Infected by Our Hope escrita por Linda Mannacen


Capítulo 2
Tudo o que um Hunter toca, acaba apodrecendo.


Notas iniciais do capítulo

Um pouquinho mais de história...



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13/03/2032

Os passos marchavam em um trote lento e calmo, passando sobre o asfalto rachado e molhando as barras de suas calças ao pisarem em poças rasas de água. Enquanto o rapaz levava consigo uma espingarda e um canivete, a jovem preferia levar suas flechas e arco junto de um revolver simples.

Os cabelos castanhos da jovem estavam presos, mas volte e meia alguns fios insistiam em se soltar. Seus olhos também eram castanhos, quase pretos. Não era tão alta, tinha uma altura normal e força não se encaixava como seu ponto alto, mas era ágil.

Jane e Morgan haviam saído de casa há alguns minutos atrás, procurando por mantimentos no exterior de Lincoln em Nebraska. Eles iriam onde sempre foram pra procurar comida, o supermercado popular da cidade. Demoraria mais alguns minutos até chegarem lá, e Morgan não gostava do silêncio.

– E aí, o que vai ser hoje? Atum ou milho? – Perguntou, quase como uma piada.

– Qualquer coisa que não seja feijão, pra mim está ótimo... – Jane soltou um breve riso logo após responder.

– Ué, por que não?

– Toda vez que você come feijão a Toca fica empesteada com seus gazes, Morgan.

– Ah tá bom! Como se fossem só meus... – Morgan debochou em resposta.

“Toca” era o nome que ambos usavam para se referir ao apartamento onde se refugiavam. Era a casa deles e já fazia alguns anos que nenhum dos dois se aproximava de uma zona de quarentena, justamente por medo de os confundirem com infectados. Mesmo assim, seus piores inimigos não eram os militares e muito menos os Fireflies. Tanto Jane quanto Morgan sentiam um rancor inexplicável pelos Hunters, os quais haviam saqueado e destruído seu antigo refúgio.

Já estavam perto de chegar no lugar, Jane estava logo atrás de Morgan e o encarava pensativa. O rapaz tinha cabelos castanhos claros e uma pele bronzeada pelo sol, era alto e seu físico forte o ajudava em situações de aflição. Os olhos verdes ficavam ainda mais claros sob a luz do sol da manhã, apesar de Jane não vê-los naquele momento. O rapaz era cinco anos mais velho que Jane, beirando seus vinte e oito anos. Apesar de seu rosto com feições rígidas, ele ainda era uma criança.

– Que horas são? – Perguntou Jane.

– Manhã.

– Quê?

– Eu não sei que horas são, mas tá de manhã. – Disse Morgan.

– Você nem olhou pro relógio...

Morgan não respondeu e continuou em direção ao que lhes interessava. Já estava em suas frentes, e eles entrariam por uma das portas do fundo como sempre faziam.

– Primeiro as damas. – Jane já entrava na frente de Morgan para a abrir a porta, fazendo com que os dois entrassem no lugar, bem ao lado da sessão de frios. – Ah, como isso fede.

– O que você acha de nós fazermos uma carne de panela hoje? – Morgan caçoou, notando alguns queijos por ali. – Com queijo Gorgonzola.

– Que nojo, Morgan. – Jane não estava muito longe dos enlatados, tirou a mochila das costas e abriu pra colocar alguns dentro.

Foram um, dois, três pra dentro, contudo algo chamou sua atenção.

Eram Hunters, prestes a entrar ali também. Jane sabia que eram Hunters pela marca da caveira em seu caminhão estacionado, ela conseguia vê-los mas o reflexo do sol no vidro do supermercado impedia que eles a vissem por um tempo até que entrassem.

– Morgan, se esconde. – Disse simultaneamente enquanto se agachava atrás de uma prateleira. O rapaz fez o mesmo, sem entender.

– O quê foi?

– Alguns desgraçados inventaram de vir aqui. – Ela fechou a mochila e a pôs de volta nas costas, logo em seguida apanhou seu arco posicionando a flecha.

Morgan virou-se discretamente para vê-los antes de entrar.

– Três deles. – Avisou o rapaz. – Não sabem que estamos aqui?

Antes mesmo de Jane responder, conseguiram ouvir o vidro quebrar. A jovem só sinalizou um ‘não’ com a cabeça e espreitou. O trio ia para o mesmo lugar onde Jane e Morgan estavam, tiveram que sair daquela sessão abaixados o mais rápido que puderam e acabaram parando atrás de um balcão.

Um dos Hunters se distanciava dos outros dois que conversavam alto, sendo o único dentro do campo de visão de Jane. A mesma se ergueu um pouco e mirou no corpo do sujeito, largou a flecha, e acertou. Os outros pareciam não ter percebido o baixo grunhido de dor, e foi fácil pra prosseguir.

Morgan se aproximou ainda abaixado, seguindo pela voz dos homens. Jane fez o mesmo, por outro caminho, estando extremamente perto. A segunda flecha foi disparada atravessando a cabeça de um dos homens, não tinha como errar.

– Ei! – Gritou o último. Contundo, já era tarde pra tentar se defender. O canivete de Morgan perfurou sua jugular em uma fração de segundos.

Morgan arrancou a lâmina do pescoço do homem e o empurrou pra frente. Ele apenas olhou para Jane agachada no chão e sorriu como quem dizia “Bom trabalho”. Jane respondeu da mesma maneira e se levantou.

Tudo o que um Hunter toca, acaba apodrecendo. – Sussurrou Jane, enquanto observava o homem com a flecha atravessada na cabeça.

– Eu sabia que você ia falar isso. – Comentou Morgan, voltando aos enlatados. – Você sempre fala. Mas vamos pegar o feijão logo.

– Ah não... Feijão não...

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A dor nas costas de Jane aumentava a cada passo que era dado. Eram muitas latas dentro de sua mochila, talvez teriam que procurar outro lugar pra buscar comida depois de terem pego tantos enlatados.

– Eu não sei o que é pior... – Ela puxava as alças da mochila incomodada. – O peso dessa mochila ou ter que comer feijão pra sempre.

– Ah, qual é... Nós pegamos outras coisas também.

– Só tinha feijão. – Ela olhou entediada para Morgan.

– Eu tenho culpa que a maioria era de latas de feijão? – Morgan esperou ela responder, porém não aconteceu. O rapaz suspirou e tirou a mochila das costas dela, tendo consigo as duas mochilas agora.

– Deus é bom. – Exclamou Jane, aliviada.

– Eu sou bom.

– Você que pensa.

– Quer a mochila de volta?

–Tá legal, você é bom.

Jane se aproximou sorrateiramente e abraçou a cintura do amigo, soltando uma gargalhada alta que ecoava pela rua vazia onde passavam. Até que o soltou, pra poderem continuar.


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