Beyond two Souls escrita por Arizona


Capítulo 9
Minha primavera


Notas iniciais do capítulo

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Estou totalmente zonza, minhas pernas tremem, meu estômago revira completamente em mim, como um monte de borboletas batendo suas asas dentro dele. Meu Deus! Eu quase me derreti nos braços de Peeta, eu amoleci totalmente, não esperava que ele me beijasse, e não esperava responder ao seu beijo também.

Toco meus lábios ao lembrar da sua boca na minha, a corrente que atravessou meu corpo naquele momento, todas as mil sensações que explodem dentro de mim. Por incrível e mais surpreendente que possa ser, eu chego a uma conclusão:

Ficar perto de Peeta vai me fazer enlouquecer, porque vou querer tê-lo.

Não entendo.

Tudo em mim grita por ele, querendo mais dele, a minha vontade é de ir a sua procura e permanecer ao seu lado... para sempre. Mordo o lábio para controla minha vontade, nunca senti nada assim antes, essa onda de divergências que me invada cada vez que fecho os olhos e penso em Peeta.

. Fico me perguntando: Como um estranho pode perturbar tanto minha mente? Peeta praticamente rasteja em meus pensamentos, devorando cada pedaço que eu julguei ser seguro em mim. E eu sei o quanto isso me aflige. Demoro uma eternidade para dormir, até minha própria inquietude me incomoda.Só quando o dia está clareando é que meus olhos começam a pesar e finalmente o cansaço de uma noite inteira me atinge.

Acordo quase duas horas depois de Effie ter me chamado, ela teve que me derrubar da cama para me fazer sair de debaixo dos cobertores. A apresentação ao Idealizadores seria as dez da manhã, por isso não me apresso em ficar pronto. Tomo café da manhã calmamente, espalhando a geleia de morango em cada centímetro da torrada. Gale está sentado no sofá da sala conversando com Haymitch. Peeta não apareceu até então, e sinceramente, agradeço por isso.

Não que eu não queira vê-lo, eu esteja fugindo de um confronto de olhares, mas só não saberia como reagir quando isso acontecesse. Embora eu tenha passando minha última noite revirando na cama por causa daquele beijo, encarar a realidade é bem mais difícil agora.

– Docinho, pode vim aqui? – Haymitch me chama com aquele apelido horroroso, odeio quando ele me chama de docinho.

Sento ao lado de Gale com uma certa distância, ele ainda não estar falando comigo, e não falaria nunca mais se soubesse o que houve entre Peeta e eu. Effie se junta a nós para ouvir o que Haymitch tem a dizer.

– Bom, agora de manhã será a apresentação aos Idealizadores. Eles vão dar notas de 1 a 12. Quero que mostrem tudo o que sabem está manhã, se esforcem ao máximo.


“Hoje à noite é a entrevista com os tributos. Cada um tem o tempo de três minutos para impressionar a plateia com algo interessante, e assim também impressionar patrocinadores. A tarde nós vamos treinar essa parte, quero saber o que vocês têm de interessante.”

Ele nos libera para irmos ao Centro de Treinamento nos apresentar. Gale e eu pagamos o elevador e descemos para o subsolo em silencio, como tem sido ultimamente entre nós. A maioria dos Tributos já estão lá, o garoto do 2 dois anda de um lado para o outro intimidador, enquanto os outros carreiristas riem de alguma piada.

A menininha do 11 está quietinha, abraçando os joelhos com as bochechas encostadas neles. O garoto do seu Distrito tenta acalma-la conversando, mas parece não funcionar. Finalmente o primeiro Tributo é chamado, minha apreensão só aumenta a medida que a sala vai se esvaziando, o peso de ser a última está nos meus ombros. Depois de horas vendo os Tributos mostrarem suas habilidades, os Idealizadores já estão fartos e nem reparam nos últimos, principalmente por eles serem dos Distritos mais carentes de Panem.

– Katniss Everdeen, por favor vá para a apresentação individual.

Uma voz robótica me chama, eu respiro fundo me levantando. Caminho até a porta que se abre quando fico diante dela, sentindo o nervosismo ser injetado nas minhas veias. Olho o palco a minha frente, uma dúzia de homens conversam, gargalham e nem notam que eu estou ali. Pego o arco e a aljava pendendo-a no ombro. Me viro novamente para os Idealizadores. Piorreio para chamar a atenção.

– Katniss Everdeen, Distrito 12. – me apresento.

Os Idealizadores me olham com atenção dessa vez. Vou para o centro da plataforma de apresentação, preparo a primeira flecha e miro em um dos boneco. Solto a flecha que passa a poucos sentimentos da alvo na cabeça do boneco.

Não entendo, a mira estava perfeita. Os Idealizadores riem novamente com a minha amostra chula de habilidade. Eu preparo outra flecha, respiro fundo e foco no alvo a minha frente. Atiro mais uma vez, mas agora consigo acerta no peito do boneco, bem no cento do alvo. Abro um sorrido satisfeita comigo mesma, mas quando olho para cima, percebo que nem um Idealizador viu o que eu fiz. Estão todos se divertindo, comendo e bebendo, falando alto, de costas para mim.

Malditos!

Nem ao menos se deram o trabalho de cumprir com o seu dever, que era me avaliar. Esse bando de filhos da puta nos jogam nas arenas, fazendo de tudo para matarmos uns aos outros, e nem seguir a chance de receber o mínimos de respeito, eles nos dão. Isso me faz enxergar vermelho de tanta raiva.

Vejo que lá nos fundos, sobre a mesa, há um leitão com uma maçã na boca. Minha raiva é tão grande que nem penso direito os meus próximos movimentos. Ponho uma flecha no arco, miro e disparo na direção dos Idealizadores, acertando a maçã que estava na boca do porco. Pronto, isso foi o suficiente. Eles olham para mim incrédulos, um deles até tropeçou com um susto e caiu sentado numa tigela com molho.

– Obrigada pela consideração. – digo fazendo uma reverencia a eles debochada.

Saiu pisando duro deixando o arco com a aljava caídos no chão. Pego o elevador bufando, desgraçados do inferno, todos eles. Nos metem aqui e fingem que nós somos "só mais um Tributo", "ano que vem tem mais uma safra deles", "por que se importar?"

Não é mesmo?


***

Tem quase vinte minutos que ouço Effie me repreender. Durante o almoço eles perguntarão como havia sido a apresentação, e eu contei sobre o que tinha feito. Effie quase entrou em colapso nervoso, achei mesmo que ela teria um.

– Você ficou louca? Suas atitudes pegam mau para todos nós. – ela esbafori mais uma vez.

– Ah Effie, eu estava chateada. – me justifico jogando as mãos para o alto na defensiva – Eles nem olharam para mim antes disso.

– Chateada? Chateada Katniss? Torça para eles não descontarem em vocês na arena. – ela anda em círculos balançando o leque colorido na mão – Até que enfim!

Haymitch aparece na sala, com um sorriso cínico fazendo sinal de positivo para mim.

– Excelente docinho! – ele rir se jogando na poltrona – Me diz, como que cara eles ficaram quando você acertou a maçã?

– Eles pareceram chocados. – Haymitch dá outra gargalhada.

– E o que você disse mesmo? "Obrigada pela...

– Obrigada pela consideração.

– ...consideração". Isso foi ótimo, ótimo docinho!

– Eu não acredito que concorda com isso Haymitch? – Effie diz exaltada – Eles ainda podem...

– O que? – Haymitch a interrompe com indiferença na voz – Descontar nela? Nele? Já fizeram isso, agora ver se afrouxa a cinta e relaxa.

Esses dois são como gato e rato. Entretanto, eu acho que eles se completam de sua maneira. Effie é o equilíbrio de tudo, e Haymitch é as poucas gramas que sobram desequilibrando tudo. Porém a beleza na ignorância que os envolve.

As notas das apresentações saem a uma da tarde, ligamos a TV esperando o programa começar. Fico olhado para o elevado, e para o corredor que dar acesso aos quartos, mas nada de Peeta. Mesmo morta de vergonha pelo que aconteceu ontem, queria que ele estivesse aqui, talvez eu me sentisse mais segura se estivesse. Hoje é o último dia que posso conviver com ele antes da arena, e ele some?

O programa começa com sua habitual musica de abertura. Claudius Templesmith, o apresentador oficial dos Jogos Vorazes, inicia falando sobre a grande expectativa que rodeia os Jogos as suas vésperas. Vídeos bem rápidos do nosso treinamento aparecem, eu fui gravada fazendo armadilhas com uma cara de estúpida de quem está fazendo aquilo pela primeira vez, embora não fosse.É um tanto constrangedor para mim, ver a mim mesma na tela de uma televisão.

Enfim, o momento da divulgação das notas, Templesmith chama o primeiro nome da lista anunciando a nota tirada. Como quase sempre acontece com um carreirista, sua nota é um 10. Os nomes vão sendo chamados e suas notas mostradas. Fico contente quando vejo a menina do 11, que conseguiu um 7. Até que não foi nada mal, seja lá o que ela fez causou uma boa impressão.

– Gale Hawthorne, nota 8.

Templesmith anuncia e vejo soltar o ar de alivio. Gale contou que fez uma arapuca bem engenhosa para a captura. Pelo visto, os Idealizadores gostaram da sua ideia, certamente imaginaram como um Tributo podia ser morto por ela.

Agora era minha vez, eu saberia finalmente o que os Idealizadores acharem da minha falta de responsabilidade.

– Katniss Everdeen, nota... 11.

11?

Céus. eu nunca imaginaria isso.

Um 11.

Seja lá o que passou na cabeça dos Idealizadores, espero que não mude. Todos se alegram com a surpresa, até Gale que me ignorou por dois dias me dar os parabéns.

– Parece que você fez a coisa certa. – Cinna diz levantado uma taça de champanhe – A Katniss Everdeen, nossa Garota em Chamas!

– Garota em Chamas? – pergunto confusa mas ainda risonha.

– É! É como te chamam agora.

Eu nem sabia que tinha um apelido. As pessoas da Capital sempre gostavam de dar apelidos para os Tributos que mais se destacavam, como fizeram com Peeta, chamando-o de Ceifador Noturno. Eu agora sou a Garota em Chamas graças a roupa de Cinna no desfile, e agora, motivada pela minha personalidade incendiaria.

O resto da tarde foi de preparação para o a entrevista. Somos todos enfiados no mesmo quarto, enquanto Haymitch fica falando com a gente, perguntando nossos gostos, o que costumávamos fazer que poderia chamar a atenção do público, e tal.

Tudo o que tínhamos eram as horas que passávamos caçando - o que era crime por lei -, caso o público se interessasse pelo momento em que estripávamos os bichos, isso seria algo impactante de se dizer. Por fim Haymitch desistiu, disse que deveríamos apenas sorrir, sermos simpáticos, e responder de forma extrovertida as perguntas de Caesar.

Gale foi tirado do quarto para que eu pudesse trocar de roupa. O vestido que Cinna havia preparado era lindo, nunca vi tanto brilho assim antes. Mesmo sendo vermelho, uma cor chamativa, ele não era nem um pouco extravagante, e sim, elegante.

Pedrinhas brancas, amarelas e azuis faziam desenhos nele. O pequeno decote dava um pouco de volume ao meu busto, apertando na cintura deixando as poucas curvas do meus corpo em evidencia. Me olhei no espelho para constatar o resultado. Quem eu vi era alguém totalmente diferente da Katniss que conheço.

A maquiagem de hoje era bem pesada, olhos marcante em uma sombra negra, batom vermelho, maçãs do rostos bem destacadas; meu cabelo foi preso para trás, com trancinhas. Eu era alguém fatal, pronta para ser o centro das atenções novamente.

Cinna me pede para girar um pouco, para poder testar as chamas que ele pois no vestido.

– Eu não me sinto incrível. – digo meio cabisbaixa.

– Então você não sabe o quanto está linda.

– Eu não tenho certeza sobre hoje. – estou realmente preocupada co o que vou dizer - E se eles não gostarem de mim? E se eu estragar tudo?

– Eu gostei de você. – Cinna diz arrumando uma mecha do meu cabelo.

– Foi diferente. Não foi intencional.

– Exatamente. Seja você mesma, e tudo vai da certo. - ele fala batendo na ponta do meu nariz - Olha, eu vou estar lá, finja que está falando comigo.

Eu assinto e ele me dar um abraço solidário, desejando boa sorte. Pego o elevado e desço até a parte de trás do palco onde vai acontecer as entrevistas,. Já posso ouvir a euforia do lado de fora, e isso me deixa ainda mais nervosa. Encontro Effie acompanhada por Portia e Gale, que está com um terno todo preto, com exceção de chamas amarelas e vermelhas, bordadas na manda do paletó.

A música da abertura do programa começa a tocar, o nome de Caesar Flickerman é anunciado, e o som de aplausos vindo do público é ensurdecedor. Caesar gargalha com tanta excitação que até parece a primeira vez que faz isso. Interage mais alguns minutos, estimulando-os a gritarem ainda mais a medida que os minutos vão se sucedendo.

Ele chama o primeiro Tributo que é a garota do 1, Glimmer (que nomezinho, em?). As pessoas vão ao delírio, aplaudindo incessantemente sua presença no palco. A garota está tão... sexy, tudo nela se destaca. O cabelo, os olhos esmeraldas, o vestido prata brilhando como diamantes. Eu nunca conseguiria fazer a mesma pose que ela.

Logo em seguida veio o garoto, Marvel. Ele até que tenho uma aparecia inofensiva, mas não me engano. Lembro de uma garota que ganhou os Jogos a alguns anos, Johanna Mason. Ela chorava o tempo todo, em todo lugar, isso fez com que os outros Tributos não ligassem para ela, e no final, ela matou na primeira oportunidade e saiu da arena vitoriosa.

Logo em seguida em a garota do 2, Clove. A puta que me ameaçou no elevador. Argh! Garotinha estúpida, ficou a entrevista inteira dando uma de "super carreirista". O garoto de 2, se chama Cato. Tinha um sorriso debochado na cara, e permaneceu com ar de prepotência diante da plateia.

O resto das entrevistas transcorreriam sem muitos destaques. A menina do 5 era bem esperta, até brincou com Caesar com perguntas de bate e rebate, fazendo todos riem muito quando Caeser se enrolou em uma das perguntas.

A menina do 11 era Rue. Tem só 12 anos, e foi sorteada na sua primeira Colheita, como Prim também foi. Seria ela aqui no meu lugar se eu não tivesse me voluntariado. Já o garoto que veio com ele é Thresh. Ele permaneceu sério, não falou nada além de "sim" e "não". Seja qual fosse a pergunta, eram sempre essas as respostas.

Caesar enfim me chama.

Ele me apresenta como a Garota em Chama (inspira), a plateia grita loucamente. Forço meus pés a subirem os degraus que dão acesso ao palco (expira). Vejo Caesar com seu radiante sorriso branco diante de mim, ele estende a sua mão, eu a seguro mais por medo de cair do que por educação (inspira). Olho para o mar de gente que me aplaude sem parar, todas as luzes, e fleches de câmeras sendo disparados um atrás do outro, me deixa extasiada. Meus ouvidos estão abafado, eu só ouso um som bem distante (expira).

– Então? – Caesar pergunta.

– O que?! – fico confusa.

– Acho que tem alguém nervosa. – ele brinca fazendo o público rir com ele – Eu disse que você faz um desfile e tanto outro dia. Diga qual foi a sensação de estar "em chama"?

– Sei lá. Eu estava rezando para não morre queimada.

Isso faz as pessoas rirem, olho para todas aquelas pessoas envergonhada da situação, mas ai vejo o rosto de Cinna entre elas. Ele sorrir para mim, me encorajando a mostrar o que ele havia preparado hoje à noite.

– Inclusive, eu tô com elas aqui. – digo mais animada – Você quer ver?

– Oh, oh! É seguro? – ele fingi estar retraído, e afirmo que é seguro – Então por favor, nos der essa honra.

Eu me levanto indo até o centro do palco. Começo a girar dando voltas em torno de mim mesma, logo as chamas flutuam da barra da meu vestido a medida que vou girando. Ouço um sonoro "Oh!" da plateia, eles aplaudem, assoviam, gritam, e eu fico ainda mais impactada com tudo isso. Sou puxada novamente para cadeira por Caesar que rir sem para. Quando para com sua crise de riso, ele me encarando seriamente, segurando minha mão carinhosamente.

– Todos aqui se comoveram, eu acho, quando você vou voluntaria pela sua irmã. – ele olha bem nos meus olhos – O que eu quero saber de fato, é se sua irmã foi se despedir de você?

– Sim, ela foi. - respondo sentindo um nó formando na garganta.

– E o que você disse a ela?

– Eu disse que iria tentar, eu iria tentar ganhar os Jogos. Por ela.

– Sim! E você vai. - Caeser se ponde de pé me levando junto com ele em direção ao público - Senhoras e senhores, Katniss Everdeen, a Garota em Chama!

Sou ovacionada mais uma vez, me despeço de Caesar e desço de volta para os bastidores. Finalmente pude soltar o ar que estava preso em agonia. Encontro Haymitch e Effie me esperando do lado de fora, ele disse que fui ótima, vou conseguir muitos patrocinadores com a minha entrevista.

No final, ganhar "o povo", é o melhor caminho para um Tributo.

Na TV vemos Gale ser recebido com aplausos, ele e Caesar conversam educadamente como dois cavalheiros. Gale fala que tem muitas qualidades e uma delas é ser bonito, isso tira risos da plateia com a sua graça. Nunca vi Gale ser tão simpático em toda sua vida , está sorridente, aberto a piadas, indo exatamente pelo caminho que Haymitch indicou. Então vem a pergunta final.

– Gale, me diz. Você tem namorada, não tem? – Caesar pergunta e Gale nega com a cabeça – Ah, vamos? Um rostinhos tão bonito, deve ter alguém.

– Bom, tem uma garota que eu estou gostando a algum tempo. – ele parece meio hesitante ao falar.

– Sabe Gale? Eu vou te dizer uma coisa, você vai lá, ganha os Jogos, e quando você voltar para casa, tenho certeza que ela vai sair com você.

– Ah, bom obrigado. Mas isso não vai me ajudar muito.

– Por que não?

– Porque... ela está aqui, comigo.

O público solta um muxoxo de lamento, e eu por minha vez, xingo Gale mentalmente. Que merda ela tá fazendo? Como ele diz que gosta de mim? Gosta no sentido afetuoso entre um casal.

Ele só pode tá brincando.

– Eu sinto muito, muito mesmo – Caesar o consolo.

– Obrigado mesmo assim.

– Panem! Gale Hawthorne, Distrito 12.

Eu não vejo mais nada, estou consumida de tanta raiva. Como Gale faz isso comigo? Como ele me mete numa fria dessas? Fico esperando ele voltar para os bastidores e lhe tirar satisfação disso tudo. Quando ele aparece, minha reação é de voar em cima dela.

– Que porra foi aquela Gale? – o empurro contra a parede – Você não fala comigo, me ignora por esses dias e agora tá afim de mim, é isso?

– Calma docinho, solta ele. – Haymitch me pede segurando minhas mãos que estão no colarinho de Gale, demoro um pouco mas o libero – Vai já pra cima Gale.

Gale não diz uma palavra, apenas confirma com a cabeça e segue acompanhado por Portia. Eu encaro Haymitch buscando uma explicação. Será que foi ele que o mandou dizer isso? Porque se foi...

– Você não pode simplesmente bater no garoto.

– Ah não? Ele me fez parece fraca Haymitch, e eu odeio isso!

– Ele te fez parecer desejável. – ele me interrompe como se isso fosse óbvio demais – E isso, no seu caso é um favor.

– Ele tem razão Katniss. – dessa vez foi Cinna.

– É claro que tenho. Isso aqui é um programa de televisão, eles querem algo para mostras, algo que seja real para eles.

– Se eles querem algo real. – encaro Haymitch enfurecida – Deveriam ir ao meu Distrito.

Vou em direção ao elevador mais irritada do que antes. Subimos todos juntos, e eu mal posso esperar para tirar a droga dessa roupa. No meu quarto, ligo o chuveiro no jato d’água mais forte que ele tem, esfrego meu rosto com aspereza, tirando a maquiagem que tinha ali. Não quero ser outro alguém.

Desfaço as tranças do meu cabelo e os deixo soltos com a água do chuveiro os acariciando para baixo, sem deixar vestígio algum do penteado. Termino de me trocar bem na hora que Effie me chama para a última refeição do dia.Jantamos todos em silencio, e mais uma vez, Peeta não está lá.

Começo a me questionar se aquele beijo não significou nada para ele, ou melhor, se não significou nada para mim. De qualquer forma, eu espero sinceramente que ele pelo menos venha me dizer adeus.

Assim que acabo de jantar, peço licença a todos e saio da mesa. Quando estou quase na porta do meu quarto tenho a surpresa dele me chamar pelo nome. Mesmo contra minha vontade, eu me viro para falar com ele.

– Katniss, eu sei que está irritada comigo, mas por favor me desculpa. – ele pede tristemente – Nós estaremos numa arena amanhã, eu não sei o que vai acontecer. Eu só não quer ir para lá estando tão mal com você. Você é a única amiga que tenho, isso não me parece justo.

– Olha Gale, você não tinha o direito de fazer isso. O que você estava pensando, em?

– Não sei... Eu só queria uma boa chance com os patrocinadores. – ele diz olhando para baixo – Pensei que se houvesse algo que os fizesse presta atenção em nós, isso poderia ajudar.

Eu suspiro desgostosa de tudo isso, mas talvez ele tenha pensado certo. Uma história de um casal que tem a infelicidade de ir para os Jogos, impossibilitados de viver o seu amor, isso pode comover alguém.

– Tá Gale. – digo sem amimo na voz – Eu quero descansar agora, amanhã não vai ser nada fácil, você sabe?

Ele apenas assente, vem em minha direção para tentar me abraçar, mas estou chateada demais com ele para qualquer tipo de afeto, então desvio o olhar e entro no meu quarto.Me jogo na cama procurando não pensar no dia de amanhã, nos Jogos, que eu posso ter só mais algumas horas de vida.

Fecho os olhos e penso na minha casa, um cubículo de paredes encardidas, que ficam frias quando é inverno. Buttercup, o gato feio da minha irmã. Na própria Prim, no seu sorriso meigo e cativante. Minha mãe, e suas mãos milagrosas que salvam diariamente nossa gente. Na campina, o ar fresco, gélido de manhã bem cedo.

Como eu desejo está lá novamente.

Sobressalto assustada da cama atordoada. Pensando nas coisas de casa acabei caindo no sono sem perceber. Olho pra janela e ainda está escuro, devo só ter dormido algumas horas, talvez minutos.

Viro para o lado tentado adormecer novamente, mas não consigo. Luto minutos contra os cobertores, até me convencer que não vou dormir. Me levanto, vou até a sala, não havia ninguém lá. Caminhos pelos corredores sem rumo certo, até que vejo uma porta aberta nos fundos.

Nem sabia que era uma porta por ser de vidro, mas já que estou aqui, pode ser que me leve a um lugar interessante.

Ao passar pelos umbrais, me surpreendo mais uma vez com este lugar. flutuando sob estrelas, um terraço se matei intacto ao que acontece do lado de fora. Está bem escuro, mas ainda posso ver sua silhueta. Os ombro largos, os cabelos sendo desarrumados pelo vento, só um pequeno reflexo da luz ilumina seu rosto. Vê-lo novamente faz meu coração disparar em satisfação.

– Eles estão bem animado. – ele diz se referindo a multidão lá em baixo.

– Animados para ver a matança. – digo debochada sem medo de ser contraposta.

– Você deveria tentar dormir. – ele fala olhando para mim dessa vez.

– Já tentei. Não dar. – eu o fito por alguns segundo antes de pergunta-lhe – Onde você esteve o dia inteiro, Peeta?

Ele suspira bem alto e pesado, dando um sorriso sem graça de lago. Coça a cabeça desarrumando ainda mais os sues cabelos. Posso ver que está constrangido, nunca deve ter ficado assim na frente de alguém antes, porém agora eu tenho certeza:

Eu não sou qualquer pessoa para ele.

– Não quis te forçar a olhar para mim depois do que aconteceu. Eu não sabia direito qual tinha sido sua reação, então...- Peeta dar um longo suspiro novamente - E além do mais, você já estava com um dia muito carregado.

– É, até tenho um namorado agora, você viu? – ele dar um sorriso fraco, se virando para a sacada longe dos meus olho, então algo me ocorre – Você insinuou no trem que ele gostava de mim. Peeta você...

– Não, eu nem desconfiava. Fiz aquilo só para provocar vocês.

– Ele disso que era fingimento, para conseguir patrocinadores.

– Então deve ser. – dar de ombros sem se importar muito com isso.

Mas apenas suas palavras não me bastão.Não posso ficar aqui parada, tenho que pelo menos toca-lo uma última vez.

Me aproximo devagar, minhas mão trêmulas suam frio em quanto vou chegando perto, só evidenciando meu nervosismo. Fico parada atrás dele, tenda achar coragem para dizer qualquer coisa.

– Eu achei que não me despediria de você. – nesse momento o vento para de soprar e minha voz sai como um sussurro.

– Eu também. – ele se vira para mim com apreenção – Achei que meu medo seria maior do que meu desejo.

Peeta se aproxima me fazendo respirar o mesmo ar que o dele. Põe seus mãos no meu rosto, encostando o nariz no meu com cuidado. Fecho os meus olhos esperando pelo contato, até que sinto seus lábios pressionarem os meus. Ele me dar não um beijo, mas sim um singelo toque.

Abro os olhos, mas Peeta continua com os olhos dele fechados, como se quisesse absolver tudo aquilo, toda aquela atmosfera que nos envolve. Eu por outro lado, preciso mais do que um simples toque, e o puxo para mim beijando sua boca com vontade.

E ele me entende.

Peeta enlaça os dedos no meu cabelo, fechado os espaços que podia existir entre nós. Sinto seus braços me apertarem sem medo de me machucar. Minhas mãos apertam suas costas, explorando as curvas dos seus músculos sob a camisa branca de tecido fino.

Nosso beijo é bom, demorado, lento, quente.

Ele gruda nossas testas quando precisado do ar. Todavia sou eu quem não ouso abrir meus olhos, são meus lábios que ainda pedem sedentos por mais.

– Eu te devo uma canção – abro os olhos lentamente e o encaro – Depois dos Jogos, quando eu tinha pesadelos, meu pai a cantava pra mim. Essa canção fala que nada está perdido, e as coisas pequenas da vida se sobressaem a tudo.

– Então cante para mim.

Ele sorri e então me abraça com carinho, repousando a cabeça sobre a minha. Encosto meu rosto em seu peito forte, ouvindo a freguesia dominante do seu coração.

Peeta cantarola a melodia, movendo nossos corpos de um lado para outro, numa dança lenta.

We shall dance, we shall dance
The day we get a chance
To pay off all the violins of the ball
We shall dance, we shall dance

Dançaremos, Dançaremos
No dia em que tivermos a chance
De pagar todos os violinos do salão
Dançaremos, Dançaremos


The day we get a chance
To get a dime to buy back our souls
We shall dance, we shall sing
My dear love, O my spring
My love good days will come
You'll see the corn will grow in spring
My spring time
My spring time
No dia em que tivermos a chance
De conseguirmos uns trocados para comprar de volta nossas almas
Dançaremos, Dançaremos
Meu querido amor, Ó minha primavera
Meu amor bons dias virão
Verás o milho crescer na primavera
Minha primavera
Minha de primavera

We shall dance, we shall dance
The day we get a chance
To pay off all the violins of the ball
We shall dance, we shall stay
Dançaremos, Dançaremos
No dia em que tivermos a chance
De pagar todos os violinos do salão
Dançaremos, Ficaremos


With the children at play
Lord I swear when the time comes, we'll pray
We shall dance, we shall sing
My dear love, O my spring
My love you'll have a house
With roof and walls
Fire with coal
My soul, my soul
Com as crianças que brincam
Senhor eu juro, quando a hora chegar, rezaremos
Devemos dançar, devemos cantar
Meu querido amor, Ó minha primavera
Meu amor terás uma casa
Com telhado e paredes
Fogo com carvão
Minha alma, minha alma


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Notas finais do capítulo

Pra quem quiser ouvir, o nome da música é We Shall Dance, Demis Roussos.
Sim, essa música é terrivelmente velha, cantado por um hipster grego, mas é linda do mesmo jeito.



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