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Inara Forbes

Inara não queria demonstrar, mas estava com um pouco de medo. Era a primeira vez que a garota era tão bem aceita em algum lugar. Ela sabia que sua vida estava prestes a mudar, quer dizer, já estava mudando. Inara só não sabia dizer se essa mudança seria boa ou ruim. Ela não sabia o que esperar desse acampamento. Não conseguia imaginar se era uma boa ideia ter deixado sua vida anterior para se aventurar nessa nova vida. Será que fora inteligente de sua parte?

Depois de ter organizado suas coisas no chalé onze, Inara caminhou até o refeitório quando algo chamou sua atenção na entrada do acampamento. O enorme pinheiro ainda estava lá, mas tinha algo mais. Inara forçou sua visão e conseguiu ver o que era. Várias garotas estavam em pé diante do pinheiro. É óbvio que Inara não conhecia nenhuma delas, mas se sentiu tentada a ir até lá.

Enquanto caminhava na direção oposta a refeitório Inara percebeu os outros campistas ficarem ainda mais agitados. Alguns praticamente corriam de um lado para o outro, outros cochichavam e se apressavam para sair de onde quer que estivessem... Eles pareciam assustados.

Inara estava chegando perto do pinheiro quando alguém esbarrou nela. O impacto foi tão forte que fez a garota cair no chão. Ela não sabia se estava mais aturdida com a queda ou com o fato de alguém ter sido tão estúpido a ponto de não ter desviado dela. A primeira coisa que Inara fez quando voltou a consciência foi olhar para os lados. Ninguém havia reparado nela, todos estavam concentrados nas garotas perto do pinheiro. Porém, alguém estava estendendo a mão na sua direção. Ela não aceitou a ajuda e levantou sozinha. Inara passou as mãos pela sua calça jeans tirando a sujeira, sem se importar com a pessoa que estava na sua frente.

— Me desculpe.

A voz que ela ouviu era masculina. Inara não estava a fim de conversar, principalmente depois de ter caído, então não deu muita atenção para a pessoa que estava na sua frente. Estava mais interessada em terminar de se limpar e ir até aquelas garotas que haviam acabado de chegar. Porém, para o seu azar a pessoa era insistente.

— Você se machucou?

É claro que ela não havia se machucado, era visível. Então, por que ele ainda insistia em puxar assunto? Inara levantou a cabeça e seus olhos se encontraram os dele. A primeira coisa que pensou foi ter visto os olhos de Beatriz. Eram tão parecidos! Mas, é óbvio, que não era nenhum parente de Beatriz. O garoto que estava na sua frente era alto — bem mais alto que Beatriz, aliás —, loiro e musculoso. Ele a encarava como se realmente pensasse que ela estava machucada, parecia estar analisando cada centímetro seu para ter certeza de que ela estava bem. Inara já estava se sentindo constrangida com o olhar do garoto.

Enquanto olhava dentro dos olhos dele, Inara percebeu que tinha duas opções: correr e rezar para nunca mais o encontrar de novo ou ficar parada e agir normalmente. A segunda opção parecia mais inteligente. Quando o garoto pareceu convencido de que ela estava bem, deu um sorriso e estendeu a mão.

— Sou Jason Grace.

— Inara Forbes.

Inara não apertou sua mão. Não estava a fim de fazer amizade com ele, só queria continuar seu caminho... Sim, ela deveria estar vendo o que estava acontecendo perto do pinheiro e não conversando com esse garoto. Inara limpou a garganta e tomou postura, pronta para dar um fim à “conversa” deles.

— Então, Jason, adoraria ficar aqui, conversando com você, mas tenho coisas bem mais importantes para fazer. Então, tchau.

Ela estava pronta para seguir caminho, dando o assunto por encerrado, mas o garoto era persistente. Jason segurou seu pulso antes que ela pudesse se afastar mais. Ele não disse nada, apenas ficou segurando seu pulso gentilmente como se o gesto fosse a coisa mais normal do mundo. Inara fechou os olhos, respirou fundo e virou-se de frente para ele novamente. O garoto já estava deixando-a sem paciência.

— O que você quer? — perguntou, cruzando os braços.

— Você está indo ver as Caçadoras?

Inara franziu o cenho. O que quer que ela estivesse indo ver não era nenhuma Caçadora. Foi então que a ficha caiu. Inara olhou para trás, na direção do pinheiro, e viu as garotas entrando. Eram várias garotas de idades diferentes, aparências diferentes e expressões diferentes. Elas usavam jaquetas camufladas na cor prata e todas carregavam arcos e flechas. Porém, a que mais chamou atenção de Inara foi uma garota que vinha a frente de todas. Ela era alta, forte, tinha cabelos curtos, tinha um diadema prata entrelaçado no alto de seus cabelos e olhos azuis. A garota não tinha nenhuma semelhança com Jason ou Beatriz, mas os olhos eram incrivelmente iguais. Inara olhou novamente para Jason. Ele ainda esperava uma resposta dela, agora sua sobrancelha estava erguida como se estivesse estranhando a expressão de surpresa de Inara.

— É, hum, acho que sim — respondeu. Tentando não soar tão idiota.

Jason abriu um sorriso. Inara não o conhecia, mas se conhecesse poderia jurar que ele acabou ter alguma ideia.

— Venha vou apresentar você à uma delas.

Jason segurou sua mão e a puxou na direção da garota de cabelos curtos. Inara queria soltar sua mão e dar um soco na cara de Jason. Ele não podia sair assim sem mais nem menos e ainda por cima puxando a garota. Então, Inara concluiu que Jason só podia ser louco. Não tinha outra explicação. Quando conseguiu soltar sua mão já estavam perto demais da garota e Inara não pôde fazer nada à não ser continuar caminhando e parecer uma pessoa, no mínimo, legal. Quando Jason parou na frente da garota e puxou Inara para o seu lado, ela pôde perceber o quanto a garota era ainda mais bonita de perto. Podia ser facilmente confundida com uma modelo. A garota abriu um sorriso assim que viu Jason. Os campistas estavam fazendo o possível para não ficarem no caminho delas, pareciam assustados demais para dar as boas vindas. Inara perguntou-se se a presença dessas garotas no acampamento seria um sinal ruim.

Inara estava tão concentrada em planejar o assassinato de Jason que não escutou nada do que eles conversavam. O que foi bom, claro. Porém, quando a garota abraçou Jason, Inara sentiu-se obrigada a sair de fininho e não atrapalhar esse momento. E se a garota fosse namorada dele? Afinal, o que Inara estava fazendo ali, com dois desconhecidos? Ela já estava caminhando para longe deles quando escutou Jason chamando seu nome. Ainda de costas, Inara abriu um sorriso, tentando soar normal e inteligente, e virou.

— E aí — falou.

— Oi — disse a garota. Ela desviou rapidamente os olhos de Inara e fitou Jason. — Amiga nova?

Amiga nova? Inara torceu o nariz diante dessa expressão. O que ela acha que Inara é? Uma amiga com benefícios de Jason? A vontade de socar Jason apenas aumentou em Inara. A garota cruzou os braços e sua expressão tornou-se de pura raiva.

— Não somos amigos — falou.

A Caçadora riu. Não, na verdade, ela gargalhou. Inara já estava sentindo seu punho se fechar. Mas, ao olhar os olhos dela, Beatriz veio à cabeça de Inara e, novamente, ela se perguntou por que, mesmo diferentes, os três eram tão parecidos.

— Sou Thalia Grace — disse a garota, parando de rir. — Sou irmã de Jason. É um prazer conhecê-la... — Thalia franziu o cenho. — Qual seu nome?

— Inara Forbes. O que são as Caçadoras?

Thalia olhou para Inara com a mesma expressão de Jason. Será que era algum tipo de crime não saber o que ou quem são as Caçadoras? Inara estava começando a achar que sim.

— Você é nova aqui, Inara? — perguntou Thalia.

— Cheguei hoje — respondeu.

— Imaginei — Thalia suspirou, olhou para as outras meninas que pareciam estar apenas esperando uma ordem dela para continuar andando e voltou seu olhar para Inara. — Gostaria muito de conversar com vocês e explicar as coisas, mas temos que falar com Quíron agora. Mas, se você quiser Inara, podemos conversar mais tarde. O que acha?

Antes que Inara pudesse responder algo, Jason a interrompeu.

— Vocês vão ficar aqui?

Thalia assentiu.

— Bem, nos vemos depois. Até mais, Inara — ela deu um abraço em Jason. — Vamos conversar mais tarde sobre o motivo de você também estar aqui, Jason.

Jason assentiu, seriamente. Thalia seguiu caminhando com as outras meninas atrás, Jason se voltou para Inara e sorriu.

— As Caçadoras são...

Alguém chamando o nome do garoto interrompeu Jason. Era um garoto pálido, de olhos negros e cabelos pretos. Ele ignorou Inara completamente, parecia que não fazia diferença ela estar ali ou não. O garoto desconhecido arrastou Jason para outro lugar sem, pelo menos, dizer um "oi" para Inara. Mas ela não ficou nem um pouco estressada ou surpresa com o garoto. A única coisa que a intrigou foram os olhos dele. Eram iguais aos dela. Não, na verdade, eram idênticos aos dela.

Enquanto Jason acenava para Inara, dando tchau, ela sentiu que sua cabeça iria explodir. O garoto estranho podia ser mal educado e magrelo, mas por um momento Inara se viu nele. Era como se os dois tivessem alguma conexão... Mas qual? Inara foi tirada de seus pensamentos quando sua barriga protestou pedindo comida. Ela estava com fome, com dor de cabeça e um pouco estressada. Era um ótimo jeito de continuar o dia. Se ela não colocasse nada no estomago nos próximos quinze minutos seria capaz de matar o primeiro que encontrasse.

Inara caminhou até o refeitório ignorando os campistas cochicharem a respeito da sua “conversa” com Jason e Thalia. O que Jason tinha de tão especial?, pensou a garota.