Inimigos para sempre escrita por Augusto Snicket


Capítulo 12
Capítulo 12- A triste história de Lucas Lerman


Notas iniciais do capítulo

Apenas chore....



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Paramos na frente de uma casa pequena, mas bem arrumada, tinha um canteiro de rosas na entrada, uma cerca de madeira, uma árvore com um balanço. A casa do Lucas era linda, entramos e nos sentamos no sofá roxo, ele era muito fofo então praticamente afundamos nele. Lucas se sentou numa poltrona, suspirou e sorriu.

–Eu tenho que admitir que estou triste hoje– Começou ele– Hoje é aniversário da morte do meu pai– Ele fechou os olhos ainda com um sorriso no rosto.

–Tudo bem Lucas se não quiser falar...

–Eu quero falar sobre isso– Graças a Deus, pois eu tava doida pra escutar– Eu realmente preciso falar sobre isso. Morávamos em outra cidade eu, meu pai e minha mãe, éramos o que se podia chamar de felizes, meu pai era professor, quando eu era pequeno chorei muito pra não ir pra escola e ele resolveu me ensinar em casa. Sendo assim não fiz muitos amigos na infância, mas só o fato de estar com meus pais já me deixava muito feliz, eles eram o tipo de casal que só se ver nos filmes, apaixonados cada vez mais a cada dia que se passava. Minha mãe era tão sorridente– Lucas engoliu as lágrimas e prosseguiu– Mas um dia meu morreu, ele foi assassinado e só então começaram a aparecer o que havia por traz daquele homem perfeito, meu pai morreu quando vendia drogas.

A face de Lucas me deixava desconsertada, ele contava aquela história tentando não se comover, mas a força que ele devia estar fazendo fez até o meu coração doer.

–Então todo mundo falava coisas como: “Eu sabia que aquele sujeito escondia algum podre, ninguém é tão perfeito”. Eu e minha mãe choramos juntos. A polícia a investigou pra ver se ela tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas ela estava limpa. A morte do meu pai já foi horrível, entretanto as visitas constantes da polícia tornava tudo mais doloroso, meu pai perfeito, o cara que sempre contava as melhores histórias, que os olhos brilhavam quando dava aula, era contrabandista. Todos falavam mal dele, mas no meu coração só conseguia enxergar o meu herói.

Nessa parte ele não aguentou e deixou escapar suas lágrimas, abaixando a cabeça, seus ombros tremiam enquanto tentava abafar o choro.

–E essa nem foi a pior parte, eu tinha uma casa na árvore brincava nela todos os dias, mas na última semana meu pai me proibiu de subir lá, até havia colocado um cadeado, no dia após a sua morte encontrei a chave e fui até lá para chorar escondido onde tantas vezes brinquei com meu pai, foi aí que encontrei o corpo negro e inanimado do filho dos Moura, nossos vizinhos, todos sabiam que ele usava drogas e fazia dias que ele estava desaparecido, pelo jeito meu pai era o seu fornecedor e ele não tinha dinheiro para pagar o que devia. Do susto que levei gritei e caí da árvore, minha mãe e os policiais vieram ao meu auxilio, eu desmaiei e quando acordei estava dormindo na minha cama de pirata que ficava na casa da minha avó e minha mãe estava do meu lado, a primeira coisa que eu disse foi: “Por favor, mamãe diga que não foi o papai que matou o filho dos Moura, diga que meu pai não é um assassino”, e ela apenas chorou, não tinha palavras para me consolar, ela sofria tanto, ou até mais do que eu, então ficou ali chorando ao meu lado.

Me levantei e o abracei, senti seu corpo tremendo, Jason estava boquiaberto olhando para o chão.

–Curinga você...

–Me deixem continuar. Ninguém apareceu no enterro do meu pai, nenhum dos seus tantos amigos, mas era de se entender, quem iria ao enterro de um traficante assassino? Quatro meses depois me mudei com minha mãe, ela ainda chorava todos os dias e várias vezes acabava colocando três pratos na mesa e só na hora de servir se dava conta que ninguém iria se sentar para jantar naquela cadeira. Eu tinha dez anos quando minha mãe começou a ficar estranha e acredite a dor que isso me causou foi maior que a perda do meu pai. Minha mãe passava horas na banheira, eu chamava por ela, mas ela não respondia. Então um dia encontrei uma seringa no lixeiro, ela estava se drogando. Como ela podia fazer aquilo depois de tudo que aconteceu com meu pai? Perguntei a ela e pela primeira vez na vida ela me bateu– Ele respirou fundo– Disse para eu não contar a ninguém. Ela gritou desabafando tudo que a estava a consumindo: “Ele era o amor da minha vida, até que a morte os separe um cacete, eu ainda o amo, amo tanto, não consigo viver assim, eu quero o John de volta! Devolvam meu John”. Ela passou a usar as drogas injetáveis cada vez com mais frequência, vivia sussurrando o nome do meu pai e sorrindo quando estava alta. Até que com o tempo ela ficou vazia, não sorria, nem chorava, por incrível que pareça ainda tinha força para os trabalhos domésticos, mas os fazia em silêncio. Eu tentava chamar a atenção dela pedia ajuda com os deveres de casa, mas ela passava por mim como se eu fosse invisível, ela me ignorava, passava por mim e nas poucas vezes que nossos olhares se encontravam, só via aqueles olhos vazios. Um dia não aguentei e comecei a gritar com ela aos prantos: “Sinto sua falta mãe! Por favor, fale comigo, me sinto tão sozinho, eu sei que o papai não esta mais aqui, mas quero vê-la sorrindo de novo, por favor, eu te amo, por que esta me ignorando, você me... odeia?”. A reposta foi pior do que imaginei, depois de tanto tempo ela falou: “Não, não sinto nada por você”.

Me lembrei da briga na lama no cemitério, quando ele sorria e gritava pra Jason: “Vamos se levante, me bata, me odeie, mas sinta alguma coisa por mim!”

–Eu preferia ter a ouvido dizer que me odiava, aquela foi a última vez em que minha mãe falou comigo, ela fingia que eu não existia, eu era invisível. Meses se passaram, na escola não tinha vontade de ficar com os outros, então fui taxado de esquisitão, nunca fui às confraternizações da escola ou a festas de aniversário, pois ninguém me convidava. Um dia quando voltei da escola encontrei aquela coisa ossuda e pálida, era o cadáver da minha mãe, ela havia morrido de overdose.

Ele caiu no choro, caiu de joelhos e chorou alto, mais alto do que imaginei se possível.

Eu estava atônita, nem em um milhão de anos imaginaria que aquela era história do Lucas, como ele podia sorrir daquele jeito todos os dias? Como conseguia ser tão bom com os outros, dar conselhos, acordar, se levantar e viver seguindo em frente tendo um passado daqueles? Eu chorei como se a dor dele se tornasse minha.

–Oh Lucas, eu...– Parei no meio da frase, pois simplesmente não sabia o que dizer, como consolar alguém com um passado repleto de tantas lágrimas, sangue, cadáveres e solidão?

Eu e Jason nos olhamos e sem ter que combinar nos ajoelhamos ao mesmo tempo ao lado do Lucas e colocamos a mão no seu ombro. Ele chorou até esgotar suas lágrimas, respirou fundo e ergueu a cabeça olhando pra nós.

–E por isso que sorriu todo o tempo, pois já cansei de chorar, é por isso que sorriu e tremo de medo, de medo de não aguentar e chorar até me partir em pedaços como estou fazendo agora.

Eu estava chorando enquanto todas as imagens da história de Lucas se passavam em minha mente, rápidas como flashes. O contraste do Lucas sorridente e do Lucas em prantos me deixava nervosa. Assim como ele eu tremia, olhei para Jason aquele metido a valentão Também estava com os olhos cheios de lágrimas.

–Curinga...– Sem encontrar palavras para consolar o amigo, Jason o segurou pelos ombros o fazendo ficar de pé e o abraçou, que lindo– Eu te odeio– O que? Que tipo de consolo é esse?– Ou te odiava, me desculpe mais não vou conseguir cumprir nossa promessa– Lucas olhou pra ele confuso e Jason riu dizendo– Não posso ser seu inimigo pra sempre.

Lucas riu, eu ri, nós três estávamos rindo e chorando, aquela cena passou do dramático para o ridículo. Lucas Lerman enxugou as lágrimas e concluiu a história:

–Fui morar com meus avós, passei meses sem falar, quando comecei a voltar ao quase normal havia me esquecido como lhe dar com as pessoas, no ensino médio não consegui fazer amigos, não conseguia sorrir. Eu lutava comigo mesmo, travava uma batalha interior tentando encontrar um jeito de seguir em frente. Foram três longos anos até eu conseguir rir de novo. Quando eu fiz dezoito aos pude ter acesso ao dinheiro dos meus pais e resolvi morar sozinho, comecei a fazer faculdade de nutrição e dessa vez estava decidido a fazer amigos e continuar vivendo, mas tinha pessoas na sala que me conheciam e comentavam como eu era esquisito no segundo grau, então mesmo estando sorridente e sendo bondoso não consegui fazer amigos. Acabando o primeiro período resolvi me mudar para outra cidade, para um lugar que ninguém me conhecesse, um lugar onde eu poderia ser um novo Lucas e assim fui para na sala de vocês, e no momento em que vi vocês dois soube que tinham algo em comum comigo: solidão.

Pelo jeito os poderes sensitivos do Lucas são maiores do que os meus, e ele estava certo nós três de formas diferentes éramos solitários, eu dizia que ficava sozinha por opção, mas na verdade estava desesperada por fazer amigos. Jason vivia cercado de bajuladores, mas ainda assim se sentia sozinho, pois não podia ser ele mesmo perto dos outros. E o Lucas, nem preciso explicar.

Jason sentou no sofá e resolveu contar a história dele a Lucas, mais algumas lágrimas rolaram, mas dessa vez seguidas de sorrisos e de uma sensação de aconchego, afundei naquele sofá fofo demais e ri com meus melhores amigos.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam da promessa ser quebrada? Comenta aí.

Mais uma vez trago o link da minha história corrente ao desafio Heróis e Vilões :

http://fanfiction.com.br/historia/564846/Doces_ou_Macaquices/



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