Você é minha droga escrita por Krueger


Capítulo 51
Lembranças de Kurt


Notas iniciais do capítulo

Mais um POV flashback mas, desta vez com Joe.



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Pov Joe:

Scottsdale, alguns anos atrás:

–Oi garotão. – disse Axl passando pela porta. Corri ao seu encontro, e senti seus braços ao meu redor apertando-me contra o seu corpo. Seu cheiro trazia confiança, segurança. Era mais um dia que voltava vivo para casa. – Trouxe uma coisa para você.
–Mamãe está preocupada. – avisei quando ele me soltou. Seu olhar azul encontrou o meu e sorrimos.
–Tome. – disse estendendo para mim um terço prateado. – Pode pegar... – disse diante ao meu receio. – Não roubei de ninguém.
Peguei o colar e passei pelo pescoço. Axl havia sumido o dia inteiro, eu passei o natal sozinho a sua espera. Cansada e totalmente decepcionada, mãezona foi dormir. Axl nem apareceu na ceia do sobrado.
–Ouça, eu errei seguindo o caminho de nosso pai. Não é por isso que você também tem que segui-lo. – disse calmamente, bagunçou os fios de meus cabelos. – Eu sei que não conheceu papai, mas saiba que ele nos amava muito. E você é igual a ele em todos os sentidos, por isso te apelidei de Joe, o nome dele.
–Mamãe está preocupada. – repeti ignorando mais um de seus discursos sobre o passado. – Você sumiu o dia inteiro, e saiu com Kevin. Eu queria ter ido junto.
–Está tudo bem, eu e Kevin fomos ajudar na arrumação do sobrado para a ceia de natal. – respondeu abrindo um sorriso.
–Bem, a Ceia que você não compareceu. – retruquei. – Nem ele. Eu até comprei um presente.
–Não gaste seu dinheiro com aquele puto. – cuspiu mudando sua expressão paz e amor para raiva. – Nem você, nem nossa mãe devem confiar nele.
–De todas as formas, ele é nosso irmão. Está morando conosco. – respondi estranhando sua atitude, Axl sempre aparentou gostar de Kevin ou talvez só na minha frente?
–Você se esqueceu que o pai daquele bastardo matou o nosso? – gritou incrédulo. – Esqueceu que graças aos Romenos nossa família está destruída.
–Ela não está destruída. – a voz de mãezona nos assustou, estava encostada no batente da porta que dava acesso a cozinha fitando nós dois. – Eu tenho medo que você Axl, destrua o pouco que temos.
–Eu sei, também estou. – passou por mim e sentou no sofá. – Ouça mãe, muitas coisas estão para acontecer, só quero que saiba, eu amo vocês.
–Eu sei. –disse me aproximando dele.
–Se amasse não estaria fazendo essas coisas comigo. – disse minha mãe o olhando fixamente. - Não sabe o quanto meu coração se aperta e dói cada vez que você deixa esta casa com uma arma na mão, sempre existe a possibilidade de não voltar.
–Agora eu não posso voltar atrás. – retrucou. – Joe não vai seguir este caminho mãe, eu não permitirei.
–Eu que não permitirei. – disse minha mãe olhando tristemente para mim, seus olhos começaram a lacrimejar. – Vocês dois são a única coisa que restou, e Kevin apesar de ser filho de Owen, também faz parte da nossa pequena família. Amo todos vocês igualmente.
–É por isso que estou proibindo Joe de voltar ao sobrado, de maneira alguma você vai ter alguma relação com Santiago. – disse Axl. Minha mãe suspirou.
–Por quê? – perguntei confuso. Santiago era meu melhor amigo.
–Eu já disse que não quero que siga este caminho. Não vê a preocupação de nossa mãe? Reza todas as noites para que eu volte vivo para casa. – mordeu os lábios. Eu nunca havia visto meu irmão assim. – Os Romenos estão crescendo e a minha proteção diminuindo.
–Não vão matar você. – disse minha mãe. Eu ia falar a mesma coisa.
–Eu sei. – afirmou Axl sorrindo. – Sinto que Owen virá atrás de mim, da mesma maneira que foi atrás de nosso pai.
–Não vai acontecer nada. – insistiu minha mãe. – Owen não tem motivos para fazer isso.
–Eu lhe dei o terço para que reze por mim, eu sou pecador demais para fazer isso. – disse Axl me olhando e ignorando minha mãe, suspirou cansado. – Por favor, me obedeça não volte ao sobrado.
–Axl. – chamou mãezona. – Precisamos conversar sozinhos.
–Eu sei. – ele me fitou. – Joe vaza.
–Mas... – eu queria ficar, por que todos escondiam coisas de mim.
–Vá Kurt. – disse minha mãe me olhando tristemente. – Você ainda é criança para saber dessas coisas.
Bufei e deixei a sala. Subi as escadas para meu quarto, contudo um gemido vindo do quarto de Kevin me chamou a atenção. Aproximei-me da porta entreaberta e o vi soluçando, lutando para fazer silencio.
–Kevin, o que houve? – perguntei.
Seus olhos negros me fitaram furiosos.
–Saí daqui Joe. – trovejou se levantando. Bateu a porta na minha cara.
–Kevin, “Um por todos e todos por um!” – repeti nosso lema na esperança que ele me contasse o que estava havendo. – Você sumiu o dia inteiro, e agora está chorando. O que houve?
–Um dia vai saber. – respondeu. – Por favor, vá dormir.
–Até amanhã. – falei antes de seguir caminho para meu quarto.
Na semana seguinte lá estava eu, saindo da escola ao lado de Santiago e Kevin. Andamos alguns quarteirões sem parar de falar no tamanho gigante do nariz de Kevin, foi quando nos deparamos com uma rua deserta com diversos prédios abandonados três Romenos fumando, agachados na frente de dois corpos.
–O que está havendo? – perguntei querendo me aproximar. Kevin segurou meu braço.
–Joe, não. – disse ele. – São Romenos esqueceu?
–Somos crianças. Eles nem sabem que somos Touros. – disse Santiago me fitando. – E, aliás, você fará parte deles Kevin.
–E não será nosso inimigo. – completei.
–Não serei mesmo. – sussurrou Kevin tentando abrir um sorriso. – Por favor, vamos para casa.
–Vamos ver o que está havendo antes. – falei correndo até os caras de azul e branco, levantaram os olhares para mim confusos. Reconheci os dois touros mortos no chão, eram parceiros de meu irmão. Jimmy e Carter.
–O que querem garotos? – perguntou um dos desgraçados assassinos, usava uma bandana no cabelo.
–Mataram um Touro. – afirmei o obvio. Eu tinha uma pequena arma em minha mochila, Kevin e Santiago também. Os outros três a nossa frente sorriram. Olhei para meus dois amigos e acenei com a cabeça, ambos pensávamos a mesma coisa.
–Crianças... É a vida. – desta vez quem falou foi o mais magricelo, de cabelos arrepiados. Eles se levantaram. Um mais baixinho e sem camisa chutou o corpo do touro sem vida. – Agora vazem, a polícia vai chegar.
–Estão na nossa área. – disse Santiago. Vi sua mão esquerda disfarçadamente abrir o bolso lateral de sua mochila. O coração acelerava no meu peito. – Ou pedem desculpas ou morrem.
–São crianças. – o magricelo começou a rir. – Vocês têm quanto, sete... Oito anos?
Santiago com as mãos trêmulas retirou o pequeno revolver da mochila, e acertou um tiro nas bolas do cara de bandana. Kevin empurrou o baixinho sem camisa e caiu por cima dele chutando-, o baixinho o impediu agarrando Kevin pelo pescoço. Eu não podia ficar parado então tentei brigar com o magricelo restante, não deu certo. Ele tinha mais força e me agarrou com o braço esquerdo por baixo de meu queixo, pronto para me matar sem ar.
Foi quando um tiro soou no ar, o magricelo que me agarrava caiu duro no chão. O outro que estava brigando com Kevin sussurrou algo para ele que assentiu antes do Romeno fugir, e o terceiro que gemia de dor pelo tiro, estava jogado na calçada ao lado dos outros três mortos.
–Eu falei para vocês não se encontrarem. – Axl se aproximou sozinho com a arma na mão direita. – Sorte suas que estava por perto. – esfregou o nariz com as costas da mão direita e fungou em seguida. Seus olhos estavam avermelhados e bem arregalados, não por susto e sim por algo que eu não sabia.
–Me desculpe. – sussurrei o fitando.
Seus olhos demonstravam fúria e decepção. Mordi os lábios. Axl olhou para os corpos e não reparou no Romeno ainda vivo gemendo de dor entre as pernas.
–Eles mataram dois touros. – disse Santiago.
–Foda-se. Era para terem ido para casa e me contado. Não feito justiça com as próprias mãos, seriam mortos. – retrucou Axl. – Merda... Carter e Jimmy...
–Eu não morreria, serei Romeno daqui a alguns anos. – disse Kevin.
–Ouça Narigudo, se esqueceu da parte "daqui a alguns anos"? Seu pai era um filho da puta, não é por isso que você também tem que ser, boneca, se quiser se juntar aos Touros já sabe.
–Prefiro ser um filho da puta. - respondeu Kevin furioso, odiava ser chamado de narigudo ou de boneca. Até hoje eu não sabia o real motivo para meu irmão chamá-lo assim.
–Vamos embora, Joe me desobedeceu. E ainda por cima poderia ter sido morto. – Axl me puxou pelo braço. Santiago e Kevin olharam para mim confusos. – Boneca e Diamond venham também!
Os dois prestaram ao meu lado, prontos para seguir caminho de volta com Axl. O que ninguém esperava era que o Romeno ainda vivo (esquecido por nós) fosse esperto o suficiente para deixar de lado sua dor e sacar a arma atirando três tiros nas costas de Axl. Meu irmão tombou ainda com sua mão esquerda segurando meu braço, Diamond e Kevin seguraram seu corpo sem vida com dificuldade. Foi quando atirei pela primeira vez na vida, peguei a Uzi que estava na outra mão de meu irmão e com uma boa mira terminei de matar seu assassino. Santiago e Kevin deitaram o corpo de meu irmão na calçada.
–Axl... – gritei sentando-me ao lado. Agarrei sua nuca aproximando seu rosto de meu pescoço, numa espécie de abraço. – Mano... - sussurrei entre o choro.
–Droga... – sussurrou Kevin engolindo em seco. – Ele... Morreu... – mediu a pulsação de meu irmão. Por um momento achei que o tivesse visto sorrir, mas foi pura imaginação de minha cabeça. – Sinto muito Joe.
–Ninguém sente quem sente toda a dor, sou eu. – alisei as bochechas pálidas de Axl. Fitei seus azuis sem vida, meus dedos fecharam os olhos frios. – Eu vou rezar por você, como me pediu. – as lagrimas caíam sobre o corpo sem vida dele.
–Estamos com você, para sempre Joe. – disse Santiago colocando a mão sobre meu ombro. – Para o que der, e vier. Os três mosqueteiros.
–Eu vou fazer justiça. – falei agarrando o terço em minhas mãos. – Por Axl. - deixei o corpo de meu irmão ereto no chão.
–Por Axl. – repetiu Diamond. Kevin continuou fitando o corpo de meu irmão sem expressão alguma em seu rosto. Algumas sirenes se ouviam, a polícia estava chegando e logo levariam os corpos. As lágrimas escorriam por minhas bochechas e Santiago me abraçou de lado também soluçando, estranhei a reação de Kevin. Não derramou uma lágrima se quer, continuou olhando fixamente para Axl.
–Quando a polícia chegar vamos dizer que foi um tiroteio entre gangues. E contar que você era irmão de um deles e viu tudo. – começou Kevin. – Bem, estamos vivos por sorte.
–Foda-se a nossa sorte era para eu estar morto não ele. – cuspi soluçando
–Só que Deus quis levá-lo, não você. – disse Santi me encarando.

Acordei com o ruído de portas e vozes. Droga, mais uma vez eu sonhava com a morte de meu irmão, eu realmente havia chorado limpei meu rosto com as mãos. Ainda estava jogado naquela cela, levantei-me ao ouvir ruídos de trancas e de luzes sendo acessas, percebi que duas pessoas se aproximavam. Uma era Clary e a outra, o desgraçado de Black. O que estava havendo?


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