(...) de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi...

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.

Charles Bukowski

As coisas podem ter maneiras estranhas de começarem. Um namoro, um emprego, uma amizade. Tudo tem um início. Tudo tem um fim. Mas não é realmente a ordem cronológica que importa, alguns gostam de começarem do fim. É a maneira como acontece.
No meu caso, por exemplo, partimos do princípio mesmo. Não que o final não seja bom, mas é que algumas coisas precisam ser entendidas antes de serem reveladas, e para isso, a largada precisa ser dada — do início.
Algumas coisas apenas acontecem. Boas ou ruins. Não há como evitar, e às vezes, nem como entender. Provavelmente eu nunca entenderei os princípios da física; nem porque os gatos são inimigos naturais dos cachorros; muito menos como tudo aquilo começou.
Mas é exatamente isso: não dá para entender. Em um momento você está determinando todas as causas pelas quais vai lutar nesta vida, no outro, já está lutando por elas. Você está entrando no avião, segue para sua poltrona marcada na passagem e se senta. Então aí começa. Esse é o início, o meu início.

Em um segundo somos jovens despreocupados, rebeldes sem causas dando dor de cabeça para nossos pais. Escutamos músicas, temos ídolos e queremos ser ídolos de alguém. Temos sonhos e queremos cumpri-los. Estamos abrindo os braços para o destino e nos entregando a ele. Queremos ser livres.
No outro segundo, nos vemos encurralados com a realidade batendo a nossa porta — estamos crescendo. Envelhecendo a cada instante, preocupações brotando de todos os lados. O tempo não para, e nos vemos divididos entre a vontade de fugir de nossas responsabilidades ou encara-las de frente.
Nossos sonhos estão escapando, nossa juventude também.
O ensino médio está acabando, as provas finais chegando, e as decisões mais difíceis de nossas vidas se arrastam como a correnteza em nossa direção. É hora da verdade, de sermos pressionados por todos, inclusive, nós mesmos.

E é nesse momento, de angústia e pressão, que nós jovens fazemos a única coisa que sabemos fazer de melhor: enlouquecemos.

E assim, podemos seguir para o final. Um conturbado final tipicamente adolescente.