— Como eu vim me meter nisso...

Olhando para a entrada da enorme mansão dos Blanks , ele repassava em sua cabeça a conversa que teve por telefone com sua mãe, que simplesmente lhe disse que ele teria que ir para a casa de Rebeca marcar a data do casamento, e mesmo quando ele tentou usar o trabalho como desculpa, sua adorável mãezinha já havia resolvido tudo, e poderia ficar de folga o tempo que fosse necessário.

— Quem é o Coronel afinal de contas?!

— Bebê, você me assusta quando fica falando sozinho, desse jeito. - Disse Rebeca.

— Desculpe.

— Tudo bem, só não fique fazendo isso na frente dos outros. - Ele acenou com a cabeça e voltou a olhar pela janela da limusine.

— Droga! Isso só dá certo em animes!

— Roy?

— Ah, é, esqueci.

...
...
...

— Mãe, porque eu tive que vir? - Ela suplicava pela décima vez, olhando nos olhos castanho-avermelhados exatamente como os seus.

— Não aja como uma criancinha, Riza. É um tempo para você passar com a família, esse é um momento especial para a sua prima, você sabe disso, do jeito que estava demorando para aquele rapaz marcar a data, até parecia que ele estava ganhando tempo para fugir. - Disse sua mãe, Avery Hawkeye.

— Você já me disse isso mil vezes, e ainda não vejo motivo para estar aqui, não basta eu ir ao casamento, como todos os outros?!

— Mas enquanto você está aqui, vai ter tempo indeterminado de folga, é claro! E ainda por cima com esse seu namorado gatão, hohohoho! Me pergunto como fui ter uma filha tão careta, se toca. - Assim se virou, e foi embora com seu caminhar gracioso.

— E não fique falando gírias por aí! Ai, ai... Obviamente não foi dela que herdei minha responsabilidade... - Ela sentiu uma risada fraca em seu ouvido, enquanto braços a envolviam pelas costas.

— Ela é uma figura. - Disse Ricardo.

— Realmente, não é toda mãe que se aproveita desse tipo de coisa só para a filha ter folga. Imagino a zorra que vai ficar na sala do Coronel enquanto ninguém responsável estiver por lá.

— Relaxa um pouco, Riza. Não é todo dia que temos tanto tempo juntos.

— E como foi que você fugiu do trabalho?

— Eu tenho meus meios. - Então ele a puxou para um beijo, até serem interrompidos por uma barulheira na porta da frente.

— PAPAI!!!!!! MANHÊ!!!!

— Senhor Blanks - Apertou sua mão – Senhora Blanks - Deu-lhe um beijo - Continua tão bonita como sempre.

— Roy, querido, continua doce como sempre. - Disse Jade Blanks, mãe de Rebeca.

— Da última vez que esteve aqui, eu tive que ouvir sobre a sua doçura por dias. Espero que minha menina não esteja dando muito trabalho. - Esse era Steve Blanks.

— Papai, não vamos dar tanta atenção há esses detalhes. Ao invés disso, me diga, a titia e o titio vieram, né?

— Não são eles vindo ali? - Rebeca saiu correndo para agarrar o casal Hawkeye que vinha em direção ao grupo.

Roy se lembrou da primeira vez que esteve nesse lugar, no dia em que foi apresentado a Rebeca. Parecia que estava lidando com uma criança de cinco anos, mas apesar de tudo se acostumou com o jeito espalhafatoso dela. Mas foi só dar uma olhada aos dois que se aproximavam, que perdeu a linha do pensamento.
Uma mulher que já devia ter lá sua idade, mas ainda possuía uma beleza amadurecida, com seu andar calmo e expressões simpáticas, mas não foi isso que lhe chamou a atenção, e sim os seus olhos, com a mesma cor exótica dos de Riza, e o homem ao seu lado, alto e cheio de confiança, devia ser um pouco mais velho que a mulher, e apesar dos fios grisalhos, possuía o mesmo tom loiro que a tenente. Os dois abraçaram a sobrinha com carinho.

— Hey, Roy! Esses são os meus tios, Alexander e Avery.

— É um prazer.

— Nos conhecemos um dia desses, mas você não deve se lembrar... - Ele alcançou a sua mão e a beijou.

— Eu não me esqueceria - Não, ele não lembrava.

— Beca, querida, Riza, aquela ranzinza está lá dentro.

Sem nem esperar a tia terminar a frase, saiu mais uma vez correndo, com um Roy relutante atrás. Mas ao invés de encontrá-la pendurada no pescoço da prima, ela estava pendurada em um homem.

— Ei! Quando ele ficou na minha frente na lista dos preferidos? - Perguntou Riza indignada.

— Ainda não superei o bolo que vocês deram na gente naquele dia.

— Então porque você está marcando a data com ele? O carro era dele afinal de contas.

— Ele já fez coisas para se desculpar, Rizie - E lhe deu uma de suas piscadas "super" discretas - E você, o que vai fazer para ganhar meu perdão?

— Um minuto. - Interrompeu Roy - Hawkeye, se você está aqui e eu também, isso quer dizer que...

...Enquanto isso, na sala do Coronel...

— Entrem! Festa na sala do Mustang! Bebidas por conta dele! - Gritava Havoc da porta.

— Não precisam se preocupar, a Primeira-Tenente não está aqui! - Acrescentou Breda.

...

Algumas horas mais tarde, depois de um longo dia andando com Rebeca por todas as lojas, como forma de se desculpar, passava da meia noite,e todos na mansão já estavam dormindo. Bom, quase todos. Riza e Ricardo estavam em um momento quente no quarto da moça, apesar das regras na casa de "meninas separadas dos meninos".

A loira já estava quase sem roupa, enquanto arrancava a camisa de seu namorado e jogava longe. Isso até serem interrompidos. Mais uma vez. Várias batidas na porta, e Riza suspeitava que os ouvidos afiados de seu pai tivessem escutado barulhos perigosos demais para continuar com um sono tranquilo.

— Se você não atender a porta nunca mais vai esquecer de hoje. - Sussurrou Rucardo.

Mais batidas na porta e ela resolveu ficar quieta, considerando a proposta.

— Eu sei que você está acordada. - A voz masculina dizia de forma baixa do outro lado, provavelmente para não acordar o resto da casa.

— Mas o que... - Ela fez menção de se levantar, mas ele a segurou. - Vai levar só um minuto, só vou fazer ele ir embora. Agora... Entra debaixo da cama.

— O que? Ele não vai me ver.

— É só por precaução. Rápido.

Enquanto ele se escondia, ela catava alguma coisa para vestir depressa, pegou a camisa dele, e tacou o resto das roupas espalhadas debaixo da cama.

— Ai! Cuidado. - Reclamou ele.

Abriu a porta somente com espaço para sua cabeça.

— O que você quer?

— Eu preciso de ajuda. - Disse o Mustang.

— Eu não posso te ajudar agora, não pode esperar até amanhã?

— É urgente.

— Então pede para outra pessoa.

— Só você pode me ajudar agora.

— Então espera até amanhã e peça para outra pessoa.

— Vai ser rapidinho.

—... Fala. - Deu-se por vencida.

— Obrigado - Ele empurrou a porta e entrou passando por ela.

— Quem deixou você entrar?

— Fecha a porta e vamos conversar. - Ele notou a roupa, ou melhor, a falta de roupa dela. A camisa de Ricardo apenas tapava o essencial.

— Para que você precisa de ajuda agora?

— Eu preciso que você me ajude a dar um jeito de não marcar a data desse casamento, isso foi longe demais.

— O que?! Você não pode fazer isso.

— É o que eu vou fazer. Você sabe que isso é um casamento arranjado, eu só estava ganhando tempo, até conseguir terminar tudo, mas a coisas aconteceram um pouco mais rápido do que o esperado.

— Isso já era mais que esperado, vocês estão morando juntos.

— O que também não foi idéia minha.

— Certo, então eu não posso fazer isso. Ela é minha prima.

— E eu sou seu chefe.

— Isso não tem haver com trabalho, a resposta ainda é não.

— Mas nós também somos amigos.

— Nós não... é, diabos, nós somos. Mas ela é da família.

— Por favor

Antes da resposta, mais batidas na porta.

— Sou eu, abre logo. - A voz vinha do outro lado.

— Você tem que dar o fora daqui.

— Você vai me ajudar?

— Sai logo.

— Não antes de você dizer.

— Tá, tá, eu faço qualquer coisa, agora some.

— Como? A porta está bloqueada.

— Fica debaixo da cama sem dar um pio. Rápido.

Enquanto ela ia atender a porta, Roy esbarrou em alguma coisa debaixo da cama. Ricardo colocou o dedo perto dos lábios, dizendo para ele não fazer barulho. Certo, eles tinham conversado um pouco quando as duas saíram para fazer compras, mas isso não quer dizer que tinham intimidade suficiente para ficar debaixo da cama juntos. Ou melhor, o que ele estava fazendo embaixo da cama de uma dama?!

— Rizie! - Choramingou a prima.

— Achei que você estivesse dormindo.

— Não, eu ia fugir pro quarto do Roy, mas sabe como é a segurança por aqui. - Disse referindo-se aos pais. - De qualquer forma, eu estava pensando que temos que aproveitar esse tempo livre.

— Eu sei que todo mundo fica dizendo coisas como essa, mas quanto tempo pode levar para escolher a data de um casamento? Vocês nem precisavam ter vindo até aqui.

— Como você é ingênua, esqueceu com quem está falando? É claro que não leva muito tempo para isso, mas eu só tenho que fingir que é uma coisa difícil de pensar, e pronto, tempo livre.

— Imagino quanto tempo você gasta pensando nesses planos para dominar o mundo.

— Quem bom, por que aí vem mais um! Sabe o que eu quero?

— Cancelar o casamento? - Não custava nada tentar.

— Claro que não, sua bobinha. Eu quero uma despedida de solteiro.

— Que... bom, mas isso é antes do casamento, tipo, não agora.

— Ótimo, então vou poder ter duas.

— Eu acho... - Então ela se lembrou que Roy estava no quarto. Bom, ele tem uma "despedida de solteiro" toda vez que está sem Rebeca, então é justo que ela tenha também. - Eu acho que é uma ótima idéia! Na verdade, você pode deixar isso por minha conta.

— Isso! Bem, se está tudo resolvido, eu vou indo.

Mas não deu nem cinco segundos que ela saiu pela porta, que voltou sem nem bater.

— O que foi agora?

— Mamãe. Furiosa. Procurando. Eu. Roy.

— Sua mãe está furiosa procurando você e o Roy?

— Isso, bem, eu acho, ela está vindo para cá, quase me viu. Pior, quantos anos ela acha que a gente tem?

— Riza? - Chamou Jade.

— Ahhh, é ela, é ela, o que eu faço???

— Isso responde a sua pergunta?

— O que? Não fique falando coisas confusas nesses momentos críticos.

— Se enfia logo debaixo dessa cama.

A loira agradeceu mentalmente por seus tios morarem em uma casa enorme, com quartos exageradamente enormes e camas de casal grandes suficientes para caber vários adultos.

— Oi, Tia. O que foi? - Disse atendendo a porta.

— Querida, eu te acordei?

— Não, tudo bem, algum problema?

— Sim. Os dois pombinhos estão sumidos, Rebeca sabe muito bem as regras nessa casa, parece que estou lidando com uma criança.

— Não se preocupe Tia. Eu não acho que eles estejam se encontrando, ou coisa do tipo, de qualquer forma, são dois adultos.

— Adultos, hahaha, você é uma graça Riza. Querida, eu sei que você não faria uma coisa dessas - Nesse momento, Roy e Rebeca olharam para Ricardo que estava entre os dois. - Como a mais responsável desses jovens, eu quero que você tome conta deles, para que não façam nenhuma besteira. Você será meus olhos quando não estiver por perto.

— Pode deixar, nada vai passar por mim.

— Excelente, agora pode dormir. Boa Noite.

Quando se certificou que tudo estava bem, ela respirou aliviada.

— Ok, podem sair agora. - Todos resmungaram coisas incompreensíveis ao mesmo tempo, enquanto se esticavam.

— Eu tinha me esquecido como essas camas são espaçosas.

— Podem até ser espaçosas, mas ficar embaixo delas por meia hora não é muito bom. - Reclamou Ricardo.

— Ei, o que você está fazendo aqui, Roy? - A ruiva estava confusa.

— Eu? Eu... estava falando com a Riza, umas coisas... do trabalho.

— Isso, agora que todo mundo falou comigo, podem se mandar.

Um por um ia saindo, mas ela acabou sendo puxada para fora também. Quando chegaram na porta do quarto de Rebeca, Roy largou o braço da loira e a colocou para dentro junto com sua noiva.

— Você fica aí hoje, mocinha. Não conhece as regras? - Então ele se virou para Ricardo - E você para o seu quarto, moço. - Com isso, se dirigiu a porta em frente, onde estava dormindo, mas não sem antes dizer. - Eu vou estar ouvindo, então nem pensem em nenhuma gracinha.

Sim, tinha sido uma noite agitada, mas estava só começando.