Let It Bleed escrita por shizumukako


Capítulo 4
I'm tired of lying, I think I'd rather sing




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Gritos e vozes misturavam-se em som alto, bagunçando o ambiente de show. Pessoas de variadas idades e de lugares diferentes, principalmente jovens, que haviam se deslocado de suas terras e territórios já conhecidos, apenas para escutar a música que fazíamos de perto. Garotas, em geral, empuleiravam-se nas grades de segurança e testavam suas vozes enquanto chamavam pelos nossos nomes, irritando os seguranças e também os meninos que se debatiam um contra o outro em meio à um Mosh. Uma menina até conseguiu puxar a camisa de Jeph e o arrastar para uma foto. Agora, Jeph e Dan discutiam algo entre cochichos e a leve impressão que passou pela minha cabeça foi ciúmes dos fãs. Dan às vezes tinha um desses surtos; não por inveja, apenas ciúmes das tentativas frustradas dos fãs com intenção de agarrar 'seu' Jepha.

Quinn nunca surtava daquela maneira. Basicamente, era ele quem parava para dar atenção aos fãs, atendendo os pedidos de foto e puxando conversa com uma de suas brincadeirinhas. Hoje não foi diferente. Da última vez que o vi, ele conversava animadamente com uma garota de decote exagerado, as bochechas muito vermelhas de tanto gritar.
Talvez eu fosse o Dan possessivo dessa relação. E a principal diferença do afeto que Quinn tinha com os fãs para o de Jeph, era que este último se explicaria para seu homem depois e os dois se entenderiam e se amariam. Quinn não me dava explicações; apenas porque ele não devia.

- Hora de subir - Um dos instrutores me avisou e eu balancei afirmativamente a cabeça, em um aviso mudo que já iria.

No mesmo instante em que vestia minhas luvas, Quinn adentrou o local, praticamente escancarando a porta. Seu sorriso desmanchou aos poucos enquanto seus olhos me focalizavam e encontravam-se com os meus. Eu terminei meu trabalho com as luvasm vestindo-as completamente, e me aproximei dele. Quinn ainda parecia um pouco magoado com nossa discussão, mas eu pude perceber um leve rastro de malicia brincar em seu olhar.
- Boa sorte.
- Pra você também. - Respondi, um sorriso não tão perceptível tomando meus lábios enquanto minha visão era quase hipnotizada pela de Quinn. Ele desviou seus olhos, passando à centimetros de mim à procura de sua guitarra. Eu permaneci no mesmo lugar, meu corpo travado demais para virar e encará-lo. Meus lábios entreabriram-se ao mesmo tempo em que pensava algo para dizer.
- Você sabe até como procurar a coisa certa na hora certa, não é?
- Claro - Sua voz saiu risonha e pude ouvir seus passos lentos se aproximarem de mim. Sem que tocasse um centímetro de minha pele, eu já podia senti-la queimar. O próximo som que ouvi foi sua voz sair quase como um sussurro em meu ouvido, arrepiando-me até o último fio de cabelo bagunçado e bambeando minhas pernas. - Eu tenho que saber o que fazer para o seu trabalho ser menos cansativo.
Quinn se afastou, passando por mim com sua guitarra já em mãos, sem me tocar uma única vez. Com um último sorriso, ele deixou o camarim, me deixando também sozinho com minhas próprias reflexões; os pensamentos tão embaralhados que me faziam querer fechar os olhos e me desligar do mundo apenas para chegar em alguma conclusão.

Se o amor que eu senti em um tempo distante fora como um tapa em minha cara, o que eu sentia por Quinn eram vários seguidos chutes em minha barriga. Ou talvez aquela sensação fosse apenas borboletas no estômago.
Eu praticamente corri até o palco. Instrutores me rodeavam afim de me 'prepararem', mas meus pés se movimentaram tão rápidos que eu consegui escapar de todos eles, cambaleando até o palco em seguida. Algumas luzes se acenderam, jogando mais claridade para a banda, e quando eu girei os olhos ao redor pude olhar o sorriso que Quinn me lançava. Eu o retribui, desafiando.

As vozes que gritavam em último volume para mim não era tão bem escutadas agora, já que o solo inicial da primeira música havia começado. Eu encarei Jeph brincando de fazer música com sua guitarra, enquanto ele olhava maravilhado para a enorme platéia, seu sorriso de orgulho tão grande que me fez abrir outro maior ainda. Dan agora começava as batidas do som, os braços movimentando-se habilidosamente sob o ar à medida que a baqueta batia cada vez mais forte contra a bateria.

E então eu cantei.

O microfone à centimentros de meus lábios não foi suficiente para abafar as vozes que cantavam junto comigo. Quando voltei à encarar Quinn, percebi que sua boca também se mexia enquanto sua voz cantava a mesma letra que eu, soando imperceptível. Eu corri até ele sem pensar e pude ver seus pequenos olhos arregalarem-se com minha aproximação inesperada.
- I love you to death - Cantei suavemente, levando a ponta dos dedos descobertos de luva até seu rosto, acariciando-o sem me importar com os gritos dos fãs. - Could love me to death?
Ele exibiu um sorriso envergonhado, subindo a mão vaga até o microfone e o aproximando de seus lábios. - I love you to death ... to.
Meus pés automaticamente me guiaram para mais próximo dele e uma de minhas mãos se entrelaçou em seu cabelo, trazendo o corpo de Quinn junto ao meu. Nossos lábios chocaram-se um contra o outro e nossas linguas começaram seus movimentos juntas, nossos olhos se fechando para o mundo à fora.


Não importava se eu iria me machucar ou se o machucaria. Não importavam mais as cicatrizes do passado, não agora. Apenas deixe sangrar. 
The End.

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