Estávamos em meu quarto e eu tinha acabado de contar tudo para elas. Estava sentada num puff no canto do quarto esperando a reação.

-Você é idiota? – ela não esperou eu responder e continuou. – como você pôde dispensar um deus daquele?

-Você acha que eu não me arrependi? Eu perdi a pessoa que eu mais amava por idiotice! – eu disse irritada.

-Mas agora você tem sua chance perfeita! – disse Ann - ele quer você, não quer?

-Você não imagina o quanto – eu respondi lembrando-me dos beijos que Kei me roubou.

-Ui, o que você quer dizer com isso? – perguntou Ann com malicia.

-Credo, Ann você é uma pervertida! – eu disse corada – não é nada disso que você está pensando.

-Se não é o que ela ta pensando, o que é? – perguntou Yume.

-Eu apenas sei... A forma que ele me olha, a forma que ele fala comigo... A forma que ele sempre me agarra quando tem chance... – eu disse pensativa... A forma que ele disse que me amava aquela tarde...

-E você? Ainda o ama? – Yume me perguntou e eu pensei por um momento.

A falta que ele me fez, a felicidade que eu senti quando eu o reencontrei, mesmo naquelas circunstancias nada comuns...

-Amo. Muito – eu respondi – sempre amei e provavelmente sempre vou amar.

-Então não sei o que você está esperando pra ligar pra ele e dizer isso! – disse Ann inconformada.

-Vou ligar pra ele e dizer o que? – eu disse frustrada – “sabe, Kei eu fugi por que eu te amava e você correspondia”? Isso soa idiota!

-Isso é idiota! – disse Yume – convenhamos, que pessoa em sã consciência dispensa o cara que ama por que ele corresponde?

-Ta bom, eu não sou normal. Vocês já deixaram isso claro. Agora vamos mudar de assunto? – elas já estacam começando a me incomodar.

-Só não deixe a oportunidade passar!

-Eu não vou! – disse irritada – errar é humano, persistir no erro é burrice.

-Eu sei – disse Ann – bem agora temos que ir, eu prometi a Yume que iria fazer compras com ela.

-Então tchau. – as duas saíram e eu fiquei perdida em pensamentos.

-O que você está fazendo aí deitada ainda de uniforme, Hinata? – minha mãe entrou em meu quarto já me censurando.

-Nada não, estou apenas pensando – respondi.

-Pensando no que – ela perguntou desconfiada.

-Mãe, eu encontrei o Keitaro – resolvi contar pra ela ocultando algumas partes.

-Keitaro? O Hiroshi Keitaro? – minha mãe estava surpresa e ao mesmo tempo muito feliz. Ela adorava o Kei e tinha esperanças que eu namorasse ele. Bem pelo visto, se tudo desse certo eu realizaria um desejo da minha mãe.

-Claro, mãe, quantos Keitaros nós conhecemos? Ele está trabalhando num café perto da escola. – é claro que eu não iria mentor pra minha mãe, isso me levaria direto para o inferno! Eu apenas omitiria certas partes.

-Nossa! Isso é ótimo! Ele sempre foi um garoto esforçado. Você pegou o endereço dele? – claro mãe, eu dormi lá no sábado depois de desmaiar bêbada num beco atrás de uma boate com um estuprador.

É claro que eu não disse isso. Não queria que minha mãe tivesse um ataque cardíaco tão cedo.

-Sim mãe, claro que peguei. Também passei o endereço daqui. Sabia que ele ta morando sozinho agora? – eu disse orgulhosa.

Ficamos um tempo conversando sobre Kei no qual minha mãe fez questão re ressaltar que se fosse pra eu namorar, que fosse com ele. Ai, ai, mal sabe ela que está mais próxima do genro perfeito do que imagina.

Eu tomei um banho demorado e resolvi usar a internet, principalmente para adicionar o e-mail do Kei.

Eu fui tomada por uma onda de nostalgia quando vi seu e-mail. Simples, como sempre. Apenas o seu nome. Relembrei os tempos que passávamos juntos. Passávamos tardes andando de bicicleta, brincando, assistíamos tv juntos e abraçados... Cara, nós até mesmo dormíamos juntos! Inocentemente... Eu sentia tanta falta de seus braços...

Hiroshi diz: oi é mesmo você?

 Eu pulei quando uma janela de conversa do messeger se abriu. Seu nick tão simples quanto o e-mail, apenas seu sobrenome. Sério como sempre...

Hinata diz: Nossa Kei, já me aceitou?

Ao olhar o relógio percebi que já era mais de oito horas. Nossa, viajei legal, por isso ele ta online.

Hiroshi diz: nossa nunca imaginei que você me adicionaria primeiro. Cheguei a pensar que você tinha me passado o e-mail errado.

Hinata diz: haha! Pensei que você não estava mais com raiva de mim.

Hiroshi diz: eu não tenho raiva de você, linda, só gosto de te irritar! XD

Hinata diz: Muito engraçado ¬¬

Hiroshi: Falando sério agora. Eu estou com saudades.

Hinata diz: você me viu hoje a tarde!

Hiroshi diz: não foi o suficiente para acabar com dois anos de saudades.

Não soube o que dizer, então preferi não dizer nada. Era mais seguro.

Hiroshi diz: Conversar assim não tem graça. Espera.

 No momento seguinte ouvi meu celular tocando.

-Alô – eu disse automaticamente.

-Hum, bem melhor – eu ouvi a voz de Kei e senti um arrepio. – como vai a minha namorada?

-Não seria futura namorada? – eu brinquei.

-Claro, claro. Mas mesmo que não seja do meu feitio me gabar, acho que já estou quase te conquistando.

Fiquei quieta por um momento. Droga, por que ele tinha que me conhecer tão bem?

-Ei, não me diga que esse é o “silencio constrangedor, o retorno?” – ele disse um pouco apreensivo.

-Claro que não! – eu disse – já passamos dessa parte.

-Sim, passamos – ele disse um pouco triste. De repente sua voz se alegrou – e então, quase namorada, o que você pretende fazer no sábado?

-Não sei, talvez eu fique aqui em casa dormindo, talvez a Ann e a Yume me arrastem para algum lugar... – respondi.

-Posso te dar uma terceira opção? – ele disse um pouco receoso.

-Manda – eu disse. Oh meu deus, ele ia me chamar pra sair?!

-Por que não passamos o dia juntos? – ele perguntou ainda um pouco receoso.

-Por que está me perguntando com esse ar de duvida? – eu lhe disse um pouco rindo – assim parece que você não quer realmente.

-Ok, então eu te encontro na estação de metro do centro sábado ao meio dia. – ele disse rindo – E não venha me falar que agora eu não te dei escolha!

-Engraçadinho! – eu lhe disse. – então nos vemos no sábado.

-Por mim eu iria te ver hoje! – ele disse – mas pegaria mal se eu aparecesse aí essa hora.

-Seria bom ver você. – eu confessei.

-Hum, agora só falta você dizer que me ama. – ele brincou.

-Hinata, vem comer! – minha mãe gritou lá de baixo.

-Sua mãe está te chamando, não é? – ele disse triste – acho que é hora de dar tchau.

-Pois é, só não vai dizer que eu estou te evitando. – eu brinquei. – um beijão!

-Só se for na boca.- ele disse com malicia. - Bem, o meu você sabe onde é. Beijo na sua boca! Te amo!

-Tchau! – eu não conseguiria dizer “eu também” tão fácil – te vejo no sábado.

Desliguei o telefone e fiquei pensativa. Sim, eu teria um encontro com o Kei no sábado.