Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 10
Uma proposta ousada




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Como já imaginava, aquela animação toda acabou se transformando em confusão. Por algum motivo desconhecido, um deles decidiu ser contra tudo e... Bem... Nem preciso comentar o final. Suspirei profundamente e me retirei do local. Saí da estalagem e apenas fiquei parada observando o céu. Por mais que estivesse afastada da cidade, a vista das estrelas ainda parecia mais embaçada do que na floresta. Pouco tempo depois, senti duas presenças junto a mim, mas mantive minha cabeça voltada para cima. Eu sabia que uma delas pertencia ao padre, pois seu calçado e sua jaqueta faziam uma combinação de sons característicos, porém a outra era desconhecida. Uma leve brisa passou por nós, fazendo com que meus cabelos voassem apenas um pouco, voltando logo às minhas costas. Sentia uma mão se posicionando em meu ombro e só então virei-me. Esta pertencia a Ronmanoth, que estava acompanhando de uma mulher de estatura mediana com longos cabelos negros e olhos azuis. Sua pele não era tão escura quanto a dos habitantes do país e os traços em seu rosto indicavam que ela era uma estrangeira, provavelmente de algum lugar perto da minha terra natal. Suas vestes eram simples e indicavam que ela provavelmente deveria trabalhar com comércio.

– Sinto muito pela situação lá em baixo. – disse o padre, coçando a cabeça.

– Não se preocupe. Você não os obrigou a fazer isso, logo não é sua culpa.

– Bem, ele é um dos líderes do movimento, então é normal que ele se responsabilize por esse tipo de coisa. – disse a mulher.

– Pois é... Ah! Eu queria lhe apresentar à Sayumi. Ela é a segunda em comando.

– Muito prazer! – disse a mulher. – Admiro seu jeito de agir e também peço desculpa pelo comportamento dos demais membros.

– O prazer é meu e como já disse antes, não se preocupe. Eu sei que é difícil unir um grande número de pessoas e fazê-las cooperar quando se trata de um grupo “rebelde”. Enfrentei muito isso quando era assassina.

– Entendo. Bem, viemos aqui, pois não foi possível esclarecer nosso real objetivo com todo aquele alvoroço. Ronmanoth!

– Ah... Sim... Antes de tudo, gostaria de deixar claro que eu sou o terceiro em comando. O fundador não se encontra hoje.

– E eu poderia saber por quê?

– Oh... Saiu em busca de novos membros. Ele está sempre fazendo isso.

– Entendo. Prossiga.

– Como eu já lhe falei, somos uma organização que é contra o regime que está sendo instalado pelo culto dos Fallen Ones e que controla cada vez mais a vida dos cidadãos de Harvyre. Porém, isso é algo muito vago. Nosso real objetivo é sumir com o líder deles, pois ele é a única coisa que os mantém no poder. Seu carisma e sua fortuna o amparam sempre que é questionado e isso é o maior problema enfrentado por aqueles que tentam propor uma mudança.

– Mas vocês têm certeza de que isso seria o suficiente? Eles não possuem várias filiais?

– Sim. – respondeu a mulher. – É verdade que o número de seus seguidores e templos é algo “admirável”, mas como você já deve imaginar, a corrupção está impregnada nas veias do culto.

– Todos aqueles com uma posição hierárquica considerável está lá pelo dinheiro e pelas vantagens que envolvem o cargo. – complementou o padre. – Ou seja, se o pilar mestre cair, todos os outros cairão junto.

– Oh... Entendo. Não imaginava que a situação era tão crítica assim.

– Você não tem ideia do quanto. – respondeu a mulher. – Aqueles bastardos até fizeram uma campanha para a criação de um grupo de forças especiais da Igreja. Esta foi rapidamente tirada de circulação, pois poderia causar uma grande confusão com a UDH, já que várias cláusulas da mesma violavam os direitos humanos. Mas acredito que a ideia ainda não foi completamente descartada.

– Meu Deus... Isso é horrível. É muito parecido com o que aconteceu na Reforma Cética.

– Não sei a proporção dos planos do culto, mas só de pensar na possibilidade de um mundo dominado por eles... Me dá nos nervos! – exclamou a mulher.

– Enfim... – interrompeu o padre. – Como pode ver, nosso objetivo é muito ambicioso se formos levar em conta nosso número e... Como trabalhamos em equipe. E é por isso que sua ajuda será de vital importância para que possamos concretizá-lo.

– Por isso decidimos falar com você longe de todos. – complementou a mulher. – Iríamos te puxar num canto e fazer isso, mas você facilitou nosso trabalho vindo até aqui.

– Oh... Bem... Eu só queria tomar um pouco de ar fresco.

– Aposto que ele não é mais fresco do que o que está acostumada, mas aprecie à vontade.

– Obrigada. Assim o farei.

– Bem... Eu humildemente peço para que nos ajude a guiar nossa organização para que a mesma chegue ao seu destino. Afinal, aposto que sabe muito mais sobre religião do que todos nós juntos.

– Posso ser um padre, mas tenho que concordar com ela...

– E então, o que me diz?

– Bem, eu já estou aqui. Não sou de voltar atrás com minhas palavras. Farei o que estiver ao meu alcance para ajudar vocês, principalmente porque nossos objetivos são muito parecidos.

– Ótimo! Já podemos declarar a reunião de hoje como encerrada. A próxima será semana que vem. Contamos com sua presença.

– Farei o possível para estar aqui... Mas gostaria de enfatizar que não consigo acompanhar muito bem a passagem do tempo.

– Oh... Entendo... Nesse caso... Onde você está morando?

– Em templo na floresta... A que vocês chamam de Red Moon Forest.

– Ah! Nesse caso mandaremos alguém busca-la.

– Não será problemático?

– Não, pode ficar tranquila! Bem... Até a próxima!

– Até.

Saí de lá e comecei a andar de volta para a cidade. Pensei em passar na casa da Ruby para falar com ela, mas acabei desistindo. Já estava tarde e isso significaria outro momento de despedida... Ou seja, algo que eu não gostaria de vivenciar tão cedo. Porém, essa linha de raciocínio me lembrou de algo “desagradável”: minha promessa de visitar a pequena. A parta da visita em si não era nada desagradável, aliás... Muito pelo contrário. O que “estragava” essa ideia era o fato de que cada nova visita resultaria em uma nova despedida... Foi aí que eu percebi que tinha me metido em algo emocionalmente frustrante, pois eu não poderia quebrar tal promessa... Mesmo querendo me poupar de tais “ferimentos”.

Enfim, acabei voltando para o templo. Tomei um rápido banho e fui direto para a cama. No outro dia acordei cedo como de costume e voltei aos meus afazeres diários. Tentei apenas me concentrar no templo e esquecer temporariamente de tudo o que havia passado nos últimos dias, mas isso não saiu como o planejado. Fiquei encucada com todos os problemas envolvendo aquela seita que levava o nome da antiga organização que ajudei a fundar. É claro que a situação presente não era minha culpa, mas mesmo assim me incomodava muito.

E assim uma semana se passou sem que eu percebesse. Minha única pista foi o homem que nos atendeu na estalagem aparecendo no templo. Eu estava varrendo as escadarias quando o vi saindo da floresta com alguns arranhões e pequenos rasgos em suas roupas. Ele provavelmente teve certa dificuldade para achar o local, mas isso era previsível. Deixei a vassoura escorada em uma árvore e fui ao encontro do homem. Este parecia feliz em me ver.

– Ah! Finalmente! – exclamou ele levando seus braços para cima.

– Olá. Espero que não tenha sido difícil encontrar este lugar.

– Bem... Quanto a isso...

– Imaginei... Sinto muito.

– Não há porquê se desculpar. Só levou umas horinhas... Enfim, o que importa é que cheguei.

– Se é o que está dizendo...

– De qualquer jeito, podemos ir agora?

– Sim, só deixe-me guardar a vassoura e trancar meus aposentos.

– Fique à vontade.

Voltei rapidamente para meus aposentos e fiz o que disse. Depois disso mostrei ao homem o melhor caminho para se chegar até o templo pela floresta e seguimos rumo à estalagem. Levou algum tempo, mas finalmente chegamos ao local. Desta vez, não precisamos bater na porta, pois o homem possuía as chaves. Fomos direto ao porão, onde apenas o padre, Sayumi e um homem me aguardavam sentados em círculo. O desconhecido era alto e possuía cabelos ruivos e ligeiramente espetados, olhos verdes e pele clara (provavelmente um habitante do norte). Ele parecia jovem e me olhava com um sorriso de quem está planejando algo. Meu “guia” se retirou e eu apenas me sentei.

– Olá, pessoas.

– Olá, sacerdotisa. – disse o padre.

– Bem vinda de volta. – disse Sayumi.

– Então você é a tão famosa Tsuya. – indagou o homem que estava sentado entre os outros dois.

– Esse é meu nome, mas não sei nada sobre a fama que diz.

– Bem, como já sei seu nome seria educado me apresentar. Sou Roward Van Stanlinger, o líder e fundador desta organização e estou lisonjeado com sua presença.

– Bem... Muito prazer.

– O prazer é todo meu, sacerdotisa.

– Tudo bem... Ah... Já lhe contaram tudo o que eu disse? Pois não estou muito a fim de falar de novo.

– Me disseram por alto, mas não importa. Sei que você é uma sacerdotisa imortal que nasceu antes da Reforma Cética numa família de assassinos. E isso já basta.

– Acredita na minha imortalidade, certo? Prová-la é outra coisa que não estou disposta a fazer hoje.

– Claro que acredito! Se eu continuasse cético em relação a isso depois da confusão que gerou naquele culto eu seria um idiota... Nesse caso eu até posso ser um pouco, mas acredito facilmente em coisas de cunho sobrenatural.

– Oh... Que bom. Isso facilita as coisas para mim.

– Fico feliz que tenha gostado. A maioria das pessoas me considera um louco por causa disso.

– Bem... Isso é algo inevitável... Ah! O que houve com os outros membros?

– Mudamos as reuniões gerais para outro dia da semana. – respondeu o padre. – Queremos evitar outro tumulto.

– Sábia escolha.

– Enfim... – interrompeu Roward. – O motivo dessa reunião... É que eu queria te conhecer cara a cara. Aliás, eu tenho uma proposta para você.

– Uma proposta?

– Sim! Queremos que seja nossa quarta líder!

– O-o quê?

– Aposto que acumulou bastante sabedoria durante os últimos séculos, então seria ótimo tê-la em nossa equipe.

– Você tem certeza disso?

– Claro! Tive uma reunião com esses dois aqui e decidimos que seria o melhor para nossa organização.

– Entendo... Nesse caso... Eu aceito, mas... O que eu deveria fazer?

– Sabemos que você tem um templo enorme para cuidar, então pode continuar vindo somente uma vez por semana. O que eu quero de você é que dê um pouco de “cultura” para aquelas pessoas.

– Anh? O que quer dizer com isso?

– Você deve saber ter várias histórias de batalhas e eventos históricos famosos. Você sabe a verdade. Como já deve saber, a maioria de nossos livros foi manipulado e contém uma versão falsa de todos os acontecimentos de nosso passado. Esse é um meio daqueles malditos de influenciar o pensamento das massas e eu quero acabar com isso o quanto antes!

– Mas fazer isso apenas com aqueles membros desorganizados não mudará nada.

– Eu sei. E é por isso que você contará o que sabe para o povo!

–... O quê?!

– É isso mesmo que você ouviu! Arranjarei uma plateia e você fará o resto.

– Espere um pouco! Eu... Não sei se conseguiria fazer isso...

– É claro que consegue! Vamos! Não me diga que o fato de que todos estão vivendo e morrendo acreditando em mentiras não lhe incomoda?

– Bem... Eu não posso negar que isso realmente me irrita, mas... Não sei... Eles não tentarão interferir?

– Provavelmente, mas isso fará com que você desista da ideia?

– Heh... É claro que não.

– Então estamos entendidos. A operação “Reconstruindo a Verdade” começa semana que vem!

– Esperarei ansiosamente por isso.


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Notas finais do capítulo

Bem... Dessa vez não demorou tanto, apesar de eu ter que quebrar o bloqueio que envolve eu escrevendo em finais de semana. Acabei me animando depois de pensar em como a trama vai se desenrolar e talz.
Enfim, a tia Tsyua só arranja mais e mais trabalho para ela xD
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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