A última dança escrita por Teddie


Capítulo 3
What We're About


Notas iniciais do capítulo

ATÉ QUE EU FUI BEM RÁPIDA, NÃO?

Como eu disse, AUD é uma short fic, então prevejo apenas mais uns 3 capítulos para ele, no máximo.
Comentem enquanto há tempo, deem sugestões para melhorar, opinem.
Enfim, curtam o capítulo.



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AUSTIN

Revista Agito Teen - Versão Mobile.

DENÚNCIA DE AGRESSÃO?

Um fato não tão agradável aconteceu com nosso garoto de ouro na última sexta feira (14), Austin, que já nos enganou com sua data de chegada, cometeu uma gafe gigantesca. Um repórter amador, fã da nossa revista, filmou o momento onde Austin Moon se envolve em um barraco gigantesco envolvendo uma cadeirante.

Pelo que nos informaram, nosso prodígio a derrubou em um café das ruas de Miami, e mesmo estando disfarçado atraiu atenção de muito dos transeuntes na hora.

Não se sabe o nome da menina, nem se ela vai prestar queixa contra o nosso loiro favorito. Vale lembrar que Austin teve uma passagem rápida pela polícia por porte de drogas ano passado.

Que mancada, hein Austin?!

Devolvo o celular de Allicia, que passa os olhos de novo pela tela. Agora que estamos perto, e eu posso reparar melhor nela, vejo que ela é levemente inclinada para o lado direito. Provavelmente algo atrofiou por ela não poder andar.

Estamos sozinhos na sala de estar da casa dela também. Os dois amigos dela, Trish e Dez estão em algum canto da casa, sozinhos. Pensar isso trouxe pensamentos maliciosos em minha cabeça, mas eles logo se extinguiram com a quantidade de ofensas que Trish sempre dá para o ruivo.

No geral, essa era a atmosfera quando eu estava com Allicia, seus amigos brigando, ela rindo. Eles a ajudando com tudo. Era bem barulhento, mas incrivelmente agradável. Para quem passou a vida com o barulho de diretores e de fãs, era acolhedor apenas o barulho de alguns adolescentes comuns. Eu me sentia um adolescente comum.

“A revista está certa, eu devia te processar” ela diz, a respiração pesada e a voz embolada de sempre. “Eu ia ganhar uma nota preta, daria para fazer bastante coisa”.

Solto um riso irônico pelo nariz, ela ama me irritar com coisas bobas.

“Tipo comprar pernas?” ao contrário do que eu espero, ela não me olha magoada, mas ri. Eu estava sempre fazendo uma piada em relação à deficiência dela, e ela nunca ligava.

“Sim, Austin, para poder chutar a sua cara” ela rebate e eu solto uma gargalhada. Era impossível Allicia cometer qualquer tipo de violência.

Ela é a menina mais doce, gentil, inteligente e educada que eu conhecia, e ainda ganhava pontos por me aturar mesmo quando eu estou de mau humor, o que é quase sempre. Principalmente depois das várias notícias que saíram sobre o meu mal entendido com ela.

“Estou com sede, Allicia” eu estou jogado no sofá da casa dela, enquanto ela está na cadeira de rodas.

Para tentar me redimir, comprei uma daquelas cadeiras super modernas que é guiada por uma espécie de controle remoto. De acordo com ela, ajudou muito. Não sei porque, já que não era tão difícil assim guiar uma cadeira de rodas. Eu fiquei em uma durante uma temporada inteira de Vivendo com os Gulliver, depois que Darien armou um acidente para Vincent. Fui odiado e amado por todo mundo ao mesmo tempo.

“Não sou sua empregada, Austin” abro os olhos e a vejo concentrada olhando para o diário dela. Passamos as últimas duas horas compondo e eu estava exausto, já ela parecia que tinha disposição para passar anos fazendo isso. “Você que anda que deveria ir buscar”.

“Você está há tanto tempo compondo, dê um tempo e busque uma água para mim, ponha essas pernas para funcionarem”. Ela me fita, furiosa, mas acaba rindo e guiando a cadeira para a cozinha, deixando o caderno na mesa de centro.

Sento-me no sofá, observando a sala. Não havia muita decoração ali. Allicia tinha dito que ela morava sozinha com o pai, e ele não sabia muito de decoração, e nem ela. Tinham várias fotografias, entretanto. Várias pequenas Allicias sorrindo para a câmera. Ela banguela de biquíni rosa, ela com um troféu na mão, ela tocando piano. Em todas essas a cadeira de rodas não existia.

Tirando uma, que ela já parecia ter uns treze anos, e estava na cadeira, usando uma roupa de hospital, com Trish e Dez mais novos do lado dela. Ela não sorria tanto quanto nas fotos em que ainda andava, mas um sorriso leve e agradecido, como só de estar viva já era uma vitória.

Pergunto-me o que aconteceu com ela para parar de andar.

Ouço passos e quando me viro, Dez está sentado do meu lado, olhando para as fotos, assim como eu estava. Parece quase nostálgico.

“Ally tem ELA” ele fala, e eu me surpreendo. Dez não costuma falar muito comigo. Ele achava que eu era rude demais com Allicia. O que não deixava de ser verdade, mas ele gosta de me ignorar.

“Ela quem?” pergunto e ele revira os olhos.

“Depois eu sou o idiota” resmunga. Hoje ele usa uma calça laranja, suspensórios listrados e blusa preta. Discreto. “ELA, esclerose lateral amiotrófica. É uma doença degenerativa, que vai causando a degeneração de alguns neurônios. Esses neurônios são células nervosas especializadas que, ao perderem a capacidade de transmitir os impulsos nervosos, dão origem à doença”.

Respiro fundo, tentando assimilar as palavras de Dez. Muito difícil.

“O que eu quero dizer” ele continua, ao ver minha cara de confuso “É que Ally foi perdendo os movimentos aos poucos, primeiro a da perna direita. Você deve notar que ela tende a pesar do lado direito, foi onde atacou primeiro. Por isso se chama lateral. E depois foi para o lado esquerdo, e era parou de andar de vez.”

Eu olho para ele, que ainda não me encara. De longe, posso ouvir Allicia e Trish conversando na cozinha, por isso ela demorava lá.

“Por que está me contando essas coisas?” pergunto, e ele finalmente me olha. Há dor demais neles, e eu tenho um pressentimento ruim do que está por vir.

“Porque Ally não sabe quanto tempo ela tem. Começaram com reflexos involuntários e câimbras, e agora ela já não consegue controlar os braços direito. Alguns conseguem conviver com ELA durante muitos anos, como Stephen Hawking, por exemplo. Mas muitos não sobrevivem. Seu cérebro tem uma parte degenerada, e você começa a se esquecer, a parar de falar. você deve notar que ela fala embolado. Parece que é um esforço terrível. Estou te falando tudo isso porque eu nunca vi a Ally tão feliz nesses anos todos que somos amigos, só quando ela ainda andava. Ela se sente tão feliz por você ser estúpido desse jeito com ela, porque você não tem pena.”

“Por que eu teria?” franzo os cenhos, tentando ainda digerir as informações de Dez despejou sobre mim “Quer dizer, agora sei que ela pode morrer, mas isso não muda minha opinião. Allicia escreve bem, fala bem, consegue usar os braços para o que ela precisa. Ela é mais inteligente que todo mundo nessa casa junto. Por que eu teria pena dela?”

Ele sorri para mim, e eu sei que é de verdade, o primeiro sorriso genuíno que Dez me dá. Ele parecia o melhor amigo que Allicia poderia ter. Senti inveja dela. Eu nunca tive um amigo de verdade.

Eu sei que sempre dou festas cheias de gente, mas não sou idiota o suficiente para chamar aqueles famosos de amigos.

“Não a decepcione, Austin. Você tem feito muito bem para Ally”.

Nesse momento, Trish e Allicia chegam na sala, nos olhando desconfiadas. Abro um sorriso inocente para Allicia, que revira os olhos em resposta. Trish puxa Dez pela camisa para sair de onde estava.


“Vamos, rei dos panacas, temos que deixar a super estrela e Ally trabalhando”.

Rio para os dois, que sobem para o quarto de Allica.

“Eles tem alguma coisa?” pergunto, tentando resolver minhas duvidas em relação aqueles dois. A cara de nojo que Allicia faz diz tudo, além de me fazer gargalhar horrores.

“Trish tem um namorado, ele é um desses caras que fica fazendo coisas perigosas e estúpidas. Ele quebrou a perna semana passada pulando de pára-quedas. E Dez tem a Carrie, que é uma garota realmente doce. Trish e Dez são como irmãos que se odeiam, mas que não vivem longe um do outro”.

“Entendi” foco no diário aberto, com uma parte da letra exposta. “Allicia, não sei que curti muito essa letra. Quer dizer... não se faz muito meu estilo. Não canto algo assim desde o início da minha carreira”.

Ela bufa, e me encara. Quase me perco em seus olhos castanhos, mas consigo me controlar. Allicia é bonita demais para estar morrendo. Não que se ela fosse feia mereceria morrer. Não que alguém mereça morrer... Deixa para lá.

“Como se sua carreira musical fosse tão grande assim, Austin”

“Ouch, essa doeu” digo, indignado.

“Ou toca essa, ou esqueça a parceria”. Ela está séria, então eu sei que ela não está brincando.

Pego o violão, coloco o diário na minha frente, e toco as primeiras notas.

ALLY

I'm gonna be first to the finish line

Never givin' up 'til we're out of time

And I'm gonna make it there no doubt

Thats what I'm about, I'm about

Relaxo ao ouvir Austin cantando. Eu tinha uma parte dela já composta, quando eu queria desistir do tratamento contra a doença. Mas então meus amigos me deram força, e eu melhorei, e fiquei inspirada. Quando Austin me contou que ele queria se livrar dos escândalos e lançar uma musica nova, pensei que essa fosse a perfeita.

Ele me ajudou em alguns acordes, e agora estava reclamando. No começo da carreira, ele lançava músicas desse estilo. Pass Me By era a minha favorita.

Not gonna break 'til the music stops

Keep on climbing 'til we hit the top

If you got a dream, gotta let it out

Show 'em what you're all about, all about

Na na na na na

I got a feeling that tonight's the night, yeah

Na na na na na

I got a feeling that it's our time

Uma das coisas que eu amais adorava em Austin era o fato dele não sentir pena nenhuma de mim, coisa que até mesmo Trish e Dez sentiam. Eu adorava toda vez que Austin era imbecil o suficiente para mandar eu usar minhas pernas. A arrogância dele era até um fato que eu esquecia quando estávamos compondo.

Então ele para de tocar, e eu olho para ele, questionando.

“Vou te levar para um lugar” ele se levanta, deixando o violão de lado.

“Para onde?” questiono desconfiada.

“Ande logo, levanta da cadeira e vamos” ele se dirige a porta, e eu vejo que não tenho outra opção, guio a cadeira até ele.

Saímos de casa, deixando Dez e Trish para trás, quando chegamos em seu carro estacionado, ele abre a porta para mim, e me coloca sentada no banco do carona, batendo a porta. Escuto ele guardando minha cadeira no porta malas e logo ele está sentado do meu lado, pondo o cinto e dando partida.

“Espero que você com esses braços moles consiga prender o cinto, já fiz demais te colocando para dentro do carro.”

“Seu estúpido” mas rindo, tento puxar o cinto. Uma vez, e nada. Duas vezes e meus braços doem com os espasmos. Na terceira vez, eles soltam o cinto involuntariamente. “Que inferno”.

Sem dizer nada, Austin se debruça sobre mim e puxa o cinto, prendendo rapidamente.

“Obrigada, Austin”. Digo docemente. Pensei que ele finalmente me daria o olhar de pena, que eu estou esperando desde que começamos a ser amigos, mas me surpreendo a ver orgulho neles.

Por que, afinal?

“Eu sou muito benevolente mesmo” reviro os olhos.

Ele coloca óculos de sol e um chapéu, e eu entendo que é para ele se disfarçar. Desde que começamos a sair juntos para compor, muitas pessoas andam o cercando a respeito disso, e eu via como ele estava cansado de perseguição. Ainda assim, acho que ele fica com essas coisas. Austin precisa ser reconhecido sempre, e por isso sempre chama atenção com as burradas que ele comete.

Let's take this out to the streets

Everyone's following me

We'll throw our hands to the sky

We're celebrating our life

Come on let's give it a shot

This may be all that we've got

Right here, the moment is now

Let's show 'em what we're about

Oh woah

Let's show 'em what we're about

Oh woah

Austin estaciona e eu reconheço na hora onde estamos. Miami tem um parque muito interessante que é composto de várias ladeiras, onde as pessoas podem ver a vista da cidade do topo delas. Austin estacionou justo na mais alta, e consequentemente a mais bonita.

Quando ele me colocou na minha cadeira, eu podia sentir a brisa com um leve toque de maresia vindo da praia, e a vista era a coisa mais linda que eu já tinha visto. O sol começava a se por e as luzes de Miami se acendendo só completavam o visual. Estávamos ali sozinhos, e eu acho que eu nunca fui tão feliz, desde que diagnosticaram minha doença.

E tudo graças ao idiota do Austin.

“Obrigada”. Digo, e noto que minha voz está embargada.

“Por nada” ele se ajoelha do meu lado, ficando do meu tamanho. Mesmo se eu andasse, seria muito menor que ele. “Mas não foi para ver a vista que eu te trouxe aqui, Allicia”.

Franzo o cenho em dúvida.

“Vamos descer do jeito mais legal possível” ele alisa o braço da minha cadeira de rodas e eu arregalo os olhos, entendendo o recado.

“Não, não, não. Austin, você é louco. Vou morrer se eu fizer isso”.

“If you don't try then you'll never know, just how far that you're gonna go” ele recita um trecho da minha música, e eu bufo, contrariada. “Vamos, Allicia, é só uma descidinha da ladeira, não to pedido para você escalar o Everest na cadeira de rodas”.

“Austin, não.” Meu tom de voz é alarmado “Não posso descer essa ladeira de cadeira de rodas, correndo. Eu... eu não posso”.

Ele bufa, e eu vejo que ele está com raiva. Austin detesta ser contrariado.

“Que droga é essa, Allicia? Você faz músicas sobre conseguir vencer, sobre lutar... We can take off the world, fly the world around, e toda essa baboseira para desistir de uma coisa idiota dessas? Se mostrando incapaz?” meus olhos se enchem de lágrimas, mas ele não para “É assim que você não quer ser digna de pena? Desistindo antes mesmo de tentar?”

Respiro fundo, ele está certo. A única pessoa que nunca sentiu pena de mim tinha toda razão. Eu podia fazer aquilo, mesmo que quebrasse uns ossos.

“Suba ai atrás, Moon”. Ele abre aquele sorriso estúpido e lindo dele, e sobe no apoio da minha cadeira. Movo-a um pouco, sentindo-a mil vezes mais pesada. “O que você anda comendo, Austin?”

“Cala a boca, Allicia. Let's show 'em what we're about!” ele grita e eu não posso deixar de gargalhar junto.

Respiro fundo, guiando a cadeira com dificuldade. Fica mais fácil quando Austin põe um dos pés no chão e começa a dar impulso. Chegamos na beira da ladeira. É o momento, é a nossa hora. Movo a cadeira, e sinto o chão inclinar.

Solto um grito, e ouço o do Austin enquanto ganhamos velocidade. Estou correndo, estou voando. Meus sonhos podem se tornar reais, eu posso voar. Fecho os olhos e estico os braços enquanto sinto o vento batendo contra mim com força.

É a melhor sensação da minha vida. Sinto-me livre.

“Puta merda, puta merda, puta merda. Para isso!” Austin está apavorado e eu obro os olhos com medo do que veria.

Estamos muito próximos do fim da ladeira, e eu sinto que devíamos ter desacelerado, mas estamos cada vez mais rápido. Sinto a cadeira se inclinar e não consigo me segurar, caio na grama, rolando o que faltava e vejo Austin voando acima de mim. Ouço o baque e sei que minha cadeira novinha já era.

Paro de rolar quando bato em uma pessoa, Austin está de barriga pra cima e respira com dificuldade com os olhos fechados. Eu não sinto minhas pernas, mas em compensação sinto dor pelo corpo inteiro. Ideia imbecil, a nossa...

Para minha surpresa, Austin começa a rir, e é tão contagiante, tão verdadeiro, que eu não consigo fazer outra coisa a não ser rir com ele, mesmo estando toda dolorida.

Após um cinco minutos rindo como dois idiotas, ele me olha e eu me perco.

Ele está próximo demais, seus olhos castanhos me fitam com tanta intensidade que eu tenho vontade de me esconder, mas sustento seu olhar, sentindo minhas bochechas corarem. Seu sorriso ainda está estampado, e é a coisa mais sincera e bonita que eu já vi na minha vida.

E eu sinto algo dentro de mim mudar.

E não sei se vou viver o bastante para aproveitar.


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Notas finais do capítulo

E então, galera?