Pov Clary:

A minha casa estava uma desordem. Pratos quebrados na cozinha, água pelo chão da sala, pela quantidade deduzi que fossem lágrimas. A TV tinha uma enorme rachadura bem no centro como se tivessem tacado algo ali. Droga, nem jogar videogame mais eu podia. Procurei minha mãe pela casa e acabei encontrando-a em seu quarto chorando.
–Mãe... – sussurrei me aproximando dela que estava deitada em sua cama.
–Eu falei para ficar fora de casa. – disse ela.
–E eu já fiquei durante umas três horas. – falei. – Mãe... O que aconteceu?
–O pior dos desastres... – disse ela olhando fixamente para a janela. Eu não gostava de ver minha mãe chorando e sentia raiva por ser tudo culpa de Harry.
–Foi Harry? Ele te bateu? Ouça, se ele te bateu eu chamo a polícia agora! – falei totalmente preocupada com ela.
–Não... Na verdade eu é que bati e taquei várias coisas nele. – acabamos rindo, mas não tinha graça. – Ah Clary... Espero que me perdoe.
–Pelo que?
–Por ter deixado aquele homem entrar aqui e se aproximar da gente. – disse com a voz falhando. – Eu não devia ter sido tão ingênua.
–Eu sempre te disse que ele era casado.
–Ah... Se ele fosse casado ia ser o menor dos problemas. Ele é uma coisa pior do que isso.
–Um psicopata? – perguntei.
–Não. Um mentiroso, um fingidor. Ele me enganou durante sete anos Clary. Tem noção disso? – seus olhos verdes brilhavam com as lágrimas.
–Tenho. – respondi. – Mãe... Você nunca falou de meu pai...
–Não tenho o que falar... – sussurrou ela. – Ele foi e sempre será uma decepção.
–Ele está vivo não é? – perguntei e ela arregalou os olhos.
–Como sabe disso?
–Eu... Ouvi a conversa de você e Harry e deduzi que...
–Clary! – gritou ela enxugando suas lágrimas com as mãos. – Eu lhe pedi para sair de casa, ir para longe não ficar ouvindo a conversa atrás da porta!
–Eu sei... Mas se ele está vivo porque não posso conhecê-lo?
–Por que... Ora. É mais fácil eu lhe dizer que ele não quer conhecê-la. – respondeu ela olhando para as próprias mãos.
–Porque ele não gostaria de conhecer a própria filha?
–Ele ficou dezesseis anos longe da gente. Fingindo estar morto, durante todos esses anos eu visitei o túmulo dele, para agora descobrir que o homem por quem eu tanto chorei estava vivo. – gritou ela furiosa. – Eu não vou permitir que ele me magoe de novo, e que toque ou fale uma sílaba se quer, com você!
–Mãe... É meu direito, eu quero conhecê-lo.
–Mas ele não vai conhecer você, eu juro Clary se ele se aproximar de você eu chamo a policia. Ou a gente vai para algum país no fim do mundo. – continuou gritando furiosa.
–Por que... Não posso conhecer meu pai? – gritei ficando furiosa também.
–Ele... Ele é um... Bandido. Um criminoso, Clarice. – respondeu se acalmando. – Por favor, será melhor se você não se envolver.
–Ele faz parte de uma gangue? – acabei perguntando. Ok. Isso tecnicamente era impossível já que minha mãe era tão certinha. Eu não a imagino namorando um cara como Joe.
–Pior... Muito pior. Ele é dono de uma gangue. – respondeu. – Eu não quero que se envolva com esse tipo de gente, eu fui muito magoada por ele entende? Não quero que a próxima seja você.
Fiquei sem palavras, era muita informação para meu cérebro processar. Acho que fiquei bastante tempo olhando para seus olhos verdes até entender tudo o que ela havia dito, minha mãe havia namorado um cara como Joe. Vivido emoções parecidas como a minha, de incerteza se ele realmente gostava de mim ou se eu era um passatempo.
–Eu não devia ter te contado. É muito nova para isso. – disse ela.
–Nova? – perguntei boquiaberta. – Ia me contar isso quando? Quando eu tivesse vinte anos e estivesse a caminho da faculdade?
–Clary. Entenda, eu não queria que minha filha crescesse roubando, matando e traficando. – disse ela. – Não como o pai dela. Não como a família dela. Veja, eu era uma garota de família rica, de boa índole. E olha que aconteceu quando eu me envolvi com alguém totalmente o oposto. Você nasceu.
–Então você ter engravidado de mim é culpa dele?
–Não. Clary. Eu amo você, e é uma das melhores coisas que aconteceu comigo. Mas é filha dele, daquele monstro e quando olho para você eu me lembro tanto dele, tanto das promessas vazias.
–Eu quero conhecê-lo.
–Clary... Não. Se você procurá-lo eu não vou te perdoar.
–Eu é que não te perdôo por esconder isso de mim todos esses anos. – gritei me afastando, sai de seu quarto. – Eu vou atrás dele e você não me vai impedir!
Entrei em meu quarto e bati a pronta trancando-a. Então era isso, eu que nunca acreditei em gangues até conhecer Joe, descobri que além delas existirem eu fazia parte de uma delas, eu era filha de um dos chefes de gangue. Mas quem?
[...]
Na manhã seguinte não pude nem olhar para minha mãe. Troquei de roupa e tomei um copo de suco antes de sair para a casa de Anne. Ela não me recebeu no portão, tive que fazer todo aquele caminho até seu quarto, por que o seu mordomo disse que ela não estava se sentindo bem. Revirei os olhos, Anne fazia tanto drama.
Quando entrei, ela estava deitada naquela sua cama enorme de princesa com as cortinas ao redor abertas. As janelas estavam abertas e ela estava jogando algum tipo de jogo que eu não tinha em meu celular.
–Oi Clary! – disse ela se virando para mim. Parecia ótima.
–O que...
–Não eu estou ótima! – disse sorrindo. – Só estava com preguiça de ir até lá te buscar então mandei o Thomas (o mordomo).
–Ah... Valeu pela honestidade. O que seria da nossa amizade sem ela?
–Então. – ela se sentou e me deu espaço para que eu fizesse o mesmo. – O que aflige seu coraçãozinho?
–Eu descobri uma coisa barra pesada. – falei.
Ela arregalou os olhos.
–O quê? Joe é gay?
–Não! – falei lhe empurrando. – Uma coisa sobre meu pai.
–Ah... Ele virou gay?
–Não. Lembra que te falei que ele havia morrido? – ela assentiu com a cabeça. – Então, ontem minha mãe contou a verdade sobre ele.