Você é minha droga escrita por Krueger


Capítulo 1
A placa 60km




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Ponto de vista Joe:

Parei meu carro no acostamento da rodovia que me leva diretamente a minha cidade natal. Bufei, falei mal e ainda bati minha cabeça contra o volante. Eu não podia mais fugir, não podia mentir para mim mesmo desse jeito.
Meu nome é Kurt, mas todos me chamam por Joe, o nome que meu irmão mais velho que infelizmente foi morto me deu e minha covardia, não ajudou em nada, a culpa foi minha, ele morreu por mim - deslizei minhas mãos para o maço de cigarros que estava no meu bolso, abri-o e peguei um dos cigarros e deixei em minha boca - Mas essa covardia acabou, depois de anos longe, anos treinando para finalmente fazer justiça por meu irmão, estou aqui, de frente a placa "Scottsdale 60km" pronto para colocar meu plano em prática. Acendi o cigarro e traguei enquanto desligava o carro e balançava minha cabeça, eu tinha que fazer justiça. Depois de minutos fumando, apaguei a pequena chama de meu vicio e resolvi tomar uma atitude. Todos os medos e vícios, amigos antigos e histórias trágicas estavam a sessenta quilômetros de distância. Eu podia dar meia volta e tentar pegar o caminho para outra cidade...
Mas acabou, acabou. Joe não será mais covarde, não vou mais fugir do que já existe em mim e faz parte de meu passado. Abri a porta do carro e pulei para fora, o outro carro parado a minha frente brilhava. Eu sempre quis ter um Porshe, mas como não nasci em berço de ouro, ainda vou ter que trabalhar bastante para conseguir um. A porta também se abriu e de dentro do luxuoso carro saltou Kevin, vestido como me lembrava, jeans e regata com um lenço azul no pescoço. Sempre o achei gay e com essa roupa ele realmente parecia.
–Me surpreendi quando me ligou. - disse ele sem tirar os olhos da estrada, enquanto me aproximava.
–O bom filho a casa torna. - falei sorrindo e me inclinando para um abraço de "mano" com ele que retribuiu.
–Você não é um bom filho. E esta situação é constrangedora. - seus braços se soltaram. -Então... Porque voltou?
–Você disse que Owen está vivo. - falei amargamente. Só de ouvir, pensar e até falar aquele nome, eu tinha nojo.
O vento forte da rodovia fez meus pêlos da nuca arrepiar. Kevin sorriu daquela forma que fazíamos quando enganávamos alguém e conseqüentemente a gente se dava bem. Ele limpou a garganta antes de falar.
–Ele estava morto. Por anos acreditei que meu pai estava num caixão, cresci ouvindo minha mãe dizer que eu tinha que honrá-lo, e de repente o desgraçado aparece em carne e osso. - sua voz não demonstrava nada, nenhum tom, mas em seus olhos castanhos eu podia sentir seu ódio pelo próprio pai.
–Eu sei que é demais pedir... - comecei recebendo um olhar gelado de volta - Não precisa matar seu pai por mim, apenas me ajudar...
–Eu não posso.
Fiquei surpreso e até boquiaberto. Tínhamos conversado dois dias atrás, antes de eu vir parar aqui, antes de eu abandonar minha vida em outra cidade para reviver o passado. Minhas mãos deslizaram para meus bolsos procurando se aquecer enquanto eu pensava em uma resposta.
–Sei que deve estar pensando que te enganei, mas há dois dias ele não tinha me contado uma coisa. - sua voz me interrompeu antes que eu respondesse qualquer coisa.
–O quê Kevin? - perguntei ficando com raiva de si. - Eu viajei horas para te encontrar, trouxe tudo inclusive minha bagagem e larguei tudo... Pra você me dizer que não vai cooperar?
–Eu vou cooperar. Você faz parte dos Touros por família, é só pedir abrigo que eles te dão. Fique com eles e eu te passo informações.
–Esse não é o problema. - cuspi ficando furioso - Você está escondendo algo de mim. Disse que há dois dias, seu pai não tinha lhe contado algo e que por isso mudou de idéia.
Ele revirou os olhos.
–Eu tenho uma irmã. - disse ele por fim. - E a mãe dessa garota é a única mulher que Owen já amou. Agora Joe, faça o que te falei... Se junte aos Touros e eu te passo mais informações. - ele abriu a porta do carro e entrou. - Aliás, já disse que te amo?
Sorri torto quando Kevin bateu a porta do Porshe com força. Fiquei parado observando seu carro sumir pela rodovia já escurecendo.
–Eu também cara. -murmurei. Voltei a meu carro e saí rumo aos sessenta quilômetros que faltavam para minha vingança.

[...]

Parei diante do enorme sobrado vermelho cheio de grafites nas paredes. Sai do carro e já preveni que minha arma estava na cintura, bati na gigantesca porta de madeira várias vezes até uma mulher que aparentava ser a empregada abriu-a.
–Posso ajudar?
–Procuro Capeline.
–É da polícia?
–Não. - revirei os olhos. - Diga que Joe Slater está aqui.
A velha assentiu e fechou a porta. Esperei bastante tempo até ela voltar e pedir-me para acompanhá-la até a sala de estar da casa. Surpreendi-me com o fato de ao redor de Capeline estarem vários garotos, mais novos ou até mais velhos que eu, com expressões de poucos amigos.
–Joe Slater. - disse o velho sorrindo. - Sente-se. - apontou para um sofá vazio a sua frente. Nem tive tempo de reparar na decoração da casa. Apenas fiz o que ele pediu. - À que devo a honra?
–Preciso de... Abrigo. - falei e seguido ecoaram várias risadas de todos ali presentes. Acabei fitando um deles, e sua risada cessou.
–Da última vez que esteve na cidade, disse que só voltaria a nós se fosse finalmente se vingar. É para isso que quer seu abrigo?
–Owen está vivo. - falei e no mesmo tempo todos se surpreenderam. Até o velho Capeline. -Vim para matá-lo e mandar de uma vez por todas ele para o inferno. E principalmente, tirar você da posição que não te pertence.
Ele levantou um dedo me olhando de um jeito ameaçador.
–Se acha que é assim... Tudo bem. Se matar Owen o controle dos Touros e o sobrado são seus. - ouve uma intensa discussão entre todos. - Rapazes, Joe deveria ser o líder da gangue atualmente, só não é porque seu pai morreu quando ele era um garoto e eu tive que assumir porque o irmão de Joe, Axl também faleceu.
–Então eu posso ficar? - perguntei querendo acabar com a conversa, umas horas de sono não me faria mal.
–Você é da família. - Capeline sorriu. - Santiago mostre a Joe a casa, os outros me acompanhem. - ele levantou, mas antes sussurrou apenas para mim - A nossa conversa ainda não acabou.
Quando a sala esvaziou, pude perceber os detalhes. Uma gigante TV de tela plana colada a parede, um videogame Xbox, três sofás, um com sete lugares, outro com três e no qual eu estava apenas dois lugares. Era tudo preto, vermelho, branco ou cinza.
–Sabe você até que parece um cara legal. - disse o único garoto que havia permanecido na sala, loiro e de olhos castanhos ficou me encarando.
–Você deve ser o Santiago... - falei. - Não preciso de babá e como já deve ter percebido eu já morei aqui.
–Eu sei, eu só gostaria que se lembrasse de mim. Afinal éramos os três mosqueteiros. - a voz dele falhou. - Eu nunca quis que Axl fosse morto.
–Ele morreu por mim. - olhei para algum ponto na parede cinza. - Vamos deixar o passado para trás, afinal, quem vive de passado é museu.
Levantei-me e o segui pelos corredores. Se eu fosse ficar onde eu pensava que ficaria, era no quarto do meu irmão falecido. Santiago foi à frente em silêncio e eu queria muito quebrar o gelo entre a nós.
–O quarto está do mesmo jeito que você deixou. Aliás, Joe, meu pai está confiando em você, por favor, não traía essa confiança.
–O que quer dizer com isso? - perguntei franzindo a testa quando finalmente subimos a escadaria de madeira.
–Acha que eu nunca soube que você e Kevin jamais se afastariam? Acha que eu sou burro? Eu sei Joe. "Um por todos, e todos por um".
Acabei empurrando-o contra a parede do corredor onde se localizava os quartos. Seus olhos castanhos denunciavam-me, molhei meus lábios e ainda com as mãos nos ombros dele falei:
–Vocês dois são e sempre foram os únicos caras que confiei além de meu irmão, eu não quero acabar com seu pai e sim acabar com Owen. Se ele está vivo, é meu dever... Você sabe. Pela honra de minha família.
Ele sorriu e começou a rir daquele jeito, como nos velhos tempos.
–Esse é o Joe que eu conheço. - me surpreendi quando seus braços me envolveram num abraço apertado. Aquilo era bem gay, mas... Eu sentia falta dele e de sua amizade.
–Eu te amo cara.
–Eu também. Agora me solta porque eu gosto de mulher. - soltei-o e rimos. - Vem vou te ajudar a arrumar seu quarto.
Santiago me contou tudo que eu precisava saber. Todos os garotos da gangue eram menores de idade e ainda estudava então, eu teria que voltar para aquele Inferno do qual chamam de escola. A minoria morava no sobrado, digamos os "melhores", pois era também onde o chefe morava. A gangue havia feito um acordo com os Romenos (gangue oposta) de paz, que foi quebrado há alguns dias atrás quando Santiago acabou atirando sem querer num cara. Por enquanto ninguém veio tirar as satisfações, mas, ele sabia que iam atacar quando menos se esperava. E, além disso, ia voltar a ser a mesma guerra de anos atrás, disputa de poder e território, claro que sempre existiram outras gangues como a máfia tailandesa e a máfia italiana que não tinham tanto poder na cidade, mas eram grandes e compostas em todos os estados. Os Touros tinham um acordo com as máfias e isso incluía pagar uma parte dos lucros a eles. Fora os grupos de alunos briguentos que se reuniam para fumar, se drogar, e brigar entre eles, mas não eram gangues por não possuírem líderes determinados, tráfico e não cometerem crimes nem andarem armados. As gangues sempre estavam de olho nesses grupos por que é deles que vêm os melhores gângsteres e os mais corajosos. Que, sempre morrem. Mas essas coisas eu já sabia por que em Los Angeles era igual.
Depois de ele me atualizar com os últimos acontecimentos na cidade, voltamos a meu carro e ele me ajudou a levar minha mala para o quarto. Nunca pensei que ele ainda fosse o mesmo, o mesmo idiota, cretino e sincero até demais. Já no quarto abri a janela enquanto ele abria o enorme armário embutido na parede, cheio de rabiscos e nomes escritos por estilete na madeira do mesmo.
–Então... A gangue vai fazer uma festa amanhã de noite. Que tal ir comigo?
–Isso são um convite de amigos ou um convite para o baile? - perguntei abrindo a mala. Ele riu e jogou uma almofada em mim.
–Joe eu sei que você é um veado, mas para a sua infelicidade é um convite de amigos. Mas vai ter outros homossexuais por lá, talvez você goste de alguém.
–Eu gosto é de mulher. - alertei. - E é disso que preciso.


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Notas finais do capítulo

Movida a comentários. Afinal, ninguém escreve para o vento.