John Constantine - Hellblazer: Despertar Noturno. escrita por Maxine Evelin


Capítulo 1
Capítulo Único - Despertar Noturno




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Ele trocava de cigarro em sua boca como um mauricinho trocava de celular esta noite. Seus cabelos loiros molhados estavam grudados em sua testa, era realmente difícil de fumar seu Silk Screen num tempo como esse. Abaixo dele estava um precipício além-tempo, onde a matéria e os sonhos misturavam-se como uma vitamina de energia ecto-plásmica e matéria orgânica. O homem ponderava seu futuro a semanas, meditando naquele espaço. Havia finalmente decido terminar sua vida.

– Ele irá se matar finalmente, irmão Caim? - Perguntou Abel com sua inocência de sempre.

– Hoje não Abel, a Casa dos Mistérios ainda quer aquele homem. Ele não pode morrer ainda, o Destino ainda quer suas fichas em jogo. - Caim olhou para a figura fraca de seu irmão e sorriu. - Mas, você pode ir no lugar dele. -

– Hã? Não Caim! Não! - Disse Abel, enquanto recebia um chute em sua barriga jogando seu corpo no precipício ao lado. - Pecadores sempre irão pecar, isso é fato. Embora aquele homem, ele realmente precisa de mais tempo para ser libertado do peso de todos os seus pecados.

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Absorto das asneiras que os irmãos faziam logo atrás, John olhou para o céu nublado como sua mente, levantou os braços como se estivesse crucificado e deu um passo para o precipício, seu corpo ficando suspenso no ar por alguns segundos. Momentos em que a própria fabricação da realidade negava tal ato. Sentiu seu corpo ser flagelado pelo tempo e espaço, fechou os olhos e relaxou seu corpo pela primeira vez em anos.

John abriu os olhos e gritou ao ver o rosto daqueles que o assombraram durante anos. Seu pai abusivo, seus amigos mortos em Newcastle, ver relances de Ritchie Simpson, cuja essência estaria presa entre o magnético e o racional. "Os setes Dês", os Perpétuos dançando conforme a melodia do sonhar ia se consolidando. Seu senso de equilíbrio estava tão desgovernado que parecia que seu labirinto auricular, estava dentro de uma máquina de lavar. O norte era o sul, assim como o noroeste e o leste. Constantine vomitaria, se não estivesse em Jejum por semanas a fio.

Aterrissou de cara em uma cova de terra batida, atordoado sentiu o corpo ser coberto de terra fofa até ficar tudo escuro. Um batimento cardíaco. Um pulsar de seu coração e lá estava os poucos que se importavam consigo aglomerados ao redor de seu túmulo. A figura chorosa de Chas segurando sua filha nos braços. Sua sobrinha Gemma mostrando um bizarro sorriso de deleite. Além de alguns demônios fazendo escatologias em sua lápide. Poucas pessoas, mas o suficiente para uma pessoa como ele.

– Você está vendo Constantine? Este é seu dia. O dia em que você morre. - Disse uma voz inumana atrás de John, que continuava a assistir de seu corpo etéreo, o funeral com a mesma fixação que um sulista olhava sua garrafa de Moonshine.

– Avatar do Verde. Reconheço sua voz musguenta à distância. - Respondeu John ao Monstro do Pântano.

– Não há motivo para formalidades Constantine. Vejo que sua ignorância chegou ao ponto de precisarem de uma intervenção minha. - Disse o Monstro do Pântano cruzando os enormes braços vegetais ao lado do mago falastrão. - Você não percebe o quão eres importante para o equilíbrio dos três mundos? -

– Cara, para ser sincero, tô pouco me lixando pra essas sacanagens. Estou cansado já de tanta porcaria. Já fui casado e perdi minha noiva, minha sobrinha pensa que eu a violentei na festa de meu casamento. Já perdi inúmeros parceiros. Praticamente castrei meu melhor e único amigo. Uma hora chega. - John bateu as mãos nos bolsos procurando cigarros e desistiu.

– E mesmo assim você continuou. Quando a Podridão parecia ter ganhado, quando o vermelho parecia ficar insano entre disputas internas, quando o verde perdia a intensidade para um eterno outono seco, você interveio. - O mundo girou algumas vezes, a sensação vazia e desorientada da Viagem Astral fazia John quase perder a concentração.

O Monstro do Pântano estava a sua frente. Um gigante impetuoso do tamanho de araucárias, enraizado entre rochas e lotado de flores e fruto, insetos e pequenos animais. Um verdadeiro ecossistema verdejante, reinando impiamente.

– Alec, olhe. Deixe-me ir. Estou de saco cheio desses jogos bizarros. - Disse Constantine dando-lhe as costas.

– John Constantine. Sua teimosia é digna de seu caráter intransponível. Mas eis de ouvir o Verde primeiro, depois escolher seu destino, sejam eles traçados, ou não, pelos Perpétuos e a Presença. Agora ouça-me! - O Monstro do Pântano estremeceu e uma fumaça arroxeada exalou de suas flores, empesteando o local com seu perfume doce e psicotrópico.

John fechou os olhos e inalou aquele perfume o máximo possível, até os pulmões queimarem e a cabeça latejar com a toxina na corrente sanguínea. Ao abrir os olhos encontrava uma Londres detonada, como muitas vezes que havia visto. O diferente de agora é que não via resistência, super-heróis não existiam mais, demônios rondavam pela terra sem fim, um pandemônio instalado. Sem resistência, apenas subjugação. Sem Constantine.

Não havia esquecido os pactos forjados com a tríplice demoníaca, a mesma que garantia que o sangue de Nergal fluísse em seu corpo. Que havia salvado de um câncer terminal, que havia colocado em lugares inimagináveis. E havia prolongado o tormento infindável.

– Esta será Londres sem Constantine, imersa em um caos eterno. Inferno na Terra. Super-heróis logo deixarão de existir, pois são seres do vermelho e o vermelho é corruptível. O verde deixará de existir consumido pelas chamas do ódio infernal. A podridão reinará por um tempo e irá ser subjugada a existência de um plano de influência inimaginável. - A voz do Avatar do verde ribombava como trovões no céu. - O mundo precisa de Campeões John Constantine, temos campeões para o Verde, Vermelho e a Podridão, é o equilíbrio natural das coisas. Mas você é o Campeão da Humanidade. Mesmo nas maiores adversidades você continua. Com essa sagacidade e esta petulância, você continua.

Cores, tudo dissolvia-se em cores. Uma mistura hemorrágica de violeta e verde com laranja e amarelo. Padrões de Rorscharch formando em seus olhos, em um caleidoscópio natural. E a energia tão vibrante. A energia da vida, canalizando por entre seus dedos. Subindo pelas raízes arteriais, trilhando seu caminho pulsante através de nostalgias sensoriais. Juntando ao centro do Chakra Anahata, e sendo bombeado ao cérebro como uma correnteza de endorfina e opioides endógenos. Lavando toda a incerteza e limpando o invólucro de carne para uma alma torturada.

Não era a hora de John. Havia decidido. Não ainda.

Você... Continua...

John abriu os olhos. Estava sentado no Jardim Botânico da Casa dos Mistérios. A noite já cobria com seu manto negro o céu por completo. A sensação de ter aquele despertar noturno era refrescante. Acendeu um cigarro e deu duas tragadas fortes. Olhou para as gramas e não tacou seu cigarro acesso nelas.

– Obrigado por abrir meus olhos novamente Alec. - Jogou o cigarro no lixo.

Cada pessoa possuí um limite, as vezes quando o alcançamos ficamos cegos ao nosso redor. Erros acontecem o tempo todo e carregamos esses erros como flagelos em nossa carne e espírito. E mesmo o melhor dos melhores caem e nessas horas existe sempre a compaixão de alguém para nos ajudar a levantar. John sorriu, enquanto ponderava aquilo atravessando as salas da Casa dos Mistérios. Sua morte estava programada. Sua esposa agora continuava o caminho com seu sobrinho Finn Constantine, e ele, bem, ele não era mais um fantasma. Ele era si mesmo, e nada poderia impedir do velho ferrado de continuar jogando seus jogos, apostando o inferno na Terra por seus interesses pessoais.

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Londres - 01:00h

Chas acordara cedo com muita dor, sua virilha esmagada em um acidente de carro causado por John, haviam lhe custado um de seus testículos e uma dor noturna absurda. Mas ele amava aquele homem, e ele sabia bem disso. Embora vivesse numa fachada de homem casado com uma filha e neta.

Aquela noite havia sido infernal e despertares noturnos haviam trazido consigo pesadelos de um suicídio de Constantine com a vinda do inferno à Terra. Estava sentado na cozinha usando um pacote de ervilhas congeladas para anestesiar a dor em sua virilha. Sua mulher não precisaria saber disso. Ninguém precisaria saber disso.

Três toques na porta, Chas levantou-se e pegou um taco de baseball que estava no closet. Aproximando-se devagar da porta, levantou na ponta dos pés olhando pelo olho mágico e viu a figura do loiro londrino fumando seu cigarro à porta. Chas se assustou e abriu a porta devagar.

– Uou, calma lá, caubói. Não vou roubar sua casa, se fosse já teria feito meu caro. -

– John! É você? Você estava morto! Caceta! - Chas largou o taco de baseball e abraçou o amigo de longa data.

– Se eu fosse um fantasma estaria puxando o pé de sua mulher pro resto da eternidade. Só você sabe o quanto odeio a Renee, aquela bruaca. - Respondeu John com um sorriso no rosto. - Ei Chas, sei que é tarde, mas...

– O que é dessa vez? - Chas deu um passo para trás. - Sabia que tinha algo além do normal. essa é mais uma de suas falcatruas de vudu, não é?

– Chas, você tem algo para comer? - Constantine olhou pelo ombro de Chas para dentro de sua casa. - Estou morrendo de fome.

– Ahm… Mas… Mas é claro. - Chas coçou atrás da orelha, sem graça - Poxa, sim. Tenho um pão na geladeira e geleia. Sinta-se em casa John. Aliás, onde você esteve esses três meses? Pensei que você estivesse morto. -

– E eu estava, Chas. Eu estava. Mas eu continuei a caminhar. - John virou e deu aquele sorriso irônico de sempre, aquele sorriso de falastrão desgraçado.

Eu sempre continuo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse final alternativo do quadrinho que fiz para o concurso. Sinceramente odiei o desfecho final da edição #300 de Hellblazer, então dei esse final onde o John encontra forças para continuar. Obrigado por terem lido e é isso ai. :) ---- Arth, 12/2014