O ruivo da casa 813 escrita por Ally


Capítulo 2
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– Mabel, está com olheiras terriveis o que houve?

– Não dormi direito.

– Pois devia, está horrivel. - Lily saiu da mesa acabando o seu mingau.

– Não liga pra ela, é insuportavel. - Shelby levava á colher a boca.

– Nunca liguei para garotas como ela.

Mexi a colher no mingau grudento de aveia. Meus olhos percorriam as paredes descascadas do orfanato, não conseguia comer, nem me concentrar, a casa oitocentos e treze não deixava meus pensamentos nem um segundo sequer.

– Senhoritas. - Os saltos de Madame Lapudia faziam um barulho estranho no solado. - As tarefas não vão se realizar sozinhas! Apressem-se.

Deixei o refeitório e segui até o meu dormitório, amarrei o cabelo numa trança longa e calcei minhas botas de chuva. Desci as escadas e as outras meninas já estavam fazendo os seus afazeres. Tratei de pegar a pá e tirar a neve da porta de entrada. Shelby usava um casaco rosa florido, não era o cinza e horrível que ganhavamos do orfanato, era mais um dos presentes de sua avó Hortélia. Ela lutava pela guarda de Shelby desde que ficará orfã, e vinha visitar a neta toda semana. Eu sabia que estava próximo de Shelby sair do orfanato, mesmo ficando feliz por ela, sentia que ia ficar sozinha todos os dias, e essa ideia me assustava um pouco.

– Está tão frio, e não tem ninguém na rua. - Shelby resmungava, chutando uma bola de neve que se formará em seus pés. Seu cabelo ruivo caia sobre os olhos.

– Só aquele garoto ali.

– Que garoto? - Shelby virou-se assustada para mim.

– Aquele dali, encostado na árvore do outro lado da rua. - Apontei o dedo e ela recuou.

– Não tem ninguém ali Mabel! Pare de querer me assustar. - Ela largou sua pá no chão e correu para dentro do orfanato. Garota medrosa.

Mas, tinha alguém ali. Ele não era muito alto. Não consegui enxergar o seu rosto, mas o cabelo era vermelho vivo, como sangue. Ele usava um casaco preto e botas da mesma cor.

– Ei, você!

Gritei, mas foi em vão. O silêncio permanecia.

– Estou falando com você, garoto de preto!

Bati o pé tão forte fazendo neve espirrar em meu rosto.

Me limpava distraída e quando olhei de novo, o garoto havia se virado. Estava de frente agora, me olhando. Céus, como seu rosto era branco. Os olhos tinham uma cor que não consegui definir, maldita miopia.

– Vem até aqui. - Gritei novamente, e ele se escondeu atrás da árvore.

Droga, quais eram as intenções desse idiota ?

Atravessei a rua com um certo temor, mas a curiosidade falava mais alto. Cheguei até a arvore e para minha surpresa, não havia ninguém lá.

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– Até quando ficará brava comigo? - Shelby me olhou torto.

– Você tentou me assustar! - Ela cruzou os braços.

– Mas tinha alguém lá, acredite em mim.

– Para Mabel! Sei que sou medrosa, mas não devia caçoar tanto de mim por isso, ainda sou sua amiga se é que você se lembra. - A garota estava com os olhos úmidos.

– Shelby, não chore por favor, eu não quis...

– O que está acontecendo aqui? - Cassiana invadiu o quarto.

Ela olhou para Shelby que chorava encolhida num canto.

– Céus, Mabel, o que fez a garota?

– Nada.

– Venha comigo agora. - A professora me puxou pelo pulso até a sala de madame Lapudia, que por Deus, não estava lá.

– Vou ser razoável dessa vez. - Cassiana puxou uns papéis no velho armário. - Está vendo isso? - Ela me estendeu um dos papéis.

Assenti com a cabeça.

– É uma lista dos afazeres de inverno que ainda faltam, além de tirar a neve da porta de entrada, você também vai limpar os fundos.

– Não por favor!

– Isso é para aprender a não contar mentiras, mocinha. - Cassiana fez uma careta e saiu da sala.

Droga.

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Já era quase noite, e lá estava eu. Sozinha nos fundos do orfanato. Usava aquelas botas horrendas e dois casacos. O frio congelava minhas mãos mesmo de luva. E eu podia jurar que meus dedinhos do pé tinham se tornado pedra de gelo. Enquanto isso, as outras orfãs estavam lá, sentadas em frente á lareira tomando seu chocolate quente.

– É frustrante quando não acreditam em nós não é mesmo?

Uma voz rouca e melodiosa ao mesmo tempo quebrou todo o silêncio que ali estava. Cai para trás de bunda na neve quando reconheci á quem pertencia a voz.

– Você! Garoto maldito! Estou aqui por sua causa.

Ele se encontrava em pé em meio a neve. Usava o mesmo casaco preto e as botas de ontem. O vento gelado atingia em cheio seu rosto, e eu conseguia ver claramente gotinhas de gelo se formando nas pontas de seu cabelo ruivo. Mas, o garoto não parecia sentir frio.

– Ei, não está vendo que está nevando? Vai pegar um resfriado se continuar ai. - Falei o encarando, sua expressão sombria me dava medo de me aproximar.

– Não sou eu que estou sentado no chão com a roupa coberta de neve.

Ele riu e então se virou.

– Quem é você? - Gritei enquanto me levantava.

– Não sei e você?

– Oras! E-Eu sei quem sou!

O garoto desviou o olhar.

– Qual seu nome pelo menos? - Cheguei mais perto, e ele deu dois passos para trás. Droga, seus olhos eram hipnotizantes.

– Meu nome? Não sei, não me lembro, talvez eu não tenha um nome.

– Está gozando com a minha cara? Todo mundo tem um nome.

Ele fez uma careta.

– Está vindo alguém. - Ele disse. - Te vejo por aí.

E então eu pisquei e ele tinha sumido.

Como uma gota no oceano.

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Notas finais do capítulo

Comentem o que estão achando, é importante. ^-^ ' até o próximo.