Destino escrita por Mystik


Capítulo 7
Capítulo 6




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Refletindo agora, não me parecia uma boa idéia. Como eu, uma simples colegial, ia entrar na mansão de um criminoso como esse? Certamente ia estar fortemente protegida.

    Mas eu tinha que encontra-lo! Avisar o Omi antes que fosse tarde!

    Eu me aproximei o mais sorrateiramente possível das grades do portão que circulava o local. Foi quando vi algo; três guardas no chão, aparentemente...mortos. Isso só significava uma coisa: eles já haviam entrado.

    Bom, não era hora de recuar. Respirando fundo, eu comecei a subir a grade. Tudo o que eu podia pensar era em agradecer aquelas aulas de educação física na escola. Como aquele portão era alto!

    Depois de uns bons cinco minutos eu cheguei do outro lado. Me aproximei dos homens e vi pequenos pedaços de um fio transparente. Yoji.

    Eu sempre confiei na minha intuição. Deixe-a me guiar pelo largo jardim, tomando cuidado para caminhar entre as sombras. Quando encostei na parede da mansão, um flash veio a minha cabeça. Eu ouvia uma voz dizendo:

- Área segura Bombay.

- Vamos entrar pela porta dos fundos Balinesse. Encontre-me com Siberian lá.

- Ok. Câmbio e desligo.


    Antes de prosseguir, eu tinha que pelo menos me precaver.

    Eu voltei até os corpos na grama e peguei a arma que um deles levava na cintura. Não que eu pretendesse usar, é claro. Eu voltei a me esgueirar pelo muro, indo até a porta dos fundos.

    Realmente havia uma porta de metal lá, quase imperceptível. Respirei fundo e entrei na mansão. E paralisei.

    Aquele lugar era um labirinto! Eu simplesmente estava num corredor enorme, com várias portas. Como é que eu ia achar o Omi agora?

    Droga. Eu fechei os olhos e suspirei. Ia ter que confiar plenamente na minha intuição agora. Fui andando rente a parede, passando as mãos pela madeira fria. Isso ia demorar, e tempo era o que eu menos tinha.

    Fui dando pequenos passos naquele corredor vazio. Vazio demais para o meu gosto. Encostei na maçaneta de uma das portas e senti meu corpo ser tomado por um tremor terrível. Será que eles tinham passado por lá?

    Ela estava aberta. Respirando fundo abri a porta. Na penumbra pude reconhecer alguns vidros cheios de líquidos coloridos e tabelas espalhadas. Parecia um depósito ou um laboratório. Resolvi começar minha busca por lá.

    Todas as tabelas e papéis espalhados falavam de uma nova arma química que aparentemente, Snake estava pesquisando. E testando, eu pude confirmar para meu horror.

    Na mesa onde estavam os vidros haviam fotos espalhadas, como se alguém tivesse passado por lá as pressas. Fotos de pessoas que...não sei como dizer, não pareciam mais pessoas.

    Uma pasta com o título "Basic Instinct" estava lá. Eu resolvi pegá-la e leva-la comigo.

    Já havia perdido tempo demais. Continuei minha jornada pela mansão-labirinto ainda andando por aquele corredor. Foi quando ouvi vozes se aproximando. Vozes que não pareciam nada amigáveis.

    E agora? Eu acabei entrando na primeira porta que eu vi, que era a entrada de um depósito. Salva por pouco. Foi quando senti algo frio e metálico nas minhas costas.

- Vire-se lentamente.

    Eu não sabia se ria ou chorava. Eu virei com tudo e sussurrei:

- Omi...

O loiro arregalou os olhos e abaixou o dardo que havia encostado em mim.

- Seika...chan?

    Sem falar uma palavra, eu o abracei. Com força, com carinho, com tudo que eu sentia naquele momento, porque meu coração doía só de pensar na possibilidade de que aquele momento poderia ser a última vez que eu o veria vivo.

    Omi me abraçou de volta, sussurrando confuso.

- O que está fazendo aqui? Você ficou louca??

- Omi...graças a deus eu te encontrei.

    Ele me puxou pelos ombros e me fez encara-lo.

- O que está fazendo aqui? – repetiu a perguunta.

- Eu...eu... – tudo se embaralhava na minha mente. O que eu vira no laboratório minutos atrás, o sonho com Dora...a revelação...

    Aquilo me fez voltar ao ponto principal. Ele precisava saber. Saber quem seria seu assassino.

- Omi...eu descobri quem vai te matar.

- N-a...nani? – os olhos azuis entraram em choque – Como assim? Do que está falando?

- "Um e apenas um Weiss irá morrer pelo Brutus do seu coração". Brutus é associado à traição, por ter matado Júlio César pelas costas.

- Seika!!! Você está correndo perigo aqui dentro! Preciso tirar você daqui! – ele não parecia disposto a me escutar.

- Espera Omi! Eu vi! Eu vi quem vai te matar!!

- Isso não importa agora, você precisa sair daqui! – ele me puxou pelo pulso, me levando até a porta.

    Algo dentro de mim estalou. Uma chama, uma resolução, não sei. Tudo que sei é que soltei meu pulso da mão dele e encarei-o enquanto falava num tom nervoso, desesperado.

- Não me importo de morrer!!!! – depois que falei, vi os seus olhos azuis se arregalarem pela segunda vez.

- Seika...

    Respirei fundo enquanto o encarava.

- Nunca me importei de morrer. A morte é apeenas uma transição. Uma etapa. Mas não posso suportar ver aqueles que amo morrerem na minha frente. Não quando eu poderia ter feito algo para evitar.

- Você...me ama? – foi tudo que ele sussurrou.

    Foi minha vez de entrar em choque. Eu, pela primeira vez, tinha pronunciado em voz alta algo que já tinha certeza dentro do meu coração.

- Omi...

- Você me ama...ou não? – ele sussurrou novamente, dessa vez se aproximando, nossos rostos a poucos centímetros de distância.

- Eu...eu...

- Responde!! – ele me segurou pelo braço.

- Omi... – eu suspirei desviando o olhar – Aishiteru...

    Ele me observou por alguns segundos. Então passou os dedos levemente pelo meu rosto, numa caricia insegura.

    Tudo pareceu se dissolver a nossa volta. Eu fechei os olhos, meu corpo se entorpecendo diante daquele gesto. Então Omi fez algo que eu jamais esperava.

    Ele me beijou. Não um beijo cálido e puro como o que eu dera nele na Koneko. Um beijo quente, exigente. De um homem que marcava minha alma como sua.

    E eu aceitei. Entreabri meus lábios num convite claro. No momento que nossas línguas se tocaram, um choque percorreu nossos corpos. Eu me agarrei a ele, sentindo toda a potência daquele beijo, daquele contato único.

    Nos separamos ofegantes, mas meu corpo pulsava por mais. Parecia que tudo que eu esperava minha vida inteira havia se concretizado naquele beijo. Um conceito que eu jamais acreditara passou pela minha mente. Almas gêmeas.

- Omi... – por mais que me doesse, eu quebrei o encanto que nos envolvera momentaneamente.

- Vamos sair daqui. – foi tudo que ele disse antes de se afastar e ir em direção a porta.

    Ele abriu-a lentamente, provavelmente seus instintos lhe dizendo o que fazer. Então ele disse algo que jamais esperara ouvir:

- O que você está fazendo aqui?

    Ele virou-se na minha direção e me estendeu a mão, para sairmos do aposento. Mas meu sangue gelou. Havia alguém atrás dele. A pessoa que não queria nunca ter visto nesse momento. E vi quando a sombra levantou algo. Um brilho. Uma lâmina.

- Omi, cuidado!!! –eu gritei indo de encontro a ele.

    Tudo se passou em câmera lenta. Seu rosto tomado pelo dor do golpe. Brutus golpeara seu Júlio César. Com um baque, ele caiu no chão.

    Desesperada, eu o peguei nos braços, vendo com horror uma ferida enorme em suas costas. Que sangrava sem parar, meu corpo já se manchava com seu sangue. O sangue do meu amor.

- Não! Omi...resista...não... – senti lágrimmas inundarem meus olhos, eu tentava estancar a ferida, mas o corte fora perfeito. Profissional.

    Então encarei o assassino. Uma revolta cega subia pela minha garganta enquanto ele me encarava de volta.

- Porque...porque fez isso?

    Ele continuava impassível.

- PORQUE FEZ ISSO RAN??????

    O ruivo ergueu a lâmina da katana novamente. Então percebi que havia algo errado. Seus olhos. Pareciam mortos. Sem vida.

    Eu não podia fazer nada. Como poderia? Então me agarrei ao corpo de Omi que aos poucos perdia o calor. Fechei os olhos, desejando a morte como nunca desejara antes.

-----

    Não sentia nada. Abri os olhos e olhei ao meu redor. Branco. Tudo estava branco a minha volta. Então percebi que o corpo de Omi desaparecera, mas minha roupa ainda estava manchada com seu sangue.

- Minha criança.

    Aquela voz. Meus olhos se turvaram por causa das lágrimas enquanto encarava Dora que aparecia na minha frente. Ela abaixou-se, até ficar da minha altura.

- Cuidarei dele...até que você possam se reencontrar novamente.

    Como que lendo meus pensamentos, um par de braços me abraçou por trás. Eu inspirei o perfume doce que emanava. Meu coração começou a bater mais depressa.

- Omi?

    Lábios macios se encostaram ao meu ouvido. Então sussurraram a voz que eu passei a amar:

- Aishiterumo...



- Seika????

    Eu abri os olhos, confusa. Então encarei o par de olhos verdes. Verdes?

- Ken?

- Graças a Deus...você acordou! – o moreno suspirou aliviado enquanto se afastava para que eu pudesse me levantar. Eu nem percebera que estava deitada.

    Eu estava numa cama de hospital. Então tudo voltara a tona.

- Onde está o Omi? Responde Ken!

    Ele me abraçou sem palavra alguma. Seu murmúrio veio baixo, sufocado por suas lágrimas.

- A premonição se cumpriu.

    Um soluço escapou da minha garganta. E mais outro. E outro.

-----

- Onde está ele?

- Isolado. De tudo e de todos. – respondeu Yoji enquanto desviava o olhar.

    Eu não culpava Aya. Ele nunca devia ter ido atrás de Snake naquelas condições. Ele havia acabado de sair do hospital, por deus! Mas algo dentro dele, isso minha intuição dizia, o fazia se sentir responsável pelo Weiss. E mesmo fraco, ele fora até a mansão. Fora presa fácil para o grego.

    Eles haviam injetado a nova droga que estavam testando no ruivo. ‘Basic Instinct’. Designada para transformar os homens em verdadeiras máquinas de matar. Sem emoção, sem consciência, sem culpa.

    Segundo Ken me contara, se eles não tivessem voltado pelo mesmo local onde haviam entrado, nunca teriam conseguido parar Aya a tempo. Eu estaria morta, assim como...

    Acho que eles não deveriam ter parado o ruivo. Assim, eu estaria com Omi. Onde quer que ele estivesse.

-----

    Eu parei ao lado de Ran. Ele não me encarava. Nós dois olhávamos para a lápide que estava a nossa frente.

- Ele não te culpa Ran.

    Ele me encarou. Fiquei surpresa ao constatar que seus olhos estavam levemente úmidos.

- Eu matei o Omi.

- Você estava sob efeito de uma droga.

- Eu fui fraco! E agora, por culpa da minha fraqueza... – ele desviou o olhar novamente.

    Eu então sussurrei.

- Todos nós temos um propósito nessa Terra. Temos um destino traçado.

- E qual era o propósito do Omi? Matar?

- Não! – eu exclamei. Então algo veio a minhha mente. Eu sorri com amargura – Ele veio pra provar que podia existir luz no meio das trevas. Esperança no meio do desespero.

    Eu havia falado dessa maneira, mas esperava que ele houvesse me entendido. Para meu alívio, ele deu um sorriso. Mas não era pra mim. Era para Omi.

- Estou indo embora do Japão.

- Nani?

- Takatori Reiji está morto. E...houve uma ooportunidade de tratamento mais eficaz para Aya-chan na Alemanha.

- E os outros?

- Yoji sumiu desde o enterro. Deve ter ido buscar algum lugar pra se refugiar. Ken...disse que vai continuar na floricultura. – ele me observou de perfil – Nós nunca tivemos algum lugar para voltar, a não ser a Koneko, no final das contas.

    Meu sorriso era melancólico.

- Omi era luz das trevas de vocês?

- De certa forma. E...você?

    O ruivo fora sutil. Mas eu entendera perfeitamente.

- Minha mãe...conseguiu um emprego em Okinawa. Algo melhor. Ela acha que será bom eu me afastar daqui...depois de tudo.

- Uhn. – ele encarou a lápide novamente.

- Boa sorte na Alemanha. E... – eu comecei a ir embora – Omi me disse que quer vê-lo feliz. Todos vocês.

    Eu podia jurar que havia uma expressão de espanto no rosto sempre tão frio do ruivo.

    À medida que eu ia deixando o cemitério, eu sorri. Eu podia ver com clareza, duas pessoas ao lado de Ran. Dora e Omi. Não que ele soubesse, é claro.

- Cuide dele Dora...até a gente se reencontrar.

    Eu segurava uma Fresia na minha mão.

FIM


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