Casa de Boneca escrita por Angie


Capítulo 1
The Doll House




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O despertador tocou as 06h30min como todos os dias fazia, mas Melanie só se levantou as 06h50min com os gritos histéricos da mãe alertando-a que estava atrasada.
Se levantou entrando no uniforme e jogando água fria no rosto. Uma leve garoa caia do lado de fora então enfiou um gorro verde na cabeça e as botas de cano curto nos pés.
Se olhou no espelho uma última vez. Tinha os cabelos negros e espessos da mãe e os olhos azuis do pai. A pele alva lhe dava a impressão de que nunca vira a luz solar na vida.
Melanie pegou os materiais sobre a escrivaninha os organizou dentro da mochila rosa, fechando-a com o zíper cuja tinha como puxador um pequeno coração.
Jogou a mochila nas costas depois de ter arrumado a cama e desceu as escadas do pequeno sobrado indo para a cozinha.
– Bom dia, mãe - disse pegando uma maçã na fruteira e a enfiando na mochila também.
Arthur, seu meio irmão, fruto do antigo relacionamento de sua mãe - que havia acabado depois do descobrimento de uma traição onde o pai de Arthur fugira com outra mulher -, estava sentado à mesa. Tinha os mesmos fios negros, mas os olhos eram castanhos, quase negros.
Ele tomava café da manhã enquanto mexia no celular.
Pão com manteiga, café com leite. Era o mesmo de sempre e Melanie já estava enjoada daquilo.
– Vou esperar lá fora - avisou já se encaminhando para a porta.
– Não vai tomar café, querida? - a mãe perguntou disposta a arrumá-lo para a filha.
– A fresca quer caviar no café - Arthur disse desviando os olhos do celular - Bom dia pra você também, Melanie.
Melanie olhou o irmão irritada. Se pudesse já teria acertado o nariz dele há muito tempo. Só não o fez por saber que ele era mais forte e, ou desviaria, ou revidaria, então nunca tentou.
– Eu vou esperar a perua lá fora! - disse um pouco mais alto e saiu fechando a porta atrás de si.
O condomínio estava vazio e a grama molhada. Melanie olhou para o sobrado da frente. Todos tinham o mesmo jeito uniforme. Pintura verde clara apagada, detalhes em branco e janelas de madeira - também pintadas em branco. Era monótono e acolhedor.
Deu a volta pelo gramado do quintal chegando até a janela de Bruno. Pegou alguns cascalhos jogados pelo chão e tacou alguns na janela.
Alguns foram jogados para o alto quando sentiu as mãos fortes do menino apertarem sua cintura a assustando.
– Droga, Bruno! - ela riu e se virando e olhando o garoto. Cabelos castanhos, pele bronzeada, olhos negros e um físico de dar inveja.
– Quantas vezes já disse para parar de tacar pedrinhas na minha janela? Acha que virei a Rapunzel? - ele disse ajeitando a mochila nas costas - Droga, Melanie! Está chovendo! Pra que diabos você quer me tirar de casa?
Melanie soltou um pequeno riso. As pessoas se importavam tanto em não tomar chuva e ela simplesmente adorava a sensação das gotículas caídas do céu batendo em seu corpo.
– Não, não acho que você seja a Rapunzel. Você é a minha Julieta Capuleto. Falando em Romeu e Julieta, os boatos são reais? - ela perguntou. Há mais ou menos dois dias surgiu o boato de que Bruno e Rebeca estavam ficando. Mas não simplesmente ficando de dar alguns amassos mas realmente ficando.
– Não. E sim - ele entrou debaixo do pequeno telhado na porta de entrada - Ela é bonita. Mas nada além de alguns beijos. Ela é extremamente superficial e mesquinha.
Melanie arqueou uma das sobrancelhas. O problema é que Bruno também era superficial e muitas vezes um pouco mesquinho mas não queria jogar isso na cara dele agora. Até porque Bruno era muita areia para o caminhãozinho de Rebeca.
– Tá a fim de cabular as duas últimas aulas e ir pro ateliê comigo? - ela perguntou. Na maioria das vezes ele gostava da acompanhá-la e vê-la trabalhar mas hoje estava atarefado demais para isso.
– Não posso - disse - Minhas duas últimas aulas são da matemática e minhas notas estão um fiasco. Sem contar que hoje eu tenho curso.
Melanie concordou com a cabeça olhando a chuva engrossar.
– Tudo bem - respondeu por fim.
Os dois ficaram em silêncio apenas olhando a chuva, olhando ela bater na grama e encharcá-la. Melanie olhou a hora no celular. A perua escolar estava atrasada.
– Você vai andando? - perguntou para Bruno que fez uma careta.
– É o jeito. Meus pais não pagam perua igual os seus.
– Eu preferia que não fizessem isso. Caramba, a escola fica a cinco quadras daqui! - ela protestou erguendo os braços.
Bruno riu oferecendo o braço a ela.
– Me concede esta caminhada de cinco quadras, senhorita? - Melanie riu aceitando o braço do garoto.
– Oh, mas é claro! Um rapaz tão refinado como você! - eles riram e se puseram a caminho do colégio enquanto Melanie via o meio irmão sair praguejando pela porta reclamando para a mãe.
“Melanie está indo com aquele garoto da casa da frente e está chovendo! Isso lá é dia pra maldita perua quebrar?!”
Melanie só pode rir do meio irmão.

* * *

Três aulas já tinham se passado até chegar o intervalo. O estômago de Melanie clamava por um desjejum. Pegou a maçã na bolsa e a comeu no corredor mesmo.
Bruno já estava no pátio esperando quando ela chegou. Sorriu e a olhou de cima a baixo.
– Você só vai comer isso? - ele perguntou olhando a maçã na mão dela já quase terminada.
– É, ué - ela franziu o cenho.
Rebeca estava vindo em direção a Bruno dando pequenos saltos ao invés de passos. Melanie arqueou as sobrancelhas incrédula. A garota não passava de uma vadia que transava com qualquer garoto que a elogiasse e ainda sim fingia ser uma criancinha inocente.
Ela abraçou Bruno pelas costas e com sua voz fanha e aguda disse:
– Bruu! Já tava com saudade! - ela beijou a bochecha dela fazendo barulhinho de sucção - Ah... Oi Melanie.
– E aí? - Melanie se limitou a responder.
Rebeca era uma falsa ruiva com peitos enormes e unhas cumpridas que, na maioria das vezes, estavam pintadas de rosa. Ela se pendurava em Bruno pedinte por um beijo, mas o garoto não lhe respondia os anseios. Era claro em seu rosto o desconforto.
– Podemos conversar depois, Becca? Preciso falar a sós com a Melanie - a menina deu um sorriso torto enciumada.
– Claro, amor! - disso depositando um selo nos lábios dele e se indo.
Melanie e Bruno ficaram se encarando por um tempo curto mas que para os dois parecia eterno. Ela arqueou as sobrancelhas esperando.
– Para com isso! De todas as suas manias essa de erguer as sobrancelhas quando está irritadinha é a que mais odeio - Melanie riu e ele continuou - Bora na cantina. Vou comprar algo descente para você comer - ele saiu a arrastando pelo pulso o que a fez revirar os olhos e bufar.
– Bruno... - mas ele não a deixou terminar o que quer que fosse. Começou a tagarelar sobre o quanto ela estava magra e por que nunca mais levara dinheiro para comprar lanche. Melanie apenas ouviu enquanto ele fazia todo o trabalho de comprar um lanche natural na cantina para ela.
– Por que você sempre faz isso, Bruno? - perguntou olhando o lanche. Não tinha fome mas se esforçaria para comer aquilo mesmo que mais tarde enquanto trabalhava no ateliê.
– Porque eu me importo com você - ele deu um beijo na testa dela - Até que horas você vai ficar no ateliê?
– O máximo de tempo possível - respondeu com um meio sorriso.
– Tudo bem. Quem sabe eu passe por lá. Agora deixa eu ver o que a Rebeca quer.
Ela soltou um riso fraco e viu o amigo se afastar.


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