Um Amor Definitivamente Inumano escrita por Carol Potter Greymark


Capítulo 2
O Que A Fome Não Faz...


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu, de volta no meio da semana. Nao tive muitos acessos, na verdade, mas não me importo. Gostar de escrever é uma coisa que me impele a prosseguir.
Espero receber mais visitas, e se caso receber, gostaria que comentassem o que acharam, sinceramente.
Aproveitem, Anjos.



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Eu acordo com uma dor de cabeça enorme, decorrente da ressaca de ontem. Empurro os cobertores pesados de Nora, que cheiram reconfortantemente a sabão em pó e dou um suspiro, enquanto olho o relógio digital sobre a mesinha de cabeceira. Já passam das uma da tarde, e de acordo com meus instintos apurados estou sozinha na casa de fazenda. Nora provavelmente está com Patch, fazendo não sei o que (minha primeira opção seria ‘satisfazendo os desejos íntimos’ no loft luxuoso dele...) e portanto, só me resta ocupar o dia com outras coisas.

Eu desço da cama e por pouco não escorrego em uma poça de vomito. Não lembro de ter vomitado ontem... Na verdade, eu não me lembro de nada além do fato de que eu comecei a chorar como uma maluca por Scott Parnell. Eu devia estar muito chapada...

Vou até o banheiro e pego o rodo que fica no box , e um frasco de sabonete líquido de lavanda, para eliminar o cheiro tóxico emanando do carpete. Eu sorrio quando concluo meu trabalho. Menos de um minuto. Novo recorde nephilim.

Tomo um banho demorado, esfregando shampoo e sabonete , ambos de pêssego, pelos meus cabelos e pele. Observo com uma certa satisfação enquanto os resquícios da noite de ontem descem pelo ralo juntamente com as bolinhas perfumadas.

Enrolo-me em uma toalha branca e felpuda, que suponho ter sido deixada por Nora hoje antes de eu levantar. Rodo pelo quarto, pensando no que vestir, uma vez que meu vestido preto é uma opção inacessível... Surpreendo-me com um bilhete colado na porta do closet.

‘Suponho que agora já não é mais manhã, tampouco. Se você tiver acordado antes das onze eu juro que dou uma volta pelada pelos corredores do CHG na segunda... Mandei seu vestido para a máquina de lavar. Fique a vontade e vista o que quiser (não que eu precise lembrá-la que mi casa és tu casa). Eu e Patch estamos almoçando fora, mas que tal assistirmos um filme mais tarde? Beijos de sua des-gêmea.’

Eu sorrio e entro no closet. Pego uma calça jeans escura tamanho 38 e a avalio criticamente. Eu perdi sete quilos com uma dieta divina, mas isso não significa que minha bunda cedeu ao emagrecimento. Eu desisto antes de tentar. Quero evitar chamar um guincho para arrancar o tecido das minhas coxas... Eu passeio meus olhos pelas prateleiras cuidadosamente organizadas, no estilo Nora, e eles travam em um vestido decotado. Tamanho 40, diz a milagrosa etiqueta. Maravilha. Eu visto a peça com agilidade e o tecido suave abraça minhas curvas. Já vi minha des-gêmea usando-o uma vez, mas tenho que ser sincera quanto ao fato de que ele fica bem melhor em alguém que tem o ‘suporte’ necessário para preencher o decote. E meus peitos são tamanho 44.

Talvez eu tenha conseguido me embrenhar em uma roupa menor, mas calçar um sapato tamanho 36 em um pé 38 é uma proeza um tanto impossível. Por fim, calço meus saltos de plataforma pretos que usei ontem; a combinação não ficou tão ruim assim, pelo menos é o que o espelho diz. Por outro lado meu cabelo ,outrora dourado, macio e brilhante está parecendo com o do Bob Marley, os dreads em uma versão mais clara , porém.

Eu sigo para o banheiro e caço algum produto aparentemente capaz de transformar o sapo em príncipe novamente, então desisto e prendo meus cabelos em um coque bagunçado. Pego a escova de dentes extra, que Nora guarda para emergências tais como esta e depois de passar fio dental finalizo meu look com um toque de rímel e blush. Pego minha bolsa de alça lateral e desço as escadas com o estômago roncando em protesto as suas longas horas solitárias. De repente tropeço e deixo minha bolsa cair, o que faz com que todos os meus pertences se espalhem pelos degraus. Soltando um palavrão eu me abaixo e começo a juntá-los. Uma filipeta com um ‘B’ em letras estilizadas me chama a atenção . Eu sorrio ao ler o anúncio de 50% de desconto em um combinado mexicano no Borderline. Patch costumava servir mesas lá, e juntou um monte desses panfletos promocionais. Nora nunca aceita. Eu, por outro lado, nunca descarto uma promoção. O restaurante em si, além de oferecer deliciosas opções da culinária mexicana, guarda lembranças memoráveis, tanto as mais detestáveis quanto as mais engraçadas. Eu me decido por pensar nas engraçadas. Como a vez em que a Nora se disfarçou de loira platinada e flertou com o barman a fim de coletar informações sobre o Patch. Naquele época não fazíamos ideia do quão sério eram esses segredos, e de que nós estávamos inegavelmente ligadas ao seu mundo sombrio...

Eu tranco a porta da frente da casa de fazenda e enfio minha cópia da chave na bolsa, substituindo-a pela chave do meu Neon , uma verdadeira relíquia de guerra.

Caminho decidida até o meu carro, a rota que leva em direção ao Borderline na cabeça. Sento-me no banco de motorista, coloco a chave na ignição e arranco com o motor. Nada, além de um som que lembra um resmungo. Tento de novo. O Neon parece estar com a mesma ressaca que eu estava há poucos minutos. Tento pela terceira, quarta, sexta vez ; em vão. Estou prestes a sair do carro e ligar para um mecânico, quando a visão repentina no espelho retrovisor faz com que eu solte um pulo. Sem que eu tenha percebido um Mustang Vermelho estacionou a uns dois metros atrás de mim. Não tenho nem tempo de piscar quando ninguém menos que Scott Parnell já está parado ao lado da minha janela. Ele cutuca o vidro com um sorriso presunçoso brincando em seus lábios. Relutantemente eu o destravo.

–Problemas com o carro? – ele pergunta, agora apoiando os dois braços na janela. Eu reviro os olhos.

– Não, imagine... Estou parada aqui há dez minutos pelo simples prazer de ouvir os resmungos do motor. – eu digo, sorrindo ironicamente. Para minha surpresa ele faz o mesmo, só que tenho certeza de que em seus lábios cheios fica sendo uma expressão bem mais provocativa.

–Poderia ser. – ele dá de ombros. – Seis anos é muito tempo, e eu quase não sei nada sobre você, exceto que gosta de ser irônica e dança rap como uma profissional. E não posso me esquecer que costuma roer as unhas quando fica nervosa.

Para seis anos ele sabe bastante sobre mim...

–Desculpe interromper o seu monólogo, mas... – eu começo o mais delicadamente possível, afinal eu conto com sua ajuda para fazer o Neon se mexer. – O que você está fazendo aqui?

–Eu vim procurar pela Nora, mas já que ela não está aqui... – ele dá um sorriso torto. – Acho que já te importunei o bastante por hoje, não é?

Eu mordo os lábios. Eu gostaria de dizer sim, com toda certeza. Mas o medo de ficar sem almoço fala mais alto que meu orgulho bobo.

–Hm... Scott? – ele para o trajeto em direção ao seu carro e me encara com curiosidade. – Você... Hm... Me ajuda com o carro?

–Tem certeza que quer minha ajuda? Onde está todo aquele papo de ‘Scott, o mijão’? – ele me lança um olhar sarcástico, e eu percebo que ele está adorando esta situação constrangedora.

–Pode deixar. – eu digo, com raiva aparente, e mais raiva ainda por não conseguir controlar minhas emoções. ‘Neônio, seu desgraçado. Logo hoje você tinha que travar?’ - Eu me viro sozinha.

–Calma, Sky. – ele se aproxima erguendo os braços em sinal de rendição. – Sem ressentimentos. Foi só uma brincadeira.

Eu suspiro. Obrigatoriamente, se eu quiser comer antes de amanhã, tenho que relevar as piadinhas idiotas de Scott...

Ele abre o pára-choque e mexe lá dentro por alguns minutos. Sua expressão confusa é desoladora. Depois do que parecem uns bons dez minutos ele tem o veredicto:

–Isso é mal. – ele solta um assovio dramático. –Juro que tentei fazer o que pude, mas suas engrenagens hidráulicas precisam de um apoio realmente técnico...

–Ótimo. – eu digo já me virando de volta em direção a casa. O jeito vai ser apelar para os meus dotes culinários. Sou uma apreciadora da comida, apenas isso. Limito-me a comprar algo pronto e criticar. O máximo que já fiz foi uma vitamina de iogurte e aveia, que consistia em tacar os ingredientes no liquidificador e ligar a tomada. Hoje, porém, iria me arriscar a fazer algo que passasse por almoço...

–Vee, espere. – já estou a meio caminho da porta quando ele me chama. Eu me viro um pouco sem vontade. – Onde você disse que estava indo?

–Eu não disse. – eu falho em minha tentativa de ser rude. – Mas minha intenção era ir ao Borderline, um restaurante mexicano no centro da cidade...

–Hm... – ele apóia o queixo com os dedos, fingindo estar pensando. – E se eu te dissesse que estou a fim de comer tacos hoje?

Eu quase sorrio.

–Eu diria que você deveria ir ao Borderline. – e de quebra me dar uma carona. – Os melhores tacos da cidade são os de lá.

Ele sorri e eu também, ignorando o quão cara-de-pau eu soei.

–Muito bem, então, Srta.Sky. – ele abre a porta de passageiro do seu Mustang ,como um cavalheiro clichê. – Tenho a honra de ser seu acompanhante esta tarde.

Eu entro no carro, e acabo pisando em uma embalagem prateada pequenina que estala sob meus saltos. Eu reconheço como sendo de camisinha e quase me arrependo de ter entrando no carro. O que eu não faço quando estou com fome?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Por favor, preciso saber as suas opinioes. Beijinhos da Tia Carolzinha



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