Eu estava na sala da direção quando o Reitor me disse– Você não pode mais organizar o baile.

–Mas já esta quase tudo pronto! Você não pode fazer isso comigo! Por favor!

–Bem não posso negar que esta fazendo um ótimo trabalho com esse baile, nunca vi um projeto tão organizado na vida, vou deixar essa sua briga passar dessa vez, mas gostaria de lembra-la que esta na faculdade e não no colegial você não é mais criança e sim uma adulta, então tenha cuidado com os seus atos, pois serão julgados como adultos e pode até acarretar problemas judiciais, me disseram que você foi racista com Beatriz Barros.

–Eu não sou racista eu só...– Acho que dizer “odeio Beatriz” não iria me ajudar muito, não sou racista me arrependo de chama-la de nomes pejorativos em questão racial, só vejo uma solução para isso: Vou encontrar novas formas de ofende-la que não tenham haver com raça– Esta bem, eu compreendo senhor reitor prometo que isso não se repetir.

Naquela tarde Lucas Lerman veio me visitar, eu estava no quarto experimentando um vestido lindo, ele me elogiou e sentou na minha cama.

–Já faz algum tempo que não conversamos direito Sara, como está seu tratamento pessoal de combate ao vicio da perfeição?

–Estou indo bem afinal estou conseguindo conviver com pessoas imperfeitas: você e o Jason, vocês são ótimos. Agora me diz com que roupa você vai ao baile, pois ainda não decidi com qual dos dois eu vou, então qual combinar mais com meu vestido será meu par.

–Não acredito que ouvi isso– Lucas riu e depois me olhou serio– Você esta nos comparando a vestidos? Quem disse que eu quero ir com você ao baile?

–Lucas?– Me virei espantadíssima não acredito que ele falou assim comigo.

–O que você aprendeu até agora?

–A olhar primeiro para as qualidades e só depois para os defeitos das pessoas.

–Você não aprendeu porra nenhuma. Sara o que esta havendo com você? Você esta... Mais nojenta que o normal.

–Do que você me chamou?

–Faz parte de ser amigo dizer a verdade e essa é a verdade. Você esta insuportável, é verdade que todos estão com mais raiva sua do que de costume, mas isso se deve ao fato que você tá parecendo uma doida.

–Não me importo com isso.

–Se importa sim. Diga olhando nos meus olhos que estou errado– Abri a boca e me lembrei das pessoas cochichando quando eu passo; das poucas palavras que consigo escutar: vadia, soberba, insuportável. Sem perceber comecei a tremer e Lucas segurou as minhas mãos– Agora me diga o que esta errado, há poucos dias você estava feliz se divertindo comigo e o Jason, o que mudou?

–Não sou a melhor da turma– Era isso que estava me corroendo– E isso me faz me sentir... Menos perfeita e organizar o baile perfeito vai suprir essa pequena queda na minha taxa de perfeição e... Deus eu fiz de novo não foi? Estou mesmo sendo nojenta.

–Me diz Sara por que você acha que é assim? Tudo tem um motivo, o Jason é violento, pois sente raiva dos pais e eu sorriu e tremo por medo e você? Por que você é viciada por perfeição? Por que exige tanto de si mesma?

Parei para pensar naquilo, por que eu sou assim? Por que tudo tem que ser perfeito? Por que eu exijo de mais de mim mesma?

–Talvez seja por causa dos meus pais– Concluí– Minha mãe é uma modelo e meu pai um físico, ou seja, a pressão que eles me impõem para ser perfeita nessas duas áreas é...– De repente lembrei dos almoços com meus pais, eles perguntando como foi meu dia e como reagiam com meu vicio de perfeição, dizendo que eu me esforço de mais, que exijo de mais de mim mesma, dizendo que talvez eu seria mais feliz se me conformasse com coisas menos que perfeitas– Estou sendo hipócrita, meus pais são ótimos eu ser assim não tem nada haver com eles, eu sou assim por única e exclusiva culpa minha.

Meus olhos não lacrimejaram, meu coração não doeu, eu não tinha uma história triste como as dos dois, eu era ruim por ser eu mesma. E o pior era não me sentir mal por isso. Lucas me abraçou querendo me consolar, mas me consolar de que? No fim sou uma pessoa horrível, quero ter amigos, quero ser uma boa pessoa, mas a ideia de não ser perfeita me fazia ter ânsia de vômito.

–Estou feliz de tê-los como amigos. Desculpe ter falado que queria ir ao baile com o qual combinasse mais com meu vestido acho que devemos ir os três juntos.

–Desculpe Sara, acho que você deve ir com o Jason e eu devo ir com outra garota.

–O que?

–Nós três somos amigos, mas vocês dois são algo mais e não quero atrapalhar isso– Havia dor na sua voz– Eu vou indo te vejo amanhã no baile.

Outro problema na minha vida: Eu e o Jason. Nos beijamos de verdade naquele dia, mas desde então fingimos que nada aconteceu, naquele dia eu queria abraça-lo e ficar assim para sempre, no entanto já não tenho certeza se o amo, ele é tão violento, tão arrogante, tão... E também tem o Lucas que é tão gentil e amável e lindo e me faz me sentir tão bem, será que sou apaixonada por ele? Já não entendo meus sentimentos, não entendo a mim a mesma, por que a vida tem que ser tão complicada?

Me deitei na cama sem me preocupar em amarrotar o vestido, Jason ou Lucas? Ou ainda eu mesma? Quem vou escolher no final? Por hora vou me preocupar apenas em fazer um baile perfeito, nem que seja a última coisa perfeita que eu faça.

Sara Samuels a mais linda e inteligente, a mais perfeita, a garota... Parei perdida em meus próprios pensamentos e sentimentos e só em tão comecei a chorar e a tremer... A garota solitária.