Fullmetal Alchemist: After All escrita por Paulo Yah


Capítulo 8
#07 - A menina dos olhos liláses




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-Ciel-

Preto e branco... Era a forma que eu enxergava as coisas ao meu redor. Nada havia cor... Era o branco frio da neve e o negro aconchegante da escuridão.

Foi assim que eu fui criada durante quatorze anos da minha vida, X-0 codinome Ciel, pois os alquimistas que me criaram conseguiram alcançar o “céu” após a minha criação, mas isso não significava que eu seria tratada como um presente, como uma dádiva de suas mentes brilhantes.

Eu fui enjaulada como mais um animal, como mais uma quimera irracional, como todos aqueles que estavam ao meu redor. Vivia de comida ruim e degelo das estalactites das grutas.

Algo dentro de mim crescia sem eu saber, e era justamente isso que eles queriam: Ódio... Repulsa por humanos. E como se fosse por extinto, desenvolvi também a alquimia presente em meu corpo.

Graças a esse desenvolvimento com o passar dos anos fui dando muitos problemas aos cientistas, então me prenderam em uma sala escura, colocaram-me uma coleira presa em uma corrente de aço. Meus braços e pernas presos em pulseiras de concreto fixas à parede.

Cada dia que passava me sentia como um animal que fedia a urina e fezes... Queria morrer enfraquecida, mas meu organismo parecia se regenerar a cada vez que perdia os sentidos. E estava certa de que iria matar a todos eles quando cometessem o erro de me soltar.

Iria me vingar de todos os seres humanos, para sempre... E esse dia finalmente chegou, ou pelo menos foi o que pensei.

Abriram as portas do inferno, e junto ao oficial do exército estava um homem que mudou a minha vida por completo.

-Ciel-

 

-Hohenheim.-

O cheiro estava horrível naquela câmara escura, me senti nauseado quando entrei junto ao oficial. Que tipo de monstro eu seria pago para domar?

Quando acenderam as luzes, me senti mais nauseado ainda com o que vi, não evitando repulsa e vômito, e após a crise me toquei que minha reação não era devido ao ser grotesco em minha frente. Longe disso... Pois aquele corpo delicado e nu agonizava preso a correntes e ao concreto, lágrimas caiam de seus olhos vendados com uma tira de pano suja. Abaixo dela, a imundice de suas necessidades fisiológicas não atendidas. O motivo da minha repulsa fora graças a atrocidade, a crueldade que estava diante de mim e por um momento a seguinte frase veio em minha cabeça: “Acorrentaram um Anjo”.

Quando a tiraram de lá, me asseguraram de que ela estaria dopada com drogas que a privaria de usar alquimia. Tiraram a venda de seus olhos, que se encontravam fechados, mas momentos depois que foram libertados, ela delicadamente os abriu, mostrando um par de orbes lilases como eu jamais havia visto.

Eram belos e tristes, frios e vingativos. Ela me encarou de tal forma que senti a morte ao meu lado, prestes a levar a minha alma.  Mas assim que ela tentou reagir; desmaiou perante os meus pés.

 

- Pobre criatura... – Foi o que eu disse sentindo um aperto imenso no peito.

-Hohenheim-

...

 

O fogo crepitava na lareira... Enquanto Hohenheim escrevia em uma folha de papel, com tinta e pena. A carta que mandaria para Roy, sobre o estado de sua missão.

Ela repousava na cama ao lado da sua. Agora limpa de toda sujeira que incrustava no seu corpo, longe de todo mal que podiam lhe fazer. Vestida em uma camisa que o alquimista havia lhe providenciado, e coberta em vários edredons.

O silêncio só não era absoluto, pois o fogo continuava a crepitar, estalando em intervalos de segundos.

Ciel abriu os olhos e se viu deitada numa cama, estava quente, confortável, de forma que jamais havia se sentido. Seu coração até amoleceu depois de tanto tempo congelando naquele lugar horrível.

 

- Você dormiu por dois dias inteiros... – Comentou Hohenheim de longe. – Parecia até que estava morta.

 

Ela levantou, sentando-se na cama. Queria realmente estar morta...

Observou o homem sentado há uma mesa, com os óculos na ponta do nariz, escrevendo atenciosamente. Não transparecia maldade alguma, mas o coração congelado de Ciel ignorava a situação. Tentou executar alquimia, mas não surtiu efeito algum...

Hohenheim olhou para Ciel, que tentava inutilmente transmutar algo que o matasse, mas nada acontecia.

 

- Te deram uma droga lhe privando de usar a energia do corpo para executar alquimia. – Disse o homem seriamente. – E eu para garantir também fiz... Mas foi manualmente, o que me assegura que você não vai me matar.

 

Ciel desviou o olhar impaciente para o lado, ainda sem proferir nenhuma palavra. Ainda estava certa de que não existiam exceções entre os humanos, não seria Hohenheim que iria lhe provar o contrário.

Mas este era insistente, levantou-se de onde estava e caminhou até ela. Sentou-se na cama de frente para a garota, e buscou seus olhos.

 

-Hohenheim-

Tudo que eu conseguia encontrar naquele par de orbes era tristeza, e com isso eu me sentia desumano. Pela face dela, conseguia saber que ela me odiava, assim como odiava todo o resto do mundo.

 

- Você sofre, não é Ciel? – Indaguei num sussurro ainda tentando fazer com que ela me encarasse. – Por quatorze anos você foi alvo de muitos maltratos, não foi?

 

Ela não respondeu de imediato, tentou me encarar com aqueles olhos, mas apenas olhou de canto. Eu esperei a todo custo a resposta dela, sabia que ela iria responder, pois além do ódio em seus olhos eu via algo que me fazia sentir ainda mais pena da garota: Carência. Vontade de ter alguém ao lado para conversar e compartilhar todo o seu lado humano, afinal de contas, experiência ou não, quimera ou humano, ela era acima de tudo uma criança.

Fui paciente, eu sabia que ela iria morder a isca, tentei não pressioná-la  com olhares, nem disse mais nada após aquilo. Tudo teria que fluir naturalmente.

 

- Eu... – Ciel se pronunciou pela primeira vez. – Eu... Ah... Por que eu estou tentando me expressar com um humano? – sorriu ironicamente.

 

- Não sei. – Comentei olhando pra cima enquanto a minha mão apoiava o queixo e no mesmo mento voltei a encará-la. – Talvez você queira se sentir mais humana...

 

- Não diga besteiras... – Ela blefou. – Você mesmo viu o que o povo da sua raça me fez... E o pior de tudo é a razão pela qual eu fui criada. Tirar a vida semelhante dessas próprias criaturas... Sim... Eu vou tirar a vida de muitas delas, mas não é por aqueles que me criaram, é por mim mesmo e por quatorze anos de desgraça.

 

- Pare de ser dramática, idiota. – Protestei. – Você não conhece todas as pessoas do mundo!

 

- E VOCÊ CONHECE? QUEM É VOCÊ PRA ME DIZER ALGO ASSIM? – Vociferou. – Pode ser velho, mas não tem idade o suficiente pra me ensinar sobre seres humanos!

 

- E se eu disser que conheço? – perguntei ainda calmo. – E se disser que posso te entender melhor que qualquer outra pessoa no mundo?

 

Ela gargalhou... Senti raiva em sua risada, senti o ódio dela sobre mim e o mundo. Senti a dúvida e a tentação.

-Hohenheim-

-Ciel-

Naquele momento estava a ponto de ficar louca, como ele poderia me entender? Ele por acaso tinha almas humanas gritando dentro dele?  Ele por acaso foi maltratado a vida toda por ser um “monstro”? Naquela época eu não conhecia e pouco me interessava a sua história. 

Voltei a encarar aquele homem com ar superior, e nós disputávamos superioridade em nossos olhares. Eu com o meu olhar furioso, e ele com o olhar singelo.

 

- Você não sabe o que é família, não é Ciel? – Perguntou de novo. – Amigos, pessoas que sorriem pra você. Tenho certeza que não sabe o que é ter filhos, e um alguém que você pode dizer que ama, e do nada, essas pessoas desaparecem de suas vidas sem deixar que você tente resolver aquilo que as distancia?

“Eu acho que não... Ninguém te deu isso. Nem mesmo a chance de lutar por isso. Então, como você pode dizer que eu não te entendo? Eu também já fui por um bom tempo um monstro preso em uma jaula, um ser insignificante preso no frasco”

 

No fim das contas ele realmente me entendia, mas eu não conseguia ver isso, eu me sentia um ser insignificante, um objeto com o propósito de tirar vidas, sem ao menos obter a glória... Deitei-me na cama novamente e tentei dormir, pois, se eu continuasse a discutir com aquele homem, eu seria capaz de matá-lo nem que fosse manualmente.

Foram longos dias em que nós não nos falávamos, e era por minha causa, pois aquele estranho ser sempre tentava se aproximar. Na hora do almoço, na hora da janta, antes de dormir e durante a manhã.

 

“Bom dia!” Era a frase que eu escutava sempre que acordava, antes do café da manhã ao qual eu não me recusava a comer pois nunca havia comido nada igual. “Boa noite!” Era a frase que eu escutava ao me deitar.

A comida humana servida para os empregados e soldados, era bem melhor que a que eu comia antes de ser presa naquele lugar. Eu nunca entendi o porquê de selecionarem alguém pra cuidar de mim, sendo que há pouco tempo atrás simplesmente queriam que apenas me transformasse de verdade num monstro, mas também não tive chance, ou talvez nem quisesse perguntar o porquê daquilo. Eu estava confortada, e o meu lado humano irracional prezava aquilo a todo custo.

 

Certa vez, ele estava novamente escrevendo algo sentado à mesa do quarto. Durante aquele tempo eu já havia me esquecido sobre querer destruir a humanidade. Eu sentia um ódio gigante por aquela raça... Sim! Aquilo não passaria tão rápido, ou pelo menos era o que eu pensava.

Eu me aproximei inocentemente de onde ele estava e sentei-me em uma das cadeiras observando o que ele escrevia. Eu não sabia ler... Eram símbolos estranhos, mas ele parecia concentrado.

Fiquei imaginando o que poderia estar escrito ali, e pra quem ele tanto escrevia, mas então eu deixei meus pensamentos de lado ao ver uma fotografia  sobre a mesa, ao lado do papel tal qual ele escrevia.

Ele estava diferente ali, cabelo longo e barba alta. Segurando uma criança por baixo dos braços, e esta sorria. Ao seu lado, uma bela mulher segurando cuidadosamente outra criança, aparentemente mais nova e ambos pareciam irmãos. Automaticamente, lembrei da primeira vez que o vi e das palavras que me disse: “Tenho certeza que não sabe o que é ter filhos, e um alguém que você pode dizer que ama, e do nada, essas pessoas desaparecem de sua vida sem deixar que você tente resolver aquilo que as distancia.”

 

- Albert... – Chamei-o por aquele nome ao qual, todos o chamavam, e ele atendeu.

- Ciel -

 

- Sim?

 

Hohenheim olhou para o lado, de onde vinha a voz de Ciel, se surpreendeu quando viu o que tinha em suas mãos, e como a imagem  prendia a atenção e os olhos dela.

Sentiu que finalmente Ciel estava se abrindo, depois de árduas duas semanas, ao menos um sinal ela estava dando.

 

- Quem são eles? – Perguntou ainda olhando para a foto.

 

- Meus filhos e minha esposa. – Disse serenamente. – As pessoas que amo.

 

Amor... Ciel não conhecia tal sentimento, jamais o sentiu ser correspondido. Humanos eram tão bons a ponto de amar?

 

- O que é amor, Albert? – Perguntou Ciel agora se direcionando a ele.

 

- Um sentimento bem mais bonito que o ódio, você pode ter certeza. – Hohenheim sorriu.

 

Um sentimento mais belo que o ódio. Ciel não achava que sentimentos pudessem ser belos, já que ela não os conhecia. Mas a prova de tal beleza estava na imagem, e ela estava curiosa para saber sobre a vida de Hohenheim, uma sensação de aconchego e intimidade lhe bateu de frente, estaria desistindo de excluir de si a sua parte humana?

 

- Edward, Alphonse e Trisha. – Disse apontando para cada um dizendo seus nomes.

 

- Eles se parecem com você... Seus filhos. – Comentou,entoando uma voz mais calma, ainda assim distante e soando um pouco sem sentimento. – Mas possuem a mesma delicadeza que a mãe, ao menos é o que aparenta na foto.

 

Ciel ficou surpresa em falar sobre aspectos humanos, era um contato diferente para ela. Como aqueles seres podiam ser tão... “Belos” daquela forma?

 

- O mais velho – apontou para Edward. – É tão cabeça dura quanto eu era na idade dele. O mais novo... Bom, ele parece a mãe. Parecia...

 

- Parecia? – Perguntou.

 

- Está morto. – Disse Hohenheim pesaroso.

 

Ciel sentiu o peso nas duas palavras ditas pelo homem... Ela ficou confusa. Como conseguiam oscilar tanto assim? Ela só havia visto crueldade nos homens até aquele momento. Na mente dela, um humano matar o outro era uma coisa tão comum... Mas nunca imaginou um deles sofrendo pela morte de outro semelhante.

 

- Vocês humanos são estranhos. – Disse, sendo direta. – Como conseguem viver dessa maneira?

 

- Sendo cruéis, e bons ao mesmo tempo? – Perguntou Hohenheim. – Posso lhe dar uma aula sobre alquimia?

 

Ela não respondeu, simplesmente deixou que ele continuasse. E assim foi feito. Hohenheim se levantou da cadeira e começou a andar freneticamente de um lado para o outro.

 

- A alquimia é muito mais que o simples ato de transmutar algo... É um conjunto de conceitos no qual tentam se aproximar mais da razão do que qualquer outro item existente no universo. Buscamos a verdade, por trás de tudo, inclusive a verdade por trás do ser humano.

“ Você me perguntou como nós podemos oscilar tanto... Não é fácil explicar isso, mas tentarei: O ser humano é o único animal biologicamente natural que é movido por três itens chamados racionais: Interesse, afeto e razão. Unindo esses três itens damos origem ao que chamamos de ponto de vista; a forma pela qual você vê as coisas, e esses pontos de vista se diferem, já que existe tantos pontos de vista pelo mundo. As pessoas costumam a defender cegamente o seu ponto de vista sobre as coisas.”

 

- Defender o ponto de vista? – Perguntou Ciel. – Então, se destruir e dominar for o meu ponto de vista eu lutarei por isso até a morte?

 

- É o que a maioria das pessoas pensa, Ciel. – completou. – Pontos de vistas quando são intensificados se transformam em ideal; isso significa uma opinião de mudanças, um objetivo que atingiria o máximo de pessoas possível.

 

- Matar, destruir e conquistar... Impor e reprimir. Isso são ideais?

 

- Não... Mas são fatores radicais que movem o ideal daqueles que pregam por algo radical e cruel. Mas eu devo dizer que nem sempre eles estão errados.

 

- Como não? Tirar vida de iguais é cruel!

 

- Sim, é cruel... Mas cada um defende um objetivo, e aí sim entra a forma errada de como o humano encara isso.

 

- Ainda não entendi... Ideais não são bons! – Disse bufando e impaciente. – Nem mesmo eu consigo entender vocês, humanos. Qual o jeito certo de se encarar e levar um ideal?

 

- Vivendo por ele. – Respondeu imediato. – E não matando quanto menos morrendo pelo mesmo.

 

-Ciel-

 

Mas o ser humano consegue se fechar em seus horizontes, não consegue ver as coisas da forma que não estão acostumados a ver. – Ele terminou a frase.

 

Então humanos protegem ideais, lutam por eles e morrem por eles... Sendo que o mais fácil seria viver por eles. Isso traria benefício a todos, se todos conseguissem compartilhar ideais...

Mas quanto a proteger as pessoas que se ama? Deveríamos lutar por elas e morrer por elas? Foi o que perguntei.

 

- Não precisamos de proteção... Somos nossa própria proteção. Embora sejam poucos que entendam isso. Não devemos lutar por elas e nem morrer por elas, e não, não precisamos viver por elas também. Lutamos ao lado delas, e vivemos ao lado delas, e quanto ao morrer... Enquanto um tiver o outro, dificilmente um dos dois morrerá. Mas eles podem morrer juntas, infelizmente isso nem sempre acontece...

 

Eu não compreendia ao certo, talvez levasse um tempo pra enxergar aquele ângulo de visão, mas era uma oportunidade para o meu lado humano passar a agir.

E em pouco tempo, ou o tempo que fosse eu iria poder entender tudo o que aquele homem me dizia.

 

- Você não é Drachmês, não é Albert? – Perguntei.

 

- Não vou mentir pra você. – Afirmou. – Mas como descobriu?

 

- Não vejo frieza em seus olhos. – Disse procurando em seus olhos dourados, algo que fosse cruel. – Os Drachmeses são a incorporação da frieza desta terra gelada, posso dizer isso por quatorze anos que vivi por aqui.

 

- Eu pertenço a Amestris. – Disse o mais baixo possível. – Sou espião do lugar o qual está em guerra com Drachma.

 

Aquilo contradizia tudo aquilo que ele havia me explicado, mas eu conseguia em partes entende-lo, mesmo que por um momento eu tenha novamente perguntado.

 

- Mas por que insiste em contribuir para essa guerra? – Perguntei

 

- Dentro da alquimia, existe um fator chamado “troca equivalente.” Para criar ou transmutar qualquer coisa, você tem que dar algo de mesmo valor pela troca. Isso significa que “toda ação gera uma reação de mesma intensidade.”

“É uma lei universal... Não é só uma regra alquímica. Dentro da alquimia existe um tabu... Não podemos transmutar vidas que se foram.”

 

- Aprendi sobre isso quando convivia com os cientistas. – Comentou. – Mas isso ainda não explica a minha pergunta.

 

- O que eu quis dizer, é que... Eu não contribuo para a guerra. Sou apenas a reação, estou reagindo ao efeito causado por Drachma, para proteger vidas que não precisam ser sacrificadas. Sei que havia dito que não devemos morrer por pessoas queridas, mas não existe escolha quando se trate de proteger os fracos, pois nem sempre todos serão fortes como alguns são.

 

Resolvi apenas ouvir aquelas ultimas palavras, bocejei enquanto sentia um sono terrível me possuir. Foi quando eu me levantei e me encaminhei para a cama.

 

- Eu vou me lembrar de tudo isso que você me disse. – Prometi. Não só pra ele mas para mim também. – Mas agora dormirei, Albert.

 

- Me chame de Von... Von Hohenheim.  – E finalmente disse o seu verdadeiro nome.

 

- Hohenheim? – Já estava deitada e coberta,  olhos pesados, entre a consciência e o sono, ri baixinho. – Que nome mais estranho...

 

- Ciel –

 

- Hohenheim. –

Fiquei imaginando por um tempo se aquilo era uma chance de me redimir de tudo que havia deixado pra trás, quando mais precisaram de mim.

Mas depois, naquele mesmo momento descobri que era apenas algo novo a aprender.

 

- É... Alguém numa situação muito parecida com a sua, me deu esse nome. – Disse, mesmo sabendo que naquele momento ela não podia me ouvir. – Antes éramos dois seres presos em celas diferentes. Eu o escravo 23 preso na sociedade e ele o pequenino preso num frasco.

 

- Hohenheim... – Vi que ainda estava acordada. – Boa noite.

 

Eu não tive tempo de imaginar algo como aquilo acontecendo. Mas nem me importei, já que nessas condições é mais emocionante ser surpreendido. 

Com o tempo ela foi evoluindo, se tornando um ser humano notável. Eu era seu tutor, furtava livros de alquimia na biblioteca, lhe ensinava o que eu tinha aprendido e tudo que adquiri durante tantos anos.

-

 Tudo é um, e o um é tudo. – Ela disse surpresa com a própria conclusão, um ano depois. – Sem o um, o tudo não existe. E sem o tudo o um também não pode existir. Pois para formar um composto: o todo: precisamos de um ou mais elementos: o um.

“ Isso significa que o um é a base para o tudo... – Desenhou em um papel um oito deitado e começou a contorná-lo com a pena. – Ao mesmo tempo que o tudo, é a base do um. E isso é o fundamento para a energia que chamamos de “alma” e para todos os tipos de energia existentes no universo.”

 

Seus olhos brilharam, distantes mais cheios de vida. Ela realmente estava impressionada com aquela descoberta. E eu estava orgulhoso por guiá-la tão bem.

 

- Isso é... – Ela hesitou pensando na palavra certa. – Tão mágico!

 

- Não... Essa é a beleza da realidade. A magia é irreal, Ciel. – Expliquei.  – Esse é o fundamento da Alquimia e eu acredito que seja a lei que rege o universo.

 

Houve certo silêncio de nossa parte, ela desviou o olhar, apreensiva, e senti que o assunto se desviaria para outro rumo.

 

 

- Hohenheim, você me disse que no seu país eu encontraria muitas pessoas boas. – Repetiu a frase a qual eu havia lhe dito, olhou pra mim com aquele olhar decidido, a evolução de seu olhar confuso e tristonho. – Deixe-me ajudá-lo a proteger essas pessoas. Eu... Eu quero sentir aquilo que você chama de “amor”. Acho que para  entender os humanos completamente, eu só preciso disso... Ser amada, para aprender a amar.

 

- Você será muito bem vinda em Amestris, Ciel. – Disse satisfeito. – Mas... Como vamos mandar você pra lá?

 

- Enquanto eu pensava em tudo isso... Eu formulei um plano de fuga. Deixe comigo!

 

- Existe um porém... – Resolvi adverti-la. – Daqui um ano, você já estará pronta para ser usada na guerra.

 

- Sim, eu sei e é a partir daí que eu irei agir. – Respondeu a garota. – Vai ser a única ocasião que não sairei desse quarto, acorrentada e dopada. Até lá posso aperfeiçoar meu plano.

 

Ciel nasceu dotada de uma inteligência e uma facilidade de compreensão muito grande. Assegurou-me de que tudo correria muito bem, e eu realmente esperava por isso, pois tanto o meu pescoço quanto o dela estariam em jogo.

Sabia que se eu fosse pego e descobrissem a minha identidade Amestris iria ser prejudicada.

- Hohenheim -

 

Atualidade

Drachma  

 

 

- Se aproxima o momento de abrirmos o portão, Almirante! – anunciou a voz indefinida no canto escuro da sala.

 

- Sim, milord. – Disse o homem de farda, tão grande quanto Armstrong e aparentemente tão forte como ele, cabelo longo e liso do negro mais intenso possível, e olhos azul-claro. – Ele realmente fará isso?

 

- Eu não coloquei um homem de Amestris aqui para brincar de cuidar de quimera, Almirante. – soou sarcástica, a voz misteriosa. – Ainda mais quando se trata do lendário Von Hohenheim. Devo citar novamente que tudo o que ele fez durante esse tempo que eu o coloquei aqui foi calculado delicadamente por mim? Inclusive a fuga da Valquíria?

 

- Não, milord. – negou o Almirante. – Sei que vossa inteligência é realmente assustadora.

 

- Que bom que acha isso, Almirante. Mas creio que você vai se assustar mesmo é com aquilo que acontecerá quando o portão for aberto! O mundo entrara num caos total e eu ganharei tempo! – E finalmente irei sair deste lugar maldito.

 

A luz iluminou a escuridão daquele lugar, o Sol de Drachma mandou seus raios por entre os vãos da sala. Um altar apareceu diante da luz solar, e sobre ele um frasco de cristal, onde flutuava uma essência negra, havia um olho vermelho em seu centro e uma boca curva semelhando um sorriso.

Apareceram atrás dele dez seres, dentre eles 08 e 09, todo o resto era numerado em suas capas com o número de 01 até 10.

 

- O Pai deixou-me esta missão... E diferente dos outros sete homúnculos, eu não irei falhar. Pois de agora em diante, eu assumirei a liderança dos planos, sem necessidade de libertá-lo. A traição e o pecado mais belo e forte de todos! O pecado esquecido pelo homem... O pecado deixado pelo verdadeiro Homunculus.


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Notas finais do capítulo

Notas do Autor.       Olá!
Olha eu aqui de novo!   Bom,
primeiramente desculpem a demora ç_ç não tive tempo de postar semana passada,
mas estou aqui para isso!   Outra
coisa que aconteceu é que empaquei no capitulo dez, então acho que não vai dar
pra postar dois essa semana, escola suga inspiração e disposição pra escrever
X-x.   Mas
enfim, matei uma charada da história pra vocês nesse capitulo, mas por trás disso
tem MUITO, mas MUITO MAIS! MWAHAHAHAHAHAHAHA!cofcof.   Então
né... e-e’ Eu espero que tenham gostado desse capítulo, eu o fiz em POVs pra
expressar sentimentos e pontos de vistas de ambos, assim como também quis
mostrar de forma mais aproximada a relação dos dois, embora ainda esteja um
tanto encoberta, vocês vão poder notar com mais detalhes daqui algum tempo.   Bom,
talvez eu ainda poste mais um essa semana, mas por enquanto isso é tudo pessoal
!