Um Amor Definitivamente Inumano escrita por Carol Potter Greymark


Capítulo 12
Destino


Notas iniciais do capítulo

Oi! Como prometi, entrei aqui na net do hotel e criei um capitulo. Não se preocupem com o desfecho, pois amanha chego no Rio e aí posto a continuação. Beijos da Tia Carolzinha.



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Quando acordo vejo que pequenos raios de sol entram pelas frestas da cortina, transformando o assoalho simples em algo iridescente. Pisco meus olhos para me acostumar com a súbita claridade e solto um bocejo. Me apoio nos cotovelos, mas imediatamente me dou conta de que o gesto foi um erro. Suspiro e volta a antiga posição.

Ontem a noite, depois de minha mãe ter subido para seu quarto, e eu ter colocado meus pensamentos em ordem, pelo menos o suficiente para eu não sair tropeçando, resolvi tomar meu merecido banho.

O que eu não esperava é que, sutilmente espalhada pelo piso de mármore branco do meu banheiro, haveria um poça de mel, já viscoso e irreconhecível devido ao tempo em que estava ali. Eu caí com tudo e bati minhas costas com força no chão, justamente na dolorida ligação ‘coluna-bumbum’. Então me arrastei de quatro até o box, onde passei bons quarenta minutos imersa em água quente. Moral da estória: nunca mais roubar waffles no meio da noite...

Eu estico meu braço direito até a mesa de cabeceira e pego um analgésico. Depois de ter o efeito desejado me levanta, ainda que um pouco cambaleante, e abro as cortinas por completo. O belo e radiante sol da manhã atinge a pele do meu rosto, sua luz quase cegante, porém eu não desvio o olhar. Tem algo sobre o sol que me faz sentir segura. Talvez o calor. Sempre me sinto bem em meio ao calor, ao fogo, ao...

–Scott? – o reflexo sorridente e familiar me encara através do vidro cristalino da janela, eu me viro em um sobressalto.

–O que você está fazendo aqui? – eu pergunto, ajeitando meus cabelos armados devido a longa noite. Ignoro o fato de eu estar com meus pijamas de flanela esgarçados e quem sabe o típico mau-hálito matinal. Seu sorriso vacila um pouco, mas consigo vê-lo ainda através de seus olhos.

–Hm... – ele se aproxima de mim e eu dou passo para trás, minhas costas pressionadas contra as janelas. – Você demorou para descer, então sua mãe me deixou subir...

Ele cruza os braços e faz sua costumeira expressão de ‘não tenho culpa’. Eu sorrio discretamente enquanto verifico as horas no relógio digital rosa-choque sobre a parede. Ele está certo. Já passa das 13h. Mas o que ele estava fazend...

–Eu queria te chamar pra almoçar comigo. – ele responde minha pergunta ainda não feita. – Mas você provavelmente não vai...

Eu o impurro pela porta do meu quarto e quando ele já está na beira das escadas eu digo:

–Desço em poucos minutos.

Ele me encara com seu sorriso torto e estupidamente sexy.

–Pra quem já esperou uma hora, poucos minutos não são...

Mas eu fecho a porta na cara dele e escorrego até o chão, minhas costas deslizando na madeira envernizada suavemente.

O que vou usar? Se eu soubesse nosso destino eu teria algo para me auxiliar, um ponto de partida, talvez.

Depois de tomar um banho, esfregando corpo e cabelo vigorosamente com sabonete e shampoo de morangos respectivamente, eu escovo meus dentes duas vezes, só para garantir. Beijar alguém com mau-hálito é simplesmente... O que estou pensando? Eu não tenho jeito mesmo. Apesar de ter descoberto que nosso pais odiavam avidamente um ao outro, ou melhor, odeiam, visto que meu pai está apenas fora de cena e o pai de Scott está solto por aí, provavelmente tentando me eliminar... Será que Scott não ligou as peças ainda? O colar do pai dele no meio da cozinha de Nora... Ou ele não quer aceitar a verdade porque não quer se afastar de mim? E...

Eu paro de procurar uma roupa, um calor estranho aquecendo o lado esquerdo do meu peito. Se esta última opção for a correta significa que ele realmente gosta de mim. Eu sorrio involuntariamente. Por alguma razão me lembro de minha avó Ada, com seu sotaque sueco afetado, me contando como conheceu meu avô Henri. Foi no final da Copa de 1954, no jogo Alemanha contra Suécia, e ele era um alemão, então, naquele dia, minha avó e ele eram inimigos mortais. A Alemanha ganhou, em pleno solo Sueco, para humilhação nacional. Minha avó estava uma arquibancada acima do meu avo quando o apito do juiz soou, encerrando o jogo. Ela xingou e pulou tão alto que acabou caindo e machucou a perna. Em meio a euforia alemã, e quase pisoteada, meu avô, que estava no ultimo ano de medicina, a carregou para fora do estádio. Ele a diagnosticou com uma fratura no fêmur. Então, o próprio, a levou até o hospital próximo e com a desculpa de que estava na casa de uns parentes ficou mais cinco meses. Ele se tornou seu fisioterapeuta, mas quando a perna ficou boa, ele não foi embora tão pouco. Os dois acabaram se apaixonando. Um ano depois eles se mudaram para Ogunquit, aqui perto de Coldwater, para uma bela casa na praia que os tios de Henri os vendeu. E então, depois de terem deixado três filhos e quatro netos, os dois faleceram, incrivelmente no mesmo dia. Antes de morrerem minha avó pediu que embrulhassem os corpos dos dois com bandeiras da Suécia e da Alemanha, para provar que o amor supera tudo, até a nacionalidade e o futebol. ‘Kär vinner allt’ , o amor supera tudo, em sueco. Sem evitar eu altera algumas palavras (SIM, EU FALO SUECO) ‘kär vinner blodet’ e transformo em ‘o amor supera o sangue’... É uma incógnita. Times de futebol são uma coisa, mas e ódio e traição? Será o amor capaz de superar isso. Eu prefiro não pensar mais sobre o passado e aproveitar o tempo que tenho antes que Scott descubra. É ruim, muito ruim, mentir para ele de cara dura. Mas pior seria não tê-lo perto de mim. Não estou mentindo. Apenas estou omitindo.

Me decido por colocar uma saia azul justa , mais não vulgar, e uma blusa florida de magas compridas, porque hoje, apesar de sol, esta particularmente frio. Nos pés, botinhas confortáveis de couro marrom, e uma bolsa do mesmo material, onde coloco minha carteira, meu celular, gloss e pastilhas de mentas (só para garantir).

Respirando fundo, eu desço as escadas. Scott está sentado de costas para a escada, de modo que não consigo ver sua expressão, mas minha mãe, com sua expressão rígida de delegada, o está metralhando de perguntas. Chego há tempo de escutar:

–Você sabe que Vee está em uma situação delicada, agora que descobriu a verdade sobre o pai, e que ele...

–Mãe... –eu interrompo, antes que ela revele mais do que deve. – Acho melhor nós irmos... Estou com fome e ...

–Ah, é claro. – ela sorri, limpando poeira invisível de suas calças com as mãos. – Bem, vou deixar vocês...

Mas eu já estou saindo, puxando Scott comigo. Nós entramos no carro, e ele começa a dirigir, um sorriso em seus lábios. Eu pergunto aonde vamos, visto que não conheço o caminho que ele está fazendo, mas ele não responde. Eu desisto. É melhor deixar o futuro me surpreender...


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Notas finais do capítulo

Até o próximo! Comentem, anjos! *-*