O Herdeiro do Titã escrita por Rodrigo Kira


Capítulo 6
Lucy Honesun


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, senhoras e senhores! Aqui está o capítulo 6 de "O Herdeiro do Titã". A partir daqui, a história começa de verdade! Espero que vocês apreciem a leitura! Nos vemos lá embaixo.



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Acordei na manhã seguinte e, depois do café da manhã com Percy e os outros, fui até a Casa Grande. Quíron estava me esperando e me acompanhou para dentro. Passamos por um cara de camiseta, bermuda e chinelos, com um monte de olhos, pelo corpo todo.

– Argos. – falou Quíron. – Ele é nosso chefe de segurança.

“Com certeza, ele deve ficar de olho em tudo” pensei. Argos acenou para mim, abrindo um olho na palma da mão. Meio impressionado, meio assustado, acenei de volta. Quíron me levou para a sala dele, onde havia uma caixa bem grande, em cima da mesa.

– Seus pais mandaram isso. – disse Quíron.

– Mandaram? E onde eles estão? – eu olhava ao redor, esperando encontrá-los em algum lugar.

– Não permiti que viessem. – respondeu Quíron. – Eles queriam muito poder encontrá-lo, David, mas mortais não podem entrar no Acampamento. Foi extremamente difícil explicar tudo a eles e ainda convencê-los a ficar em casa. Então eles pediram para que entregássemos isto a você. Disseram que talvez ajudasse a encontrar respostas sobre quem você é.

Eu olhava para a caixa em cima da mesa. Minha única ligação com meus pais adotivos. E agora, talvez minha única ligação com meu passado, também. Peguei a caixa e fui para a varanda da Casa Grande. Lá dentro só tinha uma carta e o que parecia um cestinho de dormir. Peguei a carta e reconheci a letra do meu pai.

David,

Eu e sua mãe realmente gostaríamos de vê-lo, mas parece que, por enquanto, isso não será possível.

Acredite quando digo que não sabíamos nada sobre “deuses gregos” ou qualquer outra coisa, mas gostaríamos de ajudá-lo a descobrir de onde você é e quem são seus pais biológicos. Foi bastante difícil convencer sua mãe, pois para nós dois, você é nosso filho e ela não queria que você fosse atrás do seu passado.

Infelizmente, a única pista que temos é esse cesto. O pessoal do orfanato nos entregou no dia em que adotamos você. Disseram que você dormia nele quando foi deixado no orfanato.

Vamos tentar procurar qualquer outra coisa sobre o seu passado, também. Acredito que os responsáveis nesse acampamento possam ajudá-lo também.

Boa sorte, David. Estaremos aqui, esperando por você.

Com amor,

Seus pais.

Eu devia estar chorando, porque meus olhos estavam ardendo.

Guardei a carta de volta na caixa e peguei o cesto de dormir. Não tinha mais do que uns sessenta centímetros de comprimento, uma alça e bases curvadas, para balançar o cesto. Fiquei olhando-o de todos os ângulos. Se aquilo era a única pista que eu tinha do meu passado, tinha que ter uma resposta em algum lugar. E tinha, debaixo da almofada. Uma placa de aço com os escritos “Σπίτι του Αιώνιος”. Minha mente automaticamente traduziu como “Casa dos Imortais”. O que era esse lugar? O nome me era um tanto familiar, mas não me lembrava de ter ido a qualquer lugar com aquele nome.

Quanto mais tentava me lembrar, menos respostas eu tinha. Minha cabeça começou a doer, como se tivesse alguém dentro do meu crânio, batendo com um martelo. Me forçei a manter a calma, até minha cabeça parar de gritar por clemência. “Ficar pensando nisso agora só vai piorar tudo”, pensei comigo mesmo. “Tem tempo de sobra pra descobrir sobre o passado, mas tente relaxar um pouco”.

Guardei tudo de volta na caixa e a levei de volta para o chalé 11.

*****

Eu ainda tentava lembrar do tal lugar chamado “Casa dos Imortais”, mas a minha cabeça sempre começava a doer quando estava lembrando de algo, como se fosse algum trauma esquisito.

Os dias passaram muito bem para mim, no Acampamento Meio-Sangue. Connor Stoll me ensinou a trapacear nos jogos de cartas (o que me custou alguns bolos das sobremesas); Travis me mostrou como pegar coisas “emprestadas sem premissão” sem que as pessoas notassem; Frank, que estava no Meio-Sangue por um tempo, me ajudava a praticar com arco e flecha; a única coisa que eu não estava captando direito foi como lutar (mesmo com os movimentos que Percy e Jason me ensinaram). Piper tentava me animar, dizendo que eu só não estava acostumado com batalhas, enquanto Annabeth insistia que eu só não tinha encontrado a arma mais adequada pra mim (mesmo depois de termos revirado o arsenal inteiro, o que – diga-se de passagem – não deixou os filhos de Hefesto muito satisfeitos).

– Você parece ter jeito com arco e flecha, mas se ficar só nisso pode se dar mal se o inimigo se aproximar ou se aguentar as flechadas. – ela dizia. – E pelo que eu vi, você não é muito bom com espadas... talvez adagas? São mais difíceis de usar, porque tem que estar mais próximo do oponente, mas conseguem atingir pontos mais específicos.

– Annabeth, calma. – disse Percy. – Eu também não tinha uma arma decente até Quíron me dar a Contracorrente. Talvez nenhuma das armas do arsenal sirva para o David.

– É, mas não podemos simplesmente pedir pro pessoal do chalé de Hefesto forjar uma arma específica para ele.

Tá brincando? – Percy estava claramente chocado. – Eles são filhos do deus ferreiro. Não sou expert, mas acho que forjar armas é parte essencial desse trabalho!

Annabeth o ignorou e apanhou uma adaga, encarando a superfície de bronze celestial (material do qual eram feitas as armas dos semideuses). Parecia considerar a ideia de eu lutar com adagas, como se quisesse garantir que eu era um plano a prova de falhas. Eu ia tentar argumentar, quando a vi.

Cabelos ruivos compridos e lisos, que iam até o meio das costas, uma mecha loura caindo sobre um dos olhos, de cor azul gelo. Pele rosada. Corpo magro e atlético, como se tivesse sido feita para correr. Tinha um arco nas mãos e uma aljava ao ombro. Era a garota mais linda que eu já tinha visto.

Alguma coisa ficou passando na frente dos meus olhos. Era a mão de Annabeth, que me tirou do meu devaneio.

– Ei! David? Tem alguém aí?

– Hã? Desculpa, disse alguma coisa?

– Ia te mostrar essa adaga, quando você ficou olhando para o nada.

Percy olhou na mesma direção que eu. Ele sacou rapidinho o que estava na minha cabeça.

– Acho que David estava olhando pra ela – disse Percy, apontando sutilmente para a arqueira ruiva. Annabeth olhou para a mesma direção.

– Ela? Aquela é Lucy Honesun, uma filha de Apolo. – ela comentou. – Chegou aqui no fim do ano passado.

Eu continuava olhando, enquando ela se afastava para algum lugar. Lucy Honesun...

– Espera aí! Tempo! – exclamou Percy, fazendo um T com as mãos. – Você tá, tipo... afim dela? David, seu garanhão! Chegou aqui há pouco mais de uma semana e já está de olho em uma garota?

– N-não é nada disso! – eu exclamei. Agradeci, em pensamento, pela minha pele bronzeada. Sem dúvida eu devia estar ficando vermelho como um tomate. Claro que meu comentário não convenceu Percy.

– Sei. E eu não tenho um meio-irmão ciclope. – ele disse. Eu tinha conhecido Tyson há alguns dias, e seu aperto de mão quase me deixara sem mão. – Então, trate de ir logo falar com ela.

– Cê tá brincando?! – eu estava chocado. Percy esperava mesmo que eu fosse corajoso (ou louco) o bastante pra ir falar com aquela garota assim, na cara dura?!

Do nada, Percy simplesmente me empurrou na direção de Lucy. O desequilíbrio me fez cair de cara no chão. Ótima entrada. Pelo menos, eu havia chamado a atenção dela.

– Nossa! Você está bem? – ela disse, me ajudando a levantar. Até a voz dela era suave.

– A-acho que sim. – eu olhei para o rosto dela. Havia uma pequena pinta escura, embaixo do olho esquerdo. – Eu sou...

– David Matt Willer. – ela completou. – Lembro de você, quando Quíron o apresentou na fogueira. Sou Lucy Honesun, filha de Apolo.

– Muito prazer. – consegui dizer.

– O prazer é todo meu. Vi você praticando arco e flecha no outro dia. Até que você manda bem.

– Ah, valeu... mas eu ainda sou um... principiante?

– Talvez. Se quiser, podemos treinar juntos qualquer dia, e eu te dou algumas dicas.

– Mesmo?! – eu exclamei empolgado. tentei corrigir a fala, com um pouco menos de entusiasmo. – Digo, seria muito bom.

Lucy riu da minha tentativa frustrada de disfarce. Nem preciso dizer que aquela risada tinha um som maravilhoso para mim.

– Bom, eu tenho que ir. – ela disse. – A gente se vê, David!

Lucy seguiu a passos rápidos, para outra parte do Acampamento. Eu ainda estava acenando como um perfeito idiota, quando Percy me “acordou”.

– Isso aí! Mandou bem, meu amigo! – ele disse.

– Do que está falando? – eu falei. – Conversamos por menos de três minutos.

– É, mas você a fez rir e ela lembrou do seu nome. – disse Percy. – Isso já é um ótimo começo.

*****

– E aí? Qual foi a boa de hoje? – perguntou Jason no jantar, depois de termos feito nossas oferendas.

– Nada demais. – eu disse. – Annabeth está enlouquecendo os garotos de Hefesto, para que façam uma “arma decente” para mim. Terrivelmente constrangedor. Parecia até o meu pai reclamando com os diretores das escolas das quais eu era expulso.

– Você deu azar. – disse Jason, irônico e dando de ombros. – Ela foi com a sua cara.

Percy aproveitou a brecha.

– Se bem que tem uma outra pessoa que David quer que vá com a cara dele.

Nico e Jason olharam para ele, curiosos (até Nico! Isso só podia significar uma coisa: eu estava ferrado). Eu arregalei os olhos para Percy. “Você não vai fazer isso! Pelos deuses, me digam que ele não vai fazer isso!”, gritei em minha mente.

– Fale de uma vez, cara! – Jason já estava se remoendo de curiosidade.

Percy segurou uma pausa dramática por mais alguns segundos.

– David está afim de Lucy Honesun, do chalé de Apolo.

Pronto, eu já era! Se tivesse um deus das “humilhações públicas”, ele estaria dizendo “Vergonha, teu nome é David”. Jason e Nico olharam de Percy para mim, incessantemente, como se estivéssemos jogando uma partida acelerada de tênis de mesa.

– É sério? – disse Jason, olhando para mim.

– Eu só achei ela bonita...

– Tanto que ficou olhando pra ela sem parar. – disse Percy.

– Cale a boca, Jackson! – eu disse.

– Tudo bem, não precisa me agradecer por te ajudar a conseguir a sua chace com ela.

Jason olhou novamente para Percy.

– Como é?

– Lucy chamou David para praticarem arco e flecha juntos.

Jason me encarou como se eu tivesse feito uma enorme besteira, como se tivesse deixado passar uma enorme brecha na guarda de um oponente.

– Espera aí! Você já tem um encontro com ela!

– Calma! – eu disse. – Não é bem isso!

– Cara, é exatamente isso. – disse Nico. O filho de Hades se interessando por um encontro? Quer dizer, por um treino entre um garoto e uma garota! A coisa era séria. – E sendo assim, só tem uma coisa a se fazer.

Eu estava com um pressentimento muito ruim, mas perguntei.

– Que seria?

– Você vai treinar com ela amanhã. – respondeu Percy. É, meu pressentimento estava certo.


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Notas finais do capítulo

E isso aí, galera! É, esse capítulo ficou longo, mas eu precisava colocar tudo isso para que a história pudesse caminhar. Então, o que vocês acharam? Será que David vai se tornar oficialmente um cara fora do mercado? E quais são os segredos do seu passado, que nem ele mesmo sabe?
Vocês vão descobrir logo, pois assim que eu terminar de escrever o capítulo 12, eu posto o 7 para vocês!