Beyond two Souls escrita por Arizona


Capítulo 17
O início do fim




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Esperar por um paraquedas é como estar em uma corda banda. Achei que depois do beijo algo bom aconteceria, mas minhas expectativas foram por água abaixo. Mal durmo durante a noite, diferente de Gale que parece tão distante quanto qualquer outro. Seu corpo quente da febre também me aquece enquanto repouso ao seu lado.

Os trovões e a chuva continuam incessantes no céu agora recém clareado com a luz do dia. Permaneço deitada em monotonia. Mesmo com os olhos pesados de sono, um voz de alerta lá no fundo da mente insiste em me manter acordada. Gale está na mesma, febril e estático. Ele precisa de medicamentos, no entanto, aquele simples beijo não foi o suficiente.

Estou de mãos atadas, não há o que eu possa fazer para mudar essa situação. Das poucas plantas que conheço que podem ser usadas como remédio, não reconheci nem uma delas na arena. O corte em sua barriga foi muito profundo, além dele ter passado dias sem tratar-se.

Quando finalmente a fome me incomoda, decido me levantar. Alimento as chamas da pequena fogueira para esquentar o delicioso pedaço de coelho que sobrou de ontem. Cutuco Gale para que acorde, pois também precisa comer para sua recuperação. Toda via, quando chama-o não responde. Toco-lhe e não reagi.

Levo a mão sua testa verificando a temperatura que parece estar aumentando gradativamente. Levanto sua camisa, retirando o curativo do ferimento, e o que vejo não é nada bom.  A lesão está inchada, assim como rubor em redor e em cima do corte. Posso até não ser a aprendiz de boticário da família, porém sei muito bem que há um processi inflamatório presente.

Sem muitas escolhas, decido reabrir o corte arrebentando os pontos. Esterilizo o canivete da melhor maneira que posso com fogo e água. Respiro fundo antes de rasgar a pele de Gale outra vez. Ele geme de dor, mas não abre os olhos o que me deixa ainda mais preocupada. Assim que a ferida está aberta, uma camada espessa de camada de pus escorre violentamente.

Pego duas gazes, espremo ao máximo a supuração misturada ao sangue. Gele se contorce em agonia, balbuciando palavras sem sentido. Posso ver o quão está sofrendo. Com tudo, ele parece adormecido indeterminadamente. Um lamurio de dor se contrai em meu peito até lágrimas raras escorrerem pelo meu rosto.

Estou perdendo meu amigo.

Ninguém precisa me esclarecer isso, estou vendo a morte aguce-lo como um cobertor.

Termino de limpar o ferimento com iodo, pondo apenas a gaze para proteger o buraco que ficou. Junto-me a ele mais uma vez, abraçando seu corpo quase sem vida. Não impeço-me de chorar. Não impeço-me de aceitar a crueldade. Gale por muito tempo foi a fortaleza que me deixou segura, e agora ele desmorona.

Entretanto, a voz de Templesmith ecoa pela segunda vez na arena.

Pequenas sacolas com os números dos Tributos sobreviventes estão dispostas em uma mesa de metal frente a Cornucópia. Com cada uma da sacolas existe algo que precisamos, algo tão valioso os Idealizadores sabem que arriscaríamos nossas vidas para tê-las. No meu caso, a chance que Gale tem para ficar vivo.

A menina que chamam de Foxface apanha a sua sacola, voltando correndo para dentro da floresta. Assim que ela sobe, imagino que seja a minha vez. Pego a sacola rapidamente, contornando a Cornucópia em direção as árvores, mas dou de cara com Clove e uma de suas facas. A lamina arde em contato com minha pele, sulcado* um corte do supercílio a raiz do cabelo. Quando ela senta em cima de mim planejando como me mataria, sinto como se uma pedra me esmagasse, tanto por fora, como por dentro.

Porém, antes que a 2 pusesse em pratica todas as suas ideias de me entalhar, Thresh rachou sua cabeça.

Por Rue, ele me disse.

Foi por ela que minha vida seria poupada. Pelo menos por suas mãos.

Ao voltar para o abrigo rezando para que Gale continue lutando. Estou tonta. O ar em meus pulmões parece metal. O sangue corre contra meus olhos inebriando a vista. Gale ainda respira.  Antibiótico. Anti-inflamatório. Morfina. Aplico todo o conteúdo da injeção na sua corrente sanguínea, esperando que faça efeito.

Por fim, é meu corpo que não resiste a tanta pressão. 

 

***

 

 “O doce som do canto dos pássaros faz-me sentir flutuar, assim como a brisa suave e morna que toca minha pele.

Estou deitada na grama, provavelmente na Campina, apesar de não ter certeza já que estou com os olhos fechados, mas sinto as cócegas nas minhas palmas.  Um sorriso bobo está em meu rosto. A sensação de paz é tão alegre e serena.

Um coração cheio de paz. É assim que me sinto, com o coração em paz.

Os lábios quentes do meu amado acariciam meu pescoço, o que me deixa ainda mais desfalecida.  Ele deixa seu corpo sobre o meu, sinto suas mãos deslizarem em meus cabelos, o seu cheiro tão próximo a mim, sua presença me deixando segura.

— Abra os olhos. - ele me pede com carinho.

— Tenho medo. – digo receosa.

— De que você tem medo?

— De que você também se vá, me deixando só.

— Abra os olhos meu amor. – ele pede novamente e dessa vez eu faço.

Ele me observa com tanta ternura, com paixão, que me sinto totalmente sem defesa contra o azul seus olhos. Peeta toca meus lábios, cobrindo o desenho deles com a ponta dos dedos. Ele parece tão claro, tão lindo e real.

Sou capaz de ficar aqui para sempre.

Aqui é onde eu queria estar.

São seus olhos que não quero que me deixem de olhar. É a sua voz que eu não quero deixar de ouvir. O toque de suas mãos que não quero deixa de sentir. O seu corpo que não quero que deixe o meu.

É essa paz que eu não quero perder.

— Fica comigo? – eu peço.

— Sempre.

Sim, ele vai estar.”

 

 

Foi apenas uma sonho.

Suspiro pesadamente por ser acordada com o hino da Capital. Um curativo cobria o corte na testa, ainda dolorido. Gale está agachado perto da entrada, olhando a baixa desse dia. Quando ele se vira para mim, vejo um singelo sorrido em seu rosto. Ainda está pálido, com olhos fundos, no entanto, visualmente mais disposto. O remédio fez o que deveria. 

— Clove? - pergunto mesmo sabendo a resposta.

— E Thresh.

Thresh.

Por que não me surpreendi com sua morte?

Porque se ninguém te matar, a arena mata. Mesmo que sento alguém com Thresh. O tempo se esgota, as chances chegam ao fim, assim como nossos últimos momentos aqui. Na manhã seguinte não há mais chuva, nem rio. Eles nos pressionam uns contra os outro, querem que acabemos logo com isso.

Só tínhamos um único lugar para irmos.

A Cornucópia.

Ao chegar perto de uma arbustos, ouço gemidos baixos, como um animal ferido grunhindo. Armo o arco prontamente antes de me aproximar mais.

Gale empunha sua faca, se pondo ao meu lado. Quando estamos bem perto, nos entreolhamos silenciosamente antes de agir. Eu assinto com a cabeça então atacamos.

Mas em vez de achamos resistência, encontramos um caça fácil.

Confirmando os grunhidos de uma animal doente preste a morrer, está o Tributo masculino do Distrito 8. O garoto que eu vi ser torturado pelo 7 e 9. Ele resistiu ao espancamento, a dor, e a tempestade, completamente destroçado agora, mas resistiu. A pele flagelada mostra o quanto ele sofreu. É surpreendente que ele não havia morrido até então

O garoto nos olha assustado, sacudindo a cabeça em negativo. Está armado com um simples galho de árvore, se esforçando em sua defesa.

— Não podemos deixa-lo aqui. – digo atordoada.

— Também não podemos leva-lo conosco.

Eu sei o que ele quer dizer, sei também o que Gale estar sugerindo.

Ele se ajoelha próximo ao garoto, tirando o galho da sua mão com facilidade. O brilho da sua faca passa pelos meus olhos.

— Deixa que eu faço isso Katniss.

Gale não espera que eu diga algo, apenas cobre os olhos do menino com uma das mãos, com a outra ele aperta a faca contra a pele do pescoço. O garoto se agita ainda mais, mesmo não podendo falar ou se mexer completamente, dá para ver o quanto ele luta.

Viro o rosto antes de Gale afundar a lamina na garganta dele. Logo depois, ouvimos o disparo do canção. O garoto do 8 está.

Gale passa por mim sem olhar, ele limpa o sangue na manga da jaqueta, se distanciando do corpo. O aerodeslizador vai logo aparecer, então me distancio também. Depois de termos eliminado um Tributo, tudo acontece em série.

Um garota esperta morta por amoras.

Bestantes feito a partir do DNA dos tributos mortos.

Uma luta para se manter vivo.

E um verdugo.

Cato é um Carreirista, é tudo o que ele sabe ser, foi tudo o que o ensinaram a ser. Cruel e gélido. Um assassino sem piedade, sem compaixão, sem escolhas, com um destino e futuro já traçados.

Ele costumava caça suas vítimas, mas agora ele é a bicho acuado diante da minha flecha. Eu sou a única caçadora aqui.

Acerte no olho.

É exatamente aonde minha flecha vai parar. No seu olho bom de Cato.

Ele cambaleia até cair da Cornucópia. Seus gritos de dor aumentam quando os bestantes lhe atacam, correndo sua carde. Em meio a sua agonia e grunhidos agudos, Cato pede por favor.

Por favor!

Dá-lo uma morte digna seria o resquício de humanidade em mim?

A última flecha na aljava foi parar no seu coração.

Gale e eu éramos vencedores. Ou era isso o que pensei, pois as antigas regras voltaram a valer, o que significava um vencedor.  Porém, nos recuamos a obedecer a mentira que foi criada, fazendo nosso próprio teatro.

Um punhado de amoras venenosas, e um jovem casal apaixonado a beira da tragédia. Era o único jeito, ou não haveria vencedores.

E lá estávamos nós!

Katniss Everdeen e Gale Hawthorne, Vitoriosos as 75ª dos Jogos Vorazes.

Mas o pior jogo de todos estava apenas começando.    





                                                                                                                

*Sulcar = Abrir


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Notas finais do capítulo

Bom, esse ó último cap. da primeira parte da fic. Espero que tenham gostado.



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