The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 15
Accursed Satan White and competition of heartaches


Notas iniciais do capítulo

* Maldito Satã Branco e competição de mágoas
Música: (Foi complicado escolher hoje) Four Walls - Broods
Oi todos vocês! Eu demorei pra atualizar dessa vez, não é? Perdão, de verdade. Eu estava totalmente sem criatividade pra escrever por conta de alguns problemas de família. É complicado, ainda com o bônus do colégio.
Por quase não ter escrito TMoC, eu escrevi uma short-fic nesse meio tempo. Eu sinceramente não sei quando vou postá-la ou se vou mesmo, mas foi legal ter concluído uma história, mesmo que curta. É bastante pessoal em alguns sentidos porque tem bastante de mim na personagem, então complica e acaba com a minha coragem de postar. Enfim, isso é a parte.
Estamos quase chegando aos 200 reviews e isso é muito louco. Muito muito muito obrigada por isso, todos vocês. É incrível demais pensar que a história teve uma recepção tão boa.
Podem me recomendar músicas para colocar nos capítulos? Eu tenho uma listinha com algumas mas é sempre hard decidir. Já tinham escutado essa, por acaso? Broods é um amor completo pra mim e eu sempre ouço pra escrever, acho que o album todo me traz pra vibe de TMoC.
Nesse capítulo tem mais Challie, mas nem percebi que uma cena tinha ficado tão seguida da outra. Pra quem tinha sentido falta do Jeff no ultimo capítulo, ele aparece bem no comecinho desse. Vejo que é sempre um personagem que divide opiniões.
Vamos conversar pelos comentários. Percebi que eu raramente coloco frases mais "citáveis" durante a narração porque simplesmente não tenho esse dom. O engraçado é que meus livros favoritos são todos assim e cheios de post it de tantas marcações que eu faço. Notam mais alguma coisa assim no meu modo de escrever ou sei lá?
Enfim, até as notas finais.
(Uma linha especial pra uma aniversariante muito querida. Ju, você é uma leitora/escritora incrível e admirável ♥)



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— A não ser que a Emma se mate de verdade, o título de Miss Suicídio continua sendo da Callie. — Jeff bate o taco de sinuca na bola branca e erra a jogada. — Porque a Callie é gata pra cacete. — Ele leva a garrafa de vinho aos lábios e bebe longos goles antes de secar a boca com as costas da mão.

Desisti do jogo a alguns minutos e Jeff continua sozinho. É quarta, e já passa das onze da noite. Ele está chapado demais para reclamar de qualquer coisa.

— E falando na querida Miss Suicídio, onde raios ela se meteu essa semana? Ainda se lamentando pela amiga quase morta que está no hospital? — Não respondo, porque a resposta é bem óbvia. Callie continua se culpando, e quase não fala comigo. Está num estado de espírito estranho onde, quando sai do quarto, parece mais um zumbi. Lena já me mandou deixa-la em paz uma dúzia de vezes, porque nas palavras dela, Callie precisa de um tempo. — Tanta depressão assim faz mal a beleza de alguém. Até você que vive dizendo que são só amigos tem que admitir que acha a Callie muito gostosa. — Balanço a cabeça em negativa, não conseguindo conter um meio sorriso pelo fato da voz de Jeff já sair meio embargada. — A não ser que você seja gay.

— Não sou gay. — rebato, sem tirar os olhos do desenho de Callie, que fiz no dia do Incidente Matemático, apoiado no meu colo. Fico rodopiando o lápis entre os dedos incessantemente. — Na verdade, sou tão gay quanto você é sóbrio. — Jeff solta o que interpreto como algo entre um riso e um engasgo, antes de se aproximar de mim ainda com o taco em mãos. — E a Callie é linda.

Ele se senta numa poltrona ao meu lado e fecha meu caderno num baque com a ponta do taco. Cruza as pernas e apoia na mesa de sinuca, se ajeitando o máximo possível para que fique quase deitado.

— Nikky vem me visitar amanhã. Vou acabar recebendo ela de ressaca. — Como se ele estivesse chapado só de vinho. Não sou tão inocente assim para não notar que Jeff continua usando cocaína. Mais fundo do poço impossível.

— Não sei como você tem uma namorada, sabe.

— Nem eu. — rebate, e ri da própria fala. — Aquela garota é tão louca quanto eu, Chris. Mas advinha, ela é gostosa.

— Tenho que concordar em ambos os pontos. Não é qualquer garota que consegue superar o fato de que o namorado é um assassino.

— Você esqueceu da parte do seu discurso onde ressalta que matei meus próprios pais com um machado. — Ele eleva o tom de voz para dar ênfase. — Quando eu já estava em custódia, um pouco antes de vir pra cá, só conseguia pensar em “puts, aquela garota vai sumir e eu vou perder uma boa transa”, mas, no primeiro dia de visitas, ela estava aqui.

— Corajosa. — falo, enquanto mantenho os olhos fixos no lápis que continuo girando entre os dedos, quase de uma forma hipnótica.

— Ela só disse “vamos deixar isso pra lá”. E bem, eu não iria retrucar e correr o risco de acrescentá-la a minha lista de pessoas que só sabiam me chamar de mostro pra baixo. E mesmo assim, não consigo sentir nada de culpa, mas ainda sinto o peso da porra do machado nas mãos antes de dormir. E a garota ainda quer transar comigo.

— Isso é a prova de que ela deveria estar aqui dentro também.

Ele gargalha mais uma vez e sei que deve estar balançando a cabeça num sinal de aprovação.

— A ironia entre nós dois é que, enquanto você se culpa dia após dia por algo que fez e nem sabe o que, eu me lembro de cada detalhe daquela noite, de cada uma das 54 machadadas no total, e não consigo sentir nem um pingo de remorso. Deve ser por isso que gosto de você.

— Sua namorada claramente não gosta de mim. Pra falar a verdade, não faço a mínima ideia de porque ela me bateu. Você sabe o porquê daquilo?

— Chris, se eu claramente não entendo nem mesmo as mulheres num geral, como raios vou entender justamente a garota que é louca o suficiente pra namorar comigo?

— Se a ama tanto que pretende sair daqui e morar com ela, precisa começar a reverter esse quadro. — Jeff já disse milhões de vezes que vai sair e morar com a Nikky. Consigo ver isso como o início de uma história que termina em algum desastre.

— Não a amo. Nem ao menos gosto dela. Aturo a Nikki, porque gosto de sexo. E sendo um psicopata em potencial, não é fácil arrumar possíveis namoradas que estejam dispostas a te visitar num maldito hospital três vezes por semana. Nem sei quando vou conseguir sair daqui, aliás. — Ele respira fundo e de forma audível antes de voltar a beber da garrafa. — Você tem muito mais chance de sair daqui do que eu.

— Não tenha tanta certeza, Jeff.

— Santo Cristo, é só você parar com toda essa culpa idiota e esse arrependimento inútil, e vai estar fora daqui tomando injeções mensais de remédios e sei lá, sendo uma pessoa comum.

— Uma pessoa comum? Consegue me ver terminando a escola e tendo um emprego e tal? — Não, nem mesmo eu consigo me ver fora daqui. Você percebe que seu psicológico está completamente ferrado quando nem consegue visualizar o futuro com alguma possibilidade boa.

— Correção: uma pessoa comum dentro do que um adolescente esquizofrênico consegue ser. Se simplesmente deixar tudo isso pra lá.

— Deixar pra lá o fato de que eu posso ter ferrado muito com a vida de alguém? — contesto. Não é tão simples assim.

— Encare dessa maneira: não pode ser pior do que eu. Você não matou ninguém a machadadas, não é? Muito menos seus pais. Pense dessa forma e se sinta melhor.

— Posso ter matado alguém com, sei lá, a porra de um tridente de churrasco. — Rio assim que falo, e Jeff engasga quando tenta involuntariamente beber e rir ao mesmo tempo, e acaba cuspindo no chão da sala de jogos.

— Como um maldito Satã branco.

***

Callie está na terapia no dia seguinte. Ela faltou nos últimos três dias, e como estava intocada no seu quarto, fazendo apenas curtas caminhadas de lá até o consultório da psicóloga, não a vejo desde domingo de manhã, quando saí sonolento do seu quarto depois que ela acordou.

Quando a vi sentada em uma das cadeiras do círculo-não-realmente-um-círculo da sala, aumentei a velocidade dos passos apenas para chegar a ela mais rápido. Não lhe dirigi nenhuma palavra, apenas me sentei ao seu lado e peguei sua mão, no mesmo instante em que depositava um longo beijo em sua testa.

— Odeio hospitais. Odeio desde quando fiquei numa maldita sala de recepção enquanto minha avó morria num quarto de UTI. Comecei a odiar ainda mais depois que passei dias num desses quartos depois de tentar me matar. — Ela aperta meus dedos contra os seus com uma força angustiante. Com o olhar perdido no piso de madeira da sala e mechas do cabelo loiro caindo pelo rosto, sua voz ainda consegue sair firme quando a Dra. Lee pergunta se ela quer dizer alguma coisa. — Foram os piores dias da minha vida. Saber que você é uma fracassada até mesmo em cometer suicídio é horrível, porque essa era a última opção. Paira aquela dúvida de que porra vai acontecer contigo agora porque nem pra morrer você serve. E agora tudo isso está acontecendo com a Emma e ela vai ficar tão perdida quanto eu. — A Dra. Lee começa com um discurso solidário e suas meias-palavras de apoio, mas tenho certeza que Callie não precisa disso. A puxo para perto, num meio abraço desajeitado, e me pergunto se isso chega a ajuda-la de alguma forma, ou se só mata a saudade de tê-la perto de mim.

Imagino uma mini Callie, de uns 10 anos, sentada na sala de recepção de um hospital. As mãos inquietas e uma pintura abstrata com borrões coloridos na parede creme a sua frente. Um hospital inteiro seria menor que o vazio que habitava seu peito. Fico com essa imagem na cabeça combinando com o calor da sua pele na minha até o fim da sessão. Muito melhor do que continuar visualizando Emma enfiando a faca nos próprios pulsos, a cena que tem se repetido na minha mente a dias e me atormentado desde então.

Quando eu tinha dez anos, e meus pais começavam a brigar ou simplesmente toda a realidade começava a pesar, ficava encarando o nada por um bom tempo até me ver longe dali. Ao mesmo tempo, queria e não queria chamar a Hannah. Queria tê-la perto de mim, queria que fosse minha calma, mas não queria vê-la envolvida em tudo aquilo. Não queria teu olhar de dó, o teu ficar por culpa e por pena. Talvez seja por isso que Callie passou os dias longe de mim e, quando aparece, aperta minhas mãos com força.

No fim da sessão, ela me dá um beijo no rosto e se levanta. Assim, sem mais nem menos.

— Até amanhã, Chris. — diz enquanto já se encaminha para a porta, sem nem ao menos se virar para isso.

— Até amanhã? Já vai? — pergunto, logo após levantar apressadamente e segurá-la pelo braço, fazendo se virar para mim.

— Já acabou aqui. E sim, já vou. É isso que garotas com depressão fazem, não é? Se enfurnar no quarto. — Ela dá um meio sorriso, que não demostra nem um mínimo pingo de uma felicidade sincera, mas sim toneladas de ironia. Talvez ela já tenha convido com o Jeff tempo suficiente pra uma vida.

Deslizo a mão pelo seu braço e seguro sua mão. Ela está a um passo de distância de mim.

— Senti sua falta, sabe. — falo, na esperança que isso a traga de volta para perto de mim em todos os sentidos possíveis, enquanto acaricio as costas da sua mão.

— Não precisa dizer isso só para, teoricamente, me fazer sentir melhor. Sei que passou esses dias com o Jeff, e não imagino que foram os piores dias da sua vida nem nada do tipo. — Ela puxa a mão de mim, e mesmo ainda parada a minha frente, demostra que vai me dar as costas a qualquer segundo e ir embora. Realmente não entendo porque raios ela está sendo ignorante comigo do nada.

— Sabe que não é assim. Senti sua falta de verdade, Callie. Pra cacete. — Não é como se eu não fosse capaz de mentir. Na verdade, sou um ótimo mentiroso geralmente. Só que pra ela, simplesmente não consigo. Então sim, realmente senti uma saudade do caramba dessa garota, sem nem um grama de mentira inclusa nisso. — Não quero que suma de novo por dias e fique presa naquele quarto.

— Não é como se me prendessem lá. Fico porque quero, porque, de um jeito louco, preciso disso. — Callie parece estar livre da momentânea revolta contra mim, e mantem o olhar baixo.

— Se precisa tanto então ficar no maldito quarto, apenas me deixe ficar com você, pelo menos. — Ela engole a seco, e então me encara, como se estivesse tentando decidir se é ou não uma péssima ideia, um momento antes de concordar com a cabeça e me deixar pegar sua mão para irmos para o dormitório.

Caminhamos em silêncio pelos corredores e subimos as escadas do mesmo jeito. Callie não parece a pessoa mais confortável do mundo ao meu lado, mas não suporto vê-la por dias no quarto sem nem ao menos comparecer as refeições. Nem sequer parece ela mesma.

— Tenho tido consultas com a Lena. — diz, de repente, quando já estamos no seu corredor.

— O quê?

— Você disse que só fico enfurnada do quarto, mas tenho tido consultas com a Lena. Todos os dias. Então, tecnicamente, não fico só no quarto.

— Ajuda? — pergunto, enquanto ela abre a porta do quarto e se joga na cama.

— Às vezes. Outras só parece que o que ela está dizendo não se aplica a mim ou sei lá. — ela responde e fecho a porta atrás de mim para me jogar na cama junto a ela. — A Dra. Lee ajuda?

— Às vezes. Gosto dela, na verdade. Não é tão ruim quanto poderia ser. ­— Estou deitado na ponta da cama, e as pernas dela estão viradas para a cabeceira, de modo que apenas nossos rostos fiquem no meio dos lençóis, um ao lado do outro, ambos encarando o teto.

Callie suspira fundo por um instante.

— Queria que ela voltasse logo. Que saísse do hospital e voltasse pra cá. —Ela faz uma pausa, e a sinto sorri. — Quer dizer, não é como se aqui fosse o melhor lugar do mundo, mas a quero bem.

— Ela vai voltar, Callie.

— Emma pode ter mil complicações ou sei lá, e os pais dela podem muito bem tirá-la daqui. É engraçado a parte onde ela tentou se matar por causa deles, e não do hospital. Não percebem que a única coisa que sabem fazer é mal a filha.

— Você teve a ausência, e ela, uma presença familiar ruim. Não consigo nem imaginar qual a pior situação.

— Não é um concurso sobre quem tem as piores mágoas. Cada um conhece e sente a dor que palpita no próprio peito, e só.

Ficamos em silêncio. Quero dizer que, por mim, ela não teria dor alguma. Mas fico em silêncio, imaginando a imensidão das dores dela. Como se sente, de verdade, quando não está tentando fazer todos se sentirem bem. No que ela pensa antes de dormir e todas essas coisas. Porque, de uma forma insana, quero conhecer todas as nuances dela, e não só todos os tons do azul dos seus olhos.

— Por que comentou da sua avó hoje? — pergunto, do nada, antes que possa pensar melhor a respeito disso.

— Não sei realmente. Acho que sempre tem um começo. Talvez nem fossem os cigarros, talvez tenha começado naquele maldito hospital. — Callie se vira para mim e me encara por um segundo. — Estou sendo vaga, não é? Quero desabafar mas simplesmente não sei se devo ou não guardar tudo isso.

— Só saiba que estou aqui, para te ouvir ou só para ficar do seu lado nessa posição esquisita. — Ela solta um pequeno sorriso e me faz sorrir junto. — Você pode me contar as partes boas, tudo que não foi um desastre no meio dos milhões de desastres.

— Não sei mais se consigo enxergar as partes boas. Talvez já esteja estragada demais pra isso.

— Tipo, enquanto meu pai bebia, quebrava coisas dentro de casa e batia na minha mãe, e enquanto as pessoas do colégio me odiavam, Steve me levava a jogos de beisebol. Comprávamos todas aquelas besteiras pra comer, e ele sempre terminava sujando a camiseta de mostarda. Vibrávamos juntos nos lances e voltávamos pra casa discutindo o jogo. Não podíamos ir sempre, já os ingressos vinham do dinheiro restante do pagamento do trabalho meio período de Steve, porque ele ainda estava no colégio, e nossos pais sempre esqueciam de pagar alguma conta. Mas era divertido, sabe, como irmãos de verdade.

— Seu irmão te ama. Sabe disso, não é? Acho que ele daria tudo pra não te ver aqui, desse jeito.

— Como a Eleanor.

— Como a Eleanor. Eu a amo, mas não conseguimos nos entender plenamente. Ela não consegue me entender, no caso. Veio aqui hoje e nem sabia direito o que me falar. Não gosto de deixar as pessoas sem palavras nesse sentido.

— Nunca se deram realmente bem?

— Somos diferentes. Temos os mesmos pais, mas eles a tratavam diferente. Era a primeira, afinal. Filhos mais velhos ou recebem toda a parte boa, ou toda a ruim. Eleanor era linda, inteligente, esperta e tudo mais. E eles a adoram, mesmo que ela nem ligue pra isso. E eu posso ser tudo isso, mas nunca será suficiente. Entende? —Faço que sim com a cabeça. —Eleanor nunca teve que entrar em nenhum concurso de beleza quando era pequena. Nunca esteve em incontáveis olimpíadas acadêmicas. Não precisava provar que era boa em algo. Eu era maquiada, vestida, arrumada, e treinada para cada maldito evento. Minha mãe só me amava nas vitórias, ou então fazia toda a viagem de volta no carro apontando os mil e um defeitos que eu tinha. É traumatizante, de certa forma. Achar que você não é suficiente nem para sua mãe. Quer dizer, então não sou suficiente pra ninguém, eu acho. — Ela faz uma pausa. — Minha avó era contra tudo isso, e quando morreu, pediu para que minha mãe parasse com aquilo. E então ela parou, realmente. Mal olhou na minha cara desde aquele dia, e já faz oito anos.

— Você é suficiente pra mim.

— O que?

— Disse que não é suficiente pra ninguém. Mas não, você é suficiente pra mim. Estar com você nesse exato momento é suficiente pra mim. — Paro por um segundo para avaliar a profundida de mentira nessa frase.

Não sei nem como consegui realmente mentir pra ela. Talvez pelo fato de que quero que dois pensamentos coexistam dentro de mim, e como não posso anular toda a ideologia do Objetivo Final, e não posso negar que de certo modo Callie é suficiente pra mim, apenas afirmo as duas coisas em momentos diferentes.

— Quero sair desse lugar, Chris.

Não respondo, porque evito pensar nisso. Não enxergo esse futuro que a Callie vê. Não consigo me ver fora do hospital.

— Só que isso parece estar tão longe as vezes. — continua, depois de uma leve pausa. — Não consigo não pensar que estou perdendo alguns anos da minha vida aqui dentro.

— Precisa ficar e melhorar antes de sair do hospital, Callie. Não pode simplesmente deixar o tratamento.

— Não é possível que você acredite nessa de tratamento.

— Você vai sair daqui. — Me viro em sua direção e ela faz o mesmo. — E ainda vai ser muito feliz, mesmo que não acredite nisso.

— Não posso mais participar dos concursos idiotas. Nem sei o que raios eu vou fazer da vida.

— Vai terminar o colégio com um supletivo ou sei lá. E quanto aos concursos, você não precisa mais deles. Jeff já te deu o título de Miss Suicídio, lembra?

— Não tem graça. — diz, mesmo que esteja rindo junto comigo. — Não é um título do qual minha mãe se orgulharia.

— Ela não pode dizer por aí ‘olha que linda a minha filha, ela tentou se matar, sabia?’. Não pode se gabar disso nas festas de família? Que pena.

— E qual seria o prêmio do concurso? Uma caixa de lâminas e uma estadia paga num hospital psiquiátrico? — ela ri da própria fala, e não consigo evitar rir também. — Se eu não fizer piada da minha desgraça as vezes, vou me afundar nela. — declara, sua voz num tom muito mais sério do que antes.

— Aprendeu isso com a Emma?

— Talvez o jeito dela de lidar com as coisas não seja tão bom, afinal. Mas gosto disso, de tentar deixar menos sério.

— Se isolar no quarto não é um jeito muito melhor.

— Se isolar no quarto com um garoto bonitinho e quase sempre deprimido, que está pegando o senso de humor do amigo psicopata, é uma melhor forma, na sua opinião?

— Jeff não é um psicopata tão ruim assim. — falo, mesmo sabendo que Callie vai rebater logo em seguida.

— Ah claro, porque psicopatas são super do bem e amigáveis. Tão amigáveis que ficam te encarando na terapia como se fosse te matar. E isso nem te assusta, não é, Chris?

— Sou um covarde assumido. — sorrio quando falo, e Callie parece fazer o mesmo. Gosto da atmosfera do momento, leve, como se pudéssemos falar tudo o que sempre quisemos. Como se por alguns minutos, naquele quarto, estivéssemos isentos de tudo de ruim que existe.

— Qual seu maior medo então, Senhor Covarde Assumido?

— Nunca ser amado incondicionalmente. — Mordo a parte de dentro da boca. — E ratos.

Callie acaba gargalhando e se virando novamente para mim.

— Porque claro, não há nenhum medo maior do que ratos. — diz, de forma irônica. — Tenho medo de, sei lá, nunca ser suficiente pra mim mesma. Viver infeliz pra sempre e tal. E medo daqueles cães enormes e totalmente assustadores.

— Ou agrada a você mesma, ou as outras pessoas. Não tem essa de ser perfeita sempre. Não precisa de concursos, não precisa provar nada a ninguém.

— E você não precisa ter medo de nunca ser amado incondicionalmente. Alguém ainda vai te amar, com cada defeito e com cada erro.

— E se eu tiver feito algo horrível como o Jeff ou sei lá?

— Aí você lembra que isso ficou no passado. Não pode se lamentar e se arrepender pra sempre. Às vezes, é só questão de aceitar as coisas como elas são.

— E você se arrepende?

— Do que?

— De não ter se matado de verdade, de não ter cortado mais fundo?

— Não em momentos como esse. Não agora.


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Notas finais do capítulo

Sim, esse capítulo ficou bem comprido, eu sei. Mas como eu poderia cortar essa cena final, né non?
Perguntas de hoje:
1- O que acham do Jeff? Sei que ele divide opiniões e que nesse capítulo foi bem escroto em algumas falas.
2- O nome da Nikky voltou. Acham que ela é só louca ou ainda está com o Jeff por algum outro motivo?
3- Vamos fazer um bolão: quem dos personagens vai sair do hospital primeiro? Sair vivo, no caso. Chris e Jeff estavam conversando sobre isso e quero saber o que acham.
4- Gostam dessas lembranças mais da infancia dos personagens? Teve uma mini Callie aí no capítulo.
5- O que esperam de cada um dos personagens depois do que aconteceu com a Emma? Deu pra reparar que a Callie teve um jeito bem bad de lidar com isso.
6- O QUE FOI ESSA CENA DE CHALLIE?
7- O que esperam/ acham desses dois? Deu pra perceber que a cada capítulo eu aprofundo mais a relação entre eles.
Bem, é isso. Acho que até o próximo capítulo eu vou ter terminado de montar uma playlist pra TMoC, então deixem recomendações de músicas se puderem.
Até mais ♥