A cena do hospital me faz acordar. Estou suando. Desde que mamãe e papai morreram e passei a viver com meu tio Will tenho tido pesadelos relacionados à morte deles. Vou até a cozinha beber água.

–Está tudo bem, Poppy? - Meu tio Will aparece na porta e acende a luz.

– Sim, titio. - Então percebo que foi um erro ter dito "titio", quer dizer, nunca fomos próximos e antes da morte dos meus pais eu não o conhecia. - Foi só um pesadelo.

– Apague a luz quando for voltar a dormir e não demore... Amanhã você tem um longo dia pela frente.

Aceno que tudo bem com a cabeça e me lembro que na manhã seguinte teria que escolher uma escola com meu tio para voltar a estudar... Já faziam seis meses que eu não ia às aulas. Será meu último ano antes da faculdade e eu terei que voltar à uma vida normal.

Apago as luzes e volto para o quarto, mas então ouço algo. Uma voz chama meu nome. Ah, não, de novo não.

“Poppy...” a voz dizia, “está chegando a hora”.

Meu corpo treme e sinto que estou prestes a desmaiar, então me sento na cama e fecho os olhos até a tontura passar. Quando abro os olhos já é de manhã e meu tio chama meu nome da sala de estar. Troco-me às pressas e vou encontrá-lo. A casa é grande, rústica e sombria, embora tenha muitas janelas. A escada de madeira que leva dos quartos até o andar onde ficam as salas, cozinha, lavanderia e varandas, ecoam enquanto desço correndo.

– O que foi, tio Will?

– Está é a Sra. Kingsley. – Will diz acenando para a senhora que está parada na porta.

– Olá, querida. – A mulher oferece para mim um aperto de mão – É um prazer conhecê-la.

– O prazer é meu. – Afirmo.

Meu ar de dúvida parede despertar o tio Will, pois após alguns segundos de silêncio ele diz:

– Poppy, será que podemos conversar a sós no seu quarto?

Faço que sim e então subimos juntos. Ele fecha a porta.

– Quero que faça suas malas agora.

Acho que não ouvi direito, então digo muito confusa:

– O que? Co-como assim? Titio... Quero dizer, tio Will... Como assim?

– Isso mesmo, querida. Sente-se. – Ele me leva até a beirada da cama e vai até o guarda-roupas. Enquanto fala, ele junta minhas roupas e coloca na mala. – Lembra que íamos escolher uma escola pra você? Receio que já tenha me adiantado... Você vai estudar na Escola Abbey Mount, colégio interno para garotos e garotas... Um dos melhores do país. Sra. Kingsley é sua diretora.

O excesso de informações me deixa tonta e sem reação.

– Olhe, eu sinto muito por isso, mas vai ser melhor assim. Você sabe que vai.

Queria perguntar desde quando ele planeja isso ou por que ele não me contou, mas as palavras não têm força para sair da minha boca, até que finalmente consigo dizer:

– Saia do meu quarto.

Ele me olha e fecha minha mala. Então sai, mas antes de fechar a porta ele diz:

– Você tem cinco minutos.