Oswald and The Smiths escrita por altdunham


Capítulo 2
Eu Conheço Você


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559537/chapter/2

Alguns minutos atrás. Novembro de 2014, Londres, Tardis.

– Como você pode ter tanta certeza de que eles não voltarão? – Clara perguntou encarando aquele olhar de quem está escondendo algo. As sobrancelhas sempre como se quisessem sair de seu rosto e lhe baterem toda vez que ele lhe olhava dessa forma, toda vez que ela fazia uma pergunta desse tipo. Mas mesmo sendo um olhar ameaçador era o mesmo olhar que lhe transmitia segurança e a encorajava.

– Vamos lá, Clara, - a encorajou - você me viu fechando o portal. – Ela sorriu meio desapontada com a resposta, mas aceitou-a ao manter o sorriso e assentir. Afinal, ultimamente nada tem dado errado. Clara e Doutor têm viajado toda semana, resolvendo alguns casos aqui e ali, como um ataque alienígena em uma espaçonave em direção à Lua, ou levando alguns cyborgs que se perderam em Cambridge na volta para seu planeta... Nada com muita dificuldade, exceto pelo último, quando alguns dróides com armamentos de ponta e tecnologia avançada atacaram a grande Londres Vitoriana deixando o Time Lord um tanto desconfortável por ter resolvido o caso sem saber o real motivo de eles terem ido parar lá. Mas se ele disse ter certeza de que uma vez jogados naquele portal tridimensional, que o mesmo criou, todos os dróides seriam enviados de volta para Tatooine, planeta de onde vieram, ou pelo menos de onde disseram que tinham vindo, planeta cujo Clara insistiu para ir e o Doutor lhe negou alegando que ela está passando muito tempo longe do namorado e lhe daria o resto do dia.

– Tem razão. Mas será que não devemos ir checar? Sabe, só para ter certeza de que tudo ficará bem e que a Terra não seja invadida por dróides super armados novamente?

– Clara, Clara. – O Doutor pôs as mãos para trás fazendo sinal com a cabeça para que ela o seguisse até a porta da Tardis. – Nos vemos na quinta. – Ele disse abrindo a porta, com o olhar ameaçador novamente no rosto e Clara apenas resmungou dando um soco de leve no console da Tardis, dando-lhe as costas e saindo da mesma sem olhar para trás.

O Doutor se pegara pensando em quando tinha dado permissão para a senhorita Oswald corrigir as provas dela na Tardis, ou se não já tivera reclamado dos tantos casacos que ela esquecia por lá e se perguntou se seria falta de educação apenas jogar todas as coisas da moça porta a fora quando fosse busca-la para a próxima viagem.

O barulho de sua grande caixa-azul-de-viagem-no-tempo soou alto após as coordenadas serem colocadas com destino a Tatooine. Por algum motivo o Doutor achava que o caso dos dróides não tinha sido completamente resolvido e não queria envolver Clara por achar perigoso demais ou simplesmente não aceitava o fato de não saber tudo sobre os vilões daquela noite. E se tem uma coisa que ele não gosta é de não saber das coisas. Então a Tardis de repente parou e um impacto grande o fez se segurar firme não o impedindo de correr ao monitor posicionado acima dos controles para descobrir o que estava acontecendo, mas não demorou muito até que percebesse que sua Tardis estava parada, simplesmente parada no vórtice temporal. E foi quando ele se dirigiu rapidamente para o outro lado do console puxando o monitor que girava em volta do mesmo que pôde ver um borrão azul vindo rápido em sua direção. Se fosse possível ele seria capaz de jurar ter visto um reflexo da Tardis ali, indo de encontro a ele. Imóvel no meio do vórtice. Mas antes que o Doutor pudesse colocar as ideias no lugar o borrão azul o atingiu, fazendo-o cair e bater com a cabeça no chão frio da Tardis, apagando imediatamente.

9:34 AM, verão de 2010, Londres, Tardis.

Era enorme como todas as outras, a Tardis, e essa carregava uma grande quantidade de lembranças, algumas boas e outras ruins, algumas muito boas e algumas muito, muito ruins, mesmo. A grande sala de controle estava em silêncio, exceto pelo barulho que ela fazia durante as viagens pelo vórtice temporal, mas ele estava lá, pensativo e calado, o que não era muito do feitio do jovem Doutor, que costumava ser muito falante, um tagarela na verdade. Mas os últimos acontecimentos não foram dos melhores, o que resultou em um Time Lord sozinho tentando realizar alguns desejos nos seus últimos momentos de vida. Dessa vida.

Ele examinava o bilhete de loteria em sua mão, tentando organizar as palavras na cabeça, se transmitiria o recado dado pelo homem de quem recebeu o bilhete à sua filha ou se apenas o entregaria. Cogitou por fim a ideia de apenas entrega-lo para o avô da moça, deixando-o ciente de quem lhe dera o mesmo. Mas seus pensamentos foram interrompidos por um brusco impacto. A Tardis tinha batido em algo, disso ele tinha certeza, e tentando se levantar do chão onde fora parar no momento da colisão de sua máquina do tempo com algo até então desconhecido, tentava ver através do monitor de bordo algo do lado de fora que lhe desse respostas.

– O quê? – meio tonto ele se levantava devagar – Mas o que... – tentava descobrir onde estava, o que era exatamente aquele cômodo tão pequeno onde fora parar. Ele passou a mão no cabelo, - aquele cabelo impecável e levemente espetado, cabelo esse que já causou muitos suspiros das jovens com quem já viajou – colou seus óculos e examinou a tela em sua frente.

Era uma cozinha, estava certo disso. Uma cozinha em Londres no ano de 2014, muito pequena por sinal, mas isso a Tardis não o informou, ele apenas pôde observar pelo monitor, pois sua grande caixa azul mal cabia entre os armários e mesa do cômodo.

Enquanto o Doutor se preocupava com sua localização, que deveria ser em 2010, no casamento de uma pessoa de extrema importância para ele e não em 2014 no meio de uma cozinha minúscula, alguém se adianta e antes que ele pudesse se situar bate na porta fazendo-o enrijecer o rosto e ficar ainda mais curioso. Mas não foi apenas o fato da batida na porta que o deixou assim, foi o que a pessoa disse; “Doutor? Doutor? Você está aí? Está tudo bem?” aquela voz suave e familiar chamando-o, mas como seria possível? Quem estaria do lado de fora? Ele se perguntava voltando depressa a atenção para o monitor do console da Tardis avistando aquela figura extremamente pequena do outro lado da porta. Segurando-se firme no bloco de botões a sua frente ele balançava a cabeça e apertava bastante os olhos fechados, fazendo um grande esforço para lembrar-se de onde conhecia a garota que batia na porta, mas sua memória estava falha demais, ou seria apenas um dos sinais de que sua hora estava quase chegando, que não lhe restava mais tanto tempo nesse corpo.

– Bem... – A voz suave de Clara soou quase inaudível na cozinha apertada. – Talvez eu tenha, você sabe – tentava enrolar – esquecido meu casaco... E provavelmente minha chave aí dentro. Está tudo bem? – Ela encostou o rosto na porta tentando ouvir algo vindo do outro lado.

Então o Doutor afastando-se dos controles dirigiu-se para a porta da Tardis se sobressaltando quando a abriu e teve uma Clara caída em seus braços devido à forma como estava encostada na porta. Ele a segurou colocando-a de pé enquanto ela desengonçada ria baixo da situação sem perceber, ainda, o que estava de certo acontecendo, ficando levemente corada e afastando-se envergonhada.

– Você! – tombou a cabeça para o lado não acreditando no que estava vendo – Como?

O Time Lord em seus possíveis últimos minutos sorria do constrangimento da moça, saindo da Tardis e examinando-a com o olhar curioso.

– Eu conheço você.

– Oh, Claro que conhece, - ela sorriu gentilmente olhando-o pelo canto dos olhos enquanto ele dava voltas pelo pequeno espaço que sobrava na cozinha. – Você não lembra, não é? O Doutor disse que você não lembraria.

– Eu sou o Doutor. – Ele disse se pondo a frente dela, encarando-a outra vez.

– Eu sei, quis dizer o outro Doutor... – deu uma pausa procurando as palavras certas que pudessem explicar que ela se referia ao Doutor com quem viajava. – O meu Doutor.

– Bem... Você tem um Doutor, então? – Disse levando a mão dentro do sobretudo amarelado e sacando sua chave de fenda sônica. – Um médico, você quer dizer. – Com o botão pressionado ele a escaneava com o dispositivo, que fazia um zumbido enquanto ele descia e subia o mesmo na frente dela.

– Não. – Clara revirou os olhos – Um Doutor. Time Lord, Tardis...

– Eu sabia! – exclamou interrompendo-a. – Tem algo bloqueando minhas memórias, mas você não me é estranha, não me esqueceria de alguém tão pequeno assim. Minha me...

Antes que ele pudesse terminar a frase Clara o socou no ombro, ficando séria com o comentário referente à sua altura. Afinal o que lhe faltava na altura sobrava na coragem.

– Ei! – ele levava a mão no ombro que lhe foi batido – Eu estava fazendo uma análise, ainda preciso saber se você não é um problema.

– Claro que não sou um problema – ela riu colocando as mãos na cintura – Não tenho cara de problema.

– Se tivesse não seria um grande problema, não é?

O jovem Doutor de cabelos arrepiado acabou levando outro soco, deixando Clara irritada com os comentários.

– Afinal de contas, como você veio parar aqui? Isso não é possível. – ela cruzou os braços antes de continuar – Eu sei que você esqueceu o que passamos juntos, que se regenerou e depois outra vez, - explicava - isso não era para estar acontecendo.

– Você já viu como vou ficar? – perguntou animado, um pouco animado demais. - Ruivo? – ergueu um canto dos lábios, sorrindo ao encara-la entusiasmado.

– Isso é o menos importante. Vamos descobrir porque veio parar aqui.

– Como não é importante eu querer saber como vou ficar? Como vou parecer, o que vou me tornar? – Ele dizia seguindo-a para dentro da Tardis como se ela quem estivesse no controle. E talvez estivesse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Tentarei postar o próximo mais rápido.
Obrigado aos que leram.