso sincero muito obrigada a todas vocês, novas, antigas e resistentes. AMJSP não existe sem vocês ♥ /Lia Galvão



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