Holy Sins escrita por itsinthewaterb, posledozhdya


Capítulo 6
V




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"Você é uma idiota, Anita, idiota!" a voz berrava em sua cabeça, e ela corria, corria o máximo que podia, o único lugar daquela cidade seguro para se esconder de um demônio era sua casa, e ela estava razoavelmente longe de lá. Enquanto ela corria ela analisava o que havia dito, visto e feito. "Está tarde? Tarde mesmo, quase duas da tarde." A voz irônica ecoava, e ecoava, o suor escorria pelos seus poros abertos, manchava sua testa e suas roupas, se misturava com o sangue e o sorvete, era confuso ter tantos gostos em um dia só, talvez ela precisasse de mais tempo para analisá-los depois, mas agora isso realmente não interessava, o que interessava era que seu pai demônio havia a visto com um anjo, o anjo que ela deveria matar. "Que confusão, Anita" aquela voz maldita, se houvesse algum meio de pará-la...

Ela correu tão rápido que em pouco tempo se viu na porta de casa, entrou correndo e trancou a porta da frente, foi quando suspirou mais aliviada. "Você acha que está salva?" a voz perturbou outra vez.

- CALA A BOCA! - ela não suportava mais ouvir, sua cabeça pulsava de dor, as lembranças se misturavam junto às preocupações, tudo tão real... Anita decidiu se deitar, respirar um pouco, e depois ligar para Christian, pedindo desculpas. Há essa hora não havia ninguém em casa, ótimo, a solidão era uma boa aliada, ela estava cansada de meterem coisas na sua cabeça. Subiu as escadas lentamente, contando os passos, trocar de roupa faria bem, com certeza. Ela entrou no quarto calmamente, indo em direção ao guarda-roupas quando se deparou com alguém encostado ao lado da janela, pensou que pudesse ser Adele, mas quando voltou a olhar conseguiu ver quem estava ali: Leon. A palidez tomou conta de cada milímetro do seu rosto.

- Você ... aqui? - as palavras não saíam inteiras, o medo as engolia pouco a pouco.
- Me sinto profundamente decepcionado, Anita querida ... - um sorriso irônico de desaprovação tomava conta de seu rosto. - Até ... traído. - balançou a cabeça negativamente, caminhando até a cama de Anita. Ela não conseguia se mexer, sentia-se congelada pelo medo. A presença dele deixava uma aura negra no ar, algo que realmente era desagradável. Ela se perguntava como sua mãe suportava aquilo, quando uma sobrancelha arqueada a despertou para a realidade.
- O Christian ... eu só ... - a vermelhidão tomava a pele branca de suas bochechas, não havia como negar nada, e ela não podia ferir o seu próprio orgulho admitindo. Um suspiro cansado saiu de seus lábios e ela se deixou cair sentada na cama de Adele.
- Minha amada filhinha com um anjo maldito ... - balançou a cabeça outra vez, analisando o local como se a conversa fosse simples, bom, para ele, era. - Você não puxou a sua mãe, você tem um péssimo gosto. - sorriu. Anita fez uma careta, será que todos os demônios eram assim convencidos?
- Não preciso te dar satisfações, você não é nada meu! - ela afirmou, fazendo todo o esforço do mundo para não gaguejar. Leon continuou sorrindo.
- Feriu meus sentimentos mais uma vez, querida ... você não me considera nada seu? - ele se levantou da cama, caminhando até perto de Anita, ela sentiu o corpo começar a gelar outra vez, aquela voz a embriagava e a neblina de dor pairava por todo o quarto. - Mas não importa, eu ainda te quero. Ainda vou te ver um demônio completo. Você algum dia ainda será capaz de orgulhar pelo menos uma pessoa no mundo. - ele sorriu dando as costas à Anita, e quando ia ir embora, ouviu a voz da garota, raivosa, ecoando pelos cantos sombrios.
- Eu não vou ser como você! Não vou ser um monstro! - afirmou, se levantando da cama furiosa. O vermelho agora era raiva, e não medo como antes. Leon se virou outra vez, olhando Anita no fundo de seus olhos, ela sentiu um abalo na firmeza de suas palavras.
- Sabe, Anita? Eu ouvi falar da sua capacidade de trazer desgraça para aqueles que estão perto de você, afinal, você matou sua mãe, transformou a vida do seu 'pai' adotivo num inferno, estragou a vida da sua irmã...E agora aparentemente está envergonhando seu pai biológico... E isso tudo é porque você é fraca. - o sorriso sarcástico, outra vez. As acusações eram como agulhas, espetando, machucando, sangrando.
- Eu ... eu não quero ouvir! - ela levou as mãos aos ouvidos e fechou os olhos, sentindo seu rosto queimar com a raiva e as agulhas perfurarem toda a sua alma. Foi quando algo ecoou pela sua cabeça, aquela neblina negra tomou conta de sua mente. E a voz tentadora invadiu seus sentidos.
- "Não adianta tentar fugir do que eu estou falando, querida. Você não consegue, e isso por causa desse seu pequeno defeito ... sua fraqueza de ser parte humana" - Ela sentiu os joelhos irem de encontro ao chão, seu corpo todo estava sem forças e a raiva era sólida, quase um outro ser. Ela sentou no chão, se arrastando até as costas encontrarem a cama, e abraçou as pernas, sentindo as malditas lágrimas molharem a raiva sólida que encobria seu rosto vermelho.
- "Você é fraca para os humanos porque é esperado mais de alguém que é parte demônio ... E você é fraca para os demônios por ser parte humana... Você é fraca... Fraca" - de novo aquela palavra, a palavra que ela mais odiava escutar, a palavra que grudava em sua mente, ecoava por seus sentidos e borbulhava em seu ser. As lágrimas grossas não conseguiam esfriar a raiva, mas aquela palavra fez tudo se desfazer, baixando a poeira, anunciando que a batalha havia terminado. Anita abriu os olhos aos poucos e tirou as mãos dos ouvidos. Viu Leon sorrir pela última vez e parar de acariciá-la, ela se sentiu estranha, pela primeira vez a raiva não a invadiu quando ele a tratou com sarcasmo.
- Pense nisso, você quer continuar sendo uma inválida? Quer continuar fraca? Ou quer ser alguém? - a voz dele era irritante, finalizou a batalha com honra, e ele saiu dali, caminhando vagarosamente, com aquele sorriso nos lábios. "Eu ainda arranco esse seu sorriso, monstro" ela pensou, e deixou-se encostar direito na cama.


***

Eles deviam estar quase chegando, Anita não sabia ao certo há quanto tempo mas sabia que estava há tempo suficiente jogada naquela cama, o suficiente para seu pai já estar chegando da organização. Tempo ... algo que ela não sabia o que era há dias. E essas horas, esses minutos de calmaria foram preciosos, ela colocou tudo no lugar em sua cabeça, pena que não era tão simples assim na vida real. Ela ainda tinha um anjo pra matar, e ela ainda estava apaixonada por ele.

A enorme porta da sala fez o seu rangido diário, ecoou pela casa e assustou Anita. Ela já estava acostumada e já esperava que eles chegassem a qualquer momento, mas o medo era um sentimento presente a todo instante. Leon havia prometido sempre estar por perto, e isso é algo que você não gostaria de escutar de um demônio. Ela sabia que Adele iria aparecer e pedir um relatório de seu dia, e sabia que seu pai estava interessado em saber se o serviço havia sido feito. Preferiu ir antes que a chamassem. Desceu as escadas vagarosamente, contando os passos, respirando fundo. Silêncio, calma, tempo ... eram preciosos demais para serem desperdiçados. Seu pai estava na sala, sentado em sua poltrona, com uma xícara de chá em mãos. Anita sentiu a garganta dar um nó cego, ela odiava aquele olhar. Mas a batalha estava terminada, pelo menos por hoje.

- Conseguiu? - ele perguntou sem nem olhá-la, com a voz seca.
- Tiro na testa, sem vestígios de sujeira no local. Corpo queimado. - as palavras saíram sem vida, secas, uma por uma. Engolindo as lágrimas e deixando transparecer apenas uma névoa de falsa indiferença.
- Bom. - ela sentia que cada palavra que saía da boca de Richard era para menosprezá-la, e ela se esforçava para não deixá-las a machucarem. - Achei que não iria conseguir. - um sorriso de canto se formou em meio às palavras, se firmando em seu rosto pálido. - Tem o resto do dia livre, vá pensar no seu anjo. - a expulsou. Ela apenas virou as costas, quase saindo de casa outra vez, já limpa e sem aquela blusa manchada, quando Richard a chamou outra vez. - Mais uma coisa. Seu tempo está passando ... - ela não se virou, apenas assentiu e saiu caminhando com aquela frase se repetindo em sua mente. Maldito tempo. Por que não podíamos congelá-lo?

O sol estava fraco naquela hora, o céu estava se pintando de arco-íris para se despedir da luz do dia e receber a escuridão da noite. E ela era mais uma vez uma figura estranha no meio daquele cenário quase desértico. Mas era bom, bom porque ela sentia o tempo como jamais havia sentido e bom porque havia tomado um pouco daquela sensação de medo constante que a engolia pouco a pouco. Mas algo sempre a interrompia, algo precisava interromper sempre, por mais que fosse bom era perigoso ela se afogar em si mesma. Uma mão agarrou seu braço, cinco dedos prenderam-se com uma força desumana em sua pele, a puxando para um beco, um pequeno espaço entre um prédio e outro. Ela quis gritar, ela jurava que queria gritar, mas ela não o fez. Aqueles olhos vermelhos hipnotizavam o suficiente para deixá-la sem sentir direito suas terminações nervosas, e quando aquela voz ecoou pelo pequeno beco ela soube que estava indefesa ali.

- Pensou no assunto? - a voz de Leon era tortura demais e foi o estopim para acabar com aquela calma que ela havia lutado para impor à si mesma.
- Eu não pensei. - afirmou, respirando fundo e tentando manter o controle de si mesma. - Primeiro, porque eu não vou sequer considerar isso. E segundo porque você não me deu tempo quase nenhum. As pessoas não tomam decisões em segundos. - ironizou. Ou pelo menos tentou. Leon sorriu de canto e continuou olhando-a nos olhos. - Você poderia soltar o meu braço? Você me enoja. - ela bufou, fazendo-o rir.
- Você fere os meus sentimentos com essas palavras, querida. Ah, esqueci que eu não tenho sentimentos. - ele sorriu outra vez, dessa vez por inteiro, fazendo o ódio acordar dentro de Anita. - Desculpe-me, filhinha, mais uma vez superestimei os humanos. Vocês são lentos mesmo. - comentou, soltando-a, enquanto se afastava um pouco, se encostando em uma das paredes do beco. Foi quando uma voz ecoou pelas paredes daquele lugar apertado, uma voz diferente, completamente diferente da de Leon. Uma voz inconfundível.
- Any! - a figura entrou sorrindo, e mesmo em meio à pouca luz e as cores confusas no céu, ela não teve dúvidas de que era Otto. - Eu te vi caminhando sozinha, mas aí você entrou pra esse beco e eu ... - quando ele iria terminar a frase, seu olhar passeou por Leon, analisando-o por inteiro, principalmente os olhos vermelhos e as asas enormes e negras. Um grito ecoou pelo beco, assustando o demônio e deixando Anita bastante atrapalhada. - V-você encontrou um ET e não me contou? - ele gaguejou. Anita teve uma imensa vontade de rir, mas percebeu que essa era uma ótima oportunidade para se livrar de Leon, que por sinal, estava bastante confuso.
- Eu já ia levá-lo pra você, Otto. É todo seu. - sorriu, e deu as costas às duas figuras que ficaram no beco enquanto ela corria o máximo que podia até algum lugar movimentado.


***

O celular tocou, para ela foi um barulho e tanto, mas parece que ninguém naquela praça havia se incomodado. Ela atendeu o mais rápido que pôde, controlando a voz e tentando parecer calma, era Christian.

- Você está bem? - ele perguntou um pouco preocupado.
- Estou sim, Chris. Foi uma emergência, coisas do meu pai ... - ela era ótima em matéria de mentir, principalmente para anjos; mas de certa forma ela estava falando a verdade. - Obrigada mesmo por ligar, e desculpa por ter te deixado daquele jeito. - os olhos analisavam toda a pracinha mas não viam nada, era incrível como quando havia Christian todo o resto deixava de existir.
- Então pode ir ao cinema comigo? - ela sorriu ao ouvir o pedido, sentindo algo doce explodir em seu peito, algo que só ele conseguia fazê-la sentir.
- Claro! - resposta automática, ela jamais iria recusar um pedido desses. - Estou na praça, por que não nos encontramos aqui? - ela caminhou até o banco mais próximo, se sentando e olhando uma das árvores fixamente.
- Já estou indo te pegar aí. - ele desligou. Foi quando ela conseguiu ver a árvore que antes ela apenas olhava. As folhas verdes balançavam suavemente se misturando ao céu que agora estava mais escuro, como se a noite estivesse tomando conta pouco a pouco.

Ela não sabia se era por que estava esperando Christian, ou se era porque o tempo havia passado rápido mesmo, mas para ela não estava demorando nada. E a lembrança de Leon e Otto era algo distante e bastante irrelevante, como uma nuvem negra passageira.

- Demorei? - ele sorriu, sentando-se ao lado dela.
- Não, pelo menos para mim. - ela sorriu em resposta, mergulhando por alguns instantes naqueles olhos perfeitos. - Vamos ver que filme? - perguntou um pouco interessada e se levantou do banco, esticando a mão direita para que ele a pegasse.
- Ainda não sei, só achei uma boa ir ao cinema. Que tal a gente decidir lá mesmo? - ele riu um pouco envergonhado. - Eu nunca planejo nada e isso é péssimo, eu sei. - ele estendeu a mão e segurou na mão dela, se levantando também. Ela sentiu uma energia estranha percorrer o seu corpo quando as suas mãos se seguraram, sentiu tudo esvaziar dentro de si, deixando só aquela energia incrível tomar conta. "É uma pena que você ache péssimo ... eu te acho perfeito." Pensou, apertando a mão dele, enquanto os dois caminhavam juntos.


***

Ela se sentia em um dia perfeito, como uma garota comum que é chamada para sair. Havia comido pipoca, aproveitado o filme e agora estava caminhando pela cidade em direção ao parque de novo, ela e Christian. Sentia seu coração calmo e feliz como ele jamais havia ficado em toda a sua vida, as trevas haviam dado uma trégua à sua alma. A luz de Christian expulsava qualquer sentimento ruim de seu coração.

- Eu ainda não acredito no final desse filme! - ela riu outra vez, segurando o braço de Christian. Foi quando seus olhos se desviaram por um único instante da luz dele, um instante que custou toda a sua calma. Ela jurava ter visto alguém conhecido, alguém que com certeza traria problemas e destruiria em pequenos pedacinhos aquela paz que ela estava conseguindo pouco a pouco com o seu anjo. Ela tomou a liberdade de roubar outro instante para conferir se aquele alguém ainda estava lá. E não havia nada. Seus olhos estavam com medo e a sua expressão não era nada boa.
- Aconteceu algo, Anita? - Christian olhou-a, confuso.
- Não, nada. Pensei ter visto alguém conhecido ... Mas foi só impressão. - sorriu, deixando de lado toda a preocupação e voltando a caminhar com ele. Logo chegaram à praça que estava meio vazia. O céu agora era escuro, e algumas estrelas brilhavam em volta da lua fazendo-o ficar mais lindo ainda. O silêncio pairou por muito tempo até que os dois se sentaram em um dos bancos e Anita decidiu que deveria falar alguma coisa. - Chris.
- Diga. - olhou-a nos olhos.
- Obrigada. - ela sorriu, respirando fundo. - Eu não me divertia assim há muito tempo! - ela riu outra vez, encostando a cabeça no ombro dele e escutando a sua respiração, era estranho como ela se sentia ligada à ele, mas ao mesmo tempo era bom, muito bom.
- Eu que devia te agradecer. - ele passou o braço para trás do pescoço dela, a puxando para perto e a abraçando. Talvez tenha sido sem querer, mas ela correspondeu, ali naqueles braços ela sentia que poderia descansar de verdade, em paz. E o silêncio pairou mais uma vez, mas esse silêncio era gostoso, era agradável ... E perigoso, muito perigoso. - Er, Chris ... - ela começou a se afastar apreensiva.
- Ah, desculpe! - ela viu o rosto dele corar violentamente, e sentiu que o seu fez a mesma coisa. - Você já precisa ir, não é? - a voz tinha um tom de desânimo, mas ao mesmo tempo estava cheia de vida e incrivelmente feliz.
- É, está tarde. - ela se levantou, arrumando a blusa ou fazendo qualquer outro movimento que ela encontrasse para disfarçar o nervosismo. - Obrigada de novo, Chris.
- Quer que eu te leve em casa? - ele sabia que ia escutar um não, mas preferiu insistir.
- Não, obrigada ... Até mais. - ela acenou, caminhando vagarosamente, até dobrar a esquina e ele não conseguir vê-la mais, e nem ela vê-lo. Mas eles haviam selado, estariam juntos para sempre, pensando um no outro.

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Notas finais do capítulo

Letty: *crying oceans com a fic*
Então, né? Ainda quero comer o Leon, alguem tem alguma idéia de como fazer um personagem sair da fic, agarrar a autora e depois voltar? O_o

Bia:
agemt fica tãao feliz quando alguém lê, acreditem ;-; mas não conseguimos adivinhar sabe? :/ então, reviews é legal, fazem duas leitoras problemáticas felizes, tá? beeijos e esperamos que gostem



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