Coisinha

Se alguns anos atrás alguém ousasse dizer que hoje eu estaria nessa situação, essa pessoa não estaria viva para presenciar esse momento.

Sobreviver à floresta da morte e uma maldição: fácil.

Anos de treinamento com Orochimaru e depois matá-lo: simples.

Lutas, Akatsuki, verdades, guerra, inimigos poderosos, declaração, primeiro beijo, primeira vez, casamento: moleza.

Mas diante de mim está a mais difícil missão da minha vida: trocar a fralda da minha adorável filha.

Sarada simplesmente chorava, – causava um terremoto nos meus ouvidos – enquanto eu encarava com desespero aquela parte branca que deveria ser trocada.

– Sarada, não chore. – pedi com apelo na voz, inutilmente acreditando que aquele bebê seria capaz de compreender meu pedido.

O pior de tudo é saber que sua adorável esposa estava na cozinha aguardando pacientemente – talvez com uma panela na mão – que sua filha voltasse para seus braços sem estar pesando uma tonelada. Deveria ter percebido e fugido no momento em que Sarada começou a chorar enquanto Sakura preparava o almoço. Deveria ter percebido e fugido mais rápido no momento em que Sakura esboçou um daqueles olhares e apenas disse: Se eu for, você vai se arrepender.

Bem, eu fui e estou me arrependendo. Seria pior se Sakura tivesse deixado o almoço pra lá e ter ido trocar a fralda de nossa filha?

Ah sim, teria sido pior. E será mil vezes pior se eu continuar parado aqui esperando minha filha se cansar de tanto chorar.

Com um suspiro abri os adesivos da fralda e... impossível. Como uma coisinha desse tamanho é capaz de ter tudo isso dentro? E como consegue fazer feder tanto...? Mais filhos? Não, obrigado. Se uma adorável coisinha era capaz de fazer isso várias vezes ao dia, dispenso mais coisinhas e mais fraldas sujas.

Afastando esse pensamento da minha cabeça voltei para minha missão. Com várias caretas consegui retirar aquela fralda pesada. Consegui limpar Sarada em todas as partes do corpo que pareciam ter sido infectadas por aquilo e depois de umas cinco – oito – fraldas consegui grudar os adesivos corretamente. Joguei a fralda suja e todas as outras tentativas no lixo e me voltei pra Sarada. Missão cumprida.

Ela tinha parado de chorar e me encarava com aqueles orbes negros, esboçando um sorriso que fez todo o fedor desaparecer.

– Você se divertiu com tudo isso, não foi? – perguntei para minha coisinha, que balançava as pernas e os bracinhos querendo que eu a pegasse.

Sarada segurou meu dedo e continuava sorrindo. Um gesto que fez todas as cenas anteriores desaparecerem.

Se em todos os momentos que eu trocar uma fralda for receber essa recompensa, é, vou querer mais coisinhas e muitas fraldas sujas na minha vida.