Beyond two Souls escrita por Arizona


Capítulo 29
Veias


Notas iniciais do capítulo

Mais um para tu!

Beijos!



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Puxo meus joelhos para junto do meu peito, me encolhendo ainda mais contra a parede. Já não sei quanto tempo faz que estou sentada nesse chão, nem sei ao menos que horas, ou que dia é, só sinto a dor machucar meu peito.

Eu poderia me acostumar com isso, poderia, se minha mente não rejeitasse a ideia de ter essa dor perfurante dentro de mim, é inaceitável demais para quem não consegui cair sem lutar.

Mas eu cai.

Por que ele tinha que me deixar ir?

Eu não queria que ele me deixasse ir.

Aquela noite amarga é uma fato que não consigo para de pensar. Peeta estava bêbado, mas não o suficiente para que aquelas palavras fossem apenas tolices que o álcool provoca.

Eu sabia que iria me quebrar por dentro, que não suportaria, nem aguentaria muito. Foram apenas questão de minutos para minha ficha finalmente cair, aí percebi que estava sem ele.

Peeta ganhara um pequeno presente dos seus amigos da Capital, era algo terrível que nunca imaginaríamos, mas que estava bem ali. Ele me mostrou a caixinha vermelha endereçada a o próprio, lá dentro haviam fotos, não quaisquer fotos, e sim das nossas vidas.

Eram tiradas no dia a dia, algumas de Gabriel na padaria, dos irmãos Mellark. Outras de Haymitch caminhado nas ruas sempre babado. E até mesmo da minha mãe e irmã, contudo o embaraço estavam nas últimas fotografias.

Minhas e de Peeta, caminhado juntos, sorrindo, trocando beijos calorosos as escondidas, e o pior de tudo, nossa intimidade. Fomos flagrados nos relacionando sexualmente.

Estavam de olho nas nossas famílias, era um aviso de que eles sabiam. Sabiam até demais. Matariam aos que amamos, destruiriam com aquilo que nos importávamos em um piscar de olhos.

Sinceramente, eu não me importava em ter sido fotografada daquele jeito, mas... Gabriel, os meninos, Haymitch, Prim, minha pobre mãe... Nem uma deles tinha culpa pela minha, pela nossa irresponsabilidade, se é que ter me apaixonado foi um ato de irresponsabilidade.

Mas eu sabia que era mais que isso, minha desobediência, o que eu provoquei nos Distritos... Tirar minha família de mim ainda é muito pouco para a Capital.

Não havia outra escolha. Os verdadeiros Amantes Desafortunados padeciam nas mãos inimigas.

Peeta chorou o tempo inteiro, tremendo dos pés à cabeça, ele sabia que era o fim, era por isso que ele tinha que me deixar ir. A separação era tudo o que tínhamos para manter todos a salvos.

Era a forma que ele tinha de me proteger também.

– Não olhe para trás.

Ele disse quando eu estava perto da porta. Socou o espelho que ficava na entrada da sala, que se espatifou as suas mãos, fazendo os nós dos dedos sagrarem.

Diferente do que me pediu, eu olhei para trás. Vislumbrei tristemente meu garoto com o pão ajoelhado sobre os cacos de vidro do espelho, de cabeça baixa, tão despedaçado quanto eu.

Ignorei suas palavras pela segunda vez, voltando para ele. Puxei com paciência seus lábios para os meus, seus maravilhosos lábios para os meus.

O último sabor que senti dele, foi o gosto forte do vinho em sua boca. Desde esse dia, meu quarto se tornou convidativo mais que qualquer outro lugar. Fechei as cortinas e apaguei as luzes, meu corpo é como uma concha num canto, o frio que cinto nas madrugadas não se compara ao vazio no meu coração.

Depois de um tempo, o peso nos meus olhos torna-se insuportável, e eu acabo cedendo. A minha inconsciência vaga em meu entendimento, momentos torpes que vem e vão como fumaça, inundando aquilo que sou, ou o que um dia cheguei a ser.

***

– Sonhei com o papai.

Digo alguns segundos depois de acordar. Prim está ao meu lado deitada, demorei para raciocinar que era ela quem estava ali.

– O que ele disse? – pergunta acariciando meus cabelos.

– Nada. Ele apenas sorriu enquanto caminhava pela campina.

Eu sabia que Prim sentia saudades do nosso pai tanto quanto eu, ou até mais que eu. Ela era tão pequena quando ele se foi, ainda tinha muito o que aprender, com certeza ele a faria mais uma caçadora da família, talvez se isso tivesse acontecido Prim teria expectativas diferentes.

– Você parece machucada.

– Eu vou ficar bem. – ressoou mais para mim do que para ela, mas não é bem assim.

Prim dar um longo suspiro cansado, ela sabe que não vou ficar bem, que eu não estou bem. Minha irmã estende a mão para segurar a minha que agarro como um apoio.

– Katniss, eu sou sua irmã, confie em mim. Você pode achar que eu não sei de muita coisa, e de fato eu não sei, mas ainda posso guardar segredos.

Sorrir para mim com compaixão, inevitavelmente meu coração se aperta fazendo as tão vergonhosas lágrimas escaparem dos meus olhos.

Minha irmã foi a pessoa que eu mais busquei proteger nesse mundo, sempre quis poupa-la, defender sua inocência. Só agora percebi que a garotinha magricela que usa duas traças douradas cresceu, e está diante de mim com uma maturidade inabalável.

– Você não contaria nem mesmo para a mamãe? – digo ainda chorando e ela sorrir.

– Nem mesmo para a mamãe.

– Uhm... existem coisas que você não pode entender.

Prim dar um sorriso de canto, um tanto debochado até. Beija as minhas mãos como eu faço com ela, e mais uma vez me surpreendo como ela cresceu:

– Não precisa me proteger, nem mesmo a mamãe, nós estamos com você minha irmã... Eu sei, Katniss. Tem coisas acontecendo, desde os Jogos. Tem algo diferente acontecendo. Eu vi.

– O que você viu, Patinha?

– Esperança.

***

Os dias se passam lentamente, à medida que o inverno se vai, vejo a neve derreter pela janela, é só uma questão de dias para a primavera, posteriormente o verão, e com ele a 75ª edição dos Jogos Vorazes, ainda mais especial esse ano.

Ano do Massacre Quaternário.

O Massacre é sempre considerado a melhor edição dos Jogos por ser realizado apenas a cada 25 anos, como parte do acordo depois dos Dias Escuros. A Capital faz de tudo para que seja inesquecível.

Eu nem havia nascido quando o último Massacre foi realizados, tudo o que sei foi o que a própria Capital contou.

Nesta edição, o número de Tributos foi em dobro. Dois casais de cada Distrito foram sorteadas, somando assim o total de 48 Tributos. O ganhador do 2º Massacre Quaternário foi ninguém mais, ninguém menos que Haymitch Abernathy.

O velho bêbado já foi bem sucedido em algo na vida, e isso foi o que lhe arrastou para o álcool.

Conseguintemente ele se tornou mentor dos Tributos que o sucederam. Coisa que também aconteceu com Peeta, cedo ou tarde Gale e eu também seremos, também teremos que acompanhar nossos jovens a arena, e traremos seu corpos mortos de volta para casa.

Os Pacificadores estão passando um nova cerca nos limites do Distrito. A cerca nova penetra alguns metros no chão, e é isso o que está fazendo com que sua instalação demore tanto. Os Pacificadores precisam cavar para colocá-las, e depois testavas para ver se funciona.

Logo perderei o contato com a floresta, a última lembrança palpável do meu pai. Ahaa... O que mais poderão me tirar?

Não vejo Peeta a semanas. Ele mais parece ter evaporado da terra, mas sei que continua morando na casa da frete. Com a ausência dele os pesadelos voltaram a me sucumbir, eles agora contam com o acréscimos de ter Peeta entre eles.

Não sei mais dizer o que sinto, perdê-lo fez com que anilhas crescessem de dentro para fora, não o sinto como antes.

Oh, Deus!

Só não quero me enganar em algo que tenho lá dentro, escondido me dizendo que tudo isso se chama amargura.

Não doe menos agora.

– Katniss!

Levo um susto quando minha mãe me chama, estava distraída demais com meus pensamentos que nem percebi que me olhava.

– Telefone para você. – ela estende o aparelho – É da Capital.

Pego o telefone de sua mão engolindo em seco achando que pode ser mais alguma ameaça, mas minha breve apreensão se vai quando ouço a voz estridente do outro lado da linha.

– YOURUHH! Katniss, querida! Oh, que saudade de você... – Effie dramatiza (típico) – Como vai minha vitoriosa?

– Vou bem Effie, e vo... – ela não me deixa terminar.

– Ótimo! Ótimo! Ótimo! – sua voz aguda começa a me irritar os ouvidos – Você sabe que em breve será o Massacre Quaternário, não é? Oh, é claro que sabe, e nesse dia você precisa estar belíssima. Cinna já está trabalhando nos seus vestidos, eles serão deslumbrantes (como alguém pode falar tanto?), Você ficará magnifica no dia da Colheita, e todas na Capital só iram falar de nós.

Que Effie é extremamente convencida eu sei, mas acho que ela está ficando pior com os anos. Ela ganhou muito dinheiro quando Gale e eu saímos vencedores, isso fez com que ela se superasse ainda mais na sua futilidade. Ela não é de comprar um peruquinha qualquer agora.

– Eu tenho certeza que sim, Effie.

– Oh, sim! – solta uma gargalhada que me faz afastar o telefone do ouvido de tão estridente – Portia também está preparando ternos magníficos para os meninos. Gale não engordou, engordou? Espero que não, ele precisa cuidar do rostinho que tem. Peeta eu sei que está na mesma forma física, ele é tão vaidoso com o corpo. Já o...eh, o... – subitamente ela engasgou nas palavras gaguejando, me deixando sem entender.

– “O”, o que? – ela para de falar do nada.

– Ah...aquele... Ora! Você sabe Katniss.

– Não sei. – Effie parece um pouco zangada – Só vou saber se você falar.

– Aquele barril de whisky! – exclama e finalmente entendo do que ela se referia.

– Ah, o Haymitch.

– E existe outro barril de whisky por aí?

– Você quer saber como ele vai? – ela fica calda me fazendo rir por dentro, isso era inacreditável – Bom, ele continua bêbado, mas o cabelo cresceu como a crina que um cavalo, e ele também está cheirando como um cavalo. – isso era verdade – Com o inverno, a frequência de banhos dele diminuiu.

– Que horror! Ai, tomara que ele tome vergonha na cara, e tenha a decência de não me decepcionar pelo menos no Massacre.

– Ele sabe ficar sóbrio quando quer.

– Tudo bem... – ela suspira – Eu tenho que ir agora, e não se esqueça: um mulher sem elegância, é uma mulher nua. Beijinhos!

E desliga.

Na semana seguinte a ligação de Effie, chega o dia do anuncio presidencial sobre as regras aplicadas no Massacre. Snow faz um discurso já conhecido sobre as guerras, a fome a rebelião do 13, e tudo aquilo que já sabemos, até que finalmente um envelope é entregue a ele com as regras do Massacre.

De todas as palavras lidas ali, as únicas que compreende são que a Colheita será feita entre os vitorioso de cada Distrito.

Meu corpo agi no automático, levanto-me, mas é como se meus pés não tocassem o chão, minha cabeça gira, e tudo o que consigo fazer é correr.

Correr, e continuar correndo. Ele quer me matar, quer me destruir, erra isso que pretendia desde o começo, minhas amoras... quantas mentiras, que mundo imundo. Suas mãos sujas me sufocando, me sufocando, me sufocando...

Aaaa!

Não ligo mais para os limites impostos, chega de medos, chega de demônios na noite, não vou me dobrar, não serei vencida tão fácil.

Eu queimarei.

Eu sobreviverei.

Eu viverei.


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