Lola escrita por Cecília Rosa


Capítulo 6
Capítulo 6 - Jogando merda no ventilador




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"merda"

Era o único pensamento que corria pela cabeça de Lola enquanto ela saia da casa de Felipe, pensando em tudo que acabara de acontecer. Sentia as coisas se complicarem cada vez mais. Atravessou a Vieira Souto e deixou seus pés a guiarem pelo fluxo de gente que enchia as quentes ruas cariocas. Queria pensar, mas, o mormaço da tarde da cidade maravilhosa não ajudava.

Começou a repassar cada momento delicioso e confuso que havia passado há menos de meia hora, os toques quentes, reconfortantes e cheios de desejo que haviam enchido seu corpo. Lembrou-se da expressão no rosto do amigo, como seus olhos haviam incendiando toda a sua alma. Lembrou-se do antes, daquela tensão divertida que supostamente antecediam os beijos apaixonados nas telas de cinema ou nas páginas dos livros que ela tantas vezes ouvira Teca ler em voz alta em algum momento a sós com as amigas . Lembrou-se do depois, do cansaço de Felipe, das suas carícias incertas, quase como se não tivesse certeza se Lola permitiria que ele lhe tocasse o corpo. Entretanto, aquela não era uma paixão avassaladora cuidadosamente alimentada através dos anos por qualquer um dos dois, pelo menos, não pra ela. Felipe era simplesmente Felipe. Um menino genial, carinhoso, que tivera centenas de namoradas em toda a sua vida. Ao mesmo tempo era o garoto teimoso, irritante, e deliciosamente provocante que Lola não conseguia decidir se gostava ou não.

"merda"

Não existia mais qualquer possibilidade da menina conseguir estudar para o teste que estava por vir, mas, isso nem mais lhe importava. Como iria olhar para o amigo na segunda feira, sem relembrar de sua voz a chamando enquanto ela saia em disparada elevador abaixo deixando um garoto muito confuso sentado no sofá, como discutiria com ele nas aulas de história e filosofia sem sentir seus toques imprudentes passeando sobre suas coxas e sua língua em seu seio. Como assistiria a uma aula de Julio, com Felipe ao seu lado.

Seu corpo se contraiu e seu estômago embrulhou só de pensar nesse imagem. Só de sequer imaginar os primeiros três tempos de aula da próxima segunda feira.

Ela parou de andar no meio da rua, em estado de choque, para repassar mentalmente tudo havia acontecido. Lembrou-se da calcinha atirada no chão, e pensou com temor em como a esquecera no lugar em que caiara, a linda calcinha semi transparente, com estampa de flores tropicais e detalhes em renda vermelha, que até hoje ela considerara da sorte.

"que sorte"

Pensou em como ele a penetrara após as suas súplicas, em como fora bom...e ... em como eles não haviam usado camisinha. É, realmente Lola não tinha muita sorte com relações heterossexuais. Havia feito sexo ,com homens, apenas duas vezes: uma, há menos de uma hora com um de seus mais antigos amigos em um momento de enorme desespero; a primeira, muito bêbada e enlouquecida pelo doce ingerido na festa de formatura do irmão mais velho, há mais ou menos seis meses, pra ninguém menos, que Daniel Louison, um dos amigos mais próximos de seu irmão ,e, na época formando, Nico. Além da personificação em um bronzeado da mais pura perfeição.

Porém, diferentemente da primeira vez, não se desesperou ou mesmo ficou preocupada, deu meia a volta, andou alguns poucos passos até a entrada de uma farmácia.

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Minutos depois, após sair da farmácia, e ir para um ponto de ônibus, Lo se pegou pensando em como contaria para as amigas. Seria uma conversa complicada, a relação entre elas era muito aberta, sabiam todos os segredos uma da outra, quase como irmãs. Fora para elas que Lola pediria ajuda para lidar com sua primeira (e única) namorada. Foi para elas, que Teca assumiu primeiro seu "polirelacionamento" com Bi e Carlos. Foi com elas, que Rosa fumara seu primeiro cigarro e bebera sua primeira cerveja. Entretanto, dessa vez era diferente, não sabiam dos beijos com Julio na sala de aula, muito menos de sua primeira vez com Daniel - talvez, pela eterna paixonite das duas amigas nele - muito menos como ambos haviam saído e conversado durante todas as férias até a menina te-lo visto trocando carícias com Pris- a garota que fizera questão de tira de Lola sua ex-namorada - e então sumir do mapa, sem atender um único telefona ou mensagem que ele fazia. Nem mesmo, falar com ele quando se encontravam foi possível por um tempo, ela ,simplesmente, passara a fingir sua inexistência total.

Por algum tempo, Lola, pensou em contar e culpava a longa viagem de férias das amigas à Australia - da qual Lo, não quisera participar - como o motivo que levara Teca e Rosa a desconhecerem qualquer antecedente dela com deliciosamente desejável Daniel Louison. Mas, sabia muito bem, que isso não era verdade, que na verdade, bem no fundo, tinha vergonha de aceitar e mesmo admitir uma segunda "vitoria" de Priscila sobre ela, de quanto aquilo tudo ainda a machucava. A única pessoa a quem ela contara na época fora justamente....Felipe.

Foi cercada por esses pensamentos que ela sacou o celular, ligou-o ignorando as diversas notificações que brilhavam na tela, fazendo o celular vibrar, apertou o aplicativo do whatsapp , e, entrando no grupo que brilhava no topo (composto por ela e as duas outras amigas) e digitado :

preciso de vcs... urgente..... acabei de fazer uma coisa levemente insana e to meio nervosa e meio que não contei pra vcs coisas que aconteceram recentemente, rola de irem para minha casa??

Teca foi a primeira a responder:

o que aconteceuuuuu???

Seguida por Rosa:

xu, ta tudo bem? to preocupada..não vai a aula, não vem estudar ou responde as mensagens agora...isso.... por favor não nos deixe no escuro.

Lola se viu digitando meio que para alarmar as amigas, e alerta-las da seriedade de seu pedido:

acabei de dar pro lipe...preciso conversar. Podemos nos encontrar la em casa?

Em menos de um segundo uma blimp– alertando que uma mensagem de Teresa havia chegado brilhou em seu celular:

estamos indo. AGORA.


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