Ele ainda estava no camarim, observando o próprio reflexo com a cabeça entre as mãos. Estava gostando de participar do programa, de falar sobre o seu coração, de se abrir, era como se um peso estivesse sendo aos poucos removido de suas costas. Talvez fossem realmente seus amigos, como ela dizia. Sasuke se levantou da cadeira e buscou seu casaco. Havia um pequeno bilhete no bolso da frente. Uma cartinha de um fã? Oh, novidade...

–“Querido Uchiha...” – ele franziu o cenho enquanto sorria – Que estranho... Querido Uchiha? Isso sim é novidade – suspirou e recostou na parede, para continuar a leitura – “Só estou passando para lhe deixar um abraço e dizer que lhe amo muito! Só isso...” – ficou sério por alguns segundos, fitando o papel e como uma chuva que cai de repente no passante da rua, Sasuke começou a rir descontroladamente, ao ponto que teve que se apoiar na parede – Meu Deus...! – mal podia falar por falta de fôlego. Sua barriga latejava de tanta dor que sentia por causa do riso exagerado e espontâneo – Só pode ter sido ela!!!

Saiu do camarim cambaleando de tanto rir. Ela lhe pregava esse tipo de peça. Danada! Por essas e outras que a amava tanto.

Suspirou recobrando o ar.

Coisas pequenas, como um bilhete daquele, levantaram sua moral quando foi para o colégio militar. Nem todo mundo sabia disso, mas os dois foram para o mesmo reformatório por causa do comportamento: ela era hiperativa, extravagante, alegre, desobediente, brincalhona e inconsequente demais, ele era irritado, furioso, severo, agressivo e incontrolável demais. Nem os pais de um ou de outro aguentavam viver com seus filhos e o jeito foi enviá-los para aquele lugar que diziam ser bom, mas na realidade era o inferno na terra.

Viveu naquele lugar a vida inteira, até completar quinze anos, quando finalmente conseguiu a expulsão e foi para o colégio onde conheceu a maioria das pessoas com quem convive. Claro, que não saiu de lá sozinho, trouxera consigo a criadora do plano para sair do reformatório.

Ela não merecia apodrecer naquele lugar, nem ele também, então resolveram usar medidas extremas: se o bom comportamento só servia de garantia para mantê-los ali, o mau só poderia retirá-los. Se estavam no inferno, os dois seriam os capetas. Não houve um aluno se quer que não apanhe deles miseravelmente naquela época. Depois passaram a atacar violentamente os funcionários. Não houve efeito. Partiram para os professores.

Toda aula era uma guerra que já estava com o fim acertado: os dois venciam sempre. Ninguém os queria ali, mas pagavam horrores para que ficassem lá. Alguém os queria fora de circulação.

Então só havia uma saída. Numa importante reunião da diretoria, lá estavam os dois alunos maníacos prontos para o ataque final. No fim da noite e das torturas, o diretor consentiu em libertá-los independente da quantia de dinheiro que houvesse recebido. Sasuke hackeou o computador do diretor e transferiu todo o dinheiro que seus pais empregaram para uma conta pessoal e secreta. A sua amiga não era rica, os pais eram pobres, o governo a internara e por isso ninguém a tirava dali, mas agora tinha autorização.

Ao voltar para casa eles prometeram esconder para sempre o que viveram ali, engolir as próprias mágoas e fingirem ser sociáveis. Como se tivessem se recuperado totalmente.

O caso da escola foi arquivado juntamente com a ficha criminal de ambos. Nada se podia fazer, pois eram de menores e os horrores que sofreram justificava tudo.

O mau humor de Sasuke era seu ataque e sua defesa. Mas ela conseguia desarmá-lo rapidamente. Provavelmente teria morrido no colégio militar se ela não estivesse ali, com toda a sua força e sua capacidade admirável de aguentar todos os castigos humanamente possíveis. Aliás, Sasuke se dispusera a esse tipo de tormento para entender porque ela era assim. Eles recebiam socos no estômago sequencialmente aos ossos dos dedos serem um a um quebrados, um fitando o rosto do outro. Era o castigo do dia 1 do mês, o mais leve de todos.

Sasuke sacudiu a cabeça com força.

Não era hora de pensar naquilo, tinha que aparecer no programa.

Entrou rapidamente e foi logo para seu lugar. Seu novo entrevistador já lhe esperava. O cabelo de cuia, os olhos redondos e escuros, o porte atlético, não podia ser outra pessoa: era seu parceiro do Clube da Luta, Rock Lee. Com ele aprendera a controlar seus impulsos agressivos e a ver o lado bom das coisas.

–Como vai Sasuke? – ele fez sua pose “A vida é boa”.

–Bem, obrigado, e você Lee?

–A juventude irradia de mim!!! – ele gritou – E é com esse sentimento que começaremos o programa de hoje! É isso aí!!! – ele novamente gritou. Sasuke teve que rir. Lee sempre era muito obstinado e muito engraçado. Suspirou. Fazia tempo que os dois não se pegavam numa boa briga. Era um bom adversário no mano a mano.

Lembrou-se de algo que ocorrera pela manhã e isso o fez arregalar inconscientemente os olhos. Sasuke e ela haviam brigado e quebrado o quarto dele inteiro. O prejuízo a sua mãe era o castigo por causa da noite anterior. Sorriu, diminuindo o olhar, pois uma coisa que ocorrera, melhor do que trocar socos com Lee era receber uma chave de perna dela, era bom até o momento que ela começava apertar.

–Então, o tema de hoje será “Momentos”!!! Está pronto Sasuke? – o rapaz assentiu brevemente – Vamos a primeira pergunta no telão!!!

Surgiu um rapaz meio punk usando roupas coloridas. Sasuke fez uma cara que fez a plateia inteira rir involuntariamente: ele apertou os olhos, mordeu o lábio inferior e empurrou o queixo para frente. A típica cara de quem diz “Que porra é isso?”.

–Olá Sasuke, talvez você não se lembre, mas sou seu colega na disciplina Teoria da Comunicação 1 e você já me ajudou duas vezes em um trabalho no primeiro semestre... – o moreno fitou involuntariamente as câmeras como se procurasse orientação de alguém, sua cara de interrogação provocou ainda mais os risos da plateia, que naquele dia estava mais numerosa. Sasuke murmurou para o primeiro rosto que viu, que fora o de Ino, “Eu sou colega disso aí? Mas como assim? De que inferno veio isso?”, a loira quase branca deu de ombros, sorrindo – Durante esse semestre todo mundo viu você ferrar com a vida de um cara da Educação Física, eu estava lá e filmei tudo... Olha.

De repente o vídeo da briga começou a rodar na tela. Todas as meninas começaram a gritar emocionadas, como se a briga estivessem acontecendo naquele momento. Sasuke arregalou os olhos. Nunca se vira brigando com ninguém antes, era a primeira vez. Seus olhos vermelhos, o sorriso largo de sádico, os golpes certeiros e precisos, o rosto de satisfação por está provocando dor em outra pessoa. Os músculos rígidos, a velocidade e a força assombrosas.

O outro mal conseguira ficar de pé e já recebia um soco na cara, caindo mais uma vez, e depois uma sequencia dolorosa de chutes na cabeça e no estômago. O homem vomitava sangue de quando em quando e mesmo que não desse para ouvir a voz dele, por causa da gritaria dos outros alunos, notava-se claramente que ele implorava por ajuda.

Sasuke soltou o ar assim que o violento vídeo acabou.

–Eu tenho duas perguntas para você: primeiro, por que você brigou com o cara? Eu estou fazendo uma pesquisa para o jornal da universidade e a pergunta mais recorrente dos assinantes é essa. Segundo, por que você se dá tão bem com as mulheres? É só isso...

O rapaz sumiu da tela e as câmeras voltaram a mirar o Uchiha. Lee sorri e espera ansiosamente a resposta, pois ele também queria saber qual era a fórmula secreta para que todas as meninas morressem de amores por ele. Sasuke coçou a cabeça e mirou Rock Lee.

Piscou com firmeza. Ainda estava atordoado com a imagem bizarra do rapaz que acabara de ver e com o vídeo sanguinário de um quase assassinato de forma brutal. O entrevistador pigarreou, notando o abalamento do amigo. Sasuke voltou a si.

–Eu ainda não acredito que sou colega de sala de alguém como... Ele! – Sasuke fitou a câmera de Shino – Foi mal aí, cara, eu não me lembro de você mesmo, seja lá que tipo de gente for...! – Sasuke sorriu ironicamente dando de ombros - Bom... As perguntas... É... Ele quer saber o motivo da briga, bem, foi um... Que foi mesmo? – ele se pôs pensativo. Lembrou repentinamente do motivo. Ela. Aquele cara tinha beijado sua garota a força bem diante de seus olhos e por isso ele se virara no cão. Não podia dizer a verdade.

–Se você quiser não precisa responder a pergunta... – Lee argumentou, tentando acalmar o rosto sério de Sasuke – Não precisa se forçar a nada.

–Tudo bem Lee! – o rapaz serenou – Eu posso responder... Bom... Eu acho que foi por causa de... Ah! – o gritou assustou o coitado do entrevistador. Sasuke bateu na própria testa sorrindo – Ele havia roubado dinheiro da minha carteira enquanto eu tinha ido resolver algum assunto na direção, quando eu voltei simplesmente surtei porque o dinheiro era para pagar umas contas da minha mãe... Foi isso. - Sasuke assentiu.

Lee ficou boquiaberto. Esperava algo relacionado com uma garota, talvez estivesse enganado. Não fora nada tão legal como queriam, mas ainda havia uma pergunta. Sorriu. Iria dar audiência. Repentinamente ouviu uma mensagem pelo fone de ouvido. Havia outra pergunta. Assentiu. A tão esperada resposta iria ficar para o próximo programa.

–Agora mais uma pergunta de outro telespectador! É uma garota do curso de Jornalismo, apelidada de Lia Uzumaki – Sasuke franziu o cenho: ainda tinha uma pergunta para responder, não era? Que coisa estranha – Vídeo na tela, por favor.

Uma jovem de longos cabelos apareceu sorrindo. Sasuke arregalou os olhos. Conhecia a dita, eram colegas desde que entraram na faculdade. Ela gostava tanto do Menma que se dizia irmã, ou parente dele. Esfregou levemente o cabelo e esperou.

–Olá Sasuke, bem você deve me conhecer visto que faço o mesmo curso que você... – o rosto corou levemente - Como você, eu também desejo ser redatora, e sou motivada pelo meu amor a escrever. – ela apertou o punho com força - Enfim minha pergunta é: Por que queres se tornar um redator Sasuke e como você se imagina daqui a 10 anos? - e o vídeo se encerrou.

–E aí, Sasuke? – indagou Lee.

–Por que eu quero ser redator?... – ele pensou – É eu gosto de escrever, isso é verdade, tenho uma habilidade para isso, para criar, organizar e preparar textos, isso quem fala é os meus professores, então resolvi enveredar por essa carreira. Sou bom no que faço, simples assim – ele falou gesticulando. A plateia fez zorra, mas logo se acabou – Sasuke daqui a 10 anos? – ele fez uma cara sagaz e mostrou quatro dedos – Sexy, rico, famoso e bem de vida!

A plateia foi à loucura.

Lee riu confortavelmente com a resposta. Não esperava menos. Recebeu outra mensagem pelo fone de ouvido. Era o professor Kakashi informando que o programa deveria ser encerrado, pois eles não tinham mais tempo, no entanto iriam continuar na próxima vez.

Lee assentiu.

–Bem pessoal, a resposta para essa pergunta ficará para o próximo programa, pois estamos ficando sem tempo! – todo mundo gritou “Ah!” – Mas no próximo programa teremos a parte dois, comigo e com o Sasuke, respondendo a essa pergunta e analisando a próxima imagem! É isso aí! Juventude é tudo e boa noite!!!

–Boa noite... – Sasuke ficou sem entender muita coisa.

O jeito era esperar.

Sasuke se levantou um pouco cansado. Lembrar-se de caras querendo sua garota era extremamente desgastante. Foram incontáveis os casos de pessoas que caíram na enfermaria por essa razão. A briga pela manhã fora por causa do seu ciúme e da sua possessividade. Ela odeia ser tratada como objeto, mas Sasuke não conseguia evitar: ela era uma fonte preciosa de amor que mais ninguém poderia lhe dar.