Só mais alguns dias para o nascimento de Marie. Nove meses. Dá pra acreditar? Estava sentada na cadeira ao lado do berço branco sonhando. Um monte de coisas passou pela minha cabeça até chegarmos aqui. O dia em que conheci Damon.

Nós estávamos na faculdade. Ele fazia direito e eu ainda estava vendo se essa era a minha praia. Eu até que achava direito legal, mas eu não sabia se esse era o certo para mim. Ele era como um adolescente que vivia me provocando. Eu o achava um chato mas, de repente, eu o conheci melhor. Eu sempre o achei bonito, sabe? E ele começou a mostrar interesse por mim. Nós começamos a sair, namoramos, aí eu me vi apaixonada por ele. Sofri um pouco, sua demora para admitir seus sentimentos me matava. Mas aí, um dia, ele apareceu em minha porta dizendo:

–Elena Gilbert, eu estou apaixonado por você!- E me consumiu com um beijo longo e amoroso.

O dia do nosso casamento foi o mais esperado por mim. Não foi um casamento extravagante, mas também não foi simples. Teve cerimonia, um vestido lindo de noiva, bolo, convidados, um sonho. Caroline preparou tudo, claro. Não poderia deixar de chorar pelo meu casamento, foi um cerimonia marcante. Fizemos nossas juras de amor, e por fim, estávamos juntos.

–Elena, eu pedi uma pizza, ok?- perguntou. Eu estava quase dormindo.

–Ok- falei com a voz baixinha e sonolenta. Senti suas mãos firmes me segurarem e me carregarem para o nosso quarto. Ele me pôs na cama e acariciou meus cabelos em um carinho gostoso.

Mais uma lembrança. O dia em que descobri que estava grávida.

Nós brigamos feio naquele dia. Eu o havia feito passar vergonha em pleno jantar de negócios por um ciúme estupido. A mulher do cliente dele estava dando em cima do meu marido, se insinuou descaradamente e ninguém fazia nada. Ela merecia umas boas respostas. Damon me olhava reprovador vez ou outra. Todos me encaravam sérios e eu nem me importava. Quando chegamos em casa é que foi o problema.

–Elena, qual é o seu problema? Você me fez passar vergonha, sabia?- perguntou irritado.

–Aquela mulher estava sendo uma estúpida e você não percebeu! Ela estava me provocando, ficava jogando charme para cima de você e ninguém nem se quer se pronunciava! O que quer que eu faça? Que eu fique parada como uma idiota vendo tudo acontecer?

–Esse jantar era importante! Você sabe que não dou a mínima para as outras mulheres pois só tenho olhos para você. Não confia em mim?

–Arg! Você sabe como sou, não iria deixar barato para ela. E eu confio em você, mas não estava mais suportando aquela...- Ele me cortou.

–Pra mim, já deu! Vou dormir na sala.

–Ótimo!- falei me virando de costas e cruzando os braços.

Assim que ele saiu do quarto, me senti culpada. Me sentei na beirada da cama e comecei a chorar. Tentei me controlar mas não conseguia. Senti uma sensação ruim, algo que vinha lá de dentro. Eu queria pôr para fora. Corri para o banheiro e vomitei até me sentir melhor. Voltei para o quarto e me senti zonza. Aos poucos fui caindo até me encontrar no chão.

–Damon- o chamei usando o máximo de voz que tinha.

Quando acordei, meus olhos arderam com a claridade. Depois que consegui ver tudo nitidamente, Damon estava cochilando numa cadeira ao meu lado com o rosto cansado. Me levantei da cama e caminhei até o banheiro. Me olhei no espelho e fiquei um pouco assustada com a minha cara. Eu estava muito pálida. Minha barriga roncou, senti vontade de comer sushi. Tinha muito tempo que eu não comia sushi.

Saí do banheiro e voltei para o quarto. Depois de olhar uma última vez para o Damon, andei pelos corredores procurando por uma lanchonete. Duas enfermeiras me barraram.

–Era para a senhorita estar no quarto. Por favor, volte - falou uma delas.

–Mas eu quero comer- falei.

–Logo traremos sua comida, mas por favor volte.- Elas novamente me levaram para o quarto. Mas Damon não estava mais lá.

–Elena, ainda bem que está aqui- disse Damon entrando no quarto em disparada. Quando me viu, correu para me abraçar. Eu ainda estava sem jeito pela nossa briga anterior, mas tentei não me importar com isso. Retribui o abraço, afundando o meu rosto em seu pescoço. O que importava mesmo é que ele estava ali comigo. - Eu estava tão preocupado. Onde estava?

–Procurando algo para comer - falei me afastando e dando de ombros. - O que aconteceu?

–Bom... você desmaiou no quarto. Eu ouvi você gritar e... quando vi você caída no chão, fui correndo para o hospital. Me desculpe pela nossa briga. Eu não gosto de brigar com você. - Ele chegou mais perto de mim e segurou minha mão para beijar.

–Tudo bem. Mas o que eu tenho? É grave?- perguntei um pouco aflita.

O médico apareceu no quarto com uma expressão amigável.

–Senhor e Senhora Salvatore, creio que o motivo do desmaio da senhorita seja uma boa notícia. Vocês vão ter um bebê.- Um choque passou por meu corpo assim que ele disse as últimas palavras. Pus a mão em minha barriga não acreditando que tinha um ser dentro de mim. Damon me olhou de olhos arregalados, ele começou a alargar um sorriso para mim. Eu também sorri de alegria. Eu estava esperando um bebê nosso.

...

No meio da noite, senti uma contração em minha barriga. Era doloroso. Acordei Damon com meus gritos de dor. Ele entendeu na hora o que aquilo significava. Já estava na hora.

Corremos a procura das coisinhas do bebê, camisolas para o hospital, tudo. Fomos para o carro. As contrações ainda estavam fortes. Damon ficava gesticulando para que eu respirasse fundo, mas o que eu queria mesmo é que ele parasse porque aquilo só estava me deixando tonta. Ele esticou a mão para que eu a segurasse, quase esmaguei os dedos do coitado.

Chegando ao hospital, fui imediatamente encaminhada para um quarto. Fiquei horas sentindo dor. Ao mesmo tempo que Damon estava feliz, ele ficava preocupado com minhas caras de dor por causa das contrações.

–Vai ficar tudo bem - as palavras de conforto dele não ajudavam muito, mas era o suficiente para me manter firme.

–Nossa filha vai nascer, Damon- eu disse com alegria.

–Sim, ela vai - ele me beijou.

Os enfermeiros apareceram no quarto com uma maleta. Me obrigaram a vestir uma camisola estúpida e uma touca. Damon vestiu uma roupa que os enfermeiros também vestiam. Me mandaram fazer força para o bebê sair. Foi horrível, suei muito, gritei, mas aquele bebê nem fazia questão de cair fora. Segurei a mão de Damon e ele me dizia palavras de confiança. Finalmente ouvi um chorinho. Damon se afastou para que pudesse ver o lindo bebezinho. Minha menina.

Ele a trouxe para mais perto para que eu pudesse vê-la. A peguei no colo e admirei seu rostinho redondo e rosado. Ela era linda. Ainda não podia ver seus olhos...

–Eu aposto que os olhos são castanhos. Não se esqueça que ainda quero um cachorro- ele riu com as lágrimas escorrendo pelos olhos.

–Se forem azuis, eu vou ganhar uma reforma na cozinha?- perguntei exausta pelo esforço que fiz. Mas não deixei de esboçar um sorriso.

–Talvez...

Fui consumida pelo cansaço. Nunca dormi tão mal como naquela noite. Cama desconfortável, cheiro de hospital, detestava aquele cheiro. Acordei com a enfermeira entrando no quarto com um embrulho cor de rosa. Eu ainda estava cansada, mas logo me animei ao ver meu neném.

–Está na hora de amamentar.- Ela pôs Marie em meus braços e finalmente pude ver seus olhos me olhando. Ela estava com o dedinho na boca me olhando com certo interesse.

–Acho que vou ter uma cozinha nova- falei rindo. Ao ouvir minha voz, ela deu um sorrisinho meigo. A amamentava enquanto ela ficava segurando meu dedo com sua mão minúscula.- Minha linda Marie.

Damon entrou no quarto e encostou na parede nos admirando. A enfermeira já havia nos deixado a sós para que pudéssemos aproveitar o primeiro momento com nossa filha juntos. Ele se aproximou da cama e observou a nossa linda filhinha.

–Marie tem a sua cara, mas pelo visto eu perdi a aposta.

–Não se esqueça que vou querer azulejos brancos para o chão da cozinha - falei rindo.

Mal podia esperar pela reforma da cozinha e por finalmente cair fora daquele hospital. Depois passaríamos no petshop. Ainda estava devendo um cão pro Damon por causa da primeira aposta. Logo teríamos a vida de pais de primeira viagem.