Hoje é dia 12 de dezembro e isso significa que daqui a quatro dias eu me tornarei imortal definitivamente. Também significa que em breve eu dividirei um apartamento com Scott por toda a eternidade, e isso é sem dúvidas... excitante.

Ele acabou de sair aqui de casa. Disse que tinha algumas coisas para resolver, coisas do apartamento e tal. Mas me convidou para ir lá hoje a noite, fazer uma prévia, antes de mudar para lá de vez. Quanto ao Patch e a Nora... O anjo está planejando uma festa especial para sua namorada, afinal, ela também irá completar a idade crucial daqui a dois dias. E quanto a minha melhor amiga : simplesmente não me dá noticias desde ontem! Não sei o que ela está fazendo agora, só sei que se ela não retornar minhas mensagens em cinco minutos eu vou...

Meu celular treme em meu bolso, e eu deixo cair a lixa com a qual eu estava lixando minhas unhas dos pés. Você tem uma nova mensagem, informa o monitor de cristal liquido. Eu clico rapidamente em minha caixa de mensagens. Excelente. Enfim, ela resolveu dar as caras...

Te pego em cinco minutos. Vá se vestir, porque sei que vc tá pelada e isso assustaria as pessoas na rua. , enviado por Nora ás 15:31

Como se uma visão do meu belo corpo fosse causar medo... É mais provável que cause...

Anda logo, Vee... Estou na esquina., enviado por Nora ás 15:32

Eu solto uma bufada e me levanto da cama, indo em direção ao meu closet. Estou usando calças de moletom e minha camisa do Bob Esponja. Tiro uma foto para Nora, só para provoca-la, insinuando que ela errou em suas proposições, e envio.

Certo... Posso ter errado, mas de qualquer jeito, essa camiseta assustaria as pessoas. Para de enrolar!!! , enviado por Nora ás 15:34

Sorrio, arrancando a camiseta e amaçando a cara amarela e quadrada do Bob no chão. Através da janela consigo observar o clima frio. A neve provavelmente só cairá daqui há alguns dias, mas mesmo assim o vento nas ruas descobertas é cortante, de modo que calço botas marrons, jeans e um suéter azul antigo. Ouço a buzinada impaciente que vem da calçada, e desço as escadas amarrando meus cabelos em um rabo de cavalo apressado. Não há necessidade de despedidas, pois minha mãe não está em casa. Ela foi almoçar com o detetive Basso, e provavelmente não quer ser incomodada por uma ligação de sua filha agora. Tranco a porta da frente e enfio as chaves em minha carteira. Não tive tempo de pegar uma bolsa...

–Espero que seja bom... – eu digo, fechando a porta de passageiro atrás de mim.

–Vai ser... – ela diz, acelerando seu carro. É impressão minha ou o velho Spider está mais potente? Eu reparo nas botas de Nora pela primeira vez enquanto ela pisa no acelerador. Pretas, curtas e com um brilho lustroso que apenas sapatos novos possuem. E estou delirando ou aquele logotipo no solto é Prada? Nunca vi ela usando botas deste tipo. Isto é uma coisa que eu relacionaria a Marcie, cujo falecido pai nadava e, dinheiro. Se bem que Hank erapai de Nora também, então...

–De onde veio o orçamento para estas botas? – eu pergunto, aproveitando que ela parou em um sinal de transito.

–Você logo vai descobrir... Já estamos chegando... – e com mais um sorrisinho misterioso, torna a acelerar. Deixo meus olhos vagarem pelas ruas. As vitrines das lojas já estão decoradas para o Natal, aquele clima de felicidade e união pode ser visto no semblante dos pedestres que transitam pelas esquinas e calçadas, com ou sem sacolas. Até mesmo os mendigos parecem mais esperançosos, com certeza crentes de que ganharão mais comida nesta época. Minha casa parece ser, talvez, a única que não entrou no clima natalino. Mas ainda faltam duas semanas, e além disso, todos nós tivemos preocupações demais nestes últimos dias para nos ocuparmos com luzinhas pisca-pisca e pinheiros decorados...

Nós passamos em frente ao Enzo’s e a C.H.S. Esta parte da cidade, ao Sul, é onde se localizam a maior parte dos estabelecimentos comerciais instituições publicas. Nora estaciona em frente a Imaginné Fashion Stablishment ,de longe a mais sofisticada loja de roupas de Coldwater. Um vestido ali custa no mínimo uns duzentos dólares... Não sei com que dinheiro iremos arcar o custo das compras, mas aposto que se Nora comprou uma bota Prada, não foi via Cartão de Credito do Patch... Ele é bom nessas apostas e tudo o mais, mas já faz muito tempo que ele não joga... Talvez Nora tenha manipulada amente da vendedora e...

–Vee! – ela está me arrastando até debaixo do toldo dourado da Imaginné. – Você precisa parar de viajar!

Eu a encaro com os olhos cerrados, tentando decidir se minha hipótese sobre manipulação mental é plausível a ela. Mas, infelizmente, Nora é o tipo de pessoa que não utilizaria seus poderes nem para furtar uma barra de chocolates. Ela é a pessoa mais honesta que conheço...

–Eu estou te ouvindo. – eu digo, apesar de não ser totalmente verdade. Ela ergue as sobrancelhas em um gesto de incredulidade.

–Sei... – pela primeira vez vislumbro um cartão plástico lilás em seus dedos. Tem o nome Vee Sky nele. Meu Deus...- Pois bem ... – ela faz menção de guardar o cartão em sua bolsa, tirando-o de minha linha de visão. – Se está tão desinteressada assim...

–Não, não! – eu seguro seu braço, impedindo-a de guardar o cartão. – Estou prestando atenção agora, juro!

Ela me avalia , então prossegue.

–Ontem a tarde, depois que eu falei com você, Marcie Millar veio me procurar... – eu abro minha boca, mas ela ergue um dedo indicando para que eu espere. Eu cerro os lábios. - ... alegando que precisava tratar de um assunto urgente. Ela primeiramente disse que o certo seria me contatar apenas depois que eu completasse a maioridade penal humana, o que seria há três dias. Mas ela tem uma viagem para Nova York marcada para hoje, entao não chegará até o Natal. E de acordo com suas próprias palavras : o fato de ela ter um bom coração fez com que ela me entregasse uma copia do testamento de seu... nosso pai, antes do meu aniversario, para que eu o comemorasse decentemente. E de acordo com o testamento, trinta por cento dos lucros e ações da Millar’s Car Central pertence a mim, do mesmo modo que quarenta pertencem a Marcie, vinte a Sra. Millar e dez á minha mãe. Não é realmente justo, mas já estou bem satisfeita com minha porção e...

Ela esfrega o cartão na minha cara.

–Coloquei dez por cento dos lucros em seu nome, de modo que você receberá cerca de trinta a cinquenta mil dólares por mês em sua conta do banco. Digamos que é um presente de dezoito anos um pouquinho adiantado...

Ela abre um sorriso de orelha a orelha. Eu fico estática, meus dedos imóveis enquanto ela empurra o pedaço de plástico entre meus dedos, minha mente ainda absorvendo suas palavras. Ela não pode estar falando sério. Da noite para dia nos tornamos ricas. Isso deve ser pegadinha.

Eu pisco os olhos com força duas vezes para ter certeza de que não estou sonhando. O tapa que Nora dá em meu ombro parece bem real, de modo que decido aceitar minha nova realidade sem questionamentos. Estou tão feliz que poderia beijar a boca dela aqui mesmo e agora.

–Obrigada... – é o que consigo dizer, apesar de não ser suficiente para expressar minha gratidão. – Eu te amo, garota...

Ela sorri e enlaça um braço no meu.

–Sim, sim... Mas agora não é hora para isso... Suponho que temos muitas coisas a fazer, não é?

E então entramos na loja de roupas. Nada pode estragar este momento...