1 – A bruxa má.

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Estava cansado, exausto, e nem mesmo a água corrente e quente do chuveiro caindo em seus ombros parecia aliviar a sua exaustão. Ficou novamente até tarde trabalhando no escritório, quase um hábito se refugiar naquela parte da casa.

Talvez não fosse só cansaço do trabalho.

A porta do banheiro foi aberta e logo o cheiro característico e marcante de sua esposa sobrepôs o humilde cheiro de sabonete. O Chanel Nº 5 era quase um marca registrada da mulher.

- Itachi, pode ir à reunião de Pais e Mestres de Yuki? É na quinta-feira, não poderei ir porque estarei trabalhando. – A voz tão conhecida aos seus ouvidos soou irritadiça e impaciente, o timbre que ela mais usava ultimamente.

- É claro.

- Ótimo. – Não parecia um agradecimento de qualquer maneira, ela nunca os dava.

- Você não quer tomar um banho?

A ouviu abrir a porta do armário – aquele que rangia e ela vivia reclamando – e provavelmente pegar alguma coisa.

- Comigo.

Novamente teve o silêncio como resposta.

Iria dizer mais alguma coisa, porém ouviu a porta do banheiro abrir novamente e ela lhe responder.

- Não tenho tempo para isso.

A porta bateu e pouco a pouco o perfume se esvaneceu.

E ele não pode fazer nada além de dar os ombros, pegar um pouco de shampoo e fingir que aquelas palavras nunca o afetariam.

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Descia as escadas com pressa, quase correndo, vestia somente uma calça de moletom azul e o longo cabelo cobria parcialmente uma tatuagem no braço esquerdo. Quando chegou a sala viu que esta estava repleta de brinquedos e com um suspiro começou a recolhê-los.

Não se lembrava de haver tantos pokemóns.

Quando tudo estava guardado ele tornou a subir as escadas, dessa vez com uma grande caixa de plástico transparente onde continha todos os brinquedos do filho de sete anos. Quando alcançou a porta com adesivos enormes das Tartarugas Ninjas ele a abriu com a mão livre e acendeu a luz.

Ouviu um breve resmungo.

- Eu sei que está acordado, rapazinho. – Disse colocando a caixa em um canto estratégico do tapete branco.

Outro resmungo e um farfalhar de cobertas.

- Você quer que sua mãe venha te acordar? Porque eu posso chama-la.

- Não! A mamãe não! – Com muita relutância o pequeno se pôs de pé, Itachi reparou que o pijama estampado de morcegos do Batman já estava ficando curto.

Não era segredo que sua esposa não possuía uma paciência privilegiada como a sua tampouco aturava brincadeiras e preguiça, era uma mulher séria e pulso firme, praticamente de aço. Para Yuki ser acordado pela mãe era quase um pesadelo, já que sempre, sempre enrolava o máximo que podia entre as cobertas.

E ela sempre, sempre tinha um discurso sobre como as responsabilidades começam cedo, além de uma voz alta e irritada.

- Se demorar mais um pouco vai se atrasar para a aula. Já para o banho.

- Tá bom, já estou indo, mas eu nem sei porque a gente tem que tomar banho todo dia, eu já tomei ontem! – Resmungava enquanto tirava o pijama e era empurrado pelo pai até o banheiro.

- Porque higiene é importante, e não se esqueça de lavar os pés. – Disse antes de fechar a porta e só saiu quando escutou o barulho do chuveiro sendo ligado.

Yuki sempre dava um jeito de escapar dos banhos.

Voltou para o quarto do filho, separou o uniforme e o colocou na cama e vasculhando umas duas gavetas achou um par de meias totalmente brancas – milagrosamente brancas, sem nenhum encardidinho – e na sapateira alcançou os malditos tênis que piscavam e faziam um barulho irritante.

Uma criança não seria uma criança sem esses diabólicos tênis, ele teve um, seu irmão tivera um e agora seu filho também – e o adorava – e provavelmente os filhos de seu filho também teriam.

Certamente o mal da humanidade.

Quando tudo estava em ordem novamente desceu as escadas e chegando a cozinha encontrou sua mulher encostada no balcão, ao lado da cafeteria vermelha, segurava um copo térmico e discutia com alguém ao celular.

Como sempre ela estava impecável, a saia cinza de cintura alta marcava as belas curvas sinuosas, a camisa social branca estava com apenas o primeiro botão aberto, o jaleco branco pendurado no antebraço esquerdo, os saltos alto também na cor branca deixavam as pernas mais elegantes do que já eram.

O cabelo extremamente liso e tingido de um rosa claro – rebeldia de adolescente que se seguia até hoje – era bem arrumado em um corte curto e sofisticado acompanhado de uma delicada franja lateral.

- Segure o paciente, eu já estou chegando. – Desligou a chamada e alcançou a chave do carro que estava por perto.

- Você terá que levar o Yuki para a escola hoje, tenho uma emergência no hospital. – Passou por ele e o perfume se intensificou – Voltarei tarde, não me espere acordado.

Oh, ele não fazia isso há muito tempo.