Caminhando em Gelo Fino escrita por Ditto


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

TÁ AÍ, GENTE, como prometido, esse veio mais rápido, espero que vocês gostem desse capítulo dfsçlshfçk *------------*
mas, como sempre, se não curtir alguma coisa não só pode como ~deve~ me dizer :3



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Naruto acordou extremamente atrasado no dia seguinte. Uma súbita mudança na temperatura que resolveu chegar durante a madrugada perturbou seu sono por horas, acordando-o com um calor desconfortável que não deveria surgir naquela época do ano e tornando quase impossível que voltasse a dormir. Exausto pela noite mal dormida, não percebeu o alarme tocar. Assim que despertou, saltou da cama e vestiu o uniforme apressado, amaldiçoando o despertador do celular a cada movimento. Deixou o quarto entre saltos enquanto tentava calçar o sapato, o sinal da primeira aula devia estar tocando naquele exato momento. Levar uma bronca do professor por ter perdido hora não parecia um começo muito bom para aquela quinta-feira.

Assim que passou pela porta do prédio de seu dormitório, uma figura lhe chamou a atenção. Vestido casualmente, sem peça alguma do uniforme ou material de estudos à vista, Sasuke esgueirava-se rapidamente para perto das árvores em direção oposta ao edifício principal. Naruto, sem sequer ponderar, passou a segui-lo, esquecendo-se instantaneamente da aula para a qual já estava quase dez minutos atrasado. Tomando o cuidado de não se deixar ser notado, assim como o outro rapaz se esforçava para fazer, acompanhou-o até um corredor atrás do prédio de funcionários, no limite da escola, onde o observou escalar uma das árvores mais sinuosas com impressionante agilidade e transferir-se cautelosamente para o muro por um galho mais próximo.

–Sasuke! - chamou-o num tom de repreensão, finalmente fazendo-se visível para o outro garoto.

–Puta merda, Naruto! - ele exclamou agarrando-se ao muro assustado – Quer que eu caia daqui e morra de susto?

–Onde você tá indo?

–Eu vou dar uma volta. Você não deveria estar aqui, tá atrasado pra aula!

Eu? Você é que não deveria estar aqui! Tá fugindo da escola de novo!

Para de gritar, alguém vai te ouvir! Olha só, eu não tô com paciência pra ir na aula hoje, tô precisando dar um tempo. Vê se fica quieto e vai embora daqui antes que alguém te veja e eu perca esse ponto de novo, eu levei eras pra achar o melhor lugar pra pular o muro depois que trocaram a caixa d'água de lugar.

–Ah, é por isso que mudaram a caixa! Você fugia por lá!

–É, tanto faz. Te vejo depois, vê se não fala nada pra ninguém.

Ele passou as duas pernas para o lado de fora, Naruto sentiu um sobressalto.

Espera!

Sasuke respirou fundo e virou a cabeça para ele lentamente, começando a irritar-se que o outro garoto o estivesse segurando naquela situação.

–O que foi?

–Eu não vou conseguir ir pra aula sabendo que você fugiu de novo e eu não fiz nada pra impedir – disse num tom de aviso – Os professores vão ficar bravos, vão fazer perguntas... Eu não sou muito bom de guardar segredos, sabe...

A ameaça não se demonstrou muito efetiva, Sasuke ergueu as sobrancelhas pouco comovido e deu de ombros.

–Então vem comigo – respondeu-lhe com simplicidade.

–Quê?

–Se você não pode ir pra aula sabendo que eu dei o fora, vem comigo – disse como se fosse a solução mais óbvia que pudesse haver – Eu não vou mudar de ideia só porque você não consegue controlar a sua língua.

–Eu não posso.

–Por que não?

Naruto sentiu o coração acelerar dentro do peito. Estava nos limites da escola, quase meia hora atrasado para a primeira aula, encarando Sasuke empoleirado no muro, metade do corpo já para fora, convidando-o a fugir com ele, o vento bagunçando seu cabelo e intensificando seu ar rebelde com graciosidade num retrato perfeito da aventura que Naruto nunca havia vivido. Sasuke deu um suspiro impaciente e estendeu a mão.

–Vai, joga logo essa mochila pra mim pra você conseguir subir.

Hipnotizado pela onda violenta de adrenalina correndo por suas veias, Naruto obedeceu sem contestar. Atirou a mochila ao garoto, que a pegou no ar, e começou a escalar a árvore que o outro havia usado como escada. Escorregou um pouco, mas as irregularidades no casco o ajudaram a rapidamente alcançar o galho que permitia a passagem para o muro. Sasuke pousou a mochila ao seu lado, estendeu a mão e o ajudou a se deslocar. Por um momento, os dois apenas se olharam em silêncio, sentados lado a lado, Sasuke ainda segurando sua mão. Naruto sentia o coração batendo com uma força extraordinária, suava frio. O outro garoto desviou o olhar e saltou para o chão, levando a mochila.

–Vamos?

Naruto fez um esforço desumano para recuperar o ar, que parecia ter desaparecido, e deu uma última olhada para dentro da escola com um misto de medo e excitação antes de pular para o outro lado. A escola ficava fora da cidade, então não havia ali nada além de uma estrada e, mais adiante, um ponto de ônibus. Assim que aterrissou ao chão, Sasuke atirou-lhe a mala de volta.

–Eu vou ficar carregando isso? - perguntou frustrado segurando-a nas mãos.

–O que tem aí?

–Uns dois cadernos e o estojo.

–Tá pesada?

–Não.

–Então carrega, ué.

Sasuke lhe virou as costas e foi andando apressado, Naruto vestiu a bolsa e correu atrás do outro angustiado.

–Onde nós vamos?

–Sei lá, andar.

–Você fugiu da escola sem ter nada específico em mente?

–Eu já falei, eu só tô precisando dar um tempo.

–Hoje é quinta, não dava pra esperar até sábado?

Ele parou de andar e virou-se novamente para Naruto com uma expressão não muito tolerante.

–Você veio junto pra me encher o saco? Porque se for eu te atiro de volta por cima do muro.

–N-não! Eu só tô tentando entender!

Ele respirou fundo, relaxando as feições.

–Eu não quero só uma folga das aulas, eu quero uma folga de tudo – despejou com pesar – Daquele lugar, daquelas pessoas, de outras pessoas, também, de todos os problemas, da vida... Só quero passar um dia fingindo que eu não tenho absolutamente nada com que me preocupar e aproveitar sem querer saber do amanhã, dá pra entender isso?

Ele olhava fundo em seus olhos, pela primeira vez Naruto podia sentir a completa sinceridade em suas palavras. Sasuke podia se recusar a dividir suas aflições, mas ter decidido que passar um dia com ele era uma forma agradável de escape já parecia imensamente significativo. Naruto concordou com a cabeça com seriedade.

–Faz isso também – ele pediu ainda o encarando – Esquece qualquer coisa que tiver te incomodando. Esquece qualquer coisa que possa estar tirando seu sono, finge que todos os pensamentos ruins, todas as responsabilidades, todos os medos, tudo ficou dentro da escola. Consegue fazer isso?

Naruto inspirou fundo e demorou-se a soltar o ar. As borboletas faziam um rebuliço fenomenal em seu estômago. Sentia mesmo que precisava daquilo, certamente lhe faria um bem enorme passar um dia sem sentir-se pressionado por todo aquele crescente turbilhão de conflitos no qual sua vida havia se tornado. Por um segundo, pensou que não conseguiria simplesmente fingir que seus problemas não existiam, mas deu-se conta que ali, do lado de fora do internato, solto no mundo, com Sasuke olhando firme em seus olhos e lhe pedindo para esquecê-los, já havia conseguido.

–Consigo.

Sasuke umedeceu os lábios em silêncio e levou um momento para esboçar uma reação. Então ele sorriu. Não um sorriso contido, nem com cinismo ou algo do tipo. Abriu para Naruto um sorriso perfeitamente espontâneo. Em seguida tomou sua mão, voltando a andar depressa em direção ao ponto de ônibus mais próximo e puxando-o ao seu lado. Uma imediata corrente elétrica espalhou-se por cada centímetro do corpo de Naruto quando sentiu a mão do rapaz enganchar-se à sua. Não pôde – e, realmente, não quis – impedir um sorriso de despontar de orelha à orelha.

Quem quer que os visse andando de mãos dadas daquela forma, ele pensou, certamente assumiria de imediato que fossem um casal, mas daquela vez, somente daquela vez, ele se permitiu não ter medo, vergonha ou sequer resquício de culpa. Somente daquela vez, o receio ficou para trás, juntamente com Sakura, Sai e qualquer razão que pudesse ter para não aproveitar cada segundo daquele dia como se fosse o último.

–Sasuke, eu não tenho nenhum dinheiro comigo – choramingou ao ver o ônibus se aproximando.

–Tudo bem, eu tenho.

–Depois eu te pago tudo.

–Não precisa.

–Não, eu faço questão de pagar o que eu gastar...

–Eu chamei você pra vir junto sabendo que você não devia ter nada, pode deixar que eu pago o que precisar – ele o encarou com firmeza – Não pensa em dinheiro agora. Dinheiro é problema, problema fica pra trás.

–Tá bem... - não podia deixar de sentir-se incomodado em ser uma despesa a mais para o outro, mas não havia nada a ser feito, visto que, desavisado de que precisaria dela, sua carteira ficara guardada no gaveteiro.

Os dois tomaram o ônibus até a cidade. Assim que entrou, Naruto correu para o fundo e sentou-se no canto. Com a janela escancarada e o veículo aproveitando a estrada vazia para investir em velocidade, o garoto encontrou na ventania uma ótima forma de aproveitar a viagem e refrescar-se do calor. Alternando entre apreciar a paisagem passando com velocidade e apenas fechar os olhos e sentir o vento contra sua pele, Naruto pôde experimentar um gosto inédito de liberdade que gostaria de poder perpetuar. Vez ou outra, arriscou olhar para Sasuke, sentado em silêncio ao seu lado. Ele o observava com um sorriso no canto dos lábios, desviou o olhar imediatamente sempre que reparou que o outro garoto virava para vê-lo, mas o sorriso não morreu por um segundo sequer.

Quando desceram do ônibus, Sasuke foi logo metendo a mão no bolso e sacando seu maço de cigarros. Naruto torceu o nariz, não muito disposto a aturar uma densa fumaça acinzentada o seguindo por um dia inteiro. Avançou numa tentativa de arrancar o fumo das mãos do outro, mas ele segurou o maço com firmeza.

–Que mania que você tem! - reclamou Sasuke ao ver que ele não soltaria.

–Você me convenceu a fugir da escola, agora eu sou praticamente um criminoso por culpa sua, e ainda impôs um monte de coisas, no mínimo eu tenho o direito de pedir pra você não ficar fumando do meu lado! - não tinha muita certeza se o que estava dizendo tinha alguma justiça, afinal havia seguido o outro e concordado em ir por conta própria e a imposição era, basicamente, que se divertisse despreocupadamente e de graça. Ainda assim, achou a tentativa válida, então falou aquilo com firmeza.

Sasuke ponderou por um instante e acabou se rendendo, ainda que com certa relutância.

–Tá, tanto faz, faça o que quiser com isso – disse soltando o maço nas mãos do outro.

Naruto atirou o cigarro num cesto de lixo, juntamente com o isqueiro. Sasuke fez uma careta de aflição ao vê-lo se livrar de seus pertences, mas não contestou.

–O que a gente faz agora? - perguntou o loiro olhando ao redor com animação.

–Ahn... Eu tô com fome, e você?

–Também tô.

–Então vamos no McDonald's.

–E se a gente fosse...

–Você acabou de jogar fora meu último maço, eu decido onde a gente come.

Sasuke puxou o outro pelo braço com um ar ranzinza, Naruto deu uma audível risada e começou a tagarelar sobre o calor. Ainda não era sequer onze horas e a temperatura só tendia a subir mais e mais conforme o sol erguia-se cada vez mais alto no horizonte. Os dois foram à lanchonete mais próxima. Naruto, já completamente contaminado pelo êxtase de estar aventurando-se fora da escola ao lado de Sasuke e levando a sério a proposta de não se preocupar com as despesas, não fez cerimônia ao pedir um lanche enorme com todos os acompanhamentos que tinha direito. Muito para a surpresa do outro, que lançou-lhe um olhar de descrença apenas para ser recebido com um sorriso petulante.

–Caramba, como você come – comentou Sasuke ao ver que Naruto já havia devorado toda a sua refeição enquanto ele ainda beliscava as batatas sem muita pressa.

–Acho que eu tava mesmo com muita fome...

Sasuke riu, recostado em sua cadeira com um olhar pensativo.

–Naruto – ele começou mirando as batatas espalhadas pela bandeja, o outro garoto ergueu os olhos ao ouvir seu nome – Posso perguntar uma coisa?

–... Acho que sim... - respondeu-lhe hesitante.

–Você gosta mesmo da Sakura? - perguntou encarando-o com um semblante indecifrável.

Naruto sentiu o estômago revirar-se com uma ansiedade que lhe pareceu estranhamente agradável e desviou o olhar com um sorriso contido.

–Não sei, isso é uma coisa que eu deixei na escola – disse com cinismo. Sasuke riu-se incrédulo de vê-lo usando aquilo para fugir do assunto.

–Bom, mas você disse, mesmo que tenha voltado atrás depois, que gostava de mim – falava o outro lentamente, Naruto mordeu os lábios, ainda evitando encará-lo – então isso significa que, pelo menos em algum momento, você realmente pensou nisso como uma possibilidade. Não?

Naruto se esforçou para tentar impedir-se de sorrir, sentia uma onda de calor formigando por todo o seu corpo a partir do coração, acelerado pela deliciosa tensão que, imaginou ao sentir as bochechas queimar, já devia ter tingido seu rosto de vermelho por completo.

–... Talvez...

Sasuke revirou os olhos e endireitou-se timidamente na cadeira. Alguns minutos de um silêncio encabulado se estendeu enquanto ele terminava de comer, nenhum dos dois se atrevendo a olhar para o outro.

–A gente devia ir no fliperama – sugeriu Naruto quebrando o silêncio assim que a ideia surgiu em sua mente. Sasuke lançou-lhe um olhar de soslaio.

–Só se você estiver preparado pra perder em todos os jogos de lá – disse em tom de desafio.

–Há! Até parece que eu vou perder pra você!

–Como se você já tivesse ganhado de mim em alguma coisa na vida.

Naruto ergueu-se da cadeira num salto.

–Ah é? Isso é o que nós vamos ver!

Sasuke levantou-se também, mas não teve tempo de dizer nada antes que o outro saísse apressado em direção à porta. Ele sacudiu a cabeça em reprovação e pegou do chão a mochila que Naruto havia esquecido ao lado da mesa antes de correr atrás dele.

O fliperama ficava no shopping, não muito longe de onde estavam. Sasuke comprou fichas o suficiente para jogar pelo menos uma vez em cada máquina, mas acabaram gastando algumas duas ou três vezes seguidas nas que gostavam mais. Num clima descontraído de competitividade e em meio a risadas e trocas de olhares com muito mais significado do que intenção, os dois passaram horas entretidos. Eram igualmente bons em quase todos os jogos, o que tornava a disputa mais interessante para ambos. Ao fim de quase quatro horas, o placar estava quase empatado (acabaram perdendo a conta em algum ponto e cada um afirmava ter vencido por algum critério duvidoso) e as fichas haviam se esgotado. No lugar delas, um bolo incontável de tickets havia se acumulado na mochila, no posto de troca eles descobriram que podiam comprar com aquilo uma série de bugigangas inúteis como canetas perfumadas, brinquedos e um copo plástico colorido com canudo em espiral que Sasuke levou mais tempo do que o esperado para convencer Naruto de que ele poderia comprar um igual na loja de $1,99 e seria um desperdício gastar tickets naquilo quando, em mais dois ou três dias como aquele, eles teriam o suficiente para levar um videogame portátil.

Quando deixaram o fliperama, descobriram que o sol já começava a se pôr, mesmo assim, o calor havia apenas aumentado. Longe do clima controlado do shopping, o ar estava bastante abafado nas ruas.

–A gente devia pegar alguma coisa gelada pra beber – disse Naruto espreguiçando-se – Tá muito calor, não dá nem vontade de existir...

Sasuke lançou-lhe um olhar cortante, por um instante imaginou que ele faria alguma reclamação sobre Naruto estar abusando da liberdade de gastos que lhe dera, mas ele concordou sem contestar. Compraram milkshakes numa sorveteria de ar nostálgico e foram despreocupadamente caminhando até a mesma praça onde haviam se sentado um mês antes na companhia de Sakura.

Havia naquela praça um ponto mais alto no qual era possível ter uma vista privilegiada do crepúsculo. Naruto foi até lá, o céu mesclado de tons de laranja e rosa chamou sua atenção com facilidade.

Sentia-se anestesiado por uma perigosa overdose de harmonia e adrenalina, não se lembrava de estar tomado por tão pura felicidade alguma outra vez em sua vida, o outro parou ao seu lado, silencioso como de costume. Não pensou muito no que estava fazendo, apenas esticou os dedos e tocou sua mão devagar. Sasuke deixou que ele se encaixasse em sua mão, olhava em frente e não esboçou nenhuma reação por alguns segundos, e então, ainda em silêncio, torceu levemente a mão de forma a conseguir espaço para entrelaçar seus dedos. Naruto sentia o coração fazer um esforço sobre-humano para manter-se batendo. Ao mesmo tempo que estava calmo, havia uma desmedida aquietação formigando por todo o seu corpo que não parecia ter nome ou cura.

Naruto teve a impressão de que todo e qualquer som ao seu redor havia desaparecido, não podia ouvir nada além do próprio coração palpitando exaltado. Mantiveram-se ali por alguns segundos ou algumas horas. Apenas observando o sol aproximando-se do horizonte em silêncio e sentindo o calor de suas mãos entrelaçadas.

–Vamos andando, – disse Sasuke quebrando o silêncio – tem uns restaurantes legais atravessando a avenida, a gente come alguma coisa por lá antes de voltar.

Ele começou a andar em direção à avenida principal, mas não soltou a mão de Naruto, que foi o acompanhando. Sentia-se meio zonzo, a sensação que tinha era de que antes todos os seus pensamentos haviam se silenciado e ele estava levando um momento para voltar a raciocinar.

–Que horas a gente volta?

–Depois do toque de recolher. Onze horas, meia noite...

–Isso é bem tarde.

–Antes disso vai ter gente andando pela escola toda, não sei você, mas eu não quero terminar o meu dia sendo arrastado pra diretoria. Prefiro deixar essa parte pra amanhã.

Sasuke jogou seu copo vazio numa lata de lixo e em seguida passou a mão livre na perna nervosamente. Ele respirou fundo com certa angústia e apertou a mão de Naruto com mais força. O loiro imaginou que ele desvia estar desesperado por um cigarro, lembrando-se de que houvera dito que gostava de fumar depois de tomar alguma coisa. Ainda assim, Sasuke não fez reclamação alguma. Sentiu-se lisonjeado de constatar o esforço que o garoto estava fazendo por ele, mesmo que fosse por algo trivial.

Daquela vez, os dois não estavam em uma estrada quase completamente deserta à espera de um ônibus, mas subindo a mais movimentada avenida da cidade despreocupadamente. Não foram poucas as pessoas por quem passaram que repararam nas mãos unidas. Após ver duas ou três senhoras de meia idade torcerem o nariz, Naruto já inflava-se de um misto de atrevimento e orgulho que, dias antes, não lhe pareceria possível que sentisse.

–Sabe o que eu queria jantar? - disse abrindo um sorriso radiante. Sasuke virou a cabeça para ele estreitando os olhos com desconfiança – Lamen.

–Naruto, tá fazendo quase trinta graus! – reclamou o outro apontando para o relógio de rua – Lamen é tipo sopa, só serve pra esquentar!

–Mas eu não como lamen faz meses, eu já tô morrendo de abstinência! - Naruto revirou os olhos e tombou a cabeça para trás dramaticamente.

Sasuke deu um longo e pesaroso suspiro.

–Tá bom, mas depois não venha reclamar de calor pra mim.

Na rua que Sasuke falara, havia um restaurante com ar tradicional que servia lamen por um preço razoável. A porção era generosa e muito bem feita, Naruto devorou a refeição quase tão rápido quanto houvera feito no almoço. Por vezes, Sasuke erguia os olhos para vê-lo absorto com o próprio macarrão e balançava a cabeça devagar com um pequeno sorriso no canto dos lábios, mas nenhum dos dois disse sequer uma palavra enquanto ceavam.

–Você tinha razão – disse Naruto satisfeito – todo esse caldo quente me deixou com mais calor ainda.

–Eu sempre tenho razão – retrucou o outro com rispidez.

Naruto sorriu.

–Você tá sendo muito legal comigo hoje – Sasuke não respondeu, apenas desviou o olhar e deu de ombros. Naruto não teve certeza se um leve colorido havia surgido na face do garoto ou se era apenas efeito da luz do restaurante – Parece que todo mundo acha que você é incapaz de ser legal com as pessoas... A Sakura tá bem chateada... Aliás, por que você brigou com ela ontem?

Sasuke respirou fundo e o encarou com exasperação.

–Não sei, isso ficou lá na escola.

Naruto revirou os olhos e torceu os lábios.

–Bom, a gente vai voltar pra lá daqui a pouco de qualquer jeito – murmurou. Sasuke desviou os olhos novamente.

–Ela não fez nada de demais, eu só não tava afim de olhar na cara dela ontem. Só isso.

–Por quê?

–A gente não pode falar de outra coisa? - ele lançou-lhe um olhar cortante.

–Pode.

Nenhum assunto veio. Após alguns segundos densos de silêncio, Sasuke murmurou que iria pagar a conta e foi até o caixa. Naruto se sentiu um tanto idiota por ter começado a tagarelar sobre a amiga novamente, não queria correr o risco de arruinar um dia que estava se saindo inacreditavelmente perfeito por um deslize do tipo. Ergueu-se e foi atrás do outro (voltando segundos depois para buscar a mochila, que quase esqueceu novamente). Sasuke aguardava na fila, foi até ele e abriu um enorme sorriso. Apesar de ter respondido com um olhar severo, ele não conseguiu disfarçar o esforço que fazia para conter-se de sorrir também. Naruto apenas aguardou ao seu lado enquanto pagava pelo jantar.

Depois de deixarem o restaurante, os dois se puseram a passear pelas ruas do centro, vendo vitrines e conversando sobre quaisquer banalidades. Konoha não era uma cidade muito grande, mas quando o centro iluminava-se a noite, tomava uma beleza bucólica e um ar romântico bastante convidativos. Era um lugar agradável de se passear, sob as luzes amareladas dos postes antigos e sombras das muitas árvores que adornavam as ruas. Naruto gostava muito de lá. Passava pouco tempo na cidade, estudando em um internato e viajando com o padrinho durante quase todo o período de férias, o que chateava-o um pouco, já que gostaria de poder aproveitar com os amigos tudo o que havia ali para se explorar.

Quando o relógio de rua indicou que já eram quase dez horas da noite (e ainda fazia 28ºC), Sasuke disse que era hora de voltarem para o colégio. O ônibus demorou um pouco para chegar, tempo que de nada os incomodou, entretidos por uma discussão animada a respeito de bandas de rock. O motorista do ônibus estudou Naruto de cima à baixo, percebendo pelo uniforme que o rapaz havia fugido da escola, mas nada fez. Deixou-os no mesmo ponto em que pegaram o transporte de ida, a poucos metros do internato.

Sasuke guiou o outro em torno do colégio até um ponto onde o relevo do terreno tornava o muro mais baixo. Havia algumas árvores por perto, menores do que a que utilizaram para escapar. Era difícil enxergar muito bem, pois estava extremamente escuro e os únicos pontos de iluminação ficavam distantes daquele pedaço, mas com um pouco de esforço, os dois conseguiram subir o muro em pouco tempo. Sasuke desceu primeiro, mas Naruto permaneceu sentado por um momento, com uma expressão de puro fascínio.

Naruto, desce logo antes que alguém venha – repreendeu Sasuke num sussurro irritado.

–Sasuke, olha!

A parte da escola por onde estavam entrando era a piscina aberta. Naruto reparou, apenas ao chegar e descobrir-se ali, que o céu estava maravilhosamente estrelado, o que primeiro viu refletido nas águas serenas da piscina, para onde apontou antes de olhar para cima e abrir um sorriso radiante.

–É, muito legal, mas a gente tem que ir – continuou o outro impaciente.

Naruto saltou para o chão e largou a mochila em um banco.

–Ninguém vai aparecer, não tem nenhum prédio por aqui e já é quase meia noite.

Sasuke torceu o nariz.

–E você quer ficar fazendo o que aqui?

–Ah, tá o maior calor...

–Não.

–Eu não disse nada!

–Eu sei o que você tá pensando, péssima ideia.

Naruto deu um sorriso travesso e mordeu o lábio.

–Só um pouquinho...

–Água faz muito barulho – ele impôs um tom de ponto final e lançou ao outro um olhar rígido. Naruto abaixou os olhos chateado.

–Tá bem, tá bem...

Sasuke deu-lhe as costas e foi em direção a saída, mas o outro não havia desistido da ideia tanto quanto ele gostaria. Naruto correu até ele antes que pudesse se afastar e o empurrou para dentro da piscina, fazendo um estrondoso barulho e atirando água por todos os lados, em seguida pulou também para dentro, repetindo o estardalhaço. A água estava deliciosamente fresca e, depois de ter andado um dia inteiro e escalado árvores e muros, foi uma dádiva merecida.

Sasuke subiu à superfície com uma expressão de puro choque, os cabelos completamente desalinhados e colados ao rosto pela água, e deu uma golfada desesperada de ar. O outro subiu pouco depois às gargalhadas.

Naruto! Eu vou matar você! - exclamou o rapaz furioso.

O garoto continuava rindo despreocupadamente, irritando ainda mais o outro, até que uma grande quantidade de água o atingiu com violência, chamando sua atenção.

–Ai! Quase engoli água nessa!

–Eu devia era te afogar!

–Ah, Sasuke, fala se não é bom entrar na piscina assim, depois de um dia todo de calor...

Uma nova onda o atingiu, Naruto protegeu o rosto, mas voltou a gargalhar. Sasuke tentava conter uma risada, mas quando o loiro revidou o ataque, ele se rendeu e riu também, abandonando a apreensão. Os dois foram atirando água um ao outro em meio a risadas, aproximando-se aos poucos até que Sasuke segurou o pulso de Naruto no ar e ambos silenciaram-se, percebendo que a distância entre eles havia desaparecido. Foi questão de segundos, Naruto sentiu o coração dar um salto assim que viu a face do outro à meros centímetros da sua, os dois congelaram por uma fração de instante, apenas encarando um ao outro, quase sem respirar, e então os dois inclinaram-se para frente e cerraram os olhos ao sentir seus lábios se tocarem.

A pele de ambos estava fria por culpa da água, mas a boca de Sasuke era quente e macia. Não era como das primeiras vezes, com Sai, ele não estava aturdido ou paralisado, mas anestesiado pela adrenalina que só vinha crescendo dentro de si desde o começo do dia e alcançava ali o seu pico. Não levou muito para que os dois aprofundassem o beijo. Sasuke soltou o pulso do garoto, que ainda segurava na altura dos olhos, e passou os dois braços em torno de sua cintura, puxando-o para perto. Naruto respondeu fazendo o mesmo em torno dos ombros do outro e subindo uma das mãos para seu cabelo.

Seu coração pulsava com força, uma onda violenta de calor se alastrou formigando por todo o seu corpo. Seus corpos estavam completamente colados, ele podia sentir o coração de Sasuke batendo forte contra o seu peito em perfeita sintonia com o seu. Um arrepio percorreu sua espinha quando o outro garoto mordeu seu lábio, ele reagiu agarrando-se à camiseta e aos cabelos dele com paixão. O beijo se estendeu por o que pareceu ser uma eternidade, tempo pelo qual o estômago de Naruto revirava-se de nervoso e sua pele se prendeu num ciclo de arrepios, parte por consequência de estar encharcado e fora d'água desde a altura dos cotovelos, parte por culpa do embrace e da língua do outro garoto desfrutando de sua boca.

Quando finalmente cessaram o beijo, os dois abriram os olhos lentamente e encararam-se desorientados enquanto recuperavam o ar, ainda entrelaçados. Naruto sorriu primeiro, como de costume, mas não teve muito tempo para admirar o sorriso do outro rapaz antes que este lhe roubasse outro beijo, muito mais rápido, mas igualmente ávido.

–É melhor a gente ir, já estamos correndo risco demais – murmurou Sasuke com o olhar ainda fixo nos lábios do outro. Dessa vez não havia dúvidas pela luz, seu rosto estava completamente tingido de vermelho. Naruto concordou com a cabeça, não tinha folego algum para fazer qualquer som.

Os dois saíram da piscina e tiraram os sapatos, completamente encharcados, para evitarem muito barulho quando chegassem ao dormitório, Naruto pegou a mochila. Encararam-se novamente por um momento e desmancharam-se num meio sorriso, meio risada. Sasuke encaixou sua mão na do outro garoto novamente e o puxou em direção à saída. Foram se esgueirando pelas sombras entre risadas abafadas e 'shh's até o prédio do dormitório masculino. Cada virada nos corredores era um novo momento de tensão, mas o caminho estava vazio, para o alívio de ambos. Divertiram-se em sua aventura pelo prédio até o quarto de Naruto, onde o loiro puxou o outro para dentro para um último e longo beijo de boa noite contra a parede, escondidos pela porta entreaberta, antes de Sasuke lançar-lhe um sorriso ofegante e partir para o próprio quarto.

Naruto fechou a porta e apoiou-se de costas, as roupas molhadas já formando uma poça ao seu redor e o coração batendo freneticamente, exausto, radiante e repleto de mais amor do que jamais havia sentido em toda a sua vida.


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Notas finais do capítulo

dçlfgkjdfnkjidçjoighlfdoçkjlknhldfçjhfdçjsçjfghgksjdljhgfsd
ain, gente.
QUERO DETALHES, ME CONTEM TUDO, QUERO SABER O QUE VCS SENTIRAM, O QUE VCS ACHARAM, O QUE VCS MAIS GOSTARAM, O QUE NÃO GOSTARAM, ME DIGAM.
to radiante, tava morrendo de ansiedade pra postar esse cap dgjfsddkjbs finalmente, sasunaru.
GENTE: FALTAM TRÊS CAPÍTULOS PRA ACABAR A FIC.
EU REPITO: FALTAM APENAS TRÊS CAPÍTULOS.
Não quero, vou sentir falta de tudo, principalmente de vocês, vocês todos vão ter que ler minha próxima fic pra eu não sofrer, sou muito apegada u.ú