Oh, como você é estúpida, Brienne se amaldiçoou, enquanto chorava na cama.

Não queria que Jaime fosse embora, não queria correr mais riscos de perder aqueles que amava. E agora, o leão havia partido para a Muralha sem se despedir dela. Eu deveria estar no dorso do cavalo, partindo ao lado dele, pensou Brienne, com raiva de si mesma.

Pensou em seu pai, como deveria estar desapontado. Pensou em sua mãe, aquela que nem teve chances de conhecer muito bem. Tentava vislumbrar seu rosto mas, na mente de Brienne, era apenas um borrão. Sabia que suas sardas eram heranças de sua mãe, mas não lembrava de nenhuma outra característica da mesma.

Brienne lembrou-se de Galladon, que morreu com oito anos de idade. Eu que deveria ter morrido, não ele. Ele seria um bom cavalheiro, deixaria meu pai orgulhoso e poderia dar herdeiro que carregassem o nome Tarth, pensou a dama.

A garota se recusava fechar os olhos, pois quando o fazia, só conseguia vislumbrar as esmeraldas do leão, que não carregavam outra coisa a não ser decepção. Mas, mesmo assim, sentiu suas pálpebras fechando, e chorou até adormecer.

Brienne estava no quarto, gritando de dor. Sua barriga estava enorme, e um velho Meistre gritava para a mesma fazer força, enquanto Jaime Lannister estava ao seu lado, sussurrando palavras de conforto em seu ouvido.

– Você vai conseguir, meu amor. - Sussurrava o leão. - Só mais um pouco.

E então, o Meistre tirou uma criança das partes de Brienne. Ela nunca havia se sentido tão cansada.

– Deixe-me vê-la, por favor. - Pediu Brienne, sua voz ofegante pelo esforço.

– É claro, Senhora. - Respondeu o velho Meistre, abrindo um sorriso. Embalou o bebê em um pano branco. - É um menino.

Brienne começou a soltar lágrimas de felicidade e, com cuidado, o homem entregou o pequeno embrulho em seus braços.

E então, a dama de Tarth viu que tinha algo de errado. O bebê não se mexia, nem chorava. Brienne tirou o pano que cobria o rosto da criança, e se horrorizou. Seu filho estava com a pele pálida e fria.

– Ele está morto! - Gritou Brienne, desesperada.

O Meistre começou a rir e Jaime arrancou o bebê das mãos da dama.

– Eu sabia! - Gritou o Lannister, furioso. - Você é uma imprestável! Não serve para nada! Só me dá filhos natimortos.

Jaime jogou o embrulho no chão, e Brienne pôde ouvir a cabeça do mesmo batendo contra o solo duro. Começou a chorar, e o leão a estapeou no rosto.

– Ela é uma inútil! - Disse o Meistre.

– Sim, ela é. - Concordou Jaime, suas esmeraldas estavam brilhando furiosamente. Chegou no ouvido da garota, e sussurrou: - Cersei tinha uma bocetinha apertada, peitos enormes, cabelos dourados como os meu. - Deu um sorriso zombeteiro, antes de continuar. - E, melhor ainda, podia me dar filhos. Lindos filhos dourados. Você não é nada do que ela era. E, pior, nem pode me dar herdeiros. Para que você serve, mulher?

– Jaime, por favor... - Choramingou Brienne, querendo arrancar os ouvidos para não ter que escutar mais nenhuma palavra maldosa do homem.

O Lannister não a deu ouvidos, e pegou o bebê caído pelo pé. Ao levantá-lo, o pano em que o mesmo estava embrulhado caiu, deixando seu pequeno corpo nu. Brienne pôde perceber que as pequenas mãos e os pequenos pés de seu filho estavam negros.

– Só serve para isto!

Gritou o homem. Brienne continuou a chorar enquanto fitava o rostinho de seu filho que não nasceu. E então, o bebê abriu os olhos. Seus olhos eram azuis-claros frios. Não eram um azul natural. Brienne gritou.

A Beleza de Tarth sentou na cama imediatamente, ofegante. Pôs a mão na testa e percebeu que estava suando. Instintivamente, levou sua outra mão até a barriga. Estava normal. Foi só um sonho, pensou. Parecia tão real.

Brienne ficou com medo de fechar os olhos e voltar para o seu pesadelo e então, passou a noite em claro.