Verão 69 escrita por 0 Ilimitado, Acácia


Capítulo 1
Verão 69




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/570853/chapter/1

— Dizem que o amor das mulheres é mais suave, como um transe lento, em que tudo se torna romântico. Não sei dizer. O amor que sinto é loucura. Esquizofrenia porque não sei se te amo, ou me amo. Quando estamos juntas não sei se danço entre o teu corpo ou o meu, nossos cabelos se parecem, os ossos são iguais. Seus olhos que te incriminam, Charlie, e então posso te beijar sem medo de morrer entregue ao vazio.

O lençol está manchado de sangue, porque te salvei de mim. Ataquei a tesoura e ela me atacou, estou sangrando, queria cortar os cabelos para pintá-los de azul.

Lilás. Vermelho azul e lágrimas, nós somos um amor lilás. O azul é a tristeza.

— Dante, ao adentrar sua morada de suplício e temores, proclama a sua amada em sublimes pensamentos com o teto apresentando um funesto festival de sangue: “Olhou-me Beatriz com olhos cintilantes de amor, com olhos tão divinos, que, deslumbrados os meus, os afastei e tive de abaixá-los quase aniquilado”.
Feito uma serpente se juntou ao coquetel de fluídos corporais, quando percebi, pelos meus olhares fugazes, ela (você) alçava voo. E junto as ninfas do céu fizeram o festim dos deuses, afinal quem sou eu além de um mero mortal? Quedo mutilado pela vil tesoura que ousa rasgar minhas veias.

Qual é mesmo o seu nome? No seu panteísmo quero ser svadhishthana, ativar sua energia sexual e tomar do seu mais nobre liquido, elevar-me para quebrar os tabus da criação.

Dionísio paira sobre mim e com um beijo herege leva Afrodite a lona, quem sabe querem apenas vestir uma camisa de força? Ou talvez, uma de Vênus?
Diante de um beijo, um toque cintilar, tangendo a cavidade de veludo que traja entre as pernas, pernas leves, que contorcem-se a alvorada de seu sorriso, pelas veias não corre mais sangue, a pele pálida transcreve: “Somos apenas nós dois agora”, sussurra e rompe o silêncio com um grito que se afina enquanto o orgasmo vara décadas, vence a guerra civil e rompe as barreiras do amor e do ódio.

“Ahh. Ohh. Sim. Continue”.

Nesta tóxica cidade, a minha única crença é quando deitada sobre o meu peito resmunga seus medos e suplica seus prazeres. Meu leão domado levantava-se e está pronto para o abate, com uma condição, que apenas a sua adaga seja digna de elevá-lo.

— O vermelho é a tristeza.

As lágrimas é tristeza.

Nosso amor lilás veio do âmago do inconsciente (o pleonasmo que nunca abandonaríamos porque eu te amo também significa: oh, querida).

Quando sinto seus dedos passando por mim, sei que a vida chega, sei que as costelas poderiam sair de mim e servir no seu violino, sei de você, Suavidade, nós somos religiosas no amor. Você toca em mim como se tocasse o órgão da igreja, por favor, me tenha nos braços enquanto a sinfonia toca.

Por favor, nunca deixe de tocar.

A música lilás que sobe nas minhas pernas e alisa os meus cabelos cortados, a música lilás que beija o meu sangue inteiro. Charlie, se nós pudéssemos ser nós, o mundo explodiria em sexo (sussurre, sexo é uma palavra perigosa, não se pode falar alto demais ou explodirá). Quando você me toca explodo.

Sussurre para ouvir o barulho dos fogos. Era disso que eu tentava te alertar. A beleza da morte. A beleza do nosso amor lilás, porque nisso eu posso acreditar.
Não na igreja, não em Jesus, mas em você.

O balé russo entre os montes e as depressões do meu-nosso corpo. Amor amorfo de moças malucas. Nós somos uma, uma porque não há diferença, fundiremos nossos ossos e seremos a estátua preferida de Dalí. Nós somos arte, Charlie, cor-fantasia. Cor-luz. Se lembra das aulas de arte? Puro sexo, querida. As formas se mexem na luz como você se mexe na piscina. Submersas podemos nos tocar até o fim dos dias. A piscina lilás cheia de nós duas, somos de verdade, osso e osso, boca e boca, cartilaginosas nós viramos sereias de nós mesmas. Percebe como repito as palavras? Sexo. Sei me olhar no espelho e ver você, querida. Sei me amar. Meus dedos decoraram a sua trilha.

Labirintos humanos.

Lilás.

Amor lilás.

Tristeza.

Duas garotas tristes querendo, procurando, salvação em maçãs vermelhas e no paraíso de Bosch. Só que existe também o inferno.

O limbo.

Nosso amor é o limbo, Charlie.

— O limbo somos nós, e o maior labirinto que encontro, são os seus lábios. Que acende num sopro o meu cigarro. Ou o meu estopim. Adeus, seja lá qual for o seu nome.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado :3