O dia amanheceu naquela sexta quase tão quente quanto esteve na quinta-feira. Naruto saltou da cama bem cedo, tão radiante quanto o próprio sol, a aventura do dia anterior ainda fresca e lúdica em sua memória como um daqueles sonhos realistas que confundem a mente. Mas não era um sonho, o cheiro de cloro de piscina que desprendia de seu cabelo lhe trazia com clareza o gosto dos beijos escondidos que trocara com Sasuke naquela madrugada.

Checou as mensagens e ligações perdidas em seu celular, tomou uma ducha fria e desceu para o café da manhã. Sai já estava no refeitório, ao vê-lo fez uma expressão que lembrou a Naruto de quando os professores vinham reclamar de suas notas baixas.

–Bom dia! - disse-lhe com um enorme sorriso, ignorando o olhar severo.

–Aonde você se meteu ontem?

Naruto suspirou pacientemente.

–Eu acordei atrasado e acabei pegando o Sasuke fugindo da escola, aí ele me chamou pra ir junto.

–E você simplesmente foi, é isso?

–Quer saber, Sai? Você pode tentar o quanto quiser, não há nada nesse mundo que vai fazer eu me sentir mal por ontem, porque eu tive o melhor dia de toda a minha vida e eu nunca vou me arrepender disso.

Sai relaxou a expressão, com um suspiro curto e um olhar paternal.

–Ao julgar por esse sorriso, eu já imagino como deve ter sido.

Naruto corou e abaixou os olhos para o próprio prato, o sorriso ainda firme em seu rosto.

–Depois você me conta direito como foi o melhor dia da sua vida, mas agora é bom você pensar no que vai dizer pra Sakura, porque ela tá furiosa com você.

O sorriso murchou instantaneamente ao ouvir o nome da amiga. Sai olhava hesitante para alguém que se aproximava às costas de Naruto, que mal teve tempo de preparar-se antes que Sakura desse um chute violento no pé de sua cadeira e se sentasse ao seu lado.

–O que você tem na cabeça? - esbravejou a garota - Por acaso tá tentando me matar de preocupação?

–Sakura, eu..

–Não! Shh! Cala a boca! Aonde vocês foram?

–Na cidade, a gente só...

–Por que você não me avisou nada?

–Eu não tava planejando isso, eu só encontrei ele fugindo, ele falou pra eu ir junto e eu acabei indo... Eu juro que tava tentando convencer ele de ficar, mas ele não ia mudar de ideia!

–Podia ter mandado uma mensagem, alguma coisa!

–Não pensei nisso...

–E quem vocês encontraram lá?

–Quê? Ninguém!

–Não? O Sasuke não se encontrou com ninguém por lá? Tem certeza?

–Tenho! Por que isso?

Ela respirou por um momento, parecendo confusa.

–O que vocês dois ficaram fazendo o dia inteiro?

–Eu... Ahn... - o garoto encolheu os ombros – Sei lá, passeando...

Sakura o encarou com desconfiança por um instante, em seguida tomou um ar de perplexidade, como se houvesse engasgado com alguma coisa, e levantou-se da mesa sem dizer mais palavra nenhuma.

–O que eu fiz? - perguntou Naruto confuso quando a garota se afastou.

–Eu acho que ela se tocou – disse Sai com seriedade, ainda olhando na direção que Sakura havia saído. Naruto sentiu o estômago embrulhar.

–Foi alguma coisa que eu disse?

Sai deu de ombros e voltou sua atenção para o próprio café da manhã. Angustiado, Naruto puxou o celular do bolso e abriu navegador no endereço de sempre.

“Bom dia, Ish!

Trago mais informações sobre a escapulida dos dois mocinhos do 3ºA! Parece que ninguém viu quando o Uzumaki voltou, mas ouvi dizer que o Uchiha chegou em seu quarto de madrugada, completamente ensopado da cabeça aos pés e com um sorriso de quem se divertiu muito ontem, se é que vocês me entendem.

Tenham uma sexta-feira fabulosa e não se esqueçam de estudar para as provas!

Beijinhos,

SS”

Naruto sentiu-se de repente preso entre uma vontade maravilhosa de sair correndo pela escola gritando e virando estrelinhas e um instinto de se esconder debaixo da mesa e chorar. Por um lado, saber que Sasuke subiu para o próprio quarto sorrindo fez faíscas explodirem em seu coração, por outro, enquanto os colegas poderiam especular, Sakura já tinha informações o suficiente para ligar todos os pontos.

Sai o fez terminar de comer seu desejum antes de irem para a aula. Naruto ajeitou-se em sua carteira rapidamente e passou a observar a porta com atenção conforme os outros colegas entravam na sala. Não demorou muito para que avistasse quem estava esperando, Sasuke já entrou na classe com os olhos na direção da mesa do loiro. Seus olhares se encontraram imediatamente. Naruto sentiu num relâmpago cada centímetro de seu corpo congelar e então ir lentamente derretendo conforme o outro garoto o encarou hesitante, umedeceu os lábios devagar e, finalmente, torceu os cantos da boca em um discreto sorriso antes de desviar os olhos e seguir para seu lugar, ao fundo da sala. Suigetsu vinha logo atrás, lançou a Naruto um sorriso cheio de malícia que o fez voltar o olhar para a própria mesa com a face queimando. Apoiou o rosto em uma das mãos para disfarçar um gigantesco sorriso, Sai deu uma risadinha observando-o.

–Você fica uma graça com essa cara de apaixonado.

–Cala a boca – murmurou enterrando a face nos braços sobre a mesa.

Completamente distraído e com os olhos voltados para seu caderno ainda fechado, Naruto não percebeu quando o professor entrou na sala até que ele o chamou pela terceira vez e Sai o cutucou. Ergueu a cabeça para encontrar Iruka o encarando com a expressão severa. Ele indicou com a cabeça para que saísse da sala, Sasuke já aguardava na porta, coberto de enfado por mais outro sermão que sabia que o aguardava do lado de fora. Naruto levantou-se e foi até ele, o professor o seguiu, fechando a porta às suas costas quando passaram.

Os dois garotos não se atreviam a trocar um olhar sequer, mas a situação dava à Naruto um misto de ansiedade e prazer que tornava difícil impedir-se se seguir sorrindo.

–Sinceramente, os professores já estão cansando de dar chances pra você, Sasuke, achei que o Kakashi tivesse falado que da próxima vez era a última! - o rapaz não respondeu, aquilo parecia irritar ainda mais Iruka – E ainda arrastando Naruto junto com você pro mal caminho!

–Professor, foi culpa minha – disse o loiro de repente, Iruka tornou o olhar para ele perplexo. Não tinha muita certeza do que pretendia fazer, mas foi inventando uma estratégia conforme falava – Eu ando muito estressado estudando tanto, por causa dos vestibulares, também, e aí aconteceram todas aquelas coisas comigo esse ano e... E você sabe, eu passei a maior parte da minha vida trancado nessa escola, eu quase nunca tive chances de aproveitar a minha adolescência! Aí eu tava precisando desse dia de folga, entende? Ainda mais com as provas chegando, eu tava achando que ia explodir! Daí eu obriguei o Sasuke a ir comigo porque ele é mais experiente em fugir da escola.

Naruto teve a impressão de que Iruka estava se esforçando para manter a postura severa. Por mais que tentasse, ele sempre fora o mais mole de todos os professores, não era difícil comovê-lo com uma pitada de drama e Naruto não somente era um especialista em drama como era um dos alunos em especial por quem ele mais tinha afeição. Lembrando-se da preocupação que o professor havia demonstrado com o assédio dos colegas após a publicação da foto, ocorreu-lhe que apelar para a compaixão de Iruka seria uma boa estratégia.

–Pois não devia ter feito isso – repreendeu o professor, ainda que seu tom de voz já havia mudado completamente, denunciando que o discurso o convencera – Devia ter vindo conversar comigo ou com outro professor... Bom... E vou deixar passar dessa vez, porque apesar das suas notas, você não costuma dar muito problema, Naruto. Mas é só dessa vez, ouviram? E eu vou passar uma lista de exercícios pra vocês me entregarem segunda, nada de resposta pronta, quero ver as resoluções na folha.

Iruka voltou a entrar na sala, deixando a porta aberta para os dois. Sasuke o encarou com um meio sorriso, Naruto forçou-se a retribuir o olhar, contendo um riso nervoso que parecia entalado em sua garganta.

–Falei que não ia acontecer nada, você o queridinho dos professores.

–Você me deve essa.

–Sério? Porque depois da fortuna que eu acabei gastando ontem, eu acho que quem tava me devendo uma era você.

Naruto riu, eles apenas se encararam por um instante até que Sasuke virou-se e voltou para a sala – tomando o cuidado de acariciar de leve a mão do outro garoto com as pontas dos dedos conforme passou por ele. O loiro o seguiu para dentro classe e foi quase correndo para o seu lugar.

–Você tá tão vermelho que parece que vai explodir – zombou Sai.

Não respondeu ao amigo, tampouco prestou muita atenção na aula quando o professor mandou-lhes abrir as apostilas e começou a revisar os conteúdos da prova.

Naruto sentia-se tal como uma criança que rouba uma maça da árvore do vizinho, sentia a cada mordida não só o doce suco de fruta fresca, mas também o gosto do perigo. O risco valia cada segundo e, por mais que não pudesse gabar-se da conquista, não havia prêmio maior do que o sentimento de satisfação que o contaminava por estar simplesmente vivendo aquilo. Ah, sim, fruta roubada é muito mais saborosa do que todas as outras. Não existe no mundo tempero melhor que o segredo.

Apesar de tudo, seu segredo não era tão bem guardado e, naquele momento, Naruto temia que Sakura pudesse ter decifrado a situação. De todos os males, perder a amizade de alguém tão importante era de longe o mais aterrorizante.

Depois do almoço, procurou pela garota ansiosamente. Encontrou-a andando pelo pátio de cara fechada, vê-lo se aproximar não a alegrou muito menos, virou a face quando ele a chamou.

–Sakura, não faz assim, conversa comigo – suplicou. A menina deu um suspiro irritado e virou-se para ele com o olhar tão frio e duro quanto mármore.

–Naruto, seja sincero comigo, por favor – ela falou num tom baixo, mas a nota de fúria em sua voz era clara – Você tá gostando dele, não tá?

Naruto sentiu a pergunta cair em seu estômago como um bloco de concreto. Se existia no mundo alguém que merecia a sua sinceridade, era Sakura. A garota esteve ao seu lado por anos e deu apoio incondicional sempre que precisou, além de nunca lhe ter escondido nada. Ela era uma das pessoas mas importantes do mundo para ele e se ele estava começando um relacionamento – ele estava, não estava?– Sakura tinha o direito de saber.

Suas mãos suavam frio, mal tinha coragem para dizer alguma palavra. Sua resposta foi um suspirar chateado, acompanhado de um par de olhos culpados implorando por piedade. Sakura desviou os olhos e mordeu os lábios conforme inspirou fundo com sofreguidão, depois soprou o ar lentamente e o encarou mais uma vez.

–Vocês se beijaram ontem?

A apreensão parecia sufocar Naruto, o ar estava tendo enorme dificuldade para encontrar o caminho até seus pulmões em meio ao esmagador sentimento de culpa.

–Sakura, por favor...

–Sabe, eu esperaria isso de qualquer pessoa, Naruto... Menos de você.

Ela o mediu com um ar recriminador dos pés à cabeça e deu-lhe as costas. A dor e desapontamento em sua voz e olhar atingiram o garoto como uma navalha. Ele deu um trêmulo suspiro e levou alguns segundos para voltar à aula.

–Você precisa focar nos estudos agora – Sai abriu a apostila em frente ao outro garoto. A biblioteca estava particularmente cheia às vésperas de prova, mas isso também significava que estava mais barulhenta – não esquece que semana que vem começam as provas.

–Como você espera que eu tenha capacidade de estudar nessa situação? - sussurrou Naruto – Minha melhor amiga me odeia para sempre!

–Ela não te odeia pra sempre, ela só tá um pouco chateada, daqui a pouco ela vai esfriar a cabeça e entender o seu lado.

–Um pouco chateada? Ela tá puta comigo! E com razão, eu traí ela.

–Não seja idiota, você não traiu ninguém. Primeiro que você não escolheu isso, segundo que não é uma corrida, tipo “quem chegou primeiro ganha”. E mesmo que fosse, até onde eu saiba, os dois começaram a gostar dele mais ou menos na mesma época. Sem falar que ela gosta dele porque ele é bonito, ou sei lá, pelo menos você tem bons motivos.

–Mesmo assim – choramingou Naruto – eu devia ter dito pra ela desde o começo! Agora vai ficar parecendo que esse tempo todo ela vinha me contar do Sasuke e eu só tava fingindo consolar ela enquanto na verdade eu tava planejando roubar o namorado dela pelas costas.

–Desde que começo, Naruto? Até outro dia você não tinha nem saído do armário.

–Pois agora eu queria mais era me trancar num armário de verdade e ficar lá pra sempre, pra nunca mais ter que olhar na cara das pessoas e ter que encarar a vida real.

–Ai meu deus, quanta viadagem... - Sai rolou os olhos – Aliás, falando em viadagem, por que você não me conta como foi o seu passeio? Ou devo dizer encontro?

Naruto riu encabulado, as bochechas queimando só de ouvir a menção ao dia anterior.

–Eu não vou contar aqui, tem muita gente por perto – ele desviou os olhos para a apostila como se estivesse estudando, ainda que sequer soubesse de qual matéria aquele livro se tratava.

–Eu quero saber o que aconteceu!

O garoto olhou ao redor hesitante, apesar de lotada, ninguém na biblioteca parecia minimamente interessado na conversa entre ele e Sai. O barulho lhe dava um pouco mais de segurança, se todos estavam falando seria mais difícil que alguém os escutasse.

–Tá bem, olha só... - disse voltando-se para o amigo – Vamos lá pro fundo, então, aqui no meio das mesas qualquer um pode escutar, lá pelo menos a gente consegue ver se alguém chegar perto.

Sai concordou, os dois esgueiraram-se discretamente para o meio das estantes. Naruto seguiu o outro até a sessão de artes, onde ele entrou no corredor 27 e virou para o loiro com um sorriso cínico ao ver que ele havia reconhecido o local. Fingindo-se de desentendido e ignorando o rubor que surgia em sua face, Naruto desviou os olhos e começou a contar como havia se desenrolado o seu dia ao lado de Sasuke. Relembrar dos passos que dera lhe trazia novamente cada sensação com quase a mesma intensidade com a qual as havia vivido, tornando impossível que contivesse os sorrisos e fazendo necessária uma ou outra pausa para um suspiro sem fôlego.

–Eu vi nos olhos dele... - disse num último inspirar profundo, se esforçando para passar confiança e convencer o outro – Eu acho que ele sente por mim o mesmo que eu sinto por ele.

–Também acho.

Naruto encarou o outro incrédulo. Para alguém que havia passado os últimos meses tentando afastá-lo de Sasuke, Sai parecia ter se convencido rápido demais.

–Acha? - questionou desconfiado.

–Eu vou ser sincero com você. Não posso negar que eu to me corroendo de ciúmes por dentro. Também não dá pra te dizer que eu acho que ele fez por merecer, porque ele não fez. Pelo contrário, parece que ele faz questão de ser a pior pessoa o possível a maior parte do tempo. Desde que eu cheguei na escola eu só vi ele te tratar com indiferença e só vi você sofrer por causa dele o tempo todo... Ficou bem claro pra mim, desde o começo, que ele só te fazia mal. Que, por mais que vez ou outra te pudesse trazer alguma alegria, no fim ele sempre te faria infeliz, porque essa é natureza dele.

Ele fez uma pausa, contemplando os próprios pensamentos enquanto passava os dedos suavemente pelos livros na prateleira. Naruto o observava num silêncio sepulcral, seu coração fragilizado culpava-o de alguma coisa, ainda que não houvesse feito nada condenável que justificasse tal sentimento. Um barulho alto vindo da prateleira às suas costas o lembrou com um sobressalto de que ainda estava em um local cheio de pessoas e arrancou-lhe um suspiro pesado.

–Mas eu acho que estava errado – retomou Sai com seu ar pensativo – Não era ele o que estava te fazendo mal o tempo todo, era a falta dele... A presença dele te faz bem, te dá uma energia... Dá pra sentir a diferença, você fica mais alegre, mais confiante, não é coisa pouca uma pessoa afetar outra tanto assim. E você também afeta muito ele, é óbvio, ele praticamente parou de faltar, voltou a se dedicar às aulas, passou um dia inteiro sem sequer fumar ontem só porque você pediu e, caramba, a S escreveu que ele voltou sorrindo pro quarto? Eu acho que eu nunca vi ele sorrir, nem por um segundo, mas você deixou ele sorrindo do caminho do seu quarto até o dele! São dois andares de diferença, não? Isso é muito tempo... Sei lá, acho que depois de tanto ver você sofrer, lutar e se esforçar por isso.. É inevitável acabar torcendo pra vocês ficarem juntos... Me deu uma sensação de alívio escutar tudo isso, tipo “nossa, finalmente”, sabe? Eu fico feliz por você.

Naruto deu-lhe um meio sorriso de gratidão. Num raro momento de sinceridade, Sai retribuiu torcendo os lábios num sorriso vencido e uma discreta reverência com a cabeça.

Conforme o dia passava, começava a incomodar Naruto que ele não mais via Sasuke desde que deixaram a sala de aula. Não haviam conversado direito desde o dia anterior e enquanto mais tempo se passava sem que ele o encontrasse, mais ansioso ficava com a expectativa de vê-lo novamente.

Após o jantar, resolveu dar uma volta pelo colégio para procurar o garoto. Parecia uma tarefa impossível, Sasuke era mestre em encontrar esconderijos inóspitos e esquecidos nos terrenos da escola, quando queria desaparecer não havia como competir, entretanto não tardou a avistá-lo. Estava próximo ao pátio, havia empoleirado-se no encosto de um banco de pedra e mexia no celular distraidamente.

–Ei – cumprimentou-o subindo de joelhos no banco ao seu lado para acompanhar sua altura.

–E aí? - disse o outro sem tirar os olhos do celular. A frieza atingiu Naruto imediatamente, mas ele fez esforço para ignorar o tratamento.

–Não te vi mais depois da aula.

–Tava andando por aí.

Ainda a mesma frieza, Sasuke não parecia muito interessado em desviar os olhos de seu celular. Um imediato mal-estar instalou-se no estômago do outro.

–Dá pra pelo menos olhar pra mim enquanto fala? - reclamou Naruto irritando-se com o descaso. Sasuke virou-se para ele inexpressivo.

–O que foi?

–Por que você tá agindo assim?

Sasuke franziu as sobrancelhas.

–Eu to agindo normal, você que tá estranho. O que você quer?

–Não sei, talvez eu esperasse um tratamento um pouquinho diferente depois de ontem.

–Ah! - Sasuke rolou os olhos com um sorriso cínico e baixou o celular – Já entendi a sua confusão. Escuta, Naruto, lembra quando eu disse que os problemas e tudo mais ficava aqui dentro? Pois bem, mesma coisa: o que aconteceu lá fora, ficou lá fora.

Sentindo uma onda violenta de insegurança disparar seu coração, Naruto sentou-se devagar sobre as pernas trêmulas e inspirou fundo. Sasuke voltou a mexer no celular.

–Só que teve uma coisa que aconteceu aqui dentro – murmurou Naruto erguendo os olhos para o outro com mágoa.

–Bom, ontem, então. Que seja.

–Já era meia noite.

Sasuke deu um suspiro impaciente e olhou para baixo para encará-lo novamente.

–Tanto faz, Cinderela, o ponto é que desde a hora que eu acordei até a hora que eu fui dormir eu estava decidido a tacar o foda-se e tirar uma folga da minha vida. Isso significa que nada do que eu fiz ontem faz parte da minha vida, foi só por distração, dá pra entender isso?

Naruto abriu a boca para responder, mas sua voz o havia abandonado completamente. Apenas o encarou aturdido, a boca entreaberta à espera das palavras que havia esquecido de como formar, até que Sasuke saltou para o chão e o encarou com indiferença.

–Não foi nada de demais, nós somos amigos, nós ficamos. Normal, lembra? - ele estalou a língua no céu da boca, vendo que o outro continuava sem reação – Vê se esquece logo isso.

Ele se virou e deixou Naruto sozinho, onde permaneceu imóvel por algum tempo. Sentia que havia perdido a força nas pernas e temia que não conseguiria erguer-se do banco se tentasse. Levou um momento para reunir fôlego antes de levantar-se vagarosamente e caminhou atordoado até o seu quarto.

O tempo ameaçava virar novamente, as nuvens densas que acumulavam-se no céu traziam, mais do que uma simples frente fria, o agouro do que prometia ser uma noite excruciante.