Já era início de noite quando Melanie chegou em casa.

A mãe estava no sofá com uma taça de vinho em mãos e sorriu ao ver a filha.

– Olá, querida - Melanie se aproximou beijando a bochecha da mãe e recolhendo a garrafa de vinho.

– Oi, mãe. Chega, não? Já foi metade da garrafa - ela levou a garrafa até a cozinha a colocando na geladeira.

– Onde você estava? - Ana perguntou se levantando do sofá. Embora parecesse cansada, estava bonita e bem arrumada, como sempre.

– Eu e Bruno fomos ao shopping, comprei um presente pro Arth, e depois decidi passar o dia na casa de Rebeca - Melanie sorriu se apoiando na pia enquanto olhava para a mãe.

Ana segurava a taça, cheia até a metade ainda, fazendo o vinho circular num pequeno redemoinho com um simples movimento suave do pulso.

– Queria, você e Bruno, vocês são realmente só amigos?

Melanie deu um riso suave desviando o olhar.

– Não, mãe. Somos muito mais que só amigos. Ele é o meu melhor amigo.

Ana riu e Melanie lhe deu outro beijo na bochecha e se dirigiu para o andar de cima.

Ela passou pelo quarto de Arthur mas ele não estava lá, então decidiu deixar a caixinha com a miniatura no criado mudo, perto da cabeceira da cama.

Melanie analisou o quarto bagunçado e descuidado do irmão e não pode deixar de sorrir. Arthur era, em si, bagunçado e descuidado. Com absolutamente tudo Talvez fosse verdade quando sua tia dizia que "um quarto define seu dono", mas ela dizia o mesmo para animais de estimação.

Melanie tomou um banho quente, em seguida indo para o quarto e leu um de seus livros favoritos até que pegasse no sono.

* * *

Já era tarde da madrugada quando Arthur Martin passou pela porta de casa.

Não se preocupou em ver se a mãe e o padrasto dormiam, ou se quer se qualquer um deles estava em casa, Arthur somente se encaminhou para o quarto de Melanie.

A garota dormia tranquilamente, sem cobertores ou travesseiros. O livro estava caído ao pé da cama mas, Arthur em seu estado psicodélico se quer se importou ou viu. Ele só via a meia irmã.

O rapaz se aproximou dela beijando-lhe a bochecha e o pescoço, isso a fez despertar suavemente mas, ao ver Arthur o empurrou e se afastou.

– Arthur?! - ela já estava de pé e ele sorria enquanto a olhava. Melanie sabia o que havia em seu olhar.

Desejo.

– Arthur, sai do meu quarto! - ela se afastou até que a parede não deixasse que ela fosse mais para trás. O rapaz apenas riu.

Melanie olhou atrás dele, percebendo a porta fechada. Teria ele trancado?

– Melanie... - ele andou até ela, que se espremia contra a parede enquanto ele dava passos firmes.

Não havia mais passos a serem dados, nem lugar para fugir. Apenas o pânico invadindo Melanie e as drogas tomando conta das ações de Arthur.

Os lábios de Arthur encostaram seu pescoço novamente a fazendo ranger os dentes e empurrá-lo mas Arthur apenas continuou. Beijou-lhe o queixo e selou os lábios nos dela, levando mais um empurrão.

– Melanie, não me empurre... - ele voltou a descer os beijos, essa vez, as mãos prenderam as de Melanie na parede - Não vou te machucar... Prometo...

* * *

– Onde está sua irmã, Arthur? - Ana preparava a mesa para o café da manhã antes de eles saírem para ir à igreja.

Arthur já estava em seu terno e ela usava um roxo. Roberto terminava de colocar a gravata enquanto via o noticiário.

Melanie descia as escada no exato momento que a mãe fazia a pergunta.

– Aqui, mãe... - os saltos tocavam o piso sem muito barulho e o vestido azul se movimentava como se fosse um lago cheio de ondas enquando Melanie andava pela cozinha.

– Vocês dois estão tão lindos! Roberto, pegue a câmera para mim?

O marido sorriu indo até o quarto do casal pegar o objeto.

Melanie só pode olhar para o chão enquanto a mãe os organizava para um retrato de família.

– Vamos, Melanie! Sorria para a foto! Chegue mais perto de Arthur. Não vai ser uma irmã boazinha? - Melanie obedeceu relutante enquanto a câmera captava a imagem dos dois.