O Herdeiro do Titã escrita por Rodrigo Kira


Capítulo 2
Sou atacado por um valentão gordo


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal? Todo mundo bem? Espero que sim.
Bem, aqui vai o segundo capítulo da história. A ação ainda não é muita, porque vou inserir David na história toda bem direitinho.
Só pra deixar um pouco mais interessante, tem algumas "referências".
Aproveitem e nos vemos lá embaixo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569463/chapter/2

Graças a Deus não tive que ficar encarando aquele garoto parrudo por muito tempo, porque o primeiro professor entrou e logo começou a falar. Apesar disso, ainda sentia ele me olhando como se eu fosse um pedaço de carne e ele fosse um carnívoro selvagem que não comia há pelo menos uma semana (o que, se considerar aquela barriga enorme, era logicamente impossível), mas tentei me focar na fala do professor. Aquela mesma lenga-lenga de sempre, que tem em qualquer primeiro dia de aula. Professores se apresentando, que matéria vão ensinar pra gente, ou pelo menos tentar, como seremos avaliados, votos de boa sorte e blá-blá-blá. Depois de três horários de enrolação, liberam a classe para o intervalo. Peguei meu lanche e sai da sala, massageando a cabeça que começava a doer.

– Ei, cara, está passando mal? – perguntou Ress, que me seguiu porta à fora.

– Só um pouco de dor de cabeça. Dislexia, sabe? Os professores ficaram escrevendo um monte de coisa e eu meio que forçei pra acompanhar. Deu que acabei forçando um pouco demais.

– Não sabia que você era disléxico. – Ress comentou.

– Só um pouco. – eu disse. – Se tento ler alguma coisa, as letras meio que flutuam pra fora da página e eu não entendo nada. E some isso a uma dose de TDAH. Ficar parado por muito tempo me deixa doido, até eu começar a mexer o pé ou brincar com uma caneta na mão.

Nos sentamos em um banco no pátio pra comer. Eu tinha um sanduíche de presunto, alface, tomate e queijo. Ress, barrinhas de cereal e uma maçã. Comemos tranquilamente, falando sobre qualquer coisa, até que eu vi, pelo canto do olho, aquele garoto gordo vindo pelo corredor, na nossa direção. Uma parte da barriga aparecia por baixo da camisa de “Estou com um idiota”, balançando a cada passo que ele dava, conseguindo ser ainda mais descoordenado do que Ress. Parecia que a cada passo, o centro de gravidade do corpo dele ia pro outro lado. Sorte que eu já tinha terminado o meu sanduíche, porque aquela cena tiraria o apetite até de um campeão de comer cachorro-quente.

– Ress, é melhor irmos pra outro lugar. – eu avisei. – O nosso colega ali não parece que vai ser uma das melhores companhias.

Ress acompanhou meu olhar e viu o garoto se aproximando.

– Tem razão. Vamos.

Saímos andando pelo pátio e seguimos por diferentes partes do colégio. A cada minuto eu olhava para os lados, fingindo notar algo nas paredes, e via com o canto do olho se ele ainda nos seguia. E ainda estava. O que ele queria da gente afinal? Comecei a ficar tenso, mas afastei a preocupação da cabeça e segui andando com Ress, até que chegamos a uma quadra poliesportiva, vazia.

Xinguei, em pensamento. Quando se está sendo seguido assim, a pior coisa a fazer é ir para um lugar vazio! Quando tentei dar meia-volta, o garoto já estava entrando na quadra e fechando a porta atrás de si.

– Até que enfim! – ele disse com uma voz estranha, como se tivesse comido uma asa de galinha e o osso tivesse ficado preso na garganta. – Achei que iam ficar andando pra sempre, mas agora eu posso aproveitar!

– Do que está falando? O que quer com a gente? – perguntei, mais corajoso do que realmente me sentia. Ress não parecia tão hesitante.

– É melhor você dar o fora daqui, antes que eu chute esse seu traseiro enorme! – ele disse. “Chutar como?!” eu pensei. “Você mal consegue subir escadas!”.

– Fica na sua, sátiro! Eu quero é o moleque! – Eu? Tinha até medo de perguntar o que ele queria. Ainda mais comigo! E do que ele chamou o Ress? Sátiro?

Eu olhava incessantemente de um para o outro, esperando que um deles desistisse ou mandasse um Hadouken no outro. De repente, as coisas aconteceram tão rápido que eu quase não consegui acompanhar. Primeiro, Ress tirou um canivete do bolso do casaco e, quando eu ia dizer “Ei! Você é um delinquente?!”, meu pensamento mudou pra “Eu já vi a barriga daquele cara dançar como gelatina! Não preciso ver você de cueca!”, quando ele começou a cortar as calças fora. Olhei pro valentão gordo, pra ver se ele estava tão chocado quanto eu por Ress começar a rasgar as próprias calças. Teria sido melhor não ter olhado. Onde antes tinha um garoto gordo e mal-encarado agora tinha um monstro gordo e mal-encarado, com pedaços do que há dois segundos fora uma camisa de “Estou com um idiota”. Era feio de doer na alma, com dois metros de altura, uma pele amarelada, cheia de cracas como as de um navio, braços enormes e peludos. Pela falta de dois olhos, ele tinha oito, grandes e pretos. Não tinha mais nariz e nem orelhas, e fedia como alguém que passou muito tempo em uma piscina de enxofre. E os dentes... se é que dava pra chamar aquelas coisas de dentes... pelas tons verdes e amarelados, me lembravam enormes cacos de vidro e pedaços de madeira, que ele quis enfiar nas gengivas.

Apavorado, olhei de volta para Ress. Vê-lo sem calças seria melhor do que olhar aquela coisa.... até eu notar que ele tinha pernas peludas e cascos ao invés de pés. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele disparou em uma corrida frenética contra o monstro e deu um chute estilo Bruce Lee com os cascos bem no meio da testa, fazendo a criatura tombar de costas.

Ress se voltou pra mim.

– Rápido, dá o fora daqui!!

Eu ainda estava processando a frase dele no meu cerébro, quando o monstro se levantou.

– Ress!! Cuidado!

Mas não fui rápido o bastante. O monstro acertou Ress com as costas da mão, jogando-o do outro lado da quadra. Depois, ele veio correndo pra cima de mim. Tentei correr, mas parecia que minhas pernas tinham se tornado uma gelatina ainda mais mole do que a barriga daquela coisa. Ele me acertou com um soco e me derrubou como se eu fosse um saco de farinha (o que, pela dor que eu sentia nos ossos, podia ser completamente possível).

E lá estava eu, no chão, com um monstrengo pronto pra me matar. Eu queria dizer algo em desafio, mostrar que não estava com medo, mas a única coisa que saiu da minha boca foi:

– Cara... você precisa mesmo de uma plástica.

Tá, não era a melhor hora pra uma provocação, mas ele deve ter se ofendido (ou não entendeu mesmo), porque deu um rugido tão alto que achei que minha cabeça fosse explodir.

E foi aqui que vocês me encontraram. Pensei o que escreveriam no meu túmulo (se sobrasse algo de mim pra enterrar): “Morto por um valentão gordo, amarelo com problemas dentários. Amado filho. Nunca saiu com uma garota”. É, acho que eu não teria um bom epitáfio.

De repente, Ress saltou para as costas do monstro amarelo e acertou alguns dos seus olhos, com os punhos cerrados, fazendo-o urrar de dor e cobri-los com as mãos. Com outro salto, Ress desceu para perto de mim e me ajudou a levantar.

– Rápido! Temos que correr até chegarem nossos reforços! – ele exclamou, me puxando para outra porta, que dava para fora da escola.

– Hein?! Que reforços? E o que era aquela coisa? E o que é você?! – de novo, não consegui dizer nada muito maneiro. Claro que Ress não me respondeu direito.

– Corra agora! Pergunte depois!

Não era como se eu tivesse muita escolha, então continuamos correndo pelas ruas do subúrbio. Vez ou outra passamos por algumas pessoas, mas ninguém pareceu notar que Ress estava sem calças, nem o excesso de pelos em suas pernas, muito menos os cascos.

Viramos em um beco velho, e tentamos recuperar o fôlego.

– Acho que despistamos. – disse Ress.

– O.K., já corremos – eu digo, ainda sem ar. – , então me diga o que está acontecendo!

Ress me olhou como se eu tivesse falado em uma língua incompreensível.

– Você não sabe? Mesmo?

– Não sei o quê?

Antes que Ress pudesse me explicar qualquer coisa, o garoto-monstro-amarelo havia nos encontrado, sabe-se lá como.

“Certo, agora acabou.”, pensei ligeiramente conformado. “Estamos mortos”.

Até que, do nada várias flechas atingiram o monstro nas costas e ele explodiu em uma nuvem de pó amarelo.

– Desculpe pela demora, Ress. – disse um garoto alto e forte, de camiseta roxa e um arco nas mãos. – Foi meio difícil encontrar vocês.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E por hoje é isso gente. Gostaram?
Comentem o que acharam! Logo eu mando outro capítulo!