Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 8
O ser de chapéu pontudo




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Senti meu sangue ferver, cerrei os punhos e os dentes e apenas fiquei ali parada. Os dois jovens vieram em meu encontro. Jim parecia entediado e Ruby, que veio correndo com seu sorriso característico estampado no rosto, logo assumiu uma expressão de preocupação. Ela ameaçou dizer algo, mas logo desistiu. Os dois apenas ficaram me encarando por um tempo, enquanto eu tentava suprimir minha raiva. Tudo aquilo estava errado e ia contra... Bem... Tudo o que eu acreditava e que me foi ensinado por T’eemu. Fazia muito tempo que eu não me sentia daquele jeito. Na verdade, após o desaparecimento de T’eemu, passei boa parte da minha imortalidade sem sequer sentir algo. Estava vazia por dentro, mas... Isso acabou naquele momento. Virei-me novamente para a entrada do local e ia começar a andar, mas senti algo segurando meu braço e apenas parei.

– Onde você está indo, tia Tsuya?

Não me virei e nem disse nada. Apenas continuei parada encarando a figura de chapéu pontudo ao longe. Minha vontade era de correr o máximo possível e voar no pescoço daquele ser.

– É uma merda, não? – disse Jim. – Essas pessoas não passam de hipócritas que instauram o medo e fazem lavagem cerebral nos “fiéis” para controlar a população. É por isso que sou ateu com orgulho.

– Entendo seu ponto em não gostar do que acontece por aqui. No momento, isso está me provendo uma raiva profunda. Mas não há sentido em deixar de acreditar nos valores só porque as pessoas que os pregam são erradas. Você está apenas fugindo das responsabilidades. No meu caso, eu vou atrás das minhas como sacerdotisa.

Ruby me soltou lentamente e eu adentrei novamente aquele lugar maldito com o intuito de falar tudo o que eu achava certo. A multidão ainda gritava de alegria enquanto aquele ser corrupto gesticulava e continuava seu discurso. Olhei para o padre antes de adentrar a multidão e este parecia estar envergonhado. Isso era até um bom sinal, pois se ele estava assim era porque ele pelo menos acreditava nos princípios de sua fé. São essas pessoas que fazem a luta valer a pena. Mesmo na época dos grandes templos havia vários falsos fiéis e pessoas que apenas se aproveitavam da existência dos espíritos. Porém ainda existiam aqueles que seguiam à risca os valores ensinados e estes faziam o trabalho dos sacerdotes valer a pena. Passei pelo meio dos fiéis e parei à frente de todos. Cerrei os punhos para aliviar a tensão, suspirei profundamente e gritei com toda a minha força:

– Pare de falar besteiras!

Os gritos pararam e a atenção de todos voltou-se para mim. O ser maldito de chapéu me encarou com desgosto enquanto eu fazia o mesmo. Todos começaram a cochichar e eu apenas ignorei. Tomei fôlego novamente, mas fui interrompida quando ia prosseguir:

– E que parte do que digo lhe parece besteira? Por acaso é uma infiel que veio atrapalhar o culto?

– Se com “infiel” você quer dizer ateia, então está muito enganado. Estou longe de ser uma pessoa sem crenças.

– Se tem fé, então por que me interrompeu?

– Isso é muito simples: porque não concordo com seu discurso hipócrita.

Houve um espanto geral na multidão e todos começaram a comentar, agora mais alto. O ser ficou levemente espantado, mas logo voltou a me olhar com desgosto.

– Como ousa dizer isso? Isso é blasfêmia!

– Não vejo como isso pode ser blasfêmia, já que não estou contradizendo nenhum valor divino.

– O qu... Bem... – ele coçou a garganta e prosseguiu. – Mas você está contestando aquele que tem a voz dos Deuses!

– Nenhum humano pode ser a voz de um Deus. Humanos são corruptos demais para tal tarefa.

– Mas o quê... Como... Como ousa? Eu sou a voz dos Deuses!

– Parece que você não me ouviu, então vou repetir. Humano nenhum pode se auto intitular “voz de Deus”. Como líder religioso você deveria saber muito bem disse.

– O fato de eu ser um líder religioso é a prova disso!

– Anh? Isso só lhe dá a responsabilidade de partilhar os princípios da sua fé.

– O... Bem... Vejam! Prestem atenção nos olhos dela! São vermelhos como o sangue! Esta mulher é um ser maligno enviado para abalar a fé de vocês!

– Usando minhas características fisiológicas para me associar com seres malignos... Isso é muito baixo.

– O quê?! Como ousa me desrespeitar assim?

– O respeito é algo mútuo e você perdeu o direito de cobrá-lo de mim a partir do momento em que me chamou de “ser maligno”.

– Você... Guardas! Levem esse ser maligno daqui!

Vários homens de roupa preta portando armas parecidas com a dos homens que estavam atrás dos dois jovens me cercaram rapidamente. A multidão parecia muito confusa e abalada com nossa discussão e o padre apenas observava de longe, curioso. Suspirei profundamente e dei de ombros.

– Então essa é sua conclusão? Não conseguiu me vencer no diálogo e quer apelar para a violência?

– Droga! Cale a boca! Quem você pensa que é?

– Eu sou Tsuya, a sacerdotisa do templo da grande T’eemu.

– Sacerdotisa... Isso é impossível. Todos os sacerdotes morreram há séculos. Matem essa mentirosa!

Os guardas se preparavam para atirar, então eu avancei contra eles derrubando um com um chute na nuca. Peguei sua arma e arremessei contra a cabeça do que estava próximo, desarmando-o. Logo avancei contra os próximos enquanto estes tentavam mirar em mim. Fui em ziguezague para atrapalhar e dei uma sequência de chutes no homem para que ele caísse. A multidão entrou em pânico, o que me ajudou. No final, só restava um deles de pé e, quando estava prestes a alcança-lo, este me acertou. Não deixei que isso me abalasse e continuei a investida. Ele caiu, mas me acertou uns quatro disparos antes disso. Voltei-me para o ser de chapéu e comecei a andar em sua direção enquanto retirava os projéteis de meus ferimentos. Ele ficou me encarando espantado, assim como toda a multidão. Depois que eu derrubei o último segurança, o silêncio começou a reinar no local, mas logo o quebrei.

– É isso o que você ganha por apelar para a violência. Esse tipo de coisa não vai me parar.

– O... Como você está viva? Está usando um colete a prova de balas, não é?

– Colete... Do que está falando? Meus ferimentos são reais. – disse mostrando o sangue em minha mão.

– Mas então... C-como isso é possível? O que é você?

– Eu sou uma sacerdotisa. É só o que importa. Espero que entenda agora que vocês não vão se livrar de mim facilmente. Não ficarei calada diante de tal absurdo! Uma religião que prega valores benevolentes, mas mata qualquer um que se oponha a ela! Isso é ridículo! Deus deve estar decepcionado perante a isso.

– Como ousa difamar nossa fé? Sua herege! E “Deus” no singular? Você está louca!

– Os únicos loucos aqui são vocês. Cansei de perder meu tempo com essa droga. Já vi que não chegaremos a lugar algum. Então como a grande T’eemu já me disse uma vez: “não adiantar argumentar com aqueles que, desde o princípio, não estão dispostos a lhe ouvir”. Vou me retirar, mas isso não significa que nunca mais me verá. Escreva isso: não descansarei enquanto essa seita corrupta contaminar este mundo!

Virei as costas para ele e comecei a andar em direção à saída. A multidão abriu passagem para mim enquanto me observavam espantados. Apenas parei quando estava do lado de fora. Os dois ainda me esperavam no final das escadas. Fui até eles sem olhar para trás. Ruby parecia preocupada e me abraçou.

– Você está bem, tia Tsuya?

– Sim. Aliás... Sinto-me melhor agora que coloquei aquilo para fora.

– Você não vai mais fazer nada desse tipo, não é?

– Sinto muito, pequena. Mas acho que terei muito trabalho a fazer daqui para frente.

– O quê? Não! Eu não...

– Não se preocupe, eu ficarei bem.

– Gostei de ver. – disse Jim. – Mas você está ligada que as coisas ficarão complicadas, certo?

– Estou ligada?

– É uma gíria... Enfim... Entende que você complicou sua vida, certo?

– Oh...

– Está agora sozinha contra praticamente o país inteiro. Pode até ser imortal, mas isso ainda assim vai ser demais para você.

– Eu não me importo. Nos meus tempos de assassina aprendi algumas coisas, como: “não se deve fugir, mesmo que seu inimigo seja tão grande a ponto de te engolir. Sempre há uma chance de vitória.”.

– Que legal... – disse Ruby.

– E ela não está sozinha. – disse uma voz familiar.

Virei-me para trás e notei um número considerável de pessoas me olhando com sorrisos em seus rostos. E na frente de todas estava o padre Ronmanoth. Não entendi aquilo, mas logo elas começaram a falar.

– Você está certa! Esses desgraçados não passam de hipócritas!

– Você abriu meus olhos! Fui enganada minha vida inteira!

– Não há como acreditar nessas besteiras! Ele nem sequer soube argumentar com você!

– Nos ensine o verdadeiro caminho.

– Por favor! Vamos ajuda-la a acabar com essa farsa!

Fiquei apenas observando aquelas pessoas que estavam me apoiando apenas por eu ter desafiado o ser de chapéu pontudo. Não sabia nem como reagir. Apenas cocei minha cabeça e tentei falar algo, mas nenhum som saia da minha boca. Senti algo tocando em meu ombro e olhei para o lado. Era o padre, que sorria para mim.

– Parece que você ganhou alguns seguidores.

– Pois é... Mas eu ainda nem sei o que farei. Estava na floresta há tanto tempo... Mal conheço esse mundo... Não posso ser uma líder assim.

– Não se preocupe. Você não precisa ser a líder. O que as pessoas precisam é de uma figura para se espelhar. Alguém para depositar suas esperanças e suas responsabilidades para que possam agir sem remorsos. Você serviria muito bem para esse papel.

– Mas uma “figura” assim não pode vencer uma batalha sozinha.

– Eu já disse que você não está sozinha. Existe um grupo que está crescendo cada vez mais graças às barbáries cometidas pela Igreja. Este grupo pretende purificar essa religião.

– E onde eu encontro essas pessoas?

– Está falando com um deles.

– Um padre que é contra a Igreja?

– O melhor jeito de se mudar uma organização é de dentro para fora. Sem falar que eu realmente acredito nos valores que eles pregam... Mas infelizmente só o fazem na teoria.

– Percebi.

– Bem, o que me diz? Juntar-se-ia a nós nessa missão divina?

– Tire o “divina” da sentença que eu posso considerar.

– Desculpe-me. Gostaria de se juntar a nós nessa missão humanitária?

– Com certeza.


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Notas finais do capítulo

Bem... Eu disse que não poderia prometer que não faria isso de novo... E o fiz. Está complicado achar tempo para escrever (minha irmã está de férias e gosto de aproveitar para passar mais tempo com ela), mas escreverei sempre que possível!
Como eu já disse, the treta has been planted! Essa história terá uma "pegada" um pouco parecida com a de Cherry Pie, mas com mais "flshbacks" (o que não significa que não teremos "sanguinho" 8D).
Enfim... Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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