Conto De Fadas Moderno escrita por Letícia Matias


Capítulo 1
Capítulo 1




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Eu estava sentada na mesa da cozinha com o celular no silencioso olhando pela janela vendo a chuva cair. Tinha aberto uma cerveja. Olhei para o celular que acendeu a tela mais uma vez revelando a décima quarta ligação de Noah. Tornei a olhar para a chuva que caia lá fora.

Eu estava cansada de tantas brigas, de brigar pelos mesmos motivos. Era cansativo demais.

Eu ainda estava vestida para sair, mas, como tínhamos brigado por telefone – como costumávamos fazer quando não estávamos juntos – não ia sair mais com ninguém.

Estava um pouco frio, afinal, era Outono, e Outono em Nova York sempre faz frio. Olhei para meu reflexo na janela onde gotas de chuva escorriam pelo vidro. Eu estava com uma cara péssima, emburrada, ainda maquiada, com raiva e com vontade de bater em Noah.

Bom, para explicar melhor, Noah é meu namorado, nos conhecemos há um ano num karaokê aqui em Nova York mesmo. Eu ia cantar com meus amigos naquele dia, porque temos uma banda. Durante o show, Noah não tirou os olhos de mim e nem eu dele. Ele estava com uns amigos, estava com uma jaqueta de couro, calça jeans preta, um All Star preto de couro, com os cabelos desgrenhados, com a barba curta e uma expressão de bad boy na cara. Estava bebendo uma cerveja e prestando atenção enquanto eu cantava, enquanto seus amigos faziam algumas palhaçadas e conversavam e riam alto entre si.

Lembro-me do bar estar cheio naquela noite e de eu estar muito cansada e com sede depois de ter se apresentado com a minha banda. Depois que nos apresentamos, o palco se abriu para o karaokê e fomos nos sentar numa mesa reservada para nós praticamente do lado dos banheiros que cheiravam muito mal por sinal. Estávamos conversando, eu e James, um dos integrantes da banda e meu melhor amigo, quando Jack disse:

- Ei Gen, tem um cara de olho em você.

Franzi o cenho pegando uma batata frita e mastigando-a lentamente.

- Quem¿ - perguntei olhando pelo bar.

- Do outro lado do bar. Ele está olhando para você agora mesmo.

Passei mais uma vez os olhos pelo bar e encontrei os olhos de Noah me olhando do outro lado do bar. Ele deu um sorriso torto e sustentou meu olhar.

Reprimi um sorriso e tornei a comer minha batata frita.

- Ele não tirou os olhos de você a noite toda. – Jack insistiu.

Olhei de cara feia para Jack. Jack era maravilhosamente lindo e divertido. Tinha o cabelo louro escuro com alguns reflexos mais claros naturais, olhos castanhos, sempre estava com a barba curtinha e tinha um sorriso lindo.

- Tudo bem. – ele disse vendo minha cara para ele. – Não falarei mais nada.

- Obrigada! – eu disse.

E assim prosseguiu a noite. Ficamos conversando entre nós até que ás duas da manhã o bar começou a ficar mais vazio e já tinha muita gente bêbada cantando horrivelmente no karaokê. Nós entramos numa salinha para acertar o pagamento com o dono do bar e marcamos outro “show” na outra sexta-feira.

James iria levar Jack, Andrew e Mark para casa e eu ia embora com o meu carro. Eles foram embora alguns minutos mais cedo que eu.

Após sair da salinha, me dirigi para o banheiro com um fedor forte de urina, mas, após passar uns bons minutos em pé na fila, decidi desistir e ir embora para casa apertada mesmo.

Quando eu estava saindo do banheiro, trombei com um cara. Era o bad boy da jaqueta de couro. Noah.

Ele sorriu e eu um pouco envergonhada disse:

- Desculpe.

- Não tem problema.

Dei um sorriso rápido e evitei seu olhar, mas pude sentir ele me olhando. Atrevi-me a olhar para ele e reprimi um sorriso.

- Meu nome é Noah. – ele disse e estendeu a mão.

- Eu sou Genevieve. Genevieve Jay. – respondi retribuindo seu aperto de mão.

- É um prazer. – ele disse. – Ah, eu tenho que dizer, você canta muito bem. É a primeira vez que venho aqui, você sempre vem aqui cantar¿

- Alguns finais de semana.

Ele assentiu.

- Acho que achei um motivo para vir aqui mais vezes.

Sorri. E naquela hora percebi que ele cheirava muito bem.

- Obrigada pelo elogio. – eu disse um pouco desconfortável. - Ah... Eu tenho que ir.

Ele assentiu.

- A gente se vê Genevieve.

Sorri rapidamente e passei por ele indo até a saída do bar.

Naquela noite, cheguei em casa um pouco tarde porque depois disso passei no mercado para comprar sorvete.

A semana passou e eu não conseguia tirar o Noah da cabeça. Ele era muito atraente. Quando a outra sexta-feira chegou e fomos entrar no palco, vi-o sentado bem perto do palco com seus amigos novamente, ele olhava para mim e estava vestido do mesmo jeito da semana passada, exceto pela jaqueta. Ele usava um suéter preto desta vez. Quando nossos olhos se encontraram, senti um frio na barriga e meu coração disparar. Ele sorriu para mim. Olhei para o outro lado e reprimi um sorriso. Durante todo o nosso show, fazendo covers de várias músicas, nossos olhos se encontraram um milhão de vezes e cada vez que isso acontecia eu tinha vontade de rir no meio da música.

Quando o show acabou, fui para o balcão pegar uma cerveja enquanto os meninos já estavam indo embora porque tinham uma festa de uma prima de Jack para ir.

Eu estava sentada esperando minha cerveja no balcão quando Noah chegou e sentou-se do meu lado.

- Oi Genevieve.

Olhei para ele e sorri sentindo minhas mãos gelarem.

- Oi Noah.

- Você lembrou do meu nome!

Ri e dei de ombros.

- Cantou muito bem hoje. – ele disse. – Não que não tenha cantado bem semana passada. Eu... – ele parou e riu. – Você entendeu o que eu quis dizer.

Sorri olhando para minhas mãos e assentindo.

- Obrigada. – olhei para ele.

- Então, há quanto tempo você canta, quantos anos você tem¿

- Nós começamos a banda há um ano e meio mais ou menos. Estávamos no último ano da faculdade. – respondi.

Ele ergueu as sobrancelhas.

- Faculdade do que¿

- Música. – eu disse.

Ele assentiu parecendo impressionado.

- Que legal! Isso é muito legal. Então, quantos anos você tem¿

- Vou fazer 23 em Novembro.

Estávamos no final de Outubro.

- Que dia¿

Franzi o cenho. Era muita informação.

- Dia 9.

Ele assentiu novamente.

O barman chegou com a minha cerveja e colocou-a no balcão na minha frente. Tirei minha carteira de dentro da bolsa e Noah me interrompeu colocando a mão na minha fazendo meu coração acelerar loucamente.

Olhei para sua mão e depois para ele.

- Eu pago. – ele disse.

- Não... – tentei protestar mas ele já estava dando o dinheiro para o barman.

Ri sem graça.

- Não precisava, mas... Obrigada.

Ele sorriu.

Dei um gole na cerveja que estava gelada.

- Acho tão difícil ver uma mulher bebendo cerveja. É a primeira que conheço que gosta.

Sorri.

- Que estranho. – eu não sabia o que dizer.

Ele riu e eu também ri,

- Então, e você¿ - assumi a responsabilidade de puxar o assunto desta vez. – Quantos anos tem, faz o que da vida¿

- Sou fotógrafo. É um negócio de família. Tenho 26 anos.

Assenti.

- Gosto muito de fotografia. Fiz um cursinho quando eu era mais nova.

Ele sorriu. Seus dentes eram lindos.

Nós ficamos conversando por umas boas duas horas, fazendo aquelas perguntas básicas para conhecer a pessoa: “De onde você é¿”, “Onde você mora¿”, “Qual é a sua banda favorita¿”, “Qual é o melhor lugar pra onde você viajou¿”. E eu descobri que ele era de Malibu, Califórnia, morava em Nova York desde os 20 anos e sua banda favorita era Kings Of Leon.

Nós trocamos nossos telefones e a partir daí começamos a nos encontrar com mais frequência até que depois de quatro encontros, começamos a namorar. E como sempre, no começo é tudo as mil maravilhas. Mas, depois de alguns meses, Noah ficou bem mudado, ou então, eu só estava conhecendo um lado dele que ele não demonstrava antes. Bebia muito nas festas sem graça dos seus amigos, fumava, tinha amigas demais e adorava conversar com elas e me deixar totalmente de lado nas festas, era agressivo quando brigávamos e tinha muitos outros defeitos que apareceram com o tempo. E hoje eu estava sentada na minha cozinha ignorando suas ligações após mandarmos um ao outro ir para aquele lugar.

Ouvi três batidas fortes na porta. Revirei os olhos. Já imaginava quem era.

Fui até a porta e a abri parcialmente. Lá estava ele com uma camisa xadrez vermelha e preta por cima de uma camiseta preta, calça jeans e seu All Star de couro preto.

Ele entrou e eu tornei-me a sentar na cadeira onde eu estava e beber minha cerveja enquanto a chuva caía.

- Eu te liguei 14 vezes, porque não atendeu¿ Eu fiquei preocupado com você Genevieve.

Ri.

- Preocupado Noah¿ Bem, aqui estou eu. Não me matei ainda.

Ele riu.

- E nem vai se matar.

- Tem razão, por sua causa não vale a pena.

Ele pegou meu braço me levantando da cadeira.

- Eu estava te esperando na casa do Austin, porque não foi pra lá¿

- Tira as mãos de mim. – falei num tom de ameaça. – Olha aqui Noah, eu já estou cansada dessas festinhas estúpidas que o Austin dá, sempre são as mesmas pessoas chatas, aquelas vadias dando encima de você e de todos os caras daquela festa, em você principalmente. Eu indo ou não para lá, não faz a menor diferença porque enquanto estamos lá, você não liga para mim e fica conversando com todas, dando sorrisinhos, rindo das piadas mais idiotas que elas contam para se aparecer para você. E eu¿ Fico sentada do seu lado vendo você dar encima de outra. Então é o seguinte, não vou com você em nenhuma festa que seus amigos estúpidos derem, está entendendo¿ Não irei. E outra, quando vamos sair, não mande ir para um lugar e te encontrar lá, vamos juntos, porque nós estamos juntos!

- Eu não aguento mais ouvir você dizer as mesmas coisas. – ele disse. – Você sempre diz que eu dou encima das garotas, e não é verdade. Você sempre fica de cara feia nas festas que vamos e todo mundo repara. Eu estava esperando você lá no Austin hoje e nada de você aparecer e ainda começou a gritar comigo no telefone. Tenha dó Genevieve! Não estou aguentando mais esse seu jeito. Você briga por tudo comigo!

- Então faz o seguinte Noah, vê se me esquece! Finge que eu morri, tá¿

Ele segurou meu braço quando viu que eu ia deixá-lo na cozinha sozinho.

- Me solta! – gritei puxando meu braço de sua mão.

Fui para o meu quarto e tirei os sapatos jogando-os debaixo da cama. Fui abrir o zíper do meu vestido e ele emperrou no meio das costas.

Senti as mãos de Noah segurando o zíper.

Fechei os olhos e suspirei.

- Eu abro pra você. – ele disse com a voz baixa.

Fiz cara feia e esperei ele abrir o zíper. Virei-me e olhei para ele. Ele sustentou meu olhar e passou a mão em meu rosto. Fechei os olhos.

- Ah Gen, eu odeio brigar com você. Me desculpa, ok¿

- Pelo que¿ - perguntei ainda de olhos fechados.

- Por ser um idiota com você ás vezes. Eu... Te amo. Se você não quiser ir nas festas do Austin não precisa ir.

- Mas eu não posso te deixar sozinho nessas festas.

Ele sorriu.

- Por que¿

- Porque você ultrapassa os limites, Noah. Você fuma demais, bebe demais e as amiguinhas de Austin dão encima de você.

Seus olhos castanhos estavam suaves olhando nos meus. Ele ainda estava acariciando meu rosto.

- Ah Gen, você também fuma e também bebe.

- Eu sei, mas você ultrapassa todos os limites, Noah.

- Eu sei, mas eu tenho você pra cuidar de mim, sempre. E eu amo isso Gen. Amo você. – ele se aproximou e me beijou.

Suspirei e empurrei-o de leve.

- Eu vou me trocar e deitar.

Ele fez cara feia mas não disse nada. Tirou os sapatos, a blusa xadrez e a camisa preta, jogou-as no chão do lado da cama e deitou-se na cama me observando enquanto trocava de roupa.

Fui até a cama e puxei o edredom.

Revirei os olhos.

- Noah, levante para eu arrumar a cama para dormir.

Ele não se moveu e ficou me olhando.

- Noah, eu não estou com graça, por favor. – tentei puxar o edredom mais uma vez.

Ele não se moveu.

Bufei e sentei-me na cama ao seu lado.

Ele sorriu e me puxou para perto dele para me dar outro beijo. Ele estava com hálito de chiclete de hortelã.


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