Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP escrita por Matheus Henrique Martins
Quando chego na rua do condomínio de Rael, aperto o botão do intercomunicador para ligar para o apartamento dele.
– Alô? – atende uma voz feminina. É a irmã mais velha de Rael, Karina.
– Oi Karina – cumprimento alegremente sua voz eletrônica. – Pode me passar pro Rael?
Têm um silencio breve do outro lado da linha.
– Olha Rafa, ele não esta não.
Suspiro e conto até três mentalmente. Maldito namorado ciumento e bobo.
– Ele esta aí na sua frente, não está? – sussurro.
A falta de resposta dela confirma minhas suspeitas. Rael provavelmente deve ter pedido para ela atender por ele. Quanto ciúme. Onde ele pretende chegar com toda essa raiva?
– Ele parece muito puto? – continuo perguntando. – As sobrancelhas estão juntas?
– Bem desse jeito – ela ri.
Escuto um som abrupto e Rael discutindo com ela. E então sua voz substitui a dela:
– Vadia.
– Desiste Rael – zombo. – Eu tenho um laço incompreensível com as garotas, sempre faço elas confiarem mais em mim do que no irmão mais novo.
– O que você quer Rafa?
– Ah, para com isso, desce aqui. Quero com esse ciúme todo agora – provoco.
– E eu deveria te ouvir porque...?
– Você me ama.
– Estou falando sério, Rafa.
– E eu também, Rael – desligo na cara dele.
Enquanto espero ele descer, um jipe grande monstruoso entra na rua com tudo e estacionado no portão de uma pousada que tem ao lado do condomínio. As janelas do veiculo estão escuras, mas consigo ver que tem pessoas dentro dele mesmo assim.
– Porra, Felipe, uma pousada? – escuto uma voz de garota guinchar. – Sério mesmo?
– Você tem uma ideia melhor? – uma voz de garoto, provavelmente o tal do Felipe, responde.
– Não liga pra Dessa – diz uma voz diferente de garoto. – Ela adora criticar os planos dos outros, mas os dela são horríveis. Quando ela tem algum plano, digo.
– Nossa, Fernando – a garota responde. – Se quer lamber o saco de alguém por que não faz isso de um jeito menos explicito?
– Do que ela esta falando?
– Já chega – diz uma voz ainda mais alta que a deles. – Vamos focar no que viemos fazer.
Continuo olhando enquanto eles saem do carro, mas ouço uma comoção na entrada do condomínio e avisto Rael e o segurança do prédio discutindo.
– Pra que você quer saber aonde eu vou? – Rael questiona.
– Eu não quero saber – o segurança retruca. – Eu tenho que saber. É meu trabalho.
– Trabalho estranho esse o seu – Rael retruca.
– Ei, ei – intervenho e me aproximo da entrada. – Ele só ia me buscar aqui, Will.
Will, o segurança, suspira e me olha com reconhecimento.
– Muito obrigado, Rafa – ele sorri, depois revira os olhos. – Ao menos você é o educado dessa relação.
Sorrio para ele e Rael revira os olhos. Will abre o portão e me deixa entrar. Rael começa a andar para o seu prédio e corro para acompanha-lo.
– Não sei por que ele disse que você é o educado da relação – ele me diz, entrelaçando sua mão esquerda com a minha direita.
– E eu não sou? – questiono e Rael me dá um olhar severo. – Quer dizer, com ele?
– Ele é só um porteiro, Rafa.
– E você um namorado ciumento demais – paro de andar. – Que chilique todo foi aquele pelo celular, hein? Já não tinha te dito antes que ia me encontrar com Henrique?
Rael ajeita o moletom verde berrante e me ignora enquanto me olha de canto. Parece desconfortável em entrar no assunto, mas sei que é só uma questão de tempo até ele falar.
Esperamos o elevador no saguão e avalio-o. Seu cabelo cacheado está molhado e ele esta sem os óculos de grau. Por baixo do moletom verde berrante, usa uma pólo azul-escura. Está usando uma bermuda jeans e um Timberland.
Quando me nota encarando-o me lança um olhar tímido/irritado. Sorrio em resposta e ele tenta parecer bravo, mas não demora até seus olhos descerem para os meus lábios.
O elevador se abre vazio e ele me prensa contra a parede. Seus lábios trilham um caminho da minha clavícula até meus lábios. Tento resistir ao beijo e o empurro devagar com sucesso, uma vez que sou mais alto que ele. Ele me surpreende mordendo e puxando meu lábio inferior.
Dou um olhar de desafio e ele responde com um irônico.
– Achei que estivesse bravo – murmuro contra sua boca.
– E eu estou.
Beijamo-nos lentamente e suas mãos viajam pela minha barriga. Deixo minhas mãos caírem ao lado do corpo enquanto vou saboreando seus lábios. Tem um gosto gélido e me pergunto se ele bebeu água gelada.
Pouco a pouco, vamos nos deixando levar pelo momento, o som de nossos lábios se tocando ecoando pelo elevador.
E então suas mãos vão até o zíper da minha bermuda e eu me afasto. Ele para de me beijar e eu o olho de volta. O elevador ainda esta subindo.
– O que foi? – ele sussurra. – Por que paramos?
Olho para baixo em sugestão.
– Ah – ele recolhe as mãos. – Foi mal.
– Não foi não – cruzo os braços. – Foi muito, muito bom.
– Sério? – ele me olha de um jeito esperançoso.
– Não – bufei. – No que diabos você esta pensando?
– Rafa – seu sorriso some. – Por que não?
Dou de ombros para afastar sua mão.
– Porque estamos em um elevador – respondo. – E eu não estou pronto.
– Só por isso? – ele questiona.
– Só por isso? – cito e ele fecha a cara.
– Acho que o Henrique te esgotou.
Reviro os olhos e o elevador se abre. Ele saí primeiro, apressado.
– Olha – digo atrás dele. – Se for pra brigarmos, eu vou embora.
– Pode ir – ele não se vira pra mim.
– Ele é só um amigo! – exclamo e ele se vira com as narinas infladas. Uma velha sai de seu apartamento para olha e nós dois encaramos até que ela feche a porta de novo.
– Um amigo? – ele cruza os braços. – Um amigo que você não sabe de nada dele.
– Claro que sei – retruco. – Ele é joga futebol. É da minha sala de inglês. E namora a nojenta da Taffara.
– Eu sei disso – ele ergue as sobrancelhas. – Mas não prova nada, Rafa.
– E o que deveria provar Rael?
– Qualquer coisa sólida. Eu quero motivos. Quero motivos pra saber por que você esta fazendo o que esse cara quer pra você.
– Simples – dou de ombros. – Eu sou legal.
Rael ri sem nenhum humor.
– Que foi? Não acha que eu seja?
– Não foi isso que eu disse.
– Mas com essa risada foi o que pareceu – retruco e fico irritado. – Por que você tem que ficar vendo maldade em tudo o que eu digo?
– Porque tem maldade.
– Ah, tá – a raiva sobe pela minha garganta. – Me engana que eu gosto. Isso é ciúmes!
– Como é que é?
– Ciúmes – repito. – Você tem isso sempre comigo.
– Não tenho não!
– Teve aquela vez que eu disse que o Lucas estava lá em casa e você ficou bravo – exclamei. – Ciúmes do Lucas, Rael! Dá pra acreditar?!
Ele fica sem argumentos.
– E o que sugere que eu faça Rafa? – ele dá dois passos até mim. – Com tantos caras em cima de você, o que sugere que eu faça?
Expiro e respiro.
– Confie – eu toco seu rosto. – Confie em mim.
Silêncio.
– Será que isso você pode fazer? – pergunto, erguendo seu rosto com o dedo. – Eu sou seu namorado, tem como você confiar em mim?
– Não sei – ele responde.
Fico esperando ele se arrepender e dizer que sim, que ele confia em mim e que isso é apenas um ciúme bobo. Mas então ele apenas desvia o olhar e ergue o queixo carrancudo.
Minha boca faz um O enquanto vou observando sua atitude. Mas mesmo notando meu olhar surpreso, ele continua a birra.
Sem paciência, solto seu rosto.
– Criança – murmuro.
– Rafa, espera – ele pega meu braço.
Solto meu braço e aperto o botão para fazer o elevador voltar.
– Olha, é bom você saber logo se confia em mim ou não – o elevador se abre novamente. – Porque senão, vamos terminar.
Não fico para ver sua expressão de choque e entro no elevador com frieza.
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