Por mais que Charlotte já estivesse acostumada a distribuir sorrisos falsos e ser civilizada com todos aqueles aristocratas dos encontros/festas que seu pai frequentava e a levava junto, Charlie não conseguia nem dizer um ‘oi’ direito com tanta adrenalina correndo pelas suas veias.

Seu coração estava acelerado e ela não conseguia falar nada, apenas olhar para o homem em sua frente.

Anthony Fillings.

Ela podia muito bem sentir que tinha alguma coisa errada com ele. A maneira com que ele mexia os braços era meio forçada e por trás de seu sorrisinho tinha um olhar de águia, como se Charlotte fosse um ratinho, sua presa.

Charlie elevou sua postura para mostrar que não tinha medo dele. Seu problema era com os negócios de Seth e não com ela.

— E como vai, Seth? — ele perguntou como se estivesse se divertindo.

A ficha caiu na hora para Charlote.

Ele pensa que eu briguei com ele pelo mal-entendido com Maureen.

Certo, sim ela tinha brigado com ele, mas agora tudo estava bem e ela com certeza sentiria prazer em deixar isso esclarecido indiretamente para Anthony.

— Ele vai bem — ela deu um sorriso largo. — Na verdade, eu quis sair um pouco para comprar um presente para ele e umas coisas de artesanato — ela apontou para a cestinha na sua mão de compras.

O sorriso do rosto de Anthony tornou-se uma linha reta.

Charlie queria mesmo comprar um presente, um presente de desculpas.

— Ele não pôde vir comigo, sabe — ela continuou num tom mais claro. — Porque sua amiga, Maureen, está grávida e estava mal emocionalmente falando.

Mesmo que Maureen já tivesse saído de sua casa quando Charlotte saiu, a garota decidiu comentar da situação para ver a reação do homem.

Como esperado, o humor de Anthony tornou-se mais taciturno. Era tudo que foi preciso para Charlotte dar as costas para ele e separar o que ela precisava.

Depois de pagar, ela já estava andando para o estacionamento quando percebeu que Anthony vinha em sua direção.

Fingindo não perceber, ela deu partida no carro para ver que o carro não pegava.

Mais que merda, pensou.

— Senhorita...

— Eu já sou casada sabe — ela cortou ele enquanto saía do carro.

Ele soltou uma risada irônica e olhou para ela com perspicaz nos olhos.

— Nós dois sabemos que não é bem assim. Afinal, você não se casou por amor.

Ignorando o homem, Charlotte deu dos passos para trás e virou-se para ligar para Seth.

Depois de pedir ajuda para seu marido, Charlie virou-se de volta para dar de cara com Anthony. Ela suspirou.

— Corta esse papo furado, por favor, Anthony. Nós dois sabemos o que você fez com Maureen, a única coisa que eu quero entender é: por que fazer tudo isso apenas para afetar Seth? Por que vir atrás de mim?

— Dinheiro é poder, mademoiselle — ele lançou um meio sorriso à jovem. — E eu terei todo o dinheiro, portanto, poder assim que eu acabar com a empresa do seu marido.

Ele se aproximou dela e Charlie deu alguns passos para trás.

— Eu já teria ferrado com tudo se você — ele olhou com raiva para ela — não tivesse se casado com ele e passar a American Waller Company para o inútil Seth.

— Bem, que ruim para você — Charlotte disse arqueando a sobrancelha. — Agora, me diz o que veio fazer aqui.

— Eu vim lhe dar um aviso — ele sorriu mais dócil. — Pare essa farsa que é seu casamento...

— Mas não faz sentido. Tudo já está no nome de Seth. Eu não quis a minha parte na empresa.

Anthony riu.

— Charlotte, Charlotte, como você é cega. Sabia que a maneira como um homem administra seus negócios tem muito a ver com seu emocional? Se você quiser o divórcio vai deixar Seth maluco. Acabe com o casamento...

— Ou o quê?

— Ou eu vou acabar com os negócios de seu amigo. Emery, não é? — ele riu quando a cor do rosto de Charlotte sumiu. — Ah, vamos lá, Charlotte, você nem queria se casar. Já estava pensando em separação semanas atrás. Vai ser fácil — ele disse.

Charlotte não respondeu. Por um lado Anthony estava cero. O que estava impedindo ela de pensar em divórcio de uns tempos para cá? A ideia de separação tinha se tornado uma baboseira nas últimas semanas.

Estou ficando maluca.

— Você acha que eu realmente vou cair nessa sua trama de vingancinha e chantagem?

— Você quer esperar para ver? — ele sorriu diabolicamente. — Vá em frente, só não diga que eu avisei. Tem muita coisa em jogo, Charlotte: o futuro de seu amigo, a pensão de Maureen...

— Está de novo colocando Maureen nesse assunto? — ela perguntou com ódio na voz.

— Ela sempre esteve e sempre vai estar — ele deu de ombros. — Ninguém mandou ser a puta de Seth...

— Escuta aqui — Charlotte o cortou apontando um dedo para ele. — Se você quer bancar o vilão que faz chantagem, sem problema para mim. Mas saiba que se você acha por um instante eu vou deixar tudo quieto, você se engana colega.

Anthony abriu a boca para falar, mas Charlie não deixou.

— Espero que você saiba bem o que está fazendo. Em “o que está fazendo” eu digo no sentido de você ser uma criança que manipula e persuade todo mundo em sua volta para você ser aquele que sai ganhando. Talvez você tenha dinheiro, seu almofadinha de merda, mas saiba que você é podre por dentro e a vitória só vai vir pra você por cima do meu cadáver.

Dito isso, ela pisou fundo no pé do homem fazendo ele soltar um som de dor e espanto e saiu daquele estacionamento em menos de dez segundos entrando na primeira loja que viu para se acalmar e ter tempo para si mesma.

***

Seth estacionou o carro e viu que Charlotte ia a sua direção um pouco ajudada, com duas sacolas na mão.

Ele abaixou o vidro de seu carro para falar com ela.

— Pode deixar seu carro aí, eu já mandei o seguro vir, eles vão cuidar de tudo. Entre. — ele disse e a garota entrou no carro.

Respirando fundo ela olhou para ele.

— O que foi? — ele perguntou.

Ela apenas balançou a cabeça como se não fosse nada. Seth sabia que tinha alguma coisa acontecendo, mas não perguntou, já que ela não estava com vontade de falar.

— Eu tenho uma coisa para você — ela disse e entregou-lhe uma sacola.

Ele nem perguntou o que era e para quê. Ele parecia uma criança desembrulhando um presente de natal.

Olhando para o presente em choque, ele olhou para a cara de Charlotte que se abria num sorriso lindo e diabólico.

— Patos? — ele pergunta confuso olhando para a gravata em sua mão.

Ela apenas deu de ombros e soltou uma risada.

— Por que patos?

— Porque patos são legais e engraçados — ela só disse isso e voltou a olhar pela janela com um sorriso.

—Patos... — foi a única coisa que ele conseguiu murmurar meio entorpecido antes de soltar uma risada.