— Dois agentes mortos, três feridos e você está me dizendo que não sabe quem ela é? — A voz de Natasha soava incrédula quando perguntava pela terceira vez quem diabos era a loira que atraiu um times inteiros da HYDRA para a casa de Steve.

O Capitão fechou os olhos e suspirou, passando a mão pelo rosto de forma cansada.

— Eu já disse, ela não se lembra–

— E você acreditou nisso? — A ruiva o interrompeu, levantando as sobrancelhas e fuzilando o super soldado com o olhar. — Eu pensei que você fosse mais esperto, Rogers.

Durante a viagem de carro até ali, quando os dois ainda estavam sendo perseguidos por agentes da HYDRA, Natasha não citou o assunto por ver o estado do amigo, ver o quanto ele estava preocupado com a moça e por não querer começar uma discussão no meio do trânsito, mas agora ela precisava ser cautelosa, precisava de explicações. Ela já havia dado tempo suficiente para Steve pensar e colocar os pensamentos em ordem naquelas horas em que voltou para a base da SHIELD reportar o quê havia acontecido, e em sua mente, Natasha tinha se convencido que Steve teria uma história melhor do quê a que ele balbuciou no carro sobre as origens da garota. Bem, ela estava errada.

— Assim que ela acordar, eu vou levá-la até a SHIELD. — Afirmou.

— Não. — Steve disse imediatamente, balançando a cabeça em negação.

— Ela pode ser perigosa, você viu quem a HYDRA mandou para pegá-la! — A Viúva Negra tentou argumentar.

— Mesmo se ela for perigosa, o quê eu não acredito que seja o caso, pelo menos ela está do nosso lado! Eve passou a semana inteira na minha casa, ela podia ter me matado de mil e uma maneiras diferentes e eu ainda estou aqui, não estou? — O Capitão falou de forma decidida.

Natasha bufou, e foi a sua vez de balançar a cabeça. Ela não conseguia imaginar como Eve havia conseguido ganhar a confiança do loiro em tão pouco tempo, e sabia que seria impossível tirá-la da Torre com Steve em seu caminho.

A ruiva olhou para Tony em busca de ajuda, mas o mesmo nem notou seu pedido, já que mexia de forma concentrada em seu tablet no canto da sala.

— Ela não é o inimigo. — Steve disse pela última vez, e um silêncio desconfortável se instalou pela sala pelo próximo minuto, até que Tony finalmente se pronunciou.

— Natasha está certa. — Disse ele, desviando seu olhar do tablet para o Capitão.

— O quê? Mas– — Steve perguntou surpreso, pronto para discutir com Tony também, mas foi interrompido pelo mesmo, que revirou os olhos antes de continuar.

— Calma, me deixe terminar pelo menos. — Falou, deixando o tablet na mesa de centro e se aproximando do Capitão.

— A sua namorada pode sim ser perigosa, e é por isso que ela precisa ficar aqui. — O moreno virou na direção de Natasha antes de continuar.

— Qualquer movimento suspeito e JARVIS vai me avisar no mesmo segundo, o mesmo JARVIS que nesse instante está vasculhando o banco de dados com todas as identidades e certidões de nascimento não só de Nova York, mas do país inteiro. Se ela tem um registro, ele vai encontrar, e nós vamos saber quem Eve é em uma hora ou menos. — Terminou ele, sentando-se no sofá de forma preguiçosa e relaxada.

— Satisfeitos? — Perguntou em seguida.

Steve estava prestes a agradecer, porém foi interrompido por JARVIS pela segunda vez naquela noite.

“A senhorita Eve está acordada e deseja vê-lo, Capitão Rogers.”

O super soldado arregalou os olhos surpreso, e andou em passos rápidos em direção ao elevador. Tony o seguiu de perto, curioso como sempre, querendo ver como a situação se desenrolaria. Natasha ficou para trás, balançando a cabeça em frustração.

O elevador era rápido, mas mesmo assim lento demais no ponto de vista do Capitão, que não via a hora de chegar ao laboratório. A descida demorou menos de um minuto, e quando as portas se abriram revelaram um corredor luxuoso e bem decorado, nada parecido com os diversos laboratórios contidos por trás de suas portas, os quais eram brancos e de certa maneira frios, mas não no sentido de temperatura. Steve nunca gostou do andar, que era repleto dos mais diversos cientistas que trabalhavam para as Indústrias Stark.

Os dois Vingadores passaram pela porta mais próxima, e que revelava o laboratório – e enfermaria – de Clara. Não que ela precisasse de um, já que trabalhava junto com Tony e Bruce no laboratório pessoal da torre, sendo a única cientista não Vingadora a poder subir para os níveis superiores da construção onde ficavam não só os apartamentos, mas também a “garagem” onde o Homem de Ferro guardava suas armaduras.

Clara, com seus cabelos cacheados presos em um coque improvisado, sorriu para eles assim que os viu atravessando a porta e apontou para Eve, que estava sentada na maca localizada no centro do laboratório.

***

Os segundos se estenderam por uma eternidade enquanto eu esperava a chegada de Steve, e eu mordi o lábio de forma nervosa.

E se Clara estivesse mentindo? E se Steve não estivesse vindo coisa nenhuma, e ela só tivesse alertado aos meus sequestradores – quem quer que eles sejam – que eu havia acordado?

Clara soou sincera quando disse que chamaria Steve, e a voz que me assustou quando de repente soou pelo quarto, e que a cientista chamou de JARVIS, disse que ele já estava à caminho, mas mesmo assim eu não consegui deixar de duvidar.

A morena já estava de volta ao trabalho, mexendo em um dos modernos computadores do laboratório quando a porta se abriu de forma apressada, interrompendo meus aflitos pensamentos. Desviei meu olhar do chão para ver o momento em que Steve passou pela porta, seus olhos vasculhando o quarto e só parando quando me encontrou sentada na maca.

— Eve. — Sua voz soou aliviada ao mesmo tempo em que soltei o ar que não sabia que estava segurando.

Levantei-me rapidamente, com um enorme sorriso no rosto, e quase correndo fui de encontro a ele, sem pensar jogando meus braços em volta de seu pescoço, abraçando-o com força.

Steve não pareceu tão surpreso quanto da primeira vez em que o abracei, e reagiu imediatamente ao meu contato, colocando os braços à minha volta e enterrando o rosto em meu cabelo. Pude sentir seu sorriso quando ele se pronunciou novamente.

— Você está bem. — Foi mais uma afirmação do quê uma pergunta, mas respondi mesmo assim, assentindo em seu ombro.

Ficamos por alguns segundos na mesma posição, até que eu finalmente nos separei, checando o rosto de Steve por machucados.

— E você? Eu não consegui te dar cobertura como pediu, quando aquela... Quando aquela mulher atirou em mim tudo escureceu tão rápido e– — Steve me interrompeu, colocando a mão em meu ombro.

— Eu estou bem, não se preocupe. — Disse ele, dando um pequeno sorriso. — Não foi culpa sua.

Assenti, retribuindo seu sorriso. Foi nesse instante que um pensamento cruzou minha cabeça, me fazendo desviar o olhar e franzir o cenho de forma confusa.

— Como nós chegamos aqui? Como escapamos? — Perguntei, sem saber como Steve havia conseguido acabar com tanto agentes e me trazer para a Torre Stark, aonde quer que isso fosse.

Steve abriu a boca para responder, mas foi interrompido por um pigarreio que logo preencheu o laboratório. Só aí percebi a presença de um familiar homem moreno um pouco atrás dele, que parecia já estar ali há algum tempo. Steve, assim como eu, arregalou os olhos com a súbita interrupção, e sua expressão era como a de quem havia finalmente se lembrado de alguma coisa importante.

— Ah, hm, esse é o Tony, um amigo meu. — Ele apresentou, gesticulando na direção do amigo.

Como da primeira vez em que vi Steve, aqueles mesmos alarmes apitaram de forma alta entre meus embaralhados pensamentos, e eu sabia que de alguma forma eu já conhecia esse homem.

Tony sorriu e estendeu a mão na minha direção, balançando-a animadamente assim que respondi seu cumprimento. Ele não pareceu nem um pouco afetado pela minha demora em aceitar o aperto de mão, ou pelo olhar desconfiado que eu tenho certeza de que surgiu em meu rosto.

— É um prazer em conhecê-la Eve, o Capitão aqui não parava de falar de você. — Afirmou o moreno, soltando minha mão em seguida e dando dois tapinhas nas costas de Steve, que lançou um olhar irritado para ele.

Eu esperava que o vermelho que eu sabia que começaria a aparecer em meu rosto escondesse a expressão confusa que se instalou em minhas feições segundos depois, pois eu não saberia explicar a pontada em minha cabeça assim que Steve apresentou Tony, ou as confusas imagens que surgiram em minha mente assim que a voz dele ecoou pelo cômodo.

Antes que eu tentasse montar uma explicação coerente ou me esforçasse para me lembrar de onde conhecia Tony, ele se pronunciou.

— Bem, aqui estão as chaves do apartamento. — Disse ele entregando dois cartões nas mãos de Steve. — Vocês dois já tem acesso ao andar pelo elevador, mas Eve tem que estar acompanhada de alguém para JARVIS liberar sua entrada nos andares superiores, espero que não seja um problema. — Tony virou-se na minha direção, me lançando um sorriso simpático.

Franzi o cenho, sem entender o quê ele dizia, e Steve respondeu por mim.

— Sem problemas. — Assentiu ele.

— Tudo resolvido então, eu vou estar em meu laboratório se precisarem de alguma coisa. — O moreno concluiu, virando seu olhar para Clara. — Você vem, Clara?

— Yup, subo em um minuto. — Respondeu ela, sem desviar os olhos do computador, uma expressão concentrada em seu rosto.

— Mais uma vez, foi um prazer conhecê-la, e seja bem-vinda. — Tony disse, sem perceber minha confusão. Sorri educadamente e assenti, vendo-o andar de forma apressada até a porta do laboratório.

— Nos vemos mais tarde, Cap. — Ele se despediu com um aceno e sumiu no corredor no exato momento em que lancei um olhar curioso para Steve.

— Cap? — Perguntei, levantando uma de minhas sobrancelhas.

O loiro deu um suspiro antes de dizer:

— É uma longa história.