Uma vida diferente... Sonho ou pesadelo? escrita por Arianny Articunny, MoonyB


Capítulo 27
Perdendo o controle


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente! Desculpe a demora. Nós andávamos ocupadíssimas ultimamente além de que houveram alguns contratempos e problemas enquanto escrevíamos esse cap. Bom mas aqui está! Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/571886/chapter/27

Pov's Nick

Era como se tudo estivesse embaçado. Eu sabia que eu havia adormecido enquanto falava com a Hana e a Reyna. Uma coisa eu tinha certeza tinha voltado para aquele lugar em minha mente, tinha visto meu outro eu e sido jogada em memórias antigas novamente. Depois disso foram vultos passando rápido. 

"Estávamos naquele passeio escolar do sétimo ano. Na ida eu havia ido no ônibus 1 junto  com o Gabe e a Hana mais uma galera que se dava bem com ele, estava tudo bem, até depois que saímos do Observatório... Eu e ele nos desentendemos por causa que ele sempre estava rodiado de meninas que se jogavam pra cima dele e quando ele me chamou pra sentar com ele de novo eu... Dei um piti e pedi pros professores pra trocar de ônibus e claro que a Hana foi comigo. Mas no meio da viagem algo estranho aconteceu. Nos disseram que uma rocha bateu no ônibus da frente e ai acabamos batendo nele. Todos estavam sendo atendidos pra ver se estavam bem eu havia acabado de despertar aí claro que perguntei dos meus dois melhores amigos. Porém Hana que estava lá do lado de fora da tenda me olhou triste. Lembro da minha alma gelar e eu correr que nem uma desesperada na direção onde o o ônibus dele havia caído do barranco. Lembro de descer até o ônibus e gritar por ele e procura-lo. Claro que todos tentaram me deter e me acalmar. Mas os médicos tiveram que me cedar. E antes de apagar pude ouvir Hana no meu lado falando comigo e chorando em meu lugar."

Eu pensei que tinha acabado. Que agora eu ia acordar como sempre mais fui puxada novamente para as memórias. Mas o que aconteceu depois daquilo prefiro não lembrar. Não sei o que foi pior...

"Eu acordei já em casa. Será que eu realmente podia chamar aquilo de minha casa? Acho que não. Abri os olhos relutante sentindo os gosto salgado de lágrimas que ainda estava em minha boca. Sabia que ainda era o mesmo dia só que agora era de noite. Pensei em sair do quarto e sei lá... Tomar um bom banho quente? Chamar a Hana pra me fazer companhia? Eu realmente não queria ficar sozinha. Parecia tudo tão irreal. Como assim ele havia morrido? Ele tinha prometido que sempre estaria comigo, me protegeria e cuidaria de mim... Mentiroso! Quebrador de promessas! Se ele ainda estivesse aqui eu bateria nele! O pensamento no passado me fez começar a chorar novamente mais parei pois escutei vozes no corredor. Temi e ponderei se deveria mesmo escutar. Das outras vezes não havia sido nada agradável. Eram meus avós novamente, falando coisas terríveis. Como quanto o Gabe era sortudo e que ele tinha ido pra melhor por nao ter que me aturar, que eles nao sabiam como ela podia ser gentil e legal com alguém desprezível como eu e que não sabiam como seria possível me aturar, controlar e conter agora que o único que eu escutava havia os abandonado. Ouvi outra voz. Era voz do meu pai que brigou, pela primeira vez, com os dois e me defendeu. Que eles não deveriam ser tão horríveis comigo pois era uma coisa muito triste que havia acontecido. Mas eles o coagiram e o enganaram como sempre pra ficar do lado deles. Só sei que o mês e o resto do ano que se seguiu foi de sofrimento e solidão. Teria sido pior se eu não tivesse a Hana ao meu lado. Não sei o que teria sido de mim. Eu com certeza teria perdido minha alma com tanta tristeza e dor."

E então eu finalmente acordei. Mas em vez de estar no chalé eu estava na Casa Grande com a Hana e o Quiron que me olhavam preocupados. Os encarei confusa.

—Pelos Deuses Nick. Você está bem? Quem é sua mãe? Onde você está? -ela me bombardeou de perguntas. Acho que não posso culpá-la. -Você não sabe como eu estou preocupada. Responde logo a merda das perguntas.

—Ei, Hana. Eu estou bem. Sou a única filha de Ártemis. E estamos... Em casa. -respondi. Sim. Aqui era meu verdadeiro lar.

Ela correu e se jogou em cima de mim, me abraçando muito apertado.

—Achei que fosse te perder. -ela falou com a voz embargada. Não acredito! A Hana está quase chorando.

—O que? O que aconteceu? Porque acha isso? Alias... O que estou fazendo aqui? Tenho certeza que dormi no chalé. -brinquei.

—Melhor o Quíron te explicar. Eu preciso ir pro chalé. O resto do pessoal deve estar preocupado. -ela falou me dando um beijo na bochecha e saindo da casa.

Eu olhei ela indo embora. Meu coração apertou. O que será que havia acontecido? Eu só estava fingindo estar bem. Aquele sonho tinha mexido comigo. Enfim... Olhei para o centauro.

—Conte-me tudo. Por favor. -pedi de uma vez.

—Tomaram conta do seu corpo enquanto sua mente ficava em um estágio de coma, presa em uma das memórias mais marcantes. Usaram você como um receptor. Um canal para comunicação. Quando fizeram isso você voltou para o passado. Não sabia quem realmente era e onde estava. Por sorte, o que quer que tenha se apossado de você não tinha a intenção de te machucar, apenas transmitir um recado. De qualquer forma, temos que ficar atentos. Da próxima vez podemos não ter tanta sorte. -falou pacientemente.

—O-o... Q-que? -gaguejei.

—Acho que você deveria procurar sua amiga e pedir que ela se livre dos outros. Você precisa descansar. -falou de forma gentil, como um pai preocupado com a filha doente.

—Parem de  me pedir pra descansar sempre como se eu fosse uma criancinha frágil! -reclamei irritada.

—Você pode não querer, mas se você não descansar sua mente vai entrar em colapso. Não quero dizer que precisa dormir, apenas relaxe. -manteve uma calma invejável.

—Não presuma essas coisas sem saber nada sobre mim. Não irei entrar em colapso. -sibilei estreitando os olhos.

—Não estou falando que te conheço, apesar de conhecer, estou falando que não importa o quanto lute contra a realidade. O cérebro é um ponto forte e frágil. Controla tudo, mas quando sobrecarrega pode destruir uma vida. Você querendo ou não, preciso dar descanso pra ele. -falou ainda calmo, mas com a voz firme. Com isso eu bufei e concordei. Saí da casa em direção ao chalé.

Ou pelo menos fingi que faria isso. Se eu voltasse e ficasse só agora seria pior. Eu tenho certeza. Preciso me distrair...

—Nick! Ainda bem que saiu de lá. Já avisei pro pessoal que está tudo bem. Foi difícil convencer eles a irem pros chalés. -Hana falou sentada na raiz de uma das árvores na entrada da floresta.

—Você concorda com Quiron?! Hana com eles por aqui seria mais fácil me distrair! -falei fechando os olhos com força.

—Você sabe que isso não é verdade. Eles ficariam fazendo perguntas. Sem contar que você não deve dormir. Você precisa manter a calma. -olhei intrigada. Achei que ela diria que preciso dormir agora mesmo.

—Pelo menos você pode chamar o Gabe? -pedi a olhando nos olhos.

Ela pensou por um tempo. Então sorriu pra mim e concordou com a cabeça. Fiquei esperando enquanto ela saía  para chamá-lo. Logo ouvi passos e vozes se aproximando. Mas não eram só duas vozes, eram três! Me escondi atrás da  uma árvore pra escutar o que diziam.

—Mas Hana! Por que ela só chamou esse idiota aí? Ela já voltou ao normal né? Essa coisa da memória? -ouvi a voz do Leo.

—Já sim, Leo. Ela pediu pra chamar ele. Você vai voltar comigo. -ouvi Hana falar séria. Admito que me deu um aperto no coração quando ouvi a voz do Leo.

—Mas não é justo! Como você pode deixar ela sozinha com ele?! -ouvi certa indignação na voz dele.
—Valdez... -Gabe começou a dizer e suspirou. -Eu conheço ela desde que éramos bebês! E isso deve haver com o sonho que ela teve...

—Falta pouco pra eu me cansar disso. Eu posso parecer, mas eu não sou idiota. -Leo falou. Não consegui identificar o que tinha em sua voz, talvez mágoa.

Me arrisquei a olhar pra eles. Só que sem querer fiz barulho e me escondi novamente mas sabia que haviam notado minha presença.

—Sei que está aí. Não precisa se esconder, eu já entendi. -Leo falou pra mim.

—Entendeu, é? O que exatamente você entendeu, Leo Valdez? -perguntei tentando manter a pose despreocupada.

—Que eu nunca fui uma opção pra você. Não era brincadeira, você realmente me odeia. -falou com uma risada nervosa. Antes que eu pudesse responder ele saiu. Suspire pesadamente e reparei que Hana me encarava de forma reprovadora.

—Não vou atrapalhar. -ela falou ainda me encarando e saiu sem dizer mais nada.

—Ela vai falar mais tarde, tenho certeza! -falei mais comigo que com Gabe em si.

—Porque? -ele perguntou confuso. Acho que ele não entendeu a situação.

—Deixa pra lá. -falei baixinho e o abracei fortemente.

—Você realmente sonhou com o acidente não é? -ele falou começando a fazer carinho na minha cabeça.

—Aham. -confirmei. O apertando mais forte.

—Me perdoe, Ni... -ele sussurrou em meu ouvido e me abraçou de volta.

—Só não descumpra sua promessa novamente. -pedi e levantei o rosto para olha-lo. Foi quando eu me toquei o quanto nossos rostos estavam próximos. Senti minha face esquentar. Sério? Eu estava corando como se tivesse onze, doze anos novamente? Ele se aproximou de mim com o intuito de selar nossos lábios. Eu esperei esse momento por muito tempo, mas por algum motivo eu travei. Abaixei a cabeça e o afastei sem deixar de abraça-lo.

—Podemos ficar apenas como amigos hoje? -o olhei nos olhos. -Como antigamente? Antes de tudo isso acontecer.

—Claro. -ele suspirou olhando para o lado.

—Sou uma amiga terrível, não sou? Mesmo sabendo dos seus sentimentos sempre pedia pra você sempre continuar sendo meu melhor amigo... -suspire e o olhei triste. Droga, estava sentimental demais.

—Você realmente precisa descansar. Vamos pro chalé. O sono está mexendo com o seu humor. -ele falou se afastando de mim.

—Eu não estou com sono... -protestei fazendo bico, mas não deixando de seguir ele. Fomos andando em silêncio até o chalé.

—Está entregue. -ele falou batendo na porta.
Ele se virou pra ir embora e meu coração apertou. A lembrança dele ter "morrido", saído da minha vida passou em minha mente novamente. Então eu nem pensei. Agi automaticamente. O agarrei por trás, o abraçando fortemente. Eu estava tremendo. Pude notar a porta se abrindo e a Hana saindo de lá acompanhada dos garotos. Ver o olhar magoado do Leo doeu meu coração. É, eu sou mesmo uma pessoa terrível. Terrível e egoísta.

—Por favor... Não me deixe para trás ... -sussurrei com a voz um tanto embargada. Ele se virou e me abraçou.

—Nunca vou te deixar. -sussurrou no meu ouvido.

Logo nos soltamos. Me virei para o pessoal e vi que faltava alguém. Leo. Meu coração se apertou ainda mais. Que droga. Olhei pra Hana, mas ela não olhava pra, olhava pro chão. De repente sinto minhas pernas bambas e que comecei a tremer de novo, só que de forma mais intensa. Sem querer, senti meus olhos lacrimejarem e , de forma involuntária, soltei um soluço. Quem quer que estivesse controlando minhas memórias queria acabar com minha armadura. E o pior.... Estava conseguindo. Hana correu até mim e me abraçou. Gabe tentou fazer o mesmo, mas ela não deixou ele se aproximar. Ela me levou até o chalé, me colocou na cama e trancou a porta. Então sentou no chão a minha frente, fechou os olhos e respirou fundo. Quando olhou pra mim tinha algo diferente, algo que me fez recuar um pouco diante daquele olhar.

—Vai brincar até quando? -perguntou séria.

—Q-que? -minha voz saiu vacilante.

—Sabe que não quero te julgar, mas se continuar assim vocês três vão sair machucados. -falou sem tirar os olhos de mim.

—Não estou entendendo do que você está falando, Hana-chan... -indaguei confusa. Os três machucados? Porque?

—Ele se culpa, você sabia disso? Um deles acha que está apaixonado. O outro se sente culpado por estragar a sua felicidade. E você não se decide. Eu sei que minha situação não está muito melhor, mas eu sou sincera com eles, sabem que tenho medo de me machucar. -sua voz ia ficando cada vez mais fria. Eu nunca tinha conhecido esse lado dela.

—Eu não estou brincando com nenhum deles!! Eu nunca falei em algo mais do que amizade com nenhum deles! Eles não podem se apaixonar por mim! Muito menos eu por alguém! Leo é meu amigo e Gabe é quase um irmão pra mim! -eu quase gritei. Do que se tratava essa conversa afinal?! Não existe amores e romances na minha vida! E nunca vai! Não vou deixar isso acontecer.

—Tarde demais. O Gabe tudo bem, pode ser que ele não esteja mais apaixonado por você. Agora, o Leo simplesmente faria qualquer coisa por você, mas você só tem olhos pra Gabe. Sabe que eu sempre vou estar do seu lado. Só que isso virou tortura, Nick. Ele não come direito tem dias, por causas dos seus problemas e você desperta e fala que não quer falar com ninguém, só com o Gabe. -ela falou com a voz cheia de mágoa. Arregalei os olhos. Não estava comendo direito? Como assim?

—E o que você quer que eu faça?! Queria que eu fizesse o que tendo lembrado com o maldito acidente e tendo o Gabe de volta?! Você sabe que eu nunca me recuperei daquilo! -exclamei na defensiva.

—Você não tem que esquecê-lo, só tem que entender que ele gosta de outra. Seja sincera com o Leo, se não sente nada por ele diga. Nick, eu já conversei com os dois. Você precisa resolver. -ela falou com uma voz doce. Como ela consegue mudar tão rápido? A voz dela me acalmou e limpou da minha mente um pouco do caos que estava.

—Outra...? -minha mente tinha se prendido a esse detalhe. -Mas... -lembranças de mais cedo, do Gabe querendo me beijar vieram a tona, pra confundir minha mente. Franzi as sobrancelhas. 

Ela assentiu. Duas coisas não saiam da minha mente: "outra" e "comer".

—Não. -neguei. -Não pode.

—Depois diz que é amor de irmão. -ela se levantou e foi até o banheiro.

—O q-que? Você acha que e-eu amo o Gabe? -me atrapalhei ao perguntar nervosa.

—Hana? -chamei.

—O que foi? -ela perguntou colocando a cabeça pra fora da porta.

—Você não me respondeu... -falei, mas não o sei porque isso me importa tanto. Era pra ser algo insignificante, não era?

—Nick, não posso dizer o que você sente. Só quero pedir pra tomar cuidado, com vocês três. -ela suspirou.

—Mas você acha, não acha?

—Acho, mas não precisa se preocupar. Não vou usar isso contra você. -ela falou sorrindo pra me consolar.

Olhei pra ela com cara de quem não queria acreditar. E realmente eu não queria, eu não ia. Eu sou Nick Argent, a garota fria, cruel e que não se apaixona ou sente o sentimento denominado "amor ".

—Você não é feita de gelo, Nick. Você é humana e uma pessoa incrível. Um dia isso ia acontecer.

—Não. Não comigo. -reforcei apressada.

—Pare de tentar se iludir.

—Eu... -franzi as sobrancelhas.

—Você já admitiu pra você mesma em relação à ele ser seu primeiro amor? -ela perguntou e eu me engasguei.

—E-ele não foi... -falei mas ela me interrompeu.

—Nick, você sabe que eu não te enganaria sobre isso. Além disso você está gaguejando e ficando vermelha.

—Mas... -suspirei.

—Você confia em mim? Acredita em mim? -ela perguntou me olhando nos olhos.

—Acredito, é claro que acredito. E confio minha vida a você. Mas você sabe que não acredito nesses sentimentos. -falei, fechando os olhos com força.

Senti a cama se mexer e uma mão acariciando meu cabelo. Não abri os olhos, nós estávamos sozinhas. Deitei a cabeça em sua perna.

—Nick, quando você vai ser sincera você mesma sobre isso?

—Isso o que? -perguntei.

—Sobre o que você sente. Não pode continuar assim. 

—Você está se referindo ao meu passado com o Gabe não é? -perguntei.

—Estou me referindo ao passado e ao presente.

—"Ele foi o meu primeiro amor." É isso o que você quer que eu admita? Mas o que quer dizer em relação ao presente? -falei.

Passamos um tempo nos olhando sem falar nada. Sabia que se eu não concordasse com ela essa conversa duraria séculos.

—Talvez você tenha razão. Eu já fui apaixonada por ele. -admiti ainda meio relutante.

—Talvez? -ela perguntou erguendo uma das sobrancelhas.

Olhei pra ela. Ela queria mesmo que eu falasse aquilo em voz alta?

—É-é... Talvez. -tentei em rolar um pouco.

—Nick! -ela reclamou revirando os olhos.

—O que foi? -me fingi de inocente e desentendida.

—Nem adianta fazer essa cara. -ela avisou.

—Você quer mesmo que eu admita algo assim em voz alta? -perguntei mesmo já sabendo a resposta.

—Só tem nós duas aqui, Nick.

—Mas... -comecei a inventar qualquer desculpa.

—Mas nada. -ela falou convicta.

—Você não vai me deixar em paz até que eu admita não é? -Suspirei.

—Não. -ela sorriu meiga. Bufei.

—Eu já amei o Gabe, está bem? -falei com os olhos marejando. -Ele se apaixonou por mim e eu por ele. E logo quando eu estava aceitando isso, ele "Morreu". -falei e uma lágrima caiu.

—Porque nunca me contou? -ela questionou calma.

—Porque dói. -continuaram caindo lágrimas.

—Mas quando você fala está dividindo essa dor. A dor dura mais quando a reprimimos. -ela falou enxugando as minhas lágrimas.

—Porque você acha que eu chorei e fiquei tão desesperada quando o acidente aconteceu? -me abracei fortemente.

—Porque vocês eram muito próximos. Eu já suspeitava, mas preferi não me envolver. E depois do acidente eu não queria mexer na ferida.

—Sabe o que piorou tudo? -perguntei. Já que ela queria que eu falasse, eu iria desabafar.

Ela negou com a cabeça e esperou que eu continuasse.

—Lembra que os médicos me sedaram e me levaram até em casa?

—Lembro. -ela falou com a voz embargada.

—Quando eu acordei ouvi... Meus avós conversando... Sobre o desaparecimento e provável morte do Gabe... -falei perdendo a fala no final.

—E... -ela me incentivou. Eu tinha começado e precisava terminar. Aquilo estava de certa forma me deixando mais leve.

Fechei os olhos e a abracei. E assim como já tinha feito uma vez por acidente tentei mostrar as memórias do sonho dessa vez. Felizmente, senti as memórias fluindo pra ela novamente.Quando acabou ela permaneceu de olhos fechados. Perecia absorver tudo o que tinha visto.

—E foi isso. -me encolhi. -Por favor... Diga alguma coisa.

—Desculpa, demorei pra processar as informações. Olha Nick, eu estou sempre com você. Não precisa mais guardar nem esconder nada, nunca mais. -ela falou me abraçando mais forte.
Assenti.

—Eu preciso dele, Hana. Sabe que sempre precisei. -e eu estava chorando novamente, me irritei com isso, mas como éramos só nós duas... Eu me permiti chorar só um pouquinho.

—Você precisava dele. Agora você só precisa se controlar. Sei que é muito forte o que você sente, mas tudo isso são reflexos do passado. -ela falou de forma doce. Admito que quis acreditar nisso.

—Eu vou matar esses sentimentos de novo. Pra valer. -me decidi. Falando como se tivesse feito a decisão do ano.

—Você tem certezas? Vou estar do seu lado independente da sua decisão. Só quero que você se livre desse peso e organize sua mente.

—Você sabe que considero sentimentos românticos uma fraqueza e algo inútil. -falei fria. Logo depois disso olho pra porta e vejo que o Leo estava ali. Sério porque ele sempre chega nas piores horas?

—Sai. -Hana falou tão fria quanto eu.

—Não. Vocês duas tem que sair da toca. Chega de se excluírem. Vocês querem fazer parte daqui ou não?! -ele falou exasperado. Senti que a Hana ia avançar nele pra expulsa-lo. A impedi.

—Não. -digo colocando meu braço na frente dela pra acalmá-la.

—Não quero sair do quarto. Eu ainda não resolvi o que vim fazer aqui. -ela falou se levantando.

—E o que foi? -perguntei curiosa.

—Nada. -ela respondeu séria. -Só quero ficar sozinha.

—Está tudo bem, Hana? -franzi as sobrancelhas.

—Sim. -ela respondeu sem me olhar

—Hana. -olho pra ela. -Fale isso olhando em meus olhos para que eu possa acreditar.

Ela me encarou, seus olhos pareciam pedras de gelo.

—Eu estou bem. -sua voz era tão fria quanto.

—Pra mim não parece estar. -a encarei séria.

—Eu já fiz o que você pediu. -ela falou irritada.

—Ei, ei... Calma gente. Vocês estavam tão bem alguns minutos à trás. -Leo se meteu na conversa.

—Sai daqui. -ela gritou com ele. Então se virou e foi até o banheiro. Bate a porta e se trancou lá.

Olhei a Hana se afastara se trancar no banheiro. Estava pasma. Sentia como se todo o sangue do meu corpo tivesse momentaneamente sumido.

—Você escutou tudo? Estava escutando nossa conversa por trás da parede?! A partir de que ponto?! -sibilei entre os dentes.

—Mais do que eu queria, mas eu não queria interromper vocês. -ela falou sem me olhar.

—A partir de onde você ouviu?! -perguntei novamente.

—Quando vocês começaram a falar do passado e do Gabe. -ele falou quase num sussurro.

Virei de costas pra ele e comecei a andar de um lado para o outro passando a mão no cabelo. Droga. Porque diabos minha vida só complica?! Respirei fundo tentando me controlar.

—Não precisa falar nada, não me deve explicações. -ele falou em um tom tão triste que senti meu peito apertar. Ignorei. Fui na direção do banheiro e bati na porta.

—Hana, sai daí. -pedi.

Ela não me respondeu.

—Hana...! -chamei. Não. Não. Não. Porque isso esta acontecendo? E pra piorar a Hana me deixou sozinha com ele. -O que você quer? Sinceramente, Leo, o que você quer de mim?!

—Nada. Eu não disse nada, não pedi nada. Você está gritando comigo porque quer. -ele falou.

—Me responda! É sério! -falei. Não... Não fale. Não quero saber. 

Ouvi o barulho vindo-se banheiro. Parecia que alguma coisa tinha caído.

—Hana? Está tudo bem? -perguntei preocupada.

Silêncio.

—Hana! -tentei outra vez enquanto batia na porta. -Pelos deuses! - grudei na porta tentando escutar algum som. Nada. Não ouço nada.

—O que houve? Por que esse desespero? -Leo perguntou surpreso.

Arregalei os olhos. Tinha esquecido que ele estava aqui.

—Nada. -disfarcei.

—Nick, o que está acontecendo com a Hana? -ele me olhou sério.

—Nada. -repeti.

Ele veio em minha direção.

—O que está acontecendo? -ele perguntou olhando nos meus olhos.

—Eu já disse que não é nada. -falei novamente e revirei os olhos.

Ele segurou meus pulsos e me prensou na parede.

—Você não consegue mentir pra mim. -ele sussurrou no meu ouvido.

—Se afaste. -falei séria.

—Não. -ele colocou seu corpo no meu. Não tinha como sair.

—Leo. O que diabos você está fazendo? -perguntei.

Ele não disse nada, apenas continuou me encarando. Foi se aproximando mais, somente alguns centímetros nos separavam.

—Leo. -falei. Todo meu corpo estava gritando "Perto demais!" repetidamente.

Ele não desvia o olhar. Tento sair, mas antes que conseguisse dar cinco passos ele me puxa de volta. Dessa vez meus pés não tocam no chão, o corpo dele era a única coisa em que poderia me apoiar.

—Leo. -ele cora quando sussurro seu nome surpresa. -Me coloca no chão. -pedi nervosa.

Ele me abaixou delicadamente. Segurou os dois pulsos com uma mão, enquanto a outra foi para a minha cintura.

—Você fica linda quando tenta se livrar de mim. -sorriu tímido. Meus olhos arregalaram.

—O que? -digo desnorteada.

—Você sempre fez questão de mostrar que não quer ficar perto de mim. Mudou de ideia? -perguntou me sem quebrar o contato visual.

—Não. -recuperei a compostura, meu corpo e sangue gelaram. Meu eu interior se encolhendo com pavor. -Eu... Não posso. -sacudi a cabeça.

—Eu não vou te obrigar a nada. Prometo que não vou te machucar. -ele soltou meus pulsos e acariciou meu rosto, estava paralisada. Com meu braços soltos eu posso fugir. Não. Alguma coisa está me prendendo, meu corpo não se movia de jeito nenhum, que olhar é esse nos seus olhos, o que é isso que eles demostram? Por favor, não. Você não pode. Isso é assustador. Penso temerosa.

—Então porque você vive correndo atrás de mim e me pressionando em relação à isso e em relação ao Gabe e meu passado com ele?! -explodo. Minha cabeça estava girando. "Não existe amor para alguém como você". A frase se repetia em meu subconsciente.

—Eu não consigo ficar longe de você, é por isso. Se eu não for atrás você me esquece. -pela primeira vez ele desviou o olhar.

—Você deveria. -aviso.

Então ele se distanciou.

—Se é isso que você quer. -ele falou indo para a porta. -Vou chamar os meninos para te ajudarem com a Hana. -avisou. Não... Isso não impede de continuarmos sendo amigos. Nós éramos amigos não éramos? Você não se aproximou só por segundas intenções não é? 

—Eu estou falando isso pro seu bem Leo. -digo antes dele sair. -Ficar próximo de mim só vai te machucar. Todos se machucam quando estão perto de mim... Não quero se a causa de mais ninguém se ferir. -as últimas duas frases falei mais baixo e sem olhar para ele.

—Para com isso. Você está com medo de se machucar. Não precisa fingir que se importa comigo. Eu vou me distanciar. Se realmente se preocupasse em me machucar não me mandaria ficar longe. Faça bom proveito da minha ausência. -ele falou e saiu. Sim. Estou com medo. Nada bom vem com o amor. Nunca. Apenas dor, sofrimento e mágoas.

—E como sempre eu fui uma idiota egoísta. -falei comigo mesma suspirando. -Você está ouvindo Hana?

Sem resposta. Isso não pode estar acontecendo de novo.

—Hana! Pelo amor dos deuses! -gritei.

Comecei a socar a porta com raiva. E a tentar abri-la. Quando eu comecei a me jogar contra ela pra ver se ela abria o "resgate" chegou.

—O que está acontecendo? -Nico perguntou. Todos pareciam surpresos de me verem no chão depois de tentar abrir a porta.

—A porta emperrou. -falei a primeira coisa que me veio à cabeça.

—Ok, mas o que realmente aconteceu? -Calleb perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

Todos arregalaram os olhos. 

—O que ela está fazendo lá dentro? -Gabe perguntou preocupado. Ele sabia do histórico da Hana, provavelmente está tão nervoso quanto eu.
Balancei a cabeça e o olhei nervosa.

—Não sei...

—Temos que tirar ela de lá. -ele falou.

—Eu sei... Mas só tem um jeito de fazer isso sem arrombarmos a porta.

—Como? -Calleb perguntou.

—Viagem das sombras. A não ser que alguém saiba fazer aquela parada de destrancar a porta com grampos ou tenha um equipamento tipo espião pra isso. -falei e todos ficaram me olhando como se eu fosse louca e tivesse problemas. Provavelmente as duas coisas são verdade.

—As luzes do banheiro estão acesas? -Nico perguntou.

—Não sei...

—Eu preciso de sombras pra fazer isso. -ele falou.

—Com ou sem luz tem sombras. -falei. -A luz cria sombras e sem luz é puramente sombras.

—Não é exatamente assim que funciona, mas eu vou tentar. -ele falou.

—Seja mais especifico então! E rápido. A Hana! -falo estressada.

—Já disse que vou tentar. -ele falou. Fechou os olhos, então foi engolido pelas sombras.

—Tomara que ela esteja bem. E que não tenha feito nenhuma loucura. -sussurrei pra ninguém especificamente.

—Se eu fosse você não teria tantas esperanças. Sabemos como ela é. -Gabe sussurrou de volta. Ouvimos a porta ser destrancada. Quando virei vi Nico com a Hana nos braços.

—Maldição, Hana! -digo seria e um pouco desesperada. Sangue escorria dos pulsos dela. De ambos. Com a quantidade de gente aqui duvido que conseguiremos fazer eles acreditarem que ela não os fez.

Seu rosto estava pálido. Sinto que os pulsos não são o único problema.

—Deitem ela. Temos que tirar essa roupa agora. Estou com um péssimo pressentimento. - Gabe falou. Eu sei que ela está escondendo alguma coisa de baixo da roupa. 

—OK. Será que agora da pra você explicar isso?! -Nico falou olhando bravo pra mim. E eu virei o rosto e fiquei quieta, sem responder.

—Responda! -Calleb me pressionou a falar. 

—... -fiquei muda. O que posso falar?!

—Temos que cuidar dela primeiro. Depois discutimos isso. -Gabe falou.

—Vou pegar álcool pra limpar as feridas. -falei indo até minhas coisas e pegando o frasquinho e algodão. E voltei pra perto dela e comecei a tratar das feridas com destreza. -Eu não sei quanto sangue ela perdeu mas será que alguém pode arrumar um pouquinho de ambrosia ou néctar pra ela? Mas não o suficiente pra curar as feridas.

Abri o casaco dela. Seus braços estavam totalmente marcados.

—Como assim "não o suficiente pra curar as feridas"?! -pergunte Nico indignado.

—Não pergunte. Faça o que eu pedi. Antes que seja tarde demais. -falei seria limpando as outras feridas recém descobertas.

Tirei a blusa. Hematomas roxos na barriga. Não quero nem ver como estão as pernas. Meus olhos se enchem d'água. Eu controlo o nervosismo e continuo. Quando estou terminando de cuidar dos últimos machucados. Chegaram com o néctar e ambrosia suficiente pra cuidar de um batalhão. Exagerados. Peguei um pouco do néctar e dei para ela. E depois um pouco de água. Quando ia colocar o copo em cima da cômoda minha mão estava tremendo tanto que eu deixei ele cair e se quebrar no chão.

—Droga... -amaldiçoei e me abaixei para juntar os cacos. Porém acabei me cortando. -Ai! -fiz uma careta. Cortei a palma da mão. E fundo. O sangue aos poucos começava a escorrer e eu fiquei meio hipnotizada por ele. Fechei os olhos apreciando um pouco a situação e levei a mão até a boca e lambi o sangue pra limpar a ferida.

—Nick. E se ela tiver mais machucados? Quer ficar sozinha para poder cuidar melhor dela? -Nico perguntou nervoso. Ele tremia e seus olhos não saiam de cima dela.

—Ela não tem mais nenhum. -falei séria. -Só resta esperar ela acordar. -falei colocando meio q minha mão ferida para trás. Malditos hábitos e instintos. Tomara que não tenham notado.

—Mas... e as pernas dela? -ele falou. Olhei para a calça. Ele estava certo.

—Saiam daqui. -pedi.

Rapidamente tirei a calça  dela e comecei a tratar das feridas. Mas assim que coloquei o álcool no algodão e comecei a limpar as poucas feridas nas pernas o álcool escorreu e entrou no corte da minha mão.

—Merda! -gritei com a mão ardendo e saí pulando pelo cômodo abanando e balançando a mão. Nisso a Hana acordou e ficou me encarando um tempo antes de começar  a rir de mim. E no mesmo instante os garotos entraram preocupados pela porta em um turbilhão.

—O que houve? Que barulheira é essa? -Gabe perguntou me olhando. Então ele percebeu que a Hana estava acordada. -Você é doida? Quase nos matou de susto. Não pensa nas consequencias? -falou nervoso.

Acenei com a cabeça concordando com ele e deixando toda minha preocupação transparecer em meus olhos.

—Hana... -falei calmamente. -Porque?

—Não quero fala sobre isso. -ela respondeu de olhos fechados. Ela respirava com dificuldade.

—Hana. Como você está se sentindo? -perguntei e me abaixei ao lado dela.

—Quero que todos saiam daqui. -ela falou me olhando nos olhos. Assenti.

—Saiam. -repeti o pedido dela.

—O que? -Gabe perguntou surpreso.

—Ela precisa de privacidade. Podem deixar que eu cuido dela. -falei. Calleb andou até nós. 

—Depois quero falar com você. -abaixou e beijou sua bochecha. Então eles saíram.

—Nem comece com seus sermões. -ela pediu voltando a deitar.

—Não vou. Mas porque você fez isso Hana? -perguntei aflita. -E a nossa promessa? Você ia me deixar pra trás?

—Eu sei o meu limite. Não ia te deixar. Só queria entrar em mim um pouco. O que usou pra me acordar? -falou séria.

—Álcool nas feridas e um pouco de néctar. -respondi.

—Então as feridas não deveriam sumir? -perguntou confusa.

—Não te dei o suficiente pra cicatriza-las.

—Porque? -franziu as sobrancelhas.

—Achei que seria melhor assim. Se você não quisesse marcas e dor não as faria né? -pisquei pra ela.

—Não devia me dar o néctar ou a ambrosia. -ela encara o chão.

—O que mais eu podia fazer Hana? Com aquela plateia? Os únicos que sabem do seu histórico sou eu e o Gabe. -exasperei .

—Eles não deviam estar aqui. -fala emburrada.

—Nem olhe pra mim! Não fui eu quem os chamei! -falei.

—Mas podia ter tirado eles daqui. -reclamou.

—Eu entrei em desespero tá bom? Você se trancou no banheiro, me deixou sozinha com o Leo e não me respondia!

Ela bufou.

—Ok. Vamos mudar de assunto por favor. -se levantou e sentou no chão.

—Sobre o que quer falar? -perguntei mais relaxada.

—Qualquer outra coisa. -se esticou toda no chão. Nunca entendi essa mania dela.

—Você realmente entrou em desespero? Deve ter sido a única. -ela sussurrou a última parte, mas eu consegui ouvir mesmo assim.

—Claro que entrei em desespero! Já não é o melhor dia da minha vida e muitas coisas acontecendo seguidamente. E não fui a única não. Seu fã clube também. -falei dando um sorriso malicioso no final.

—Que fã clube? Você está doida. -ela arregalou os olhos.

—Nico e Calleb.

—Aham...

—Vá entender esses garotos de hoje em dia! -falei do nada e me sentei de pernas cruzadas na cama.

—Eles são doidos. Deveriam aproveitar as garotas que se jogam neles.

—É... -concordei mas então fiz uma careta e "fechei a cara". -Não.

—Não? -perguntou confusa.

Arregalei os olhos. Não era pra ter falado em voz alta. Era só um pensamento. Senti meu rosto esquentar e baixei o olhar. Meus jeans pareciam muito interessantes no momento.

—Fala logo, Nick. Não temos segredos lembra?

—Gabe. -sussurrei corando até as pontas do cabelo se é possível.

Ela sorriu de lado.

—Eu estava me referindo só ao Nico e ao Calleb.

—Ah! Sim... -Céus eu não estou no meu normal.

—Pode ficar tranquila. -sorriu pra mim. -Quer fazer alguma coisa? -completou.

—Vamos treinar? Faz tempo que não treinamos combate corpo à corpo. -sugeri, internamente torcendo para que ela aceitasse a ideia.

Ela arqueou a sobrancelha e olhou pro próprio corpo. Deu de ombros e concordou.

—Só vou colocar um casaco. -avisou.

—Yes! -comemorei.

Ela ajeitou a blusa e foi até o armário. Pegou o maior casaco que achou e fomos treinar.

—Onde? -perguntei. -Arena? -sorri em desafio. -Será divertido se for lá e alguém quiser treinar conosco e levar uma surra.

—Pode ser. -ela falou sem dar muita importância.

—Vamos! -falei. -Falando em ir... Você viu o Toby?

—Não. Eu não saí muito daqui hoje.

—Hum... Estranho. -digo olhando em volta e não vendo ele. -Vamos dar uma volta pra procurar ele antes de começarmos? -pedi.

—Acho que se formos para a Arena ele aparece. -falou.

—Está bem... -falei.

Fomos andando até que ouvimos duas vozes masculinas e barulhos de cão. Sinalizei com a cabeça pra irmos dar uma olhada. 

—... e você está bem com isso? -alguém falou. Fiquei surpresa e intrigada quando reconheci a voz de Gabe. Com quem ele está conversando?

—Claro que não. Você sabe como eu me sinto. -a outra pessoa respondeu. Leo.

—Do que eles estão falando? -sussurrei no ouvido de Hana.

—Não tenho ideia. -ela deu de ombros.

—E então vai se afastar dela? Vai desistir? -Gabe perguntou. Graças aos deuses eles ainda não nos perceberam. Se bem que estamos sendo hiper discretas.

—Não vou desistir. Só quero descobrir se ela vai sentir minha falta ou se ela realmente não me quer por perto. -falou meio baixo.

—Ela provavelmente não vai demonstrar nenhuma das duas opções, Leo. -Gabe falou dando os ombros.

—Eu não sei mais o que eu faço. -lamentou sentando no chão.

—Sabe porque ela esta tentando te afastar? -Gabe mudou de rumo. "Droga, Gabe. O que você está fazendo?!" grito em minha mente.

—Sei, mais ou menos. Na verdade, acho que nem ela tem certeza. -respondeu.

—Você assusta ela. -Gabe falou sério. Não, não,não. Não fale sobre mim Gabe. Não...

—Eu assusto ela? -perguntou confuso.

—Sim. -falou simplesmente.

—Me explica isso. -pediu.

—Soube que você meio que roubou o primeiro beijo dela certo? -Gabe perguntou com um misto de sentimentos incompreensíveis para mim.

—Eu não sabia que era o primeiro beijo dela. -ele falou envergonhado.

—Entendo... Mas exatamente esse seu avanço repentino a apavorou. -Gabe falou. -Ela... Tem um grande trauma em relação ao amor. Maior do que você pode imaginar.

—Eu não queria assustar ela. -falou cabisbaixo.

—É complicado. Ela nunca terá a reação que você espera. E fará exatamente o oposto ou fingirá que não liga. -Gabe falou. Sério se ele falar mais alguma droga sobre mim, não importa se for a verdade, eu vou bater nele.

—Não quero falar sobre isso. Só quero esvaziar minha mente. -Leo falou terminando a conversa.

—Eu vou matar o Gabe! -resmunguei pra Hana. -Mas sem matar ele de verdade porque não quero que ele morra. -completei.

Ela me olhou com uma gota na cabeça.

—Não vou nem fazer comentários. -falou revirando os olhos.

—Mas é sério eu quero matar sem morte! -falei.

—Espera eu estou me contradizendo né? -ri sem graça.

—Imagina. -falou sorrindo de lado.

—Agora vamos logo, antes que eu desista. -completou me puxando.

—Ok... -concordei. -Porque ele estava falando com o Leo?

—Eu vou saber? -questionou.

—Ele não devia falar sobre mim com o Leo. -franzi as sobrancelhas contrariada.

—Ele precisa desabafar. Foi conversar com um amigo. -explicou ainda me arrastando.

—Mesmo assim! -reclamei.

—Depois eu brigo com ele. -falou. -Agora vamos, antes que eu desista. -completou.

—Vamos. -falei. E corremos até a arena como aquecimento.

—Primeiro vamos nos alongar. -pediu.

—Ok. -concordei. E começamos a nos alongar.

—Vamos treinar combate corpo-a-corpo? -sugeriu depois que acabamos de alongar.

—É o que viemos fazer aqui certo? -brinquei. -Faz tempo desde que treinamos também.

Ela confirmou com a cabeça. Nos posicionamos e o combate começou. Estavámos tão concentradas que não notamos que a nossa volta estava formando uma plateia.

—Nick. Sou eu ou está muito calor aqui? -Hana perguntou com a voz um pouco falha.

—Está mesmo bem quente. -concordei. E nos distanciamos um pouco pra recuperar o fôlego. E então notamos aquela quantidade de pessoas a nossa volta.

—Eles estavam assistindo a nossa luta? -Hana perguntou ficando corada

—Não faço ideia. Mas algo me diz que sim. -falei. E olhei em volta esperando pra ver se alguém ia se manifestar.

—Não me sinto muito à vontade com tanta gente me encarando. -admitiu.

—Sabe o que isso me lembra? -continuou.

—O que?-perguntei. Ignorando as pessoas a nossa volta.

—Algo que eu estou com muita saudade é que eu fazia sempre. -falou animada.

—Eu esqueci. O que era mesmo? -perguntei.

—Ah é, desculpa. Você nunca me viu fazendo isso. -ela bate na testa. -Dançar. -sussurrou corada.

—Chata. -brinquei.

—O que? -perguntou confusa.

—Eu não sou tão boa quanto você em danças mais quentes e sensuais. -falei. -E nem venha negar eu sei que você já fez aula de tango, dança do ventre e algumas outras.

Ele virou um morango. Totalmente vermelha de vergonha. 

—Você nunca me viu dançar. Não sou boa nas danças sensuais. -tentou se defender.

—Hana... Eu já vi os troféus dessas danças no seu quarto. -rebati.

—M-mas... -ela não sabia o que dizer.

—"Mas" nada. Você perdeu essa discussão Hana. -brinquei e pisquei pra ela. -Além do mais já vi você dançando sim. Just dance, remember?

—Mas aquilo é um jogo. Não tem como ser sensual. -se defendeu.

—O "sensual" vem daqueles troféus! -rebati.

—Eu estou falando do jogo. E aqueles troféus não são por tentar ser sensual. -ela corava cada vez mais.

—Eu estava falando do estilo de dança! -retruquei. -As únicas danças que eu aprendi foram aquelas tradicionais. -falei sabendo que ela entenderia.

Ela me olhou irritada e bufou. Não adiantava discutir.

—Você sabe que eu não minto pra você Hana. -falei séria. -Mas, afinal, o que vamos fazer com essa platéia?

—Podemos simplesmente ir embora. -ela falou ainda vermelha. Estranho. -Está muito calor aqui.

—Hm... E acabar com toda a diversão? -perguntei.

—Tá muito calor Nick. Tem alguma coisa errada. -ela falou. Ainda estava muito suada.

Dei um olhar fuzilante para as pessoas a nossa volta. Isso aqui era um reality show por acaso?

—O que está errado?

—Não sei. -ela respondeu secando a testa. -Aqui está muito quente, Nick. -completou.

—Está quente devido a quantidade de exercícios físicos que fizemos. -disse séria. 

—Ok. Vamos pro chalé? -perguntou.

—Não quero. Quero me divertir mais! -protestei.

—O que você quer fazer? -seu tom dizia que estava desconfiada.

—Estravazar a raiva. -falei.

—E como pretende fazer isso? -arqueou uma das sobrancelhas.

—Hum... -parei pensativa. O que poderia fazer? Nisso Gabe e os garotos apareceram.

—Oi meninas o que você estão fazendo agora pra chamar atenção? -Jason perguntou educadamente.

—Gabe! -chamei séria- Quer treinar comigo? -dei um sorriso maligno.

—Quem quer lutar comigo? -Hana perguntou com um sorriso de lado.

—Acho que vou passar, não quero que você me derrube em público novamente. -brincou Nico.

—Eu posso fazer isso. -Calleb se ofereceu. -Vamos pegar as espadas.

—Não. -eu e Hana falamos juntas e trocamos olhares.

—O que elas estão falando é um treino de combate corpo a corpo. -Gabe explicou.

—Só tome cuidado comigo. Sou pequena. -Hana falou fingindo inocência.

—Eu não vou te machucar. -ele falou. 
E sem aviso eu ataquei. Avançando para cima de Gabe com ferocidade e dando o primeiro golpe.
Olhei pra lado e vi que Calleb estava procurando pela Hana. Coitado.

—Preste bem atenção a sua volta. -avisei e desviei do golpe de direita vindo do Gabe. Senti o sangue ferver e a adrenalina subindo. Comecei a atacar com mais rapidez e intensidade. Até que eu saltei em cima dele e o prensei no chão e o enfiei as unhas nos ombros dele. -Você perdeu pra mim dessa vez.

—Ok, eu perdi. -ele levantou os braços em rendição.

Mas quando comecei a formar um sorriso vitorioso ele inverteu a situação e segurou meus braços antes que eu pudesse revidar. 

—Ei! Não vale! -protestei irritada. -Quem venceu fui eu! Você mesmo concordou!

—Sim. -ele sorriu de lado feliz e se levantou. -Acho que já fui humilhado o suficiente. -e estendeu a mão, me ajudando a levantar.

—Chato. -brinquei rindo.

—Vamos assistir eles? -e indicou o Calleb e a Hana com a cabeça.

—Vamos nos divertir. -falei concordando. -Sentia falta de treinar com você. -sussurrei.

—Eu também -ele sussurrou de volta.

Paramos ao lado dos garotos e ficamos observando. Hana estava, como sempre, aproveitando da vantagem de ser mais baixa, mas, além disso Calleb parecia meio atrapalhado com o combate corporal.

Ela riu e desviou de um soco. 

—Acaba logo com isso. -gritei pra ela.

—Acha mesmo que ela está enrolando? - Gabe perguntou descrente.

—Nós melhoramos muito depois que você "morreu". -falei com um súbito mal humor. -Tive que aprender a me virar sozinha depois que você se foi. -concentrei minha visão na luta, sabia que não ficaria bem se olhasse pra ele.

Ela continuou desviando sem atacar. Acho que ela está se divertindo com a inocência dele. Só ela mesmo.

—Hana você vai mesmo humilhar o filho de Ares afeminado e estilo Afrodite na frente de metade do acampamento? -provoquei.

—Eu? Não estou fazendo nada. -respondeu.

—Cínica. -gritei.

—Como assim? Eu não sou cínica. -respondeu com com cara de inocente.

—Não. Imagina. -digo sarcástica. Nisso as coisas começaram a ficar estranhas.

Do nada Rachel chegou e ficou no meio do círculo formado pelos campistas, poucos metros da onde Hana e Calleb estavam lutando. Ela estava com aquela névoa verde brilhante. Todos ficaram quietos esperando que ela falasse uma profecia, mas não foi isso que aconteceu. Por algum motivo eu estava arrepiada. Algo ia acontecer e seria algo complicado e ruim.

—Atenção... A Destruição vira a encontrar. Um meio de se formar. O Acampamento poderá acabar. E tudo culpará as crianças que não deviam estar lá.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
O que vocês estão achando do desenvolvimento dos personagens?
Bjs até breve!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma vida diferente... Sonho ou pesadelo?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.