"Sentados na cama tinham dois garotos. Um deles eu não conhecia, mas o outro era ele. Nico, meu melhor amigo que literalmente desapareceu. Ele estava mais velho, mas eu tinha certeza que era ele."

– Podemos explicar. - O outro disse.

– P-Percy? - Annabeth ofegou. Ele se levantou e colocou a mão no rosto dela, sorrindo simpático.

– Olá, Annie. - Ele disse. Lágrimas brotaram dos olhos da loira, que não se mexia.

Eu não conseguia desviar os olhos de Nico. Uma parte de mim queria correr até e ele e abraçá-lo, outra parte queria esmurrá-lo até a morte e a outra queria apenas fugir dali. Apesar disso, eu não conseguia me mexer.

Nico parecia triste. Ele se levantou e pensei que viria até mim, mas ao invés disso, ele foi até o amigo de Annie, colocando uma de suas mãos no ombro dele.

– Percy. - Chamou com uma voz de advertência. - Eu entendo, mas não podemos.

O outro garoto, que pelo jeito se chamava Percy, suspirou e tirou a mão do rosto de Annabeth, se virando logo depois. Os dois voltaram a se sentar e olharam para nós duas.

– Annabeth, Thalia, sei que estão confusas. - Nico disse. - Vamos explicar tudo para vocês.

– Thalia, sei que não me conhece. - Percy disse. - Sou Percy Jackson.

– E a Annabeth não me conhece. - Nico completou. - Sou Nico di Ângelo.

– Éramos melhores amigos quando éramos menores, certo? - Percy perguntou. - Mas em um momento nós desaparecemos, literalmente.

Eu e Annie assentimos.

– Acontece que vocês estavam em perigo por causa de nós, e precisávamos nos afastar. - Nico continuou. - E agora nós voltamos porque vocês duas estão em perigo novamente.

– Como assim perigo? - Perguntei. Nico olhou triste para mim.

– Alguém quer matá-las porque vocês têm um dom. - Ele disse. - E esse alguém está aqui.

– Dom? - Annabeth perguntou confusa.

– É, vocês podem nos ver, nos tocar. - Percy respondeu. - Somos... como explicar?

– Nós somos um tipo de espirito, hum... mais ou menos como anjos caídos ou coisa assim. - Nico tentou.

– Isso não existe! - Eu exclamei.

– Podemos provar para você o que somos. - Percy disse. - Mas estamos sem tempo. Precisamos que vocês confiem em nós!

– O que nós precisamos fazer? - Annabeth perguntou. Eu assenti, mostrando que iria fazê-lo.

– Peguem uma pequena mochila cada uma e juntem as coisas que vocês mais gostam. - Nico disse.

Eu praticamente corri até minhas coisas, peguei minha mochila e joguei tudo o que tinha dentro dela no chão, etão rapidamente abri minhas malas e fui pegando as coisas que mais gostava. Com o canto do olho, olhei para Annabeth, que fazia o mesmo com suas coisas que estavam no guarda-roupa. Tenho certeza que ela também não sabia o porquê de estar fazendo aquilo, sendo que se a história dela for a mesma que a minha, ela não vê o amigo desde os onze anos, e nós nem sabemos se realmente podemos confiar neles, mas algo me diz que tenho que confiar.

Terminamos em menos de dez minutos e nos levantamos, com as mochilas nas costas. Percy sorriu para nós e Nico suspirou aliviado.

– Nós precisamos ir agora. - O último disse. - Já sentiram nossa presença, é questão de minutos até chegarem aqui.

Percy assentiu e seu sorriso saiu de seu rosto.

– Vamos precisar que confiem em nós. - Percy disse. - Nós vamos tirar vocês daqui enquanto mostramos o que realmente somos. Mas não façam barulho, a voz de vocês vai atraí-los até aqui mais rápido que a nossa essencia.

– Eles quem? - Annabeth perguntou quase sussurrando.

– Depois nós explicamos. - Nico respondeu. Ele, então, andou até mim e me pegou no colo. A surpresa do toque dele depois de cinco anos foi tão grande que eu quase gritei, mas mordi meu lábio. Sentir Nico me fazia perceber que eu precisava mesmo confiar nele, afinal, eu confiei nele durante onze anos, porque não agora?

Ele andou comigo até perto da janela, então se virou novamente para o quarto. Percy estava com Annabeth no colo e a garota olhava para mim com a mesma expressão que eu devia estar fazendo: O que eles iam fazer?

E, num movimento rápido, Nico se virou e pulou da janela. Ouvi o gemido de Annabeth de dentro do quarto. Fechei meus olhos, eu acho que eu estava feliz se eu ia morrer com Nico, certo? Mas não senti a queda, apenas ouvi a risada de Nico.

– Ei, pode abrir os olhos. - Ele disse divertido.

Hesitante, abri meus olhos. Eu estava voando. Quer dizer, não eu exatamente, mas Nico estava voando. Olhei para ele, grandes asas feitas de penas saíam de suas costas, como asas de anjo, com a exceção de que elas eram negras. Percebi que eu estava praticamente agarrada em Nico, e soltei a camiseta dele um pouco. Ele sorriu.

– Não olhe para baixo. - Avisou. - Eu sei que você tem medo de altura.

Assenti. Por alguns segundos eu tinha me esquecido do meu medo, já que estava perdida nas grandes asas de Nico.

– Posso tocá-las? - Perguntei me referindo as asas. Ele assentiu. Soltei uma de minhas mãos da camiseta dele e estiquei o braço até a asa dele. Era estranho, porque apesar de ela parecer ter penas, parecia que eu estava tocando um gato. Acariciei a asa e Nico fez um barulho fofinho que me fez dar risada, ele riu também.

Ouvi a risada de Annabeth e logo depois vi um par de asas azuis acima de nós. Percy voava dando voltinhas no ar com Annabeth, que ria como uma criança em um brinquedo no parque de diversões. Nico acompanhou meu olhar e riu.

– Parece que estão se divertindo. - Ele disse. Eu concordei. - Faz tempo que não vejo Percy tão feliz assim.

Sorri. Pelo jeito, Annabeth também não se divertia assim fazia muito tempo.

– Acho que voar não vai ser sua parte preferida de ter um melhor amigo sobrenatural. - Ele disse divertido. Eu ri.

– É, acho que não. - Disse. - Qual parte disso tudo você acha que vou gostar mais?

Nico pensou um pouquinho, e então um grande sorriso abriu em seu rosto.

– Você vai gostar da Cidade. - Nico disse. - Praticamente todos vivem com música no dia-a-dia, vou te apresentar uma banda que você vai amar.

Sorri para Nico e ele retribuiu o sorriso.

– Desculpe ter ficado tanto tempo fora. - Ele disse. - Mas eu acompanhei sua vida de perto todos esse anos.

– Sério? - Perguntei.

– Uhum, sei o nome do garoto que você deu seu primeiro beijo, o nome do seu primeiro namorado, o nome das suas antigas amigas, o nome de cada escola que você já passou. - Ele disse. - Sei que você chorava toda noite chamando sua mãe e me chamando, e saiba que essa parte foi a mais difícil de assistir, porque eu queria abraçá-la e dizer que eu estava ali, com você.

– Mas você não podia. - Concluí. Ele assentiu e então me puxou para mais perto de si.

– Senti sua falta. - Ele disse. Eu sorri.

– Eu também senti a sua. - Disse. Ele beijou minha testa.

Continuamos voando por mais algum tempo, Percy parou de rodopiar com Annabeth e começou a voar calmamente ao nosso lado. Em alguma hora eu adormeci no quentinho dos braços de Nico.