Não troco muitos olhares com meu tio, apenas o suficiente para que ele saiba que agora o odeio pelo que fez. Não digo adeus ao entrar no carro da Sra. Kingsley e muito menos que vou sentir saudade. Ele diz. Enquanto se despedem, eu olho para a mala de mão que está ao meu lado no banco de trás do carro. Will disse que a viagem será longa... E então partimos.

No caminho, a Sra. Kingsley tenta conversar, mas ligo meu iPod e respondo o mínimo de perguntas possíveis. Ela conta sobre a história da escola e a lealdade a seus estudantes, que, segundo ela, são tratados como filhos. Longas seis horas vão se passando até que chegamos à Abbey Mount. O prédio é antigo... Bem antigo. Lembra um castelo, mas sem torres. O clima é frio, mas faz com que eu sinta saudade de casa. O carro para em frente à entrada principal e todos em volta param para observar enquanto desço do carro com a diretora.

– Venha, querida. Vou deixar você com Kate, sua companheira de quarto. Ela vai te apresentar a escola. Espero que se dêem bem. – Diz a Sra. Kingsley enquanto me leva para dentro.

O piso de mármore e as escadarias são de muito bom gosto e luxo, mas não sinto como se aquilo tudo fosse se tornar meu lar a partir de então. Respiro fundo.

– Sta. Kate! – Grita a Sra. Kingsley para a garota que está descendo as escadas.

– Sim, Sra. Kingsley. – Se apresenta a garota.

– Essa é sua nova companheira de quarto, Poppy. Gostaria que você apresentasse a escola à ela e fizesse o possível para enturmá-la.

– Claro! Será um prazer.

– Bem, vou deixar as senhoritas... tenho muito a resolver. – Ela se despede, mas antes pergunta para Kate – Sabe onde está meu filho?

– Não, senhora. – Kate reponde. – Não acho que ele já tenha chegado.

– Obrigada. Tchau meninas.

E fico sozinha com minha nova companheira de quarto.

– Se ele tivesse chegado já seria notícia entre as meninas. – Kate interrompe o silêncio entre nós e ri. – Prazer, Kate.

– Prazer, Poppy. – Respondo.

Kate me ajuda com as malas e me leva até nosso quarto que fica no segundo corredor subindo as escadarias. Percebo que está chovendo lá fora quando olho pela janela.

– Aqui chove bastante. – Diz.

– Onde eu morava quase nunca chovia. – Não digo mais nada. Não quero compartilhar nada sobre minha vida.

– Por que está aqui? – Ela pergunta, mas percebe meu silêncio. – Ah, sinto muito... Não sei se deveria ter perguntado isso. Sou muito curiosa, mas me desculpe.

Solto apenas um sorriso no canto da boca e ela continua:

– Se me permite dizer, você tem sorte de estar aqui, quer dizer, é uma das melhores escolas do país e tem muita gente que adoraria estar no seu lugar.

Ela não estava completamente errada... A escola parecia ótima e eu não tinha opção a não ser estar ali. A casa do tio Will já não vinha mais ao caso.

– Pode acreditar que não.

Kate se oferece para apresentar a escola e eu aceito. Caminhamos pelos corredores de quartos, pátios e jardins. As salas de aulas são grandes e iluminadas, diferente dos outros cômodos. O vento uiva lá fora e a chuva continua.

– Logo é hora do almoço. A comida daqui é muito boa...

– Espero que sim. – E dou risada.

Queria estar em casa agora. Vejo as meninas cochicharem por todos os cantos e não sei sobre o que estão falando, mas Kate sabe. Ela caminha até um grupo de meninas e diz:

– Então ele chegou?!

Todas as meninas respondem que sim e dão pulos de alegria. Quem seria a causa de tudo isso? Pergunto à Mandi.

– Freddie, filho da Sra. Kingsley! Ele é o menino mais fofo da Terra.

– Sim, mas ele não dá bola pra nenhuma garota. – Diz uma menina do grupo. – A não ser para Harriet... Quer dizer, é o que ela diz.

– Vocês acham mesmo que eles ficaram antes das férias? – Outra menina interrompe. – Vocês sabem, a Harriet é completamente louca por ele, mas não acho que ele goste dela.

– Com certeza ela inventou isso. – Kate ri.

Apenas escuto e dou risada do que elas dizem quando um sinal toca e todas param. Hora do almoço. Caminhamos até o refeitório – uma sala com várias mesas bem grandes de madeira. Fazemos uma fila para pegar nossa comida e depois escolhemos nossos lugares. Enquanto me sento, ouço a voz novamente.

“Poppy...”

Mas ela para. Fico imóvel e trêmula, até que as meninas percebem e perguntam se estou bem. Digo que sim e começo comer. Estou concentrada demais no meu prato quando todas as meninas param para olhar para a porta do salão. Freddie. Eles sorri enquanto caminha até sua mesa e vejo as meninas ao redor quase babando. Ele é loiro, alto e muito charmoso. Usa sua camisa branca do uniforme com gravata azul e calça jeans. Seus olhos são quase cor de mel. Ele é lindo. Percebo que estou babando tanto quanto as meninas do refeitório. Volto a comer. Freddie se senta com os amigos em uma mesa próxima. Respiro fundo.

“Poppy...”

A voz chama meu mais uma vez e deixo meu garfo cair com o susto. Estou paralisada de novo e sinto que estão todos olhando para mim, inclusive Freddie. Kate pede para a funcionária outro garfo e bate no meu ombro.

– Você está tensa, menina. Relaxa – Kate diz para descontrair e rimos juntas.

As pessoas param de olhar. Obrigada, Kate.

Quando o almoço termina todos voltam para os quartos ou vão para o pátio conversar sobre as férias que tiveram. Eu vou até o jardim tomar um ar.

O clima continua frio, mas a chuva parou... O que é bom, assim não preciso ficar lá dentro ouvindo todos contarem sobre as viagens que fizeram nas férias, enquanto tudo o que tenho pra contar é que fiquei na casa do meu tio Will assistindo filmes e cuidando dos gatos dele.

Sento-me em um banco e abaixo a cabeça, porém quando a ergo vejo que há uma menina loira parada a minha frente.

– Olá, novata. Meu nome é Harriet.